Por Yochanan ben Avraham
Introdução.
Dando continuidade aos estudos do Sefer D’varim (Livro
Deuteronômio), estaremos apresentando um resumo de dois capítulos
estudados na Kehilah nas referidas datas. Nestes, a ênfase na lembrança e cumprimento dos preceitos
da Torah, corrobora com a idéia de que o Sefer D’varim seja o mais importante
da Torah, pois suas palavras estabelecem com clareza qual deve ser o “modus vivendis” de um Povo Santo.
Um “negócio” de família(Perek 6).
Logo nas primeiras linhas deste perek, percebemos que a
observância da Torah é algo que deve envolver toda a família! Percebe-se que
quando é mencionado: “TU, TEU FILHO e o FILHO DE TEU FILHO, isto é, três
gerações de uma família, O Eterno manifesta o desejo de estender sua benção por
todo o tempo que esta existir... Contudo, percebe-se também que, quando a Torah
não é passada de “Pai para Filho”, o que se estabelece é a maldição, conforme
exprime o segundo dos dez ditos (dez mandamentos):
Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há
em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra;
Não te encurvarás a elas, nem as servirás; porque eu, YHWH teu Elohim, sou
Elohim zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e
quarta geração daqueles que me odeiam.
E faço misericórdia a milhares dos que me amam e guardam os meus
mandamentos.
(D’varim/Deuteronômio 5.8-10)
“Inversão” da
benção. Um testemunho na história? (Perek 6).
Outro aspecto interessante deste perek se encontra nas
seguintes palavras:
Quando, pois, o YHWH teu Elohim te introduzir na terra que jurou a teus
pais, Abraão, Isaque e Jacó, que te daria, com grandes e boas cidades, que tu
não edificaste, e casas cheias de todo o bem, que tu não encheste e poços
cavados, que tu não cavaste, vinhas e olivais que tu não plantaste, e comeres,
e te fartares, guarda-te, que não te esqueças do Senhor, que te tirou da terra
do Egito, da casa da servidão.
(D’varim/Deuteronômio 6.10-12)
Os filhos de Israel herdariam as posses dos povos que foram
banidos da terra que passaria a pertencer a eles! Edificações, plantações e
etc., sem dúvida uma grande benção! Mas a benção, (como iremos aprender bem
mais adiante), é apenas a conseqüência da nossa obediência aos preceitos da
Torah. Conforme diz o perek (capítulo) vinte e oito deste mesmo livro, quando
desobedecemos estes preceitos, ocorre uma “inversão” e os eventos que
acompanham o nosso cotidiano tornam nossa vida sofrida. Infelizmente, a história
nos mostra um episódio que retrata bem o que estamos tentando dizer, estamos
nos referindo a um dos momentos mais tristes da humanidade: o nazismo alemão e
a perseguição aos judeus, aos filhos de Israel. Como se pode constatar, muitas
vezes foi noticiado o desejo de ressarcimento aos judeus por todas as obras de
artes que lhes foram roubadas pelos nazistas no período da Segunda Guerra
Mundial. Naquele período, oficiais do exercito de Hitler (Que seu nome seja
esquecido!) passaram a ocupar “casas que não edificaram” tomando-as dos judeus,
desfrutando de todos os bens nelas armazenados, deste modo, exatamente como os
primeiros israelitas gozaram dos bens dos povos que foram expulsos da terra, os
nazistas estavam se apropriando dos bens dos judeus que estavam fugindo ou já
exilados nos guetos e campos de concentração. Mas o que isso quer dizer? Que os
nazistas estavam sendo abençoados? NÃO! Mas que, conforme se depreende de
D’varim 28, os filhos de Israel estavam sendo amaldiçoados por causa da desobediência.
Nisto vemos a grande responsabilidade que pesa sobre nós,
pois não se trata simplesmente de se ter uma “religião”, mas, de como sendo alguém
(natural ou prosélito), que faz parte de Israel, de sermos fieis ao pacto feito
no Sinai. Cumprir a Torah é um compromisso que, como povo, assumimos perante o
Juiz de toda a Terra, portanto, é uma questão de caráter.
Aprendendo a ser justo (Perek 6).
O último versículo deste perek, de maneira simples e direta,
revela algo que muitos desejam, mas têm dificuldades de conseguir por causa das
muitas invenções humanas, nos referimos ao ser justo perante o Eterno, vejamos:
E será para nós justiça, quando tivermos cuidado de cumprir todos estes
mandamentos perante o Senhor nosso Deus, como nos tem ordenado.
