sábado, 22 de outubro de 2011

Yossef e o Mashiach

Por Yochanan ben Avraham


  Introdução:
 
A sedrá deste shabat, é de fundamental importância para todos aqueles que creem no Mashiach (Messias/Ungido). Pois ela revela traços inconfundíveis sobre como seria o caráter e a obra inicial d'Aquele que é a esperança de Israel.
Dizemos isto porque na perspectiva judaico/israelita, mesmo entre seguimentos diferentes de nosso povo, sempre se creu numa vinda do Mashiach (Messias/Ungido) em duas etapas ou até mesmo em dois Mashichim (Ungidos),  como será mostrado mais adiante, pois este fato é amplamente documentado na literatura judaica tradicional ou mística.
Certamente todo estudante da Torah, Nevi'im e Ketuvim (Também conhecido por Tanach/Velho Testamento) e também do Talmud, já se deparou com profecias e explicações sobre um Mashiach (Ungido/Messias) que sofre, que é ferido e etc. Mas também, por outro lado, já leu sobre um Mashiach glorioso, vencedor e assim por diante. Logo, a partir destas aparentes contradições, muitos estudos foram feitos e interpretações bem plausíveis foram apresentadas conforme veremos no decorrer deste estudo.


A Vida de Israel (Ya'akov)


É muito interessante como esta sedrá inicia sua narrativa, pois num primeiro estante somos "convidados" a "ouvir" a história de Ya'akov (Israel), pois o perek (capítulo) 37, logo no passuk (versículo) 2 temos as seguintes palavras iniciando o texto:
 אלה תלדות יעקב
(Eleh toledot Ya'akov)
(Estas são as gerações de Ya'akov)
No entanto, o que se apresenta é a vida de seu filho Yossef ! Esse detalhe, por si só, deveria despertar em nós a curiosidade...não é mesmo?
Pois bem, ao lermos: "está são as gerações (algumas traduções trazem história) de Ya'akov (Israel)" mas na realidade vermos a história de Yossef, fazemos a seguinte constatação: "Yossef era a 'vida' de Ya'akov (Israel)!"
 Parece um exagero afirmarmos isto, no entanto, a própria Torah nos dá argumentos para crermos assim, vejamos Bereshit (Gênesis) 37.3:


וישראל אהב את יוסף מכל בניו
(V'Israel ahav et Yossef mikol banaiv)
(E Israel amava mais a Yossef que todos os seus outros filhos)


Notemos aqui a predileção de Ya'akov, a qual se evidencia com o presente dado ao seu filho (Túnica colorida/vestes talares) não apenas isso, vejamos a seguinte expressão do Patriarca no final do perek (capítulo) 37, após a notícia da suposta morte de seu filho:


Iויקמו כל בניו וכל בנתיו לנחמו וימאן להתנחם ויאמר כי ארד אל בני אבל שאלה ויבך אתו אבי
(Vaiakumu chol banaiv v'chol benotaiv l'nachamu veimaen lehitnachem vaiomer ki ered el beni avel sheolah vaievek oto aviv)
(Todos os seus filhos e filhas tentaram consolá-lo, mas ele recusou ser confortado. Eu descerei à sepultura enlutado por meu filho, ele disse. Ele chorou por (seu filho) como somente um pai poderia)


Israel, ao perder seu filho Yossef se enfraqueceu e sobre isto, a tradição indica um elemento profético para a nação israelita. Pois Yossef era uma espécie de expressão física da espiritualidade de Ya'akov ! Foi o nascimento de Yossef que, segundo a tradição, condicionou a Ya'akov a "enfrentar" a Esav (Edom). Leiamos Ovadiyah 1.18:


והיה בית יעקב אש ובית יוסף להבה ובית עשו לקש ודלקו בהם ואכלום ולא יהיה שריד לבית עשו כי יהוה דבר
(Vehaiah ve'et Ya'akov esh uve'et Yossef lehavah uve'et Esav lekash vedaleku vahem vaachalum velo ihieh sarit leveit Esav ki YHWH diber)
(E a casa de Jacó será um fogo, e a casa de José uma chama, e a casa de Esaú restolho; aqueles se acenderão contra estes, e os consumirão; e ninguém mais restará da casa de Esaú; porque o Senhor o disse.)


