sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Sedrá dos Shabatot de 16 e 23/11/13 (D’varim 6 e 7)

Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

Dando continuidade aos estudos do Sefer D’varim (Livro Deuteronômio), estaremos apresentando um resumo de dois capítulos estudados na Kehilah nas referidas datas. Nestes, a ênfase na lembrança e cumprimento dos preceitos da Torah, corrobora com a idéia de que o Sefer D’varim seja o mais importante da Torah, pois suas palavras estabelecem com clareza qual deve ser o “modus vivendis” de um Povo Santo.

Um “negócio” de família(Perek 6).

Logo nas primeiras linhas deste perek, percebemos que a observância da Torah é algo que deve envolver toda a família! Percebe-se que quando é mencionado: “TU, TEU FILHO e o FILHO DE TEU FILHO, isto é, três gerações de uma família, O Eterno manifesta o desejo de estender sua benção por todo o tempo que esta existir... Contudo, percebe-se também que, quando a Torah não é passada de “Pai para Filho”, o que se estabelece é a maldição, conforme exprime o segundo dos dez ditos (dez mandamentos):

Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra;
Não te encurvarás a elas, nem as servirás; porque eu, YHWH teu Elohim, sou Elohim zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam.
E faço misericórdia a milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos.
(D’varim/Deuteronômio 5.8-10)

 “Inversão” da benção. Um testemunho na história? (Perek 6).

Outro aspecto interessante deste perek se encontra nas seguintes palavras:

Quando, pois, o YHWH teu Elohim te introduzir na terra que jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó, que te daria, com grandes e boas cidades, que tu não edificaste, e casas cheias de todo o bem, que tu não encheste e poços cavados, que tu não cavaste, vinhas e olivais que tu não plantaste, e comeres, e te fartares, guarda-te, que não te esqueças do Senhor, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão.
(D’varim/Deuteronômio 6.10-12)

Os filhos de Israel herdariam as posses dos povos que foram banidos da terra que passaria a pertencer a eles! Edificações, plantações e etc., sem dúvida uma grande benção! Mas a benção, (como iremos aprender bem mais adiante), é apenas a conseqüência da nossa obediência aos preceitos da Torah. Conforme diz o perek (capítulo) vinte e oito deste mesmo livro, quando desobedecemos estes preceitos, ocorre uma “inversão” e os eventos que acompanham o nosso cotidiano tornam nossa vida sofrida. Infelizmente, a história nos mostra um episódio que retrata bem o que estamos tentando dizer, estamos nos referindo a um dos momentos mais tristes da humanidade: o nazismo alemão e a perseguição aos judeus, aos filhos de Israel. Como se pode constatar, muitas vezes foi noticiado o desejo de ressarcimento aos judeus por todas as obras de artes que lhes foram roubadas pelos nazistas no período da Segunda Guerra Mundial. Naquele período, oficiais do exercito de Hitler (Que seu nome seja esquecido!) passaram a ocupar “casas que não edificaram” tomando-as dos judeus, desfrutando de todos os bens nelas armazenados, deste modo, exatamente como os primeiros israelitas gozaram dos bens dos povos que foram expulsos da terra, os nazistas estavam se apropriando dos bens dos judeus que estavam fugindo ou já exilados nos guetos e campos de concentração. Mas o que isso quer dizer? Que os nazistas estavam sendo abençoados? NÃO! Mas que, conforme se depreende de D’varim 28, os filhos de Israel estavam sendo amaldiçoados por causa da desobediência.
Nisto vemos a grande responsabilidade que pesa sobre nós, pois não se trata simplesmente de se ter uma “religião”, mas, de como sendo alguém (natural ou prosélito), que faz parte de Israel, de sermos fieis ao pacto feito no Sinai. Cumprir a Torah é um compromisso que, como povo, assumimos perante o Juiz de toda a Terra, portanto, é uma questão de caráter.

Aprendendo a ser justo (Perek 6).

