sábado, 8 de março de 2014

Sedrá dos Shabatot de 07, 14, 21 e 28/12/13 (D’varim 9, 10, 11 e 12)

Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

Em consideração àqueles que acompanham nossos estudos, damos continuidade ao trabalho de postar os resumos do que foi comentado e estudado na kehilah, mas que ainda não haviam sido publicados neste Blog.

Perek (Capítulo) 9.

Nos primeiros passukim (versículos) deste perek, O Eterno deixa claro que a razão pela qual Israel herdaria a Terra Prometida, não seria o seu mérito, mas o “demérito” daqueles que a possuíam, sendo assim, podemos observar que mesmo aqueles que parecem intransponíveis, que vivem segundo suas próprias vontades, um dia hão de sucumbir ante o juízo do Eterno. Por esta razão os filhos de Israel não devem temer aos “grandes” deste mundo e nem se sujeitar as “modas e tendências” de suas metrópoles que indubitavelmente têm influenciado milhões no mundo inteiro. Devemos sim confiar que a maldade, a corrupção e as injustiças que os poderosos deste mundo infringem sobre os demais, receberão seu devido castigo, como aquelas nações receberam.

Neste perek também é notório que Israel, enquanto povo tem uma tendência à rebeldia, pois a expressão “am kesheh oref” (literalmente povo de pescoço duro; dura cerviz) nos passukim (versículos) seis e treze não deixa dúvida sobre isso. Esta rebeldia se refere a resistência que havia em se submeter à Torah, pois a palavra “kesheh”, vem da raiz “kasheh” que se origina de um contexto agrícola, indicando os efeitos de um jugo pesado, comparando a resistência que o boi oferece a este jugo a resistência de Israel em obedecer as mitsvot (mandamentos) do Eterno.

Foi a desobediência do povo que levou Mosheh a quebrar as primeiras tábuas, mas que também o obrigou a intermediar a situação criada em decorrência da rebeldia. Percebe-se então, mais uma vez, a necessidade da intermediação de um “Tsadik” (justo) para a relação entre o Povo e O Eterno, como se vê em Bereshit 18. 16-33:

 E levantaram-se aqueles homens dali, e olharam para o lado de Sodoma; e Abraão ia com eles, acompanhando-os.
E disse o Senhor: Ocultarei eu a Abraão o que faço, visto que Abraão certamente virá a ser uma grande e poderosa nação, e nele serão benditas todas as nações da terra?
Porque eu o tenho conhecido, e sei que ele há de ordenar a seus filhos e à sua casa depois dele, para que guardem o caminho do Senhor, para agir com justiça e juízo; para que o Senhor faça vir sobre Abraão o que acerca dele tem falado.
Disse mais o Senhor: Porquanto o clamor de Sodoma e Gomorra se tem multiplicado, e porquanto o seu pecado se tem agravado muito, descerei agora, e verei se com efeito têm praticado segundo o seu clamor, que é vindo até mim; e se não, sabê-lo-ei.
Então viraram aqueles homens os rostos dali, e foram-se para Sodoma; mas Abraão ficou ainda em pé diante da face do Senhor.
E chegou-se Abraão, dizendo: Destruirás também o justo com o ímpio?
Se porventura houver cinqüenta justos na cidade, destruirás também, e não pouparás o lugar por causa dos cinqüenta justos que estão dentro dela?
Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti. Não faria justiça o Juiz de toda a terra?
Então disse o Senhor: Se eu em Sodoma achar cinqüenta justos dentro da cidade, pouparei a todo o lugar por amor deles.
E respondeu Abraão dizendo: Eis que agora me atrevi a falar ao Senhor, ainda que sou pó e cinza.
Se porventura de cinqüenta justos faltarem cinco, destruirás por aqueles cinco toda a cidade? E disse: Não a destruirei, se eu achar ali quarenta e cinco.
E continuou ainda a falar-lhe, e disse: Se porventura se acharem ali quarenta? E disse: Não o farei por amor dos quarenta.
Disse mais: Ora, não se ire o Senhor, se eu ainda falar: Se porventura se acharem ali trinta? E disse: Não o farei se achar ali trinta.
E disse: Eis que agora me atrevi a falar ao Senhor: Se porventura se acharem ali vinte? E disse: Não a destruirei por amor dos vinte.
Disse mais: Ora, não se ire o Senhor, que ainda só mais esta vez falo: Se porventura se acharem ali dez? E disse: Não a destruirei por amor dos dez.
E retirou-se o Senhor, quando acabou de falar a Abraão; e Abraão tornou-se ao seu lugar.