Este texto é muito significativo, considerando o que estudamos semana passada a respeito de Esav (que é Edom), e quem são considerados seus "descendentes".
Sabemos por meio das escrituras (Ver Z'charyah/Zacarias 12.3), que haverá um tempo em que todas as nações se voltarão contra Israel, e nesse dia, Israel só poderá resistir se abrir os seus olhos para àquele que traspassaram e lamentarem a sua perda (Ver Z'charyah/Zacarias 12.9-12). Embora nós, israelitas crentes em Yeshua, não tenhamos o talmud como regra de fé, citaremos uma passagem desta obra, pois a consideramos como um importante documento histórico sobre o entendimento judaico/israelita sobre a passagem citada:


"Por quem pranteiam eles? E responde: Pelo Mashiach ben Yossef que será morto" (tratado Sukah 52 a; Talmud Bavli)


(A expressão "Mashiach ben Yossef" será analisada a seguir e é a partir desse conceito, que os diferentes aspectos da manifestação do Mashiach (Servo e Rei), começam a ser esclarecidos.) Mas antes disso é importante dizer que, assim como Yossef "era a vida" de Israel (Ya'akov), o Mashiach é a vida de "Am Israel" (Povo de Israel), Sobre isso, é importante dizer que um certo personagem, a cerca de dois mil anos, disse:


"Eu Sou o Caminho, a Verdade e... A VIDA."


Você saberia dizer o nome deste personagem ?


O que significa Mashiach ben Yossef ?

 
A palavra hebraica para filho é "ben" que possui a mesma raiz da palavra "bana", que por sua vez significa "construir". Ou seja, filho é alguém que é "construído sobre os princípios do pai", isto dá a ideia de continuidade e semelhança como se diz popularmente: "Tal Pai...Tal Filho".
Mashiach Ben Yossef, portanto, significa que, a semelhança de Yossef, o Mashiach seria invejado pelos irmãos, vendido, traído, 'cresceria' no estrangeiro, teria seu nome mudado e etc. Ou seja, até que ele viesse reinar e salvar toda a casa de seu pai, teria uma vida sofrida. De fato, o Tanach nos fala do sofrimento do Mashiach em diversas passagens, das quais citaremos apenas uma, Yeshayahu (Isaías) 53.3-7:


נבזה וחדל אישים איש מכאבות וידוע חלי וכמסתר פנים ממנו נבזה ולא חשבנהו
אכן חלינו הוא נשא ומכאבינו סבלם ואנחנו חשבנהו נגוע מכה אלהים ומענ
והוא מחלל מפשענו מדכא מעונתינו מוסר שלומנו עליו ובחברתו נרפא לנו
כלנו כצאן תעינו איש לדרכו פנינו ויהוה הפגיע בו את עון כלנו
נגש והוא נענה ולא יפתח פיו כשה לטבח יובל וכרחל לפני גזזיה נאלמה ולא יפתח פיו
 

(Nivzeh v'chadal ishim ish machovot vidua choli u'chamaster panim mimenu nivzeh velo cashvnu hu achen cholaienu hu nassa u'machoveinu sevalam v'anachnu chashvnu nagua mukeh Elohim um'uneh vihu mecholal mipeshaeinu meduca meavonoteinu musar shlomeinu alaiv u'vachavurato nirpa lanu kulanu katson tainu  ish ledarko paninu va YHWH hifgia bo et avon kulanu nigash vehu na'aneh velo iftach piv kasseh latevach iuval ucherachel lifnei gozizeiha ne'ela mah velo iftach piv.)

(Era desprezado, e rejeitado dos homens; homem de dores, e experimentado nos sofrimentos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum.
Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e carregou com as nossas dores; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Elohim, e oprimido.
Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.
Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um se desviava pelo seu caminho; mas YHWH fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós.
Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a boca; como um cordeiro que é levado ao matadouro, e como a ovelha que é muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a boca.)


Embora este trecho, historicamente, tenha sido interpretado como uma profecia sobre o Mashiach como o Servo sofredor, alguns seguimentos modernos do judaísmo tentam atribuir estas palavras a Israel... algo que não se sustenta quando examinado cuidadosamente, uma das razões para se contestar este texto como uma profecia messiânica, se deve ao equívoco de interpretar a vinda do Mashiach em uma única etapa, quando os nevi'im (profetas) já indicavam duas etapas vejamos, por exemplo, o que diz Oshea (Oseias) 5.15:


 אלך אשובה אל מקומי עד אשר יאשמו ובקשו פני  בצר להם ישחרנני
(Elech ashuvah el mekomi ad asher yshmu uvkshu panai batsar lachem yeshcharanuni)
(Irei, e voltarei para o meu lugar, até que se reconheçam culpados e busquem a minha face; estando eles aflitos, ansiosamente me buscarão.)


