sábado, 26 de janeiro de 2013

Experiência X Informação


Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

O Eterno, por meio do profeta Oshea (Oseias) faz uma séria advertência ao seu povo:

(Original)
נדמו עמי מבלי הדעת  כי אתה הדעת מאסת ואמאסאך (ואמאסך) מכהן לי ותשכח תורת אלהיך אשכח בניך גם אני

(Transliteração)
“Nidmu ami mibeli ha da'at ki atah ha da'at ma'asta vaem'asecha mikahen li vatiskach torat elohecha baneicha gam ani”

(Tradução)
"Meu povo será destruido por falta de conhecimento. Porque tu rejeitaste o conhecimento eu te rejeitarei do meu sacerdócio porque esqueceste o ensinamento de teu Elohim, EU também Me esquecerei dos teus filhos." (Oshea/Oseías 4.6)

Nesta advertência, a palavra que nos salta aos olhos é conhecimento. A palavra hebraica para conhecimento utilizada aqui é “DA’AT”, proveniente da raiz “YADHA”, dá-nos a ideia de um conhecimento de natureza pessoal e experimental ou mesmo discernimento. É importante enfatizarmos isto, pois sugere uma experiência pessoal e não apenas uma informação apropriada intelectualmente, ou seja, se trata de algo experimentado. Assim sendo, entendemos uma diferença, ou melhor, níveis diferentes para o conhecimento, podendo ser ele Prático (a que chamaremos de experiência) e Teórico (que chamaremos de informação)

Informação não é o bastante.

Poderíamos dizer que: “O povo do Eterno será destruído se a informação que ele possui não se tornar uma experiência vivida”. Isso pode até parecer um exagero, mas se analisarmos a questão, chegaremos a óbvia conclusão de que o povo não era desprovido de informação (conhecimento teórico) sobre O Eterno e sua vontade, mas desprovido de proximidade, relacionamento e experiência com O Criador. Na verdade, outro profeta registra esta falta de experiência com O Eterno apesar de toda informação existente:

“Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído;”
                                                                                             (Yeshayahu/Isaías 29.13)     

 O Texto de Oshea demonstra claramente que o povo se esqueceu da Torah, reforçando ainda mais o fato de que Torah não é mera filosofia, mas um exercício prático e diário de justiça e amor, gerando uma conseqüente santidade e não intelectuais inchados em seus egos.

Os exemplos de Avraham e Moshe.

Seriam Avraham e Moshe pessoas totalmente alheias a vontade do Eterno? Seriam eles totalmente ignorantes em relaçãoà Elohim quando foram chamados? Creio que não. As escrituras nos dão a entender que ambos possuíam alguma noção sobre o assunto como podemos inferir, vejamos:
Avraham, embora tenha vivido em Ur dos Caldeus, era descendente de Heber, bisneto de Shem ben Noach (Sem filho de Noé), devemos lembrar que Noach (Noé) era um homem justo e íntegro que andava com Elohim (Bereshit/Genesis 6.9). Shem (Sem) não foi como seu irmão Cham (Cão) o qual foi amaldiçoado, mas alguém que recebeu maior benção por parte de seu pai (ver Bereshit/Genesis 9. 26-27). Logo, entendemos que a tradicional história de que Avraham já observava o monoteísmo rejeitando a idolatria dos caldeus [a qual era “explorada” pelo seu pai (Terach), conforme especula alguns midrashim, que diz que Terach fazia ídolos] é muito plausível, significando que Avraham manteve a crença de seu ancestral fiel.

Moshe, de igual forma, era um hebreu que, apesar de ter sido adotado por uma egípcia (a filha de Faraó), foi criado por uma hebréia (sua própria mãe! Ver Shemot/Êxodo 2.9-3.1). É de fundamental importância dizer que, tanto a mãe de Moshe (Iochebed) quanto seu pai (Amram) eram da tribo de Levi que, mais tarde, se notabilizou por sua fidelidade ao Eterno (Ver Shemot/Êxodo 32.25-29).
Moshe sabia que era um hebreu e que a história do seu povo era emoldurada pela Fé num único Elohim, portanto não ignorava os princípios estabelecidos desde os tempos de seus patriarcas, pois certamente sua mãe o criou sob a égide do temor ao Eterno.

Como podemos verificar, tanto Avraham quanto Moshe, tinham uma base de Fé, um paradigma, mas não foi isso que fez deles ícones da história hebréia (quiçá de toda humanidade!!), o que tornou estes homens especiais, foram suas EXPERIÊNCIAS com O Eterno. Somente depois de experimentar um encontro real com Aquele que só conheciam teoricamente é que eles se tornaram o que são.
Com esta perspectiva, é impossível não nos lembrarmos de Yiov (Jó) que apesar de viver de maneira íntegra, reta e temente ao Eterno, desviando-se do mal, confessou que o conhecimento que ele tinha era insuficiente, ou seja, toda informação que ele obteve ao longo de sua vida, não se comparava com a experiência que fora adquirida (ver Yiov/Jó 42 1-6), pois o verdadeiro conhecimento é aquele que é acompanhado pela experiência.

A força de um ensino.

É a experiência com O Eterno que corrobora o ensino bíblico, de modo que ousamos dizer que um ensino não se sustenta se ele não gera um experiência mística com O Criador, e nem uma experiência com o Eterno pode ser obtida a partir do nada, do acaso...A própria palavra “experiência”, quando analisada em sua etimologia (do latin; experientia), revela que tal coisa é obtida através de tentativas repetidas. Portanto, informação (conhecimento teórico) e experiência (conhecimento prático) só têm legitimidade quando caminham juntos.

A era da informação.

Atualmente é dito que vivemos na era da informação. De fato, há muita informação sobre O Criador, Sua vontade e etc. Mas será que os mesmos que estão “informando” acerca destas coisas viveram ou têm vivido uma experiência com O Elohim de Avraham e Moshe? Pense nisso...
 A experiência amplia o entendimento sobre a informação de tal maneira, que num primeiro momento pode até nos surpreender, como podemos observar em Sh’muel alef/1 Samuel 16.1-13. Ali, vemos que Sh’muel (Samuel) tinha uma informação [um dos filhos de Yishai (Jessé) deveria ser ungido], mas apenas a informação não foi suficiente, pois por pouco Sh’muel não ungiu a pessoa errada! A experiência com a voz do Eterno vivida por Sh’muel o livrou de um grave erro. Isto nos ensina que não devemos nos firmar apenas nas informações, pois existem muitos aspectos experienciais que dão outro sentido as informações.