As ações mediadoras de Avraham e Mosheh parecem ter estabelecido uma espécie de “lei”, pois no decorrer da história dos filhos de Israel, nós vemos o Eterno buscando alguém que se apresentasse perante Ele em pró da Nação:

E veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:
Filho do homem, dize-lhe: Tu és uma terra que não está purificada; e que não tem chuva no dia da indignação.
Conspiração dos seus profetas há no meio dela, como um leão que ruge, que arrebata a presa; eles devoram as almas; tomam tesouros e coisas preciosas, multiplicam as suas viúvas no meio dela.
Os seus sacerdotes violentam a minha lei, e profanam as minhas coisas santas; não fazem diferença entre o santo e o profano, nem discernem o impuro do puro; e de meus sábados escondem os seus olhos, e assim sou profanado no meio deles.
Os seus príncipes no meio dela são como lobos que arrebatam a presa, para derramarem sangue, para destruírem as almas, para seguirem a avareza.
E os seus profetas têm feito para eles cobertura com argamassa não temperada, profetizando vaidade, adivinhando-lhes mentira, dizendo: Assim diz Adonai YHWH; sem que YHWH tivesse falado.
Ao povo da terra oprimem gravemente, e andam roubando, e fazendo violência ao pobre e necessitado, e ao estrangeiro oprimem sem razão.
E busquei dentre eles um homem que estivesse tapando o muro, e estivesse na brecha perante mim por esta terra, para que eu não a destruísse; porém a ninguém achei.
(Yechezkel/Ezequiel 22.23-30)

Sobre alguém representar o povo perante HaShem, existe algo interessante registrado em um documento de meados do Século II de nossa era. Referimos-nos a Bessorah (notícias; boas novas) de Yochanan (João):

Muitos, pois, dentre os judeus que tinham vindo a Miriam, e que tinham visto o que Yeshua fizera, creram nele.
Mas alguns deles foram ter com os fariseus, e disseram-lhes o que Yeshua tinha feito.
Depois os principais dos sacerdotes e os fariseus formaram conselho, e diziam: Que faremos? Porquanto este homem faz muitos sinais.
Se o deixamos assim, todos crerão nele, e virão os romanos, e tirar-nos-ão o nosso lugar e a nação.
E Caifás, um deles que era sumo sacerdote naquele ano, lhes disse: Vós nada sabeis,
Nem considerais que nos convém que um homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação.
Ora ele não disse isto de si mesmo, mas, sendo o sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Yeshua devia morrer pela nação.
(Yochanan/João 11.45-51)

Perek (Capítulo) 10

Logo no início deste perek, salta aos nossos olhos a ordem que O Eterno da a Mosheh, ordenando-lhe a preparar duas tábuas como as primeiras. Devemos lembrar que as primeiras tábuas foram quebradas por Mosheh e que estas tábuas foram, (pelo que se depreende do texto que leremos a seguir), preparadas pelo próprio Elohim:

Então disse o Senhor a Moisés: Sobe a mim ao monte, e fica lá; e dar-te-ei as tábuas de pedra e a lei, e os mandamentos que tenho escrito, para os ensinar.
(Shemot/Êxodo 24.12)

Ou seja, as primeiras tábuas foram preparadas pelo Eterno, mas as segundas, embora tenham sido escritas pelo próprio Elohim, foram preparadas por Mosheh. Este detalhe nos ensina algo muito valioso: o princípio do “tikun” (reparação).
Mosheh havia quebrado as primeiras tábuas e, portanto, ele agora deveria reparar o “dano” causado. Isto significa que quando “quebramos” algo devemos providenciar o reparo... Mosheh poderia alegar que foi o povo que o levou a errar, mas ao invés disso fez o que lhe foi ordenado sem transferir a outros a responsabilidade de preparar novas tábuas. Logo, nós também devemos assumir nossa parcela de culpa e providenciar o “tikun olam” (reparação do mundo), vale lembrar que a expressão “tikun olam” está relacionada com a justiça social, portanto, não devemos “jogar” toda a responsabilidade no governo, mas nós mesmos darmos nossa contribuição para tornar a sociedade melhor.