Podemos ver nitidamente que, O Eterno já havia dito que iria e voltaria, até que seu povo reconhecesse seus pecados! Agora compare isso com bessorah (boa nova) de Lucas 19.41-44:


E quando chegou perto e viu a cidade, chorou sobre ela,
dizendo: Ah! se tu conhecesses, ao menos neste dia, o que te poderia trazer a paz! mas agora isso está encoberto aos teus olhos.
Porque dias virão sobre ti em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, e te sitiarão, e te apertarão de todos os lados,
e te derribarão, a ti e aos teus filhos que dentro de ti estiverem; e não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não conheceste o tempo da tua visitação.


Interessante também são as interpretações dadas pelo talmud aos textos de Dani'el 7.13 e Z'charyah 9.9 para explicar as aparentes "contradições", vejamos:


Rabí Yoshuah bar Levi declara em Sanedrín 98ª:


“e aqui com as nuvens do Céu viria um como um filho do homem”; Dani'el 7:13; e o outro versículo que diz, “humilde e cavalgando sobre um asno”; Z'charyah 9:9. Se é que somos dignos, o Mashiach virá sobre as nuvens do Céu; se é que não somos indignos, ele virá humilde e cavalgando sobre um asno.”
O fato de nos ter sido permitido apenas construir o Templo, no tempo quando nós, como nação, éramos “merecedores” e que Elohim permitiu que nosso Templo fosse destruído quando éramos indignos, indica que a destruição do Templo mencionada por Dani'el ,o profeta, seria o resultado da indignidade de nossa parte.


Também em Sukah 51a, está declarado:


“O Mashiach que descende de Yossef Aparecerá primeiramente para trazer Salvação ao povo Judeu. Contudo, ele será morto… e a completa Redenção será realizada somente a través do Mashiach que descende de David.”


E continua declarando:


“No período do Mashiach descendente de Yossef… a morte e o pecado seguirão existindo. Mas o período do Mashiach que descende de David liderará uma nova ordem natural, na qual a morte e o pecado não terão lugar.”


Mostrando que entenderam que o Mashiach Ben Yossef aparecerá primeiro e será morto e que o Mashiach Ben David aparecerá depois. E que sob o Mashiach/Messias ben Yossef, o pecado e a morte continuarão existindo no mundo; mas que sob o Mashiach Ben David, lhe seguirá um mundo onde o pecado e a morte não existirão.


Por que duas etapas ?

 
Porque o mundo precisa ser preparado, pois para a implantação do Reino do Mashiach ben David a mensagem precisa ser anunciada, os corações precisarão se abrir e os homens precisarão se arrepender, porque Yeshua ben David governará com cetro de ferro, leiamos Tehilim (Salmos 2.9 e 10):


               ועתה מלכים השכילו    הוסרו שפטי ארץ  תרעם בשבט ברזל    ככלי יוצר תנפצם
 (Teroem beshevet barzel kichliot yotser tenaptsen veatah melachim haskilu hivaseru shafeti arets)
(Tu os quebrarás com uma vara de ferro; tu os despedaçarás como a um vaso de oleiro. Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos instruir, juízes da terra)


Para exemplificar este conceito, lembremos de quando o Brasil antes de implantar a nova moeda (Real) usou de um mecanismo de transição, denominada URV (Unidade real de valor) sem a qual, todo o projeto não funcionária...guardada as devidas proporções, é o mesmo princípio que devemos aplicar para entendermos as duas etapas da manifestação do Mashiach.


Conclusão:

 
Muito há o que se falar sobre Yossef, sua ocultação e revelação a seus irmãos, pois em Yossef encontramos mais de 50 situações apontando para o Mashiach Yeshua as quais na sequência de estudos estaremos comentando.
Que possamos neste Shabat refletir nestes aspectos e crescer na graça e conhecimento de Yeshua HaMashiach.


Shabat Shalom e até a próxima



sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Os filhos de Esav.

Por Yochanan ben Avraham

A primeira semana deste oitavo mês, nos traz em sua sedrá (sequência) de estudos,  um tema muito interessante que pode nos levar a uma compreensão, no mínimo, curiosa. Se trata das gerações de Esav, irmão de Ya'akov.
Alguém poderia até perguntar qual a relevância para nós, estudarmos a "genealogia" deste personagem que, em termos de importância, ficou em "segundo plano", pois até sua primogenitura foi dada ao seu irmão Ya'akov! Bem, a Torá sempre têm algo prático a nos ensinar e ampliar nossas perspectivas em relação a nossa vida no "olam haze" (este mundo/tempo atual).

