Por Yochanan ben Avraham
Introdução.
Quando se trata de julgamento, todos querem saber qual o
veredicto. Porém, para a frustração daqueles que iniciam esta leitura, não
estamos aqui para “bater o martelo”, mas levantar algumas questões para que se
conste nos “autos” deste julgamento.
Também não pretendemos fazer as vezes de advogado tanto de
defesa quanto de acusação, a imparcialidade deste autor (imparcialidade esta
que certamente pode “irritar” os mais afoitos) nada mais é do que um cuidado
para não incorrer em um fundamentalismo que está mais do que provado ser
extremamente nocivo para o estabelecimento de diálogos que proporcionem o
conhecimento mútuo de seus participantes e a melhoria nas relações humanas.
O Réu.
“Sentado no banco dos réus”, temos o Novo Testamento. Obra
literária que norteia (ou norteou) a conduta de milhares de pessoas mundo
afora, cujos princípios ensinados são atribuídos a Yeshua ben Yosef (Conhecido
como Jesus) e seus discípulos, todos eles judeus que viveram por volta do
primeiro Século. Embora os supostos autores tenham vivido no referido período,
o Novo Testamento foi organizado e oficializado em meados do Século V, ou seja,
muito tempo depois do que foi vivido pelos seus autores.
A Acusação.
Devido à distância entre o tempo da autoria dos livros que
compõe o Novo Testamento e sua oficialização como parte integrante das
escrituras sagradas, muitas suspeitas se levantam e algumas evidências são
constatadas de modo que o Novo Testamento é acusado de:
Ser uma fraude, obra espúria e mentirosa que contradiz a
Torah (Lei) do Eterno e que, por isso, deve ser descartada no “lixo”.
Algumas perguntas.
Seria mesmo essa (jogar no lixo) a melhor maneira de
lidarmos com estas descobertas? É assim mesmo que devemos agir? Como Lutero e
os inquisidores do tribunal de Cristo queimando os sidurim (manual litúrgico
judeu) e outras obras literárias judaicas? Não estaríamos nos assemelhando aos
algozes de nosso povo?
Bem, como podemos ver a questão não é tão simples, é preciso
separar as coisas. Primeiramente precisamos saber se o que queremos afirmar
é: o Novo Testamento pode ser considerado escritura sagrada ou se é uma obra
desprovida de valores éticos e morais, de rica documentação que revela o pensamento
e os costumes de um povo em relação à Torah em determinada época?
Portanto, são coisas completamente distintas que devem ser consideradas.
A Alegação do Réu.
Sobre a acusação de contradizer a Lei (Torah) do Eterno, o
réu afirma:
* “A Lei é santa e o mandamento santo, justo e bom.”
(Rom.7.12)
* “Não cuideis que vim destruir a Lei. Não vim destruir, mas
cumprir... Até que o céu e a terra passem, nem um traço ou yod (menor letra do
alfabeto hebreu) se omitirá da Lei.” (Mat. 5.17)
* “Porque este é o amor de Elohim: que guardemos os seus
mandamentos e os seus mandamentos não são pesados” (1 Jo. 5.3)
* “Anulamos a Lei pela Fé? De maneira nenhuma, antes
estabelecemos a Lei.” (Rom. 3.31)
Muitas outras afirmações são feitas, mas estas são
suficientes para demonstrar a intenção do “acusado”.
Sobre a acusação de ser uma fraude por causa de problemas de
autoria e datação, a história afirma que no Velho Testamento também encontramos
problemas para se definir autores e datas e nem por isso seu valor é
questionado, pois livros como Yeshayahu (Isaías) pode ter tido até três autores;
Z’charyah (Zacarias) teria dois autores; a dúvidas quanto ao final do último
livro da Torah (D’varim/ Deuteronômio), pois como Moshe (Moisés) poderia
escrever se ele já teria morrido? Enfim, se buscamos um julgamento justo, não
podemos ter dois pesos e duas medidas, pois isso é abominação perante o Eterno:
“Dois pesos
diferentes e duas espécies de medida são abominação ao SENHOR, tanto um como
outro.” (Mishlei/Provérbios) 20.10
Uma testemunha corajosa.
Sugerimos que antes de qualquer coisa, examinemos os conteúdos,
pois podemos perder uma grande oportunidade de aprendermos como viver a Torah
em alguma situação inusitada que possamos nos encontrar, pois como escreveu o célebre
rabino Isaac Liechtenstein ao seu filho:
“De cada linha do “Novo
Testamento”, de cada palavra, o espírito judaico fluía luz, poder, resistência,
fé, esperança, amor, caridade, sem limites e indestrutível fé em Elohim.”
O interessante é que alguns anos antes, este rabino tomou o Novo
Testamento das mãos de um professor judeu de uma escola comunitária no norte da
Hungria, e num acesso de raiva lançou pela sala.
Finalmente
Sabemos que o manual para a vida é a Torah, e que os demais
livros da bíblia se baseiam nela para desenvolver suas mensagens, descartá-los
por causa de problemas de autorias suspeitas e supostas contradições de um ou
outro texto, a meu ver é um grande desperdício. Contudo, aguardaremos o
veredicto que O Eterno a seu tempo dará.