O último versículo deste perek, de maneira simples e direta, revela algo que muitos desejam, mas têm dificuldades de conseguir por causa das muitas invenções humanas, nos referimos ao ser justo perante o Eterno, vejamos:

E será para nós justiça, quando tivermos cuidado de cumprir todos estes mandamentos perante o Senhor nosso Deus, como nos tem ordenado.
(D’varim/Deuteronômio 6.25)

Este conceito ainda era ensinado no primeiro Século da era comum como podemos constatar nas palavras do emissário Sha’ul:

Porque os que ouvem a lei não são justos diante do Eterno, mas os que praticam a lei hão de ser justificados.
(Ruhomayah/Romanos 2.13)

Da mesma forma, Ya’akov ha tsadik ensinou:

Por isso, rejeitando toda a imundícia e superfluidade de malícia, recebei com mansidão a palavra em vós enxertada, a qual pode salvar as vossas almas. E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos.
Porque, se alguém é ouvinte da palavra, e não cumpridor, é semelhante ao homem que contempla ao espelho o seu rosto natural;
Porque se contempla a si mesmo, e vai-se, e logo se esquece de como era.
Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade, e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecidiço, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito.
(Ya’akov/Tiago 1.21-25)

A mensagem é clara: “Discursos e filosofias não são bastantes, é necessário praticar”

As sete nações (Perek 7).

Para nos situarmos nesta questão, devemos voltar ao Sefer Bereshit (Livro de Gênesis) 10.6 – 20 para conhecermos as origens de cada um destes povos:
E os filhos de Cão são: Cuxe, Mizraim, Pute e Canaã.
E os filhos de Cuxe são: Sebá, Havilá, Sabtá, Raamá e Sabtecá; e os filhos de Raamá: Sebá e Dedã.
E Cuxe gerou a Ninrode; este começou a ser poderoso na terra.
E este foi poderoso caçador diante da face do Senhor; por isso se diz: Como Ninrode, poderoso caçador diante do Senhor.
E o princípio do seu reino foi Babel, Ereque, Acade e Calné, na terra de Sinar.
Desta mesma terra saiu à Assíria e edificou a Nínive, Reobote-Ir, Calá,
E Resen, entre Nínive e Calá (esta é a grande cidade).
E Mizraim gerou a Ludim, a Anamim, a Leabim, a Naftuim,
A Patrusim e a Casluim (donde saíram os filisteus) e a Caftorim.
E Canaã gerou a Sidom, seu primogênito, e a Hete;
E ao jebuseu, ao amorreu, ao girgaseu,
E ao heveu, ao arqueu, ao sineu,
E ao arvadeu, ao zemareu, e ao hamateu, e depois se espalharam as famílias dos cananeus.
E foi o termo dos cananeus desde Sidom, indo para Gerar, até Gaza; indo para Sodoma e Gomorra, Admá e Zeboim, até Lasa.
Estes são os filhos de Cão segundo as suas famílias, segundo as suas línguas, em suas terras, em suas nações.

Como podemos constatar, seis das sete nações citadas são descendentes de Kena’an filho Cham (Cão), e isto é muito significativo, pois demonstra que tal ordem não era uma novidade, mas a ratificação daquilo que os patriarcas Avraham (Abraão) e Yits’chak (Isaque) já haviam designado, vejamos:

E era Abraão já velho e adiantado em idade, e o SENHOR havia abençoado a Abraão em tudo.
E disse Abraão ao seu servo, o mais velho da casa, que tinha o governo sobre tudo o que possuía: Põe agora a tua mão debaixo da minha coxa,
Para que eu te faça jurar por Adonai Elohim dos céus e Elohim da terra, que não tomarás para meu filho mulher das filhas dos cananeus, no meio dos quais eu habito.
Mas que irás à minha terra e à minha parentela, e dali tomarás mulher para meu filho Isaque.
(Bereshit/Gênesis 24.1-4)

Vejamos também:

Ora, sendo Esaú da idade de quarenta anos, tomou por mulher a Judite, filha de Beeri, heteu, e a Basemate, filha de Elom, heteu.
E estas foram para Isaque e Rebeca uma amargura de espírito.
(Bereshit/Gênesis 26.34-35)

E disse Rebeca a Isaque: Enfadada estou da minha vida, por causa das filhas de Hete; se Jacó tomar mulher das filhas de Hete, como estas são, das filhas desta terra, para que me servirá a vida?(Bereshit/Gênesis 27.46)