O perek (capítulo) 36 de Bereshit (Gênesis), afirma por quatro vezes que Esav é Edom,  certamente a Torá quer que prestemos muita atenção a isto, pois por qual motivo em um único perek, que não é tão extenso assim, seria dada tanta ênfase a este fato? Para isso teremos que buscar na história e nas escrituras quem de fato foi Edom.

Patriarca e Povo.

É comum nas escrituras, haver uma referência ao povo, chamando-o pelo nome do seu patriarca e dirigir-se a este mesmo povo como se tivesse falando com o indivíduo, como podemos ver em Yeshayahu (Isaías) 48.20, por exemplo:

צאו מבבל ברחו מכשדים בקול רנה הגידו השמיעו זאת הוציאוה עד קצה הארץ אמרו גאל יהוה עבדו יעקב

"Saí de Bavel, fugi de entre os caldeus. E anunciai com voz de júbilo, fazei ouvir isto, e levai-o até o fim da terra; dizei: YHWH remiu a seu servo Ya'akov" (Yeshayahu 48.20)

Portanto, é razoável pensar que, em diversas ocasiões quando lemos o nome de uma pessoa, na verdade a referência é a um povo e não a um indivíduo.
Outra situação comum nas escrituras, é atribuir a um povo as características do seu patriarca, como verificamos em Bereshit 24.3 e 28.1, ali temos proibições explicitas de se buscar mulheres dentre os cananeus. Mas por que tamanha proibição? Para entendermos esta proibição, precisamos saber quem foi Canaã.
Canaã era filho de Ham (Cão) e neto de Noach (Noé) e por causa de um ato sórdido de seu pai Ham contra seu avô Noach, ele, Canaã, foi amaldiçoado. Agora vejamos de quem Canaã foi patriarca: Dentre tantos filhos, destacaremos dois povos oriundos de Canaã, são eles S'dom (Sodoma) e Amora (Gomorra) (ver Bereshit 10.15-19)
Diante destes fatos fica fácil entender porque tanto Avraham quanto Yits'chak, não queriam ter como noras mulheres desta linhagem.

Conhecendo Edom (suas origens)

Vamos agora analisar quem é Edom enquanto povo e suas características.
O povo de Edom foi formado a partir da união entre Esav ben Yits'chak (Esaú filho de Isaac), com mulheres cananeias (Ada e Oolibama) e uma ismaelita (Basemat). Logo de início podemos perceber que Esav não deu ouvidos a seu pai Yits'chak, ele sabia que, tanto seu avô Avraham quanto seu pai, reprovavam a união com cananeias...de fato, a Torá deixa claro que isso trouxe um grande desgosto a Rivkah e Yits'chak:

ויהי עשו בן ארבעים שנה ויקח אשה את יהודית בת בארי החתי--ואת בשמת בת אילן החתי
ותהיין מרת רוח ליצחק ולרבקה  

Ora, quando Esav tinha quarenta anos, tomou por mulher a Yehudit, filha de Beeri, o heteu e a Basemat, filha de Elom, o heteu.
E estas foram para Yits'chak e Rivkah uma amargura de espírito.

                                                                                                           (Bereshit 26.34 e 35)

As mulheres de Esav descendiam dos que a Torá chamam de "horreus" (Bereshit 36.2). Para alguns estudiosos, estes "horreus" são os mesmos "heveus".
Os "horreus" possuiam uma religião sincretista com os cultos mesopotâmicos, mas o deus da tempestade "horreu", "Teshup", assim como com sua consorte "Hepat" e seu filho "Sharruma", foram adotados pelos Heteus.
Você consegue imaginar a mistura de crenças que os filhos de Edom possuiam? Pois o pai era originário de uma crença monoteísta enquanto a as mães vinham de crenças sincretistas e idólatras.

A localização de Edom.

Vejamos Bereshit 36.6-8:

"Depois Esav tomou suas mulheres, seus filhos, suas filhas e todas as almas de sua casa, seu gado, todos os seus animais e todos os seus bens, que havia adquirido na terra de Canaã, e foi-se para outra terra, apartando-se de seu irmão Ya'akov.
Porque os seus bens eram abundantes demais para habitarem juntos; e a terra de suas peregrinações não os podia sustentar por causa do seu gado.
Portanto Esav habitou no monte de Seir; Esav é Edom."

   Edom se estabeleceu no monte Seir, o "horreu", desalojando e exterminando este povo conforme descrito na Torá em D'varim (Deuteronômio) 2.12.