(D’varim/Deuteronômio 6.25)
Este conceito ainda era ensinado no primeiro Século da era
comum como podemos constatar nas palavras do emissário Sha’ul:
Porque os que ouvem a lei não são justos diante do Eterno, mas os que
praticam a lei hão de ser justificados.
(Ruhomayah/Romanos 2.13)
Da mesma forma, Ya’akov ha tsadik ensinou:
Por isso, rejeitando toda a imundícia e superfluidade de malícia,
recebei com mansidão a palavra em vós enxertada, a qual pode salvar as vossas
almas. E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a
vós mesmos.
Porque, se alguém é ouvinte da palavra, e não cumpridor, é semelhante
ao homem que contempla ao espelho o seu rosto natural;
Porque se contempla a si mesmo, e vai-se, e logo se esquece de como
era.
Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade, e nisso
persevera, não sendo ouvinte esquecidiço, mas fazedor da obra, este tal será
bem-aventurado no seu feito.
(Ya’akov/Tiago 1.21-25)
A mensagem é clara: “Discursos e filosofias não são
bastantes, é necessário praticar”
As sete nações (Perek 7).
Para nos situarmos nesta questão, devemos voltar ao Sefer
Bereshit (Livro de Gênesis) 10.6 – 20 para conhecermos as origens de cada um
destes povos:
E os filhos de Cão são: Cuxe, Mizraim, Pute e Canaã.
E os filhos de Cuxe são: Sebá, Havilá, Sabtá, Raamá e Sabtecá; e os
filhos de Raamá: Sebá e Dedã.
E Cuxe gerou a Ninrode; este começou a ser poderoso na terra.
E este foi poderoso caçador diante da face do Senhor; por isso se diz:
Como Ninrode, poderoso caçador diante do Senhor.
E o princípio do seu reino foi Babel, Ereque, Acade e Calné, na terra
de Sinar.
Desta mesma terra saiu à Assíria e edificou a Nínive, Reobote-Ir, Calá,
E Resen, entre Nínive e Calá (esta é a grande cidade).
E Mizraim gerou a Ludim, a Anamim, a Leabim, a Naftuim,
A Patrusim e a Casluim (donde saíram os filisteus) e a Caftorim.
E Canaã gerou a Sidom, seu primogênito, e a Hete;
E ao jebuseu, ao amorreu, ao girgaseu,
E ao heveu, ao arqueu, ao sineu,
E ao arvadeu, ao zemareu, e ao hamateu, e depois se espalharam as
famílias dos cananeus.
E foi o termo dos cananeus desde Sidom, indo para Gerar, até Gaza; indo
para Sodoma e Gomorra, Admá e Zeboim, até Lasa.
Estes são os filhos de Cão segundo as suas famílias, segundo as suas
línguas, em suas terras, em suas nações.
Como podemos constatar, seis das sete nações citadas são
descendentes de Kena’an filho Cham (Cão), e isto é muito significativo, pois
demonstra que tal ordem não era uma novidade, mas a ratificação daquilo que os
patriarcas Avraham (Abraão) e Yits’chak (Isaque) já haviam designado, vejamos:
E era Abraão já velho e adiantado em idade, e o SENHOR havia abençoado
a Abraão em tudo.
E disse Abraão ao seu servo, o mais velho da casa, que tinha o governo
sobre tudo o que possuía: Põe agora a tua mão debaixo da minha coxa,
Para que eu te faça jurar por Adonai Elohim dos céus e Elohim da terra,
que não tomarás para meu filho mulher das filhas dos cananeus, no meio dos
quais eu habito.
Mas que irás à minha terra e à minha parentela, e dali tomarás mulher
para meu filho Isaque.
(Bereshit/Gênesis 24.1-4)
Vejamos também:
Ora, sendo Esaú da idade de quarenta anos, tomou por mulher a Judite,
filha de Beeri, heteu, e a Basemate, filha de Elom, heteu.
E estas foram para Isaque e Rebeca uma amargura de espírito.