Este episódio também ensina que, recomeçar é mais difícil do que iniciar... Repare que as primeiras tábuas foram entregues prontas a Mosheh, mas as segundas ele precisou preparar e carregá-las monte acima, demonstrando que o caminho da reparação envolve levar um “peso extra”. De fato, reparar, restaurar ou refazer algo, principalmente relacionamentos é muito mais trabalhoso, vejamos o que disse Sh’lomo HaMelech (O rei Salomão):

O irmão ofendido é mais difícil de conquistar do que uma cidade forte; e as contendas são como os ferrolhos de um palácio.
(Mishlei/Provérbios 18.19)

Por esta razão entendemos a dificuldade que muitos têm em se arrependerem, pois sabem que envolve um esforço a mais em sua caminhada.

Outra passagem marcante deste perek (capítulo) está no passuk (versículo) 16:
Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração, e não mais endureçais a vossa cerviz.

Isto significa que a “circuncisão do coração” ensinada por Sha’ul (Paulo) em suas cartas, não é uma substituição da “Brit Milah” (aliança da circuncisão), mas o verdadeiro sentido do pacto, pois nem todos os que circuncidam seus membros, têm seus corações circuncidados; mas todos os que têm seus corações circuncidados, circuncidam seus membros conforme estabelecido na Torah como estatuto perpétuo:

O filho de oito dias, pois, será circuncidado, todo o homem nas vossas gerações; o nascido na casa, e o comprado por dinheiro a qualquer estrangeiro, que não for da tua descendência.
Com efeito, será circuncidado o nascido em tua casa, e o comprado por teu dinheiro; e estará a minha aliança na vossa carne por aliança perpétua.
E o homem incircunciso, cuja carne do prepúcio não estiver circuncidada, aquela alma será extirpada do seu povo; quebrou a minha aliança.
(Bereshit/Gênesis 17.12-14)

Devemos “descobrir”, abrir o nosso coração aos mandamentos do Eterno, Sua Torah é o caminho para a Vida, este é o significado da circuncisão do coração, este era o apelo dos profetas desde os tempos mais antigos:

Porque assim diz o Senhor aos homens de Judá e a Jerusalém: Preparai para vós o campo de lavoura, e não semeeis entre espinhos.
Circuncidai-vos ao Senhor, e tirai os prepúcios do vosso coração, ó homens de Judá e habitantes de Jerusalém, para que o meu furor não venha a sair como fogo, e arda de modo que não haja quem o apague, por causa da malícia das vossas obras.
(Yirmeyahu/Jeremias 4.3-4)

Perek (Capítulo) 11

O perek 11 começa definindo muito bem o que nos cabe enquanto povo do Eterno: guardar os estatutos, os juízos e os mandamentos de nosso Elohim todos os dias. Esta é a verdadeira forma de se demonstrar amor ao Eterno, ou seja, não são apenas expressões verbais ou corporais numa canção, fazes sacrifícios ou votos e etc., mas, conforme ratifica documentos posteriores, amar ao Eterno é obedecer a sua Lei. Rabi Yeshua em seus ensinamentos disse:

Se me amais, guardai os meus mandamentos.
(Yochanan/João 14.15)

E os “seus” mandamentos não eram propriamente dele, mas do Eterno, vejamos:

Yeshua respondeu, e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada.
Quem não me ama não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que ouvistes não é minha, mas do Pai que me enviou.
(Yochanan/João 14.23-24)

Diante disso, poderíamos dizer que a “fórmula do amor” é simples: se você ama ao Eterno, obedece a sua Torah!
O passuk (versículo) dois também nos ensina algo precioso, pois diz, em outras palavras, que aqueles que tiveram experiência, que testemunharam as obras de Elohim ao longo de peregrinação, são os maiores responsáveis perante O Eterno e, segundo o que nos ensina a Torah, são os pais que têm a tarefa de ensinar os filhos:

E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração;
E as ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te.
(D’varim/Deuteronômio 6.6-7)

Entendemos então que a tarefa de ensinar, no que tange as coisas sagradas, está atrelada a experiência pessoal, pois não se trata simplesmente de transmissão de conceitos e informações, pois isso qualquer um pode fazer. Isso fica mais evidente quando percebemos que a palavra empregada no texto é “Yad’u”; da raiz “Yad’a”, que dá origem, dentre outras palavras, ao termo “da’at”, que indica um conhecimento adquirido pela experiência. Sendo assim, surge uma pergunta: “Quem não têm experiência está apto a ensinar?”