Sobre o monte Seir, temos algumas passagens interessantes, e se considerarmos que Seir é a localização de Edom tais passagens podem estar falando de (ou para) Edom, vejamos:

"Disse ele: YHWH veio do Sinai, e de Seir raiou sobre nós; resplandeceu desde o monte Parã, e veio das miríades de santos; à sua direita havia para eles o fogo da Lei." (D'varim 33.2)

Temos nesta passagem três lugares que apesar de próximos, são distintos...são eles: Sinai, Seir e Parã. Isto nos sugere uma interpretação muito interessante, vejamos:

 * Sinai foi o local da outorga da Torá.
 * Seir território de Edom.
 * Parã Território ismaelita.

Para alguns comentaristas da Torá, isto tem um significado muito interessante, pois é dito que a Lei/Torá, de certa forma foi oferecida à Edom e a Ishmael ! Outra coisa muito curiosa neste aspecto, é o fato de Ishmael ser o patriarca dos Árabes (predominância islâmica) e Edom ser considerado pela tradição judaica o "patriarca" dos romanos (predominância cristã), sobre este particular falaremos mais adiante.

"Coincidentemente", israelitas, islâmicos e cristãos, estão próximos já que ambos reivindicam o mesmo patriarca - Avraham. Porém, são bem distintos um do outro... e para aumentar a semelhança dos fatos, é só analisarmos quem aceitou a Torá e quem a rejeitou para que, análogamente, saibamos a quem poderemos aplicar conceitos em termos proféticos.

Características de Edom.

Edom, que mais tarde viria a ser chamado de "Idumeia" pela LXX, é considerado por alguns como um povo "faminto por territórios" e esta "fome" pode ser atestada nas escrituras onde é relatada a ocupação edomita no reino de Yehudah (Judá) após a queda de Yerushalaim em 586 AEC (Ver, dentre outras, Tehilim/Salmos 137.7; Yechezkel/Ezequiel 25.12 e 35.12-15; Ovadiah/Obadias 1.

Aos edomitas, era atribuida a fama de "sábios" como podemos verificar em  Yirmeyahu/Jeremias 49.7; Yiov/Jó 2.11; Ovadiah/Obadias 1.9 e Baruch/Baruq 3.22 e 23. Vale lembrar que Temã era neto de Edom (Esav).
Não podemos esquecer que o Eterno tornou a sabedoria deste mundo em loucura, como escreveu Sha'ul ha Sha'liach:

"Ninguém se engane a si mesmo; se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se louco para se tornar sábio
Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de YHWH; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia;
e outra vez: O Senhor conhece as cogitações dos sábios, que são vãs." (Curintayah alef/ I Coríntios 3.18-20)

Num período posterior, a "Idumeia" foi conquistada por João Hircano (da dinastia dos Hasmoneus) que forçou os idumeus/edomitas a se converterem a Torá. Destes "conversos" edomitas, viria nascer Herodes, o grande.  Isso mostra que, nenhuma conversão forçada, gerará fidelidade a YHWH.

Edom é Roma ?

A tradição rabínica, afirma que os romanos são descendentes de Edom. Tal afirmação sempre nos trazia uma inquietação, pois não conseguíamos encontrar algo que ligasse uma coisa com a outra confirmando esta idéia...a menos que, a tal descendência, não seria "física" mas "espiritual". Mas antes de continuarmos, leiamos Yeshayahu/Isaías 1.10:

"Ouvi a palavra do Senhor, governadores de Sodoma; dai ouvidos à lei do nosso Elohim, ó povo de Gomorra."

Nós temos no referido texto uma palavra de repreensão muito dura dirigida aos príncipes de S'dom (Sodoma) e ao povo de Amora (Gomorra). No entanto, nem Sodoma e nem Gomorra existiam mais! Na verdade, a repreensão era sobre Yerushalayim e seus habitantes, que embora não fossem cananeus, mas semitas (descendentes de Shem/Sem). Porém, devido a sua rebeldia e maldade foram considerados como tais, tamanha a semelhança de seu atos com a daqueles povos. Dito isto, leiamos o livro de Lamentações 4.21 e 22:

"Regozija-te, e alegra-te, ó filha de Edom, que habitas na terra de Uz; o cálice te passará a ti também; embebedar-te-ás, e te descobrirás.
Já se cumpriu o castigo da tua iniqüidade, ó filha de Sião; ele nunca mais te levará para o cativeiro; ele visitará a tua iniqüidade, ó filha de Edom; descobrirá os teus pecados."

Comparem este texto como que diz Guilyana/Apocalipse 17. 4-6 e vejam as semelhanças entre a filha de Edom e a prostituta descrita em Guilyana, a qual é, de forma consensual, interpretada pela esmagadora maioria dos teólogos, como Roma. Ou seja, Roma "herdou" a embriaguez de Edom...

