quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O Julgamento do Novo Testamento


Por Yochanan ben Avraham

Introdução.
Quando se trata de julgamento, todos querem saber qual o veredicto. Porém, para a frustração daqueles que iniciam esta leitura, não estamos aqui para “bater o martelo”, mas levantar algumas questões para que se conste nos “autos” deste julgamento.
Também não pretendemos fazer as vezes de advogado tanto de defesa quanto de acusação, a imparcialidade deste autor (imparcialidade esta que certamente pode “irritar” os mais afoitos) nada mais é do que um cuidado para não incorrer em um fundamentalismo que está mais do que provado ser extremamente nocivo para o estabelecimento de diálogos que proporcionem o conhecimento mútuo de seus participantes e a melhoria nas relações humanas.

O Réu.
“Sentado no banco dos réus”, temos o Novo Testamento. Obra literária que norteia (ou norteou) a conduta de milhares de pessoas mundo afora, cujos princípios ensinados são atribuídos a Yeshua ben Yosef (Conhecido como Jesus) e seus discípulos, todos eles judeus que viveram por volta do primeiro Século. Embora os supostos autores tenham vivido no referido período, o Novo Testamento foi organizado e oficializado em meados do Século V, ou seja, muito tempo depois do que foi vivido pelos seus autores.

A Acusação.
Devido à distância entre o tempo da autoria dos livros que compõe o Novo Testamento e sua oficialização como parte integrante das escrituras sagradas, muitas suspeitas se levantam e algumas evidências são constatadas de modo que o Novo Testamento é acusado de:
Ser uma fraude, obra espúria e mentirosa que contradiz a Torah (Lei) do Eterno e que, por isso, deve ser descartada no “lixo”.

Algumas perguntas.
Seria mesmo essa (jogar no lixo) a melhor maneira de lidarmos com estas descobertas? É assim mesmo que devemos agir? Como Lutero e os inquisidores do tribunal de Cristo queimando os sidurim (manual litúrgico judeu) e outras obras literárias judaicas? Não estaríamos nos assemelhando aos algozes de nosso povo?
Bem, como podemos ver a questão não é tão simples, é preciso separar as coisas. Primeiramente precisamos saber se o que queremos afirmar é: o Novo Testamento pode ser considerado escritura sagrada ou se é uma obra desprovida de valores éticos e morais, de rica documentação que revela o pensamento e os costumes de um povo em relação à Torah em determinada época?  
Portanto, são coisas completamente distintas que devem ser consideradas.

A Alegação do Réu.
Sobre a acusação de contradizer a Lei (Torah) do Eterno, o réu afirma:

* “A Lei é santa e o mandamento santo, justo e bom.” (Rom.7.12)

* “Não cuideis que vim destruir a Lei. Não vim destruir, mas cumprir... Até que o céu e a terra passem, nem um traço ou yod (menor letra do alfabeto hebreu) se omitirá da Lei.” (Mat. 5.17)

* “Porque este é o amor de Elohim: que guardemos os seus mandamentos e os seus mandamentos não são pesados” (1 Jo. 5.3)

* “Anulamos a Lei pela Fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a Lei.” (Rom. 3.31)

Muitas outras afirmações são feitas, mas estas são suficientes para demonstrar a intenção do “acusado”.

Sobre a acusação de ser uma fraude por causa de problemas de autoria e datação, a história afirma que no Velho Testamento também encontramos problemas para se definir autores e datas e nem por isso seu valor é questionado, pois livros como Yeshayahu (Isaías) pode ter tido até três autores; Z’charyah (Zacarias) teria dois autores; a dúvidas quanto ao final do último livro da Torah (D’varim/ Deuteronômio), pois como Moshe (Moisés) poderia escrever se ele já teria morrido? Enfim, se buscamos um julgamento justo, não podemos ter dois pesos e duas medidas, pois isso é abominação perante o Eterno:

“Dois pesos diferentes e duas espécies de medida são abominação ao SENHOR, tanto um como outro.” (Mishlei/Provérbios) 20.10

Uma testemunha corajosa.
Sugerimos que antes de qualquer coisa, examinemos os conteúdos, pois podemos perder uma grande oportunidade de aprendermos como viver a Torah em alguma situação inusitada que possamos nos encontrar, pois como escreveu o célebre rabino Isaac Liechtenstein ao seu filho:

“De cada linha do “Novo Testamento”, de cada palavra, o espírito judaico fluía luz, poder, resistência, fé, esperança, amor, caridade, sem limites e indestrutível fé em Elohim.”