(Bereshit/Gênesis 26.34-35)
E disse Rebeca a Isaque: Enfadada estou da minha vida, por causa das
filhas de Hete; se Jacó tomar mulher das filhas de Hete, como estas são, das
filhas desta terra, para que me servirá a vida?(Bereshit/Gênesis 27.46)
E Isaque chamou a Jacó, e abençoou-o, e ordenou-lhe, e disse-lhe: Não
tomes mulher de entre as filhas de Canaã; (Bereshit/Gênesis 28.1)
Podemos notar que Esav (Esaú) não havia seguido a ordem de
seu avô e também de seu pai, por isso foi necessário que Yits’chak “reavivasse”
na mente de seu outro filho, Ya’akov, aquilo que desde Avraham estava
estabelecido. Agora pensemos um pouco:
Se uma ordem tão específica foi ignorada pouco tempo após ter sido
estabelecida, o que dirá séculos depois? Por isso existe a necessidade de
sempre estarmos revendo as mitzvot (mandamentos) para não nos deixarmos levar
pela “correnteza” das tendências deste mundo tenebroso.
Méritos não temos, Adonai... É pela Tua graça!
O perek (capítulo) sete continua com importantes revelações
sobre as bases do nosso relacionamento com O Eterno, vejamos:
O Senhor não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa
multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em
número do que todos os povos;
Mas, porque o Senhor vos amava, e para guardar o juramento que fizera a
vossos pais, o Senhor vos tirou com mão forte e vos resgatou da casa da
servidão, da mão de Faraó, rei do Egito. (D’varim/Deuteronômio 7.7-8)
Diante do exposto, nenhum israelita, quer seja de Yehudah
(Judá) ou de Efraim, têm motivos para se vangloriar perante outros povos como
se fossemos mais fortes, maiores ou mais belos, pois fomos escolhidos justamente
por causa da nossa pequenez! Foi a fidelidade de HaShem à Sua palavra que fez
de “Am Israel” (povo de Israel), a nação que é hoje, que para se ter uma noção
de suas conquistas, 25% dos prêmios Nobel foram entregues a judeus. Se acharmos
que tudo que alcançamos foi por causa de nossas próprias capacidades e não pelo
beneplácito do Eterno, certamente perderemos a razão de existirmos, pois Israel
é um servo de Adonai.
Outro aspecto fundamental para entendermos a dinâmica da graça
do Eterno se encontra no passuk (versículo)12:
Se ouvirdes esses preceitos e os praticardes fielmente, o Senhor, teu
Deus, guardará para contigo a aliança de misericórdia que jurou a teus pais,
(D’varim/Deuteronômio) 7.12
Infelizmente, alguns seguimentos religiosos afirmam que
quando alguém observa a Lei, “cai da graça”... Nada pode ser mais falacioso!
Pois o que esta escrito é justamente o contrário, já que enquanto colocarmos em
prática os “mishpatim” (juízos; ordens/mandamentos) seremos mantidos em Sua “Brit” (Aliança) e Sua “Chessed” (Graça; misericórdia;
bondade; amor). Corroborando com isso temos um escrito do primeiro Século que
diz o seguinte:
Caríssimos, estando eu muito preocupado em vos escrever a respeito da
nossa comum salvação, senti a necessidade de dirigir-vos esta carta para
exortar-vos a pelejar pela fé, confiada de uma vez para sempre aos santos.
Pois certos homens ímpios se introduziram furtivamente entre nós, os
quais desde muito tempo estão destinados para este julgamento; eles transformam
em dissolução a graça de nosso Elohim e negam Yeshua HaMashiach, nosso único
Mestre e Senhor.
(Yehudah/Judas 1.3-4)
Como podemos ver, o escritor do texto estava preocupado com
aqueles que estariam se infiltrando entre os seguidores do Rabi Yeshua “transformando
a graça de Elohim em dissolução, licenciosidade”, ou seja, pessoas que estariam
subvertendo o sentido dos ensinamentos de Yeshua introduzindo o pensamento de
que a graça exclui a observância da Lei. No entanto, os verdadeiros
ensinamentos do Rabi Yeshua apontavam para a Torah, tendo uma abordagem mais
espiritual dos seus preceitos.
Com o passar dos séculos, constatamos que a preocupação de Yehudah
tinha fundamento, pois os tais homens não só se infiltraram como também foram
capazes de criar um personagem baseado no jovem rabino galileu... Você poderia
dizer quem é este personagem?
* (Sobre este assunto sugerimos a leitura do artigo “Caindo
da Graça?” no seguinte link:
Shabat Shalom !!!