Sentenças contra Edom.

As escrituras estão repletas de sentenças e maldições contra Edom, como podem ser verificadas em:
 * Yeshayahu 34.
 * Yirmeyahu 49.7
 * Amos 1.11-12
 * Ovadiah 1.
 * Malachi 1.2-5

Se considerarmos as interpretações propostas durante este estudo, veremos que a indignação do Eterno sobre o Edom é extensiva aos seus descendentes, e ao analisarmos a frase: "Amei  a Ya'akov", sabendo que o Eterno ama aqueles que o amam (Mishlei/ Provébios 8.17) e os que o amam são aqueles que guardam sua Torá (Yochanan / João 14.21)  entendemos que o ódio contra Edom se deve também pela rejeição a Lei de YHWH.

Até a Próxima...

Shabat Shalom!!!!

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Iniciando a caminhada (1ª parte)

          Por Yochanan ben Avraham   

  Este texto têm por objetivo auxiliar o novo “talmid” (discípulo) de Yeshua HaMashiach, a dar os primeiros passos naquilo que as escrituras chamam de caminho da vida.

              Entendemos que devido à predominância de certos conceitos religiosos vigentes, muitos destes novos “talmidim” (discípulos) podem ser confundidos e, por assim dizer, não alcançarem o entendimento do verdadeiro propósito do Eterno, o qual está revelado em toda escritura sagrada, e não apenas em parte dela. Por esta razão, tentaremos expor de maneira simples e direta o significado de alguns termos e qual sua relevância para nossas vidas.
             
               É importante lembrarmos que devemos permitir que a Bíblia nos forneça sua teologia, e não estudá-la com uma “teologia” pré-concebida e preconceituosa, pois temos a tendência de interpretar os textos a partir da idéia que temos, e não do que realmente está escrito, sem considerarmos contextos temporais, culturais e etc., ou seja, desprezamos muitas vezes quem escreveu, quando, onde, como e por que foram escritos. Portanto, afirmamos a importância de reconhecermos a Bíblia sagrada como um único livro, com uma única mensagem de um único Senhor Criador, legislador e mantenedor do universo.

1-   Definindo alguns termos.

                     Para se entender qualquer mensagem é necessário primeiramente conhecermos os sentidos das palavras que são empregadas para a construção da dita mensagem. Portanto, no que diz respeito às escrituras, não podemos ignorar o Tanach (“velho” testamento) se quisermos entender o que a Brit Chadashá (aliança renovada / também conhecida por “novo testamento”) quer dizer.
                     O cristianismo muitas vezes faz menção de certa “Igreja do Novo Testamento”, algo que está muito aquém de ser uma verdade, pois no período não existia uma “igreja”, pois os primeiros “talmidim” (discípulos) reuniam-se em sinagogas (vide Atos 13.14 e 15.19-21; Tg 1.1 e 2.2) e também não havia um “novo testamento”, pois as escrituras que eles possuíam eram a Torá, os profetas e os escritos (salmos, provérbios e históricos). Isso significa que algumas prerrogativas reivindicadas pela dita “igreja” em detrimento a Israel e os judeus, é infundada e historicamente insustentável!
                     Vejamos o que  Sha’ul ha sh'liach (conhecido por Apóstolo Paulo) diz:

“Toda escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Elohim seja perfeito e perfeitamente preparado para toda boa obra.” (II Tim. 3.16 e 17)

                      Concluímos então que se toda escritura é divinamente inspirada, dizer que o “novo” testamento contradiz o “velho” testamento é muito incoerente, não podemos fazer da Bíblia uma espécie de cardápio de restaurante onde só escolhemos aquilo que queremos. Nem tão pouco dizer que algumas coisas foram mudadas, se fizermos isso estaremos quebrando o princípio da imutabilidade da Palavra do Senhor e ofendendo o próprio criador chamando-o de mentiroso...(ver Num.23.19; Is. 40.8; Mal.3.6)  

                      Para melhor compreensão do “novo testamento” é necessário algumas “palavras chaves”, pois estas trarão luz a todo texto “neo-testamentário”, vamos a elas:

Palavra do Senhor.

O que é Palavra do Senhor para o Tanach ? A resposta pode ser encontrada nos seguintes textos:
Devarim (Deuteronômio) 17.19, 27.26, 31.12, 32.45-46;
Melachim beit (II Reis). 23.24;
Nehemiah (Neemias) 8.9.

Notemos que Tsion e Yerushalayim são sinônimos num paralelismo poético para Torá e palavra do Senhor.