O interessante é que alguns anos antes, este rabino tomou o Novo Testamento das mãos de um professor judeu de uma escola comunitária no norte da Hungria, e num acesso de raiva lançou pela sala.

Finalmente
Sabemos que o manual para a vida é a Torah, e que os demais livros da bíblia se baseiam nela para desenvolver suas mensagens, descartá-los por causa de problemas de autorias suspeitas e supostas contradições de um ou outro texto, a meu ver é um grande desperdício. Contudo, aguardaremos o veredicto que O Eterno a seu tempo dará.



4 comentários:

  1. Excelente. De certa forma me trouxe um pouco de tanquilidade em relação á questão leventada.

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  2. Shalom,
    Chaver!

    Li agora a pouco o artigo “O Julgamento do Novo Testamento”, no Blog da Kehilah e, como não posso deixar de falar das coisas que vi e que ouvi, gostaria de ser arrolado como testemunha de defesa do ilustre Réu.

    Meu primeiro comentário é sobre a apresentação do mesmo, onde foi dito:
    “Obra literária que norteia (ou norteou) a conduta de milhares de pessoas mundo afora, cujos princípios ensinados são atribuídos a Yeshua ben Yosef (Conhecido como Jesus) e seus discípulos, todos eles judeus que viveram por volta do primeiro Século. Embora os supostos autores tenham vivido no referido período, o Novo Testamento foi organizado e oficializado em meados do Século V, ou seja, muito tempo depois do que foi vivido pelos seus autores.”

    Se consultarmos a obra “História Eclesiástica”, escrita por outra testemunha, chamada Eusébio, vamos encontrar no Livro 3, capítulo XXV, o seguinte (pequeno extrato):

    [Das Sagradas Escrituras reconhecidas e das que não o são]
    Chegando aqui, é hora de recapitular os escritos do Novo Testamento já mencionados. Em primeiro lugar temos que colocar a tétrade santa dos Evangelhos, aos quais segue-se o escrito dos Atos dos Apóstolos. Depois deste há que se colocar a lista das Cartas de Paulo. Depois deve-se dar por certa a chamada Primeira de João, assim como a de Pedro. Depois destas, se está bem, pode-se colocar o Apocalipse de João, sobre o qual exporemos oportunamente o que dele se pensa. Estes são os ditos admitidos. Dos livros discutidos, por outro lado, mas que são conhecidos da grande maioria, temos a Carta dita de Tiago, a de Judas e a segunda de Pedro, assim como as que se diz serem segunda e terceira de João, sejam do próprio evangelista, seja de outro com o mesmo nome...

    Ora, Eusébio coloca o texto acima um pouco depois de anunciar a nomeação de Inácio como bispo de Antioquia, o que aconteceu entre 68 e 100 ou 107 da era comum. Logo, como podemos ver, a grande maioria dos livros do NT já eram reconhecidos como inspirados. Até aqueles sobre os quais haviam dúvidas, também esses (que eram reconhecido pela maioria) foram adimitidos pelos discípulos.

    Além de Eusébio, Clemente, 3º bispo de Roma, que viveu entre 170 – 215 da era comum, entre outros citados em “História Eclesiástica”, também pode ser arrolado como testemunha de defesa do Réu (se é que ele precisa de tal coisa).

    Que fique, então, registrado em favor do Réu que, apesar de Roma ter organizado e oficializado sua disposição em meados do século V, na verdade o Réu já era reconhecido e aceito pelos discípulos de nosso Senhor já no século I.

    No mais, que YHVH te abençoe, juntamente com sua casa e a todos os irmãos e irmãs amados da Kehilah Beit Chessed

    Yossef ben Yossef

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    1. Shalom Yosef!
      Grato por sua contribuição, só gostaria de esclarecer que o tempo a que me referi foi o do "fechamento" do canon e não a data da composição de cada um dos livros que compõe a BC.

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  3. Sim, chaver, eu entendi. No entanto, quis dar uma ênfase maior ao fato de que, apesar de um religião (o catolicismo romano) ter se pronunciado sobre o canon, ele (o canon) já era aceito pelos discípulos desde o século I. Ou seja, o tal "fechamento" do canon foi "chover no molhado".
    Yossef ben Yossef

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