E Isaque chamou a Jacó, e abençoou-o, e ordenou-lhe, e disse-lhe: Não tomes mulher de entre as filhas de Canaã; (Bereshit/Gênesis 28.1)

Podemos notar que Esav (Esaú) não havia seguido a ordem de seu avô e também de seu pai, por isso foi necessário que Yits’chak “reavivasse” na mente de seu outro filho, Ya’akov, aquilo que desde Avraham estava estabelecido.  Agora pensemos um pouco: Se uma ordem tão específica foi ignorada pouco tempo após ter sido estabelecida, o que dirá séculos depois? Por isso existe a necessidade de sempre estarmos revendo as mitzvot (mandamentos) para não nos deixarmos levar pela “correnteza” das tendências deste mundo tenebroso.

Méritos não temos, Adonai... É pela Tua graça!

O perek (capítulo) sete continua com importantes revelações sobre as bases do nosso relacionamento com O Eterno, vejamos:

O Senhor não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos;
Mas, porque o Senhor vos amava, e para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o Senhor vos tirou com mão forte e vos resgatou da casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito. (D’varim/Deuteronômio 7.7-8)

Diante do exposto, nenhum israelita, quer seja de Yehudah (Judá) ou de Efraim, têm motivos para se vangloriar perante outros povos como se fossemos mais fortes, maiores ou mais belos, pois fomos escolhidos justamente por causa da nossa pequenez! Foi a fidelidade de HaShem à Sua palavra que fez de “Am Israel” (povo de Israel), a nação que é hoje, que para se ter uma noção de suas conquistas, 25% dos prêmios Nobel foram entregues a judeus. Se acharmos que tudo que alcançamos foi por causa de nossas próprias capacidades e não pelo beneplácito do Eterno, certamente perderemos a razão de existirmos, pois Israel é um servo de Adonai.

Outro aspecto fundamental para entendermos a dinâmica da graça do Eterno se encontra no passuk (versículo)12:

Se ouvirdes esses preceitos e os praticardes fielmente, o Senhor, teu Deus, guardará para contigo a aliança de misericórdia que jurou a teus pais,
(D’varim/Deuteronômio) 7.12

Infelizmente, alguns seguimentos religiosos afirmam que quando alguém observa a Lei, “cai da graça”... Nada pode ser mais falacioso! Pois o que esta escrito é justamente o contrário, já que enquanto colocarmos em prática os “mishpatim” (juízos; ordens/mandamentos) seremos mantidos em Sua  “Brit” (Aliança) e Sua “Chessed” (Graça; misericórdia; bondade; amor). Corroborando com isso temos um escrito do primeiro Século que diz o seguinte:

Caríssimos, estando eu muito preocupado em vos escrever a respeito da nossa comum salvação, senti a necessidade de dirigir-vos esta carta para exortar-vos a pelejar pela fé, confiada de uma vez para sempre aos santos.
Pois certos homens ímpios se introduziram furtivamente entre nós, os quais desde muito tempo estão destinados para este julgamento; eles transformam em dissolução a graça de nosso Elohim e negam Yeshua HaMashiach, nosso único Mestre e Senhor.
(Yehudah/Judas 1.3-4)

Como podemos ver, o escritor do texto estava preocupado com aqueles que estariam se infiltrando entre os seguidores do Rabi Yeshua “transformando a graça de Elohim em dissolução, licenciosidade”, ou seja, pessoas que estariam subvertendo o sentido dos ensinamentos de Yeshua introduzindo o pensamento de que a graça exclui a observância da Lei. No entanto, os verdadeiros ensinamentos do Rabi Yeshua apontavam para a Torah, tendo uma abordagem mais espiritual dos seus preceitos.
Com o passar dos séculos, constatamos que a preocupação de Yehudah tinha fundamento, pois os tais homens não só se infiltraram como também foram capazes de criar um personagem baseado no jovem rabino galileu... Você poderia dizer quem é este personagem?

* (Sobre este assunto sugerimos a leitura do artigo “Caindo da Graça?” no seguinte link:


Shabat Shalom !!!

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