Verdade e mentira.

Com as definições dos tehilim (salmos) 119.142 e 151, alguns textos do “novo testamento” ganham muito mais sentido, dando-nos um entendimento claro do que queria se dizer, vejamos alguns textos e substituamos os termos "verdade"por "Lei':
Gal. 3.1;
Jo.3.21;
II Jo.1.4

Até mesmo as palavras de Yeshua adquirem um sentido muito mais sólido, (ver Jo.8.32 e 18.37). Sha’ul ha sh'liach (Ap. Paulo) também pode ser compreendido de maneira clara quando utilizamos esta chave, leiamos Rom. 1.25 e substituamos a palavra verdade pelo conceito “tanachiano” para ela.

"Pois trocaram a verdade (Lei/mandamento) de Elohim pela mentira, e adoraram e serviram à criatura antes que ao Criador, que é bendito eternamente. Amém."
                       
Ainda sobre verdade e mentira, algo muito sério precisa ser compreendido, as escrituras dizem:

“Ele (o diabo) é homicida desde o princípio e nunca se firmou na verdade, porque nele não há verdade; quando ele profere mentira fala do que lhe é próprio; porque é mentiroso e pai da mentira." (Jo. 8.44)

Pense um pouco: Se a Torá é a verdade, o que é contrário a Torá é mentira; e se é mentira, procede do diabo! Logo, uma doutrina que nega a Torá é diabólica. Este conceito nos faz entender melhor muitas outras passagens, compare agora os seguintes textos:

"Quando estou para curar Israel, aparecem os pecados de Efraim, a maldade de Samaria, pois essa gente só pratica a mentira. O ladrão invade, do lado de fora uma quadrilha assalta." (Oshia /Oseias. 7.1)

"Mas ficarão de fora os cães, os feiticeiros, os libertinos, os assassinos e os idólatras, e todos os que amam a mentira e a praticam."   (Ap. 22.15.)

Luz e Trevas.

Por todo o “novo testamento” diversas metáforas sobre luz e trevas são utilizadas para explicar o estado das pessoas ou do mundo em geral. Temos por exemplo:
Lc. 10.8
 Jo.8.12, 12.35 e 36
 Rm. 13.12
 Ef. 5.8 
 I Tes. 5.5.

 Considerando que os respectivos escritores tinham por fundamento o “velho testamento” (Vide Ef.2. 19 e 20), vamos ver o que eles pretendiam dizer nestas metáforas verificando os seguintes textos:

"Å lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles." (Yeshayahu/Isaías. 8.20)

 "Atendei-me, povo meu e nação minha, inclinai os ouvidos para mim; porque de mim sairá a lei, e o meu juízo farei repousar para a luz dos povos." (Yeshayahu/Isaías 51.4)

"Porque o mandamento é lâmpada, e a lei é luz; e as repreensões da correção são o caminho da vida." (Mishlei/Provérbios 6.23)

"Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho." (Tehilim/Salmos 119.105)

Com a leitura destes textos, é possível perceber que andar na Luz, é andar de acordo com a Torá e andar na escuridão é andar em desobediência a mesma Torá!! Notemos ainda o que Yochanan (João) diz em I Jo.1.6:

“E se dizem que temos sociedade com eles e andam na escuridão, somos mentirosos e não andamos na verdade.”

Aqui Yochanan (João) compara “andar na verdade” com “andar na luz” e como vimos anteriormente, tanto verdade quanto luz se refere a mesma coisa – a Torá. Sendo assim, podemos afirmar que Yochanan (João) escreveu traçando um paralelo, utilizando os termos luz e verdade como uma espécie de eufemismo para o termo mandamentos.

Graça.
                      
Outro termo importante a se conhecer é graça, pois dependendo do entendimento que se tem, toda interpretação pode ser comprometida.
No Tanach (“velho” testamento) existem duas palavras para designar graça, são elas: “Chen” que significa “graça ou encanto, e “Chessed” que significa “graça, misericórdia ou grande generosidade”.
Estas palavras hebraicas foram traduzidas na septuaginta (tradução do tanach para o grego, feita por 70 sábios judeus) como “Charis” e “Eleos”. Paralelamente então, temos:
Chen = Charis
Chessed = Eleos
                      
O termo “Chen/Charis” está relacionado com a expressão: “encontrar graça aos olhos de alguém”. Enquanto “Chessed/Eleos” com misericórdia, lealdade para com aquele com quem agente se compromete, como pode ser visto nos textos de Shemot (Êxodo) 34.6 e Devarim (Deuteronômio) 5.10; 7.9,12.
                     
Muitos dizem que foi Yeshua quem trouxe a “graça” deixando entender que, de alguma forma, graça é uma exclusividade do “novo” testamento. No entanto, considerando todas as palavras tanto gregas quanto hebraicas temos o seguinte detalhe: o termo graça aparece 321 vezes no tanach e 283 vezes na Brit Chadasha, ou seja, a mais graça no tanach do que no dito “novo testamento...logo, sempre estivemos debaixo da graça de Elohim !!!

 Veremos agora, que de acordo com as escrituras, existe uma estreita conexão entre “graça” e “temor do Senhor”. Leiamos os segintes textos:

"Pois assim como o céu está elevado acima da terra, assim é grande a sua misericórdia para com os que o temem." (Tehilim/Salmos 103.11)

"Digam agora os que temem ao SENHOR que a sua benignidade dura para sempre." (Tehilim/Salmos 118.4)
                   
"Pela misericórdia e verdade a iniqüidade é perdoada, e pelo temor do SENHOR os homens se desviam do pecado." (Mishlei/Provérbios 16.6)

Agora compare-os com Yehudah/Judas versículo 4 e tire suas conclusões.

Fé / Crença

 Vamos agora analisar a palavra Fé, para uma melhor compreensão do seu significado.
 Em hebraico, fé é “emunah” no aramaico é “ymanuta”. Tanto o hebraico quanto o aramaico como línguas semitas, são bem diferentes do que estamos habituados no português. Como no português, uma determinada palavra pode ter mais de um significado, uma tradução pode perder seu sentido original.

“Emunah”, pode significar: “fé ou crença” e é melhor traduzida como “fidelidade confiante”, ou seja, quando falamos em fé no Eterno, estamos falando em uma “fidelidade confiante” e não meramente numa crença intelectual. Vejamos o seguinte exemplo: Se alguém lhe perguntou se é fiel ao seu cônjuge, você certamente não respondeu “sim, eu acredito que ele existe.” Essa frase não faz sentido!! Isso acontece porque claramente não é uma questão de crença, mas sim de fidelidade. Imagine um homem que passa altas horas da noite fora de casa, cometendo adultério com várias mulheres. Cada noite ele volta para casa e diz para sua mulher o quanto a ama e insiste que acredita na existência dela e que, portanto, é fiel a ela. Será que esse homem é realmente fiel a sua esposa? Claro que não! Com esse entendimento podemos saber exatamente o que as escrituras querem dizer, vejamos Ya’akov (Tiago) 2.14 ao 26.
    
Outro detalhe importante para compreendermos o termo fé, é revelado quando analisamos o aramaico. Para tal, analisaremos um trecho da epístola de Rav. Sha’ul (Ap. Paulo) aos Romanos, mais precisamente o capítulo 10.17. Neste texto, o termo aramaico empregado para “ouvir” é “sheme”, que é análogo ao hebraico “shemá”.  Embora possa ser traduzido como ouvir, o termo dá mais uma idéia de “dar ouvidos” do que simplesmente “prestar atenção ao som”. Quando digo que dou ouvidos ao meu pai, isso significa que faço o que ele pede, isto é, eu obedeço suas palavras. Não é, portanto, estranho que o termo aramaico “sheme” também possa ser traduzido como obedecer.
                         Com esse entendimento, a tradução mais precisa de Ruhomayah (Romanos) 10.17 seria:

“Portanto, a fé vem do obedecer o que se ouve, isto é, obedecer o que se ouve da palavra de Elohim.”
                         
Logo, ter fé não é simplesmente acreditar intelectualmente, mas OBEDECER aquilo que foi revelado pelo Eterno nas escrituras. Não há "geração" no (sentido de produção) de fé sem obediência a Lei (Torá) de Elohim.  ( Ver Shemot/ Êxodo 19. 5 e 6)

"Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a terra é minha. E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel."

Para concluir, observemos como as escrituras justificam a Avraham combinando Ruhomayah (Romanos) 4.3 com Bereshit (Gênesis) 12.4. Nesta combinação podemos ver muito mais do que uma crença intelectual na existência de Elohim, Avraham fez uma escolha. Ele escolheu viver com o Eterno, ou seja, andar em obediência a Elohim:

"Pois, que diz a Escritura? Creu Avraham em Elohim, e isso lhe foi imputado como justiça."

"Assim partiu Avram como o SENHOR lhe tinha dito, e foi Ló com ele; e era Avram da idade de setenta e cinco anos quando saiu de Harã."


Continua na 2ª parte