O passuk (versículo) oito também nos revela algo importante para nossa edificação, pois afirma que quando guardamos os mandamentos do Eterno nos fortalecemos e é interessante lembrarmos que quando completamos o estudo dos livros da Torah, ao final do último perek (capítulo) de cada um dos cinco livros, é tradição recitarmos juntos as seguintes palavras: “chazak, chazak, venit chazek!” (força, força, sejamos fortalecidos!).
De fato, a força do nosso povo não está em recursos materiais, como foi cantado em versos pelo salmista:

Uns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós faremos menção do nome do Senhor nosso Elohim.
Uns encurvam-se e caem, mas nós nos levantamos e estamos de pé.
(Tehilim/Salmos 20.7-8)

É por isso que continuaremos a declarar que:

... O homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor viverá o homem.
(D’varim/Deuteronômio 8.3)

Dos passukim (versículos) dez ao quinze, outro aspecto importante deve ser comentado, pois indica outra peculiaridade do povo hebreu em relação às demais nações, vejamos por que. Sabemos que as antigas civilizações começaram a se organizar a partir da proximidade aos rios, de onde começaram a desenvolver formas de cultivo utilizando este recurso natural e aproveitando sua força para impulsionar vários seguimentos de sua vida. Tanto foi assim que, para os egípcios, por exemplo, o Rio Nilo era tratado com uma divindade! Mas os hebreus foram dirigidos para outra direção, vejamos:

Porque a terra que passas a possuir não é como a terra do Egito, de onde saíste, em que semeavas a tua semente, e a regavas com o teu pé, como a uma horta.
Mas a terra que passais a possuir é terra de montes e de vales; da chuva dos céus beberá as águas;
(D’varim/Deuteronômio 11.10-11)
Isto significa que a sobrevivência dos Filhos de Israel não está condicionada aos recursos naturais, mas a fidelidade aos valores éticos e morais oriundos de um plano superior, oriundos do Eterno.
O território hebreu seria de montanhas e planícies, cuja fertilidade dependia da obediência do povo aos mandamentos de Elohim. Esta condição foi ratificada posteriormente pelos profetas, como Yoel (Joel), por exemplo, como podemos constatar abaixo:

Ainda assim, agora mesmo diz o Senhor: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, e com choro, e com pranto.
E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao Senhor vosso Elohim; porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal.
Quem sabe se não se voltará e se arrependerá, e deixará após si uma bênção, em oferta de alimentos e libação para o Senhor vosso Elohim?
Tocai a trombeta em Sião, santificai um jejum, convocai uma assembléia solene.
Congregai o povo, santificai a congregação, ajuntai os anciãos, congregai as crianças, e os que mamam; saia o noivo da sua recâmara, e a noiva do seu aposento.
Chorem os sacerdotes, ministros do Senhor, entre o alpendre e o altar, e digam: Poupa a teu povo, ó Senhor, e não entregues a tua herança ao opróbrio, para que os gentios o dominem; por que diriam entre os povos: Onde está o seu Elohim?
Então o Senhor se mostrou zeloso da sua terra, e compadeceu-se do seu povo.
E o Senhor, respondendo, disse ao seu povo: Eis que vos envio o trigo, e o mosto, e o azeite, e deles sereis fartos, e vos não entregarei mais ao opróbrio entre os gentios.
Mas removerei para longe de vós o exército do norte, e lançá-lo-ei em uma terra seca e deserta; a sua frente para o mar oriental, e a sua retaguarda para o mar ocidental; e subirá o seu mau cheiro, e subirá a sua podridão; porque fez grandes coisas.
Não temas, ó terra: regozija-te e alegra-te, porque o Senhor fez grandes coisas.
Não temais, animais do campo, porque os pastos do deserto reverdecerão, porque o arvoredo dará o seu fruto, a vide e a figueira darão a sua força.
E vós, filhos de Sião, regozijai-vos e alegrai-vos no Senhor vosso Elohim, porque ele vos dará em justa medida a chuva temporã; fará descer a chuva no primeiro mês, a temporã e a serôdia.
E as eiras se encherão de trigo, e os lagares trasbordarão de mosto e de azeite.
E restituir-vos-ei os anos que comeu o gafanhoto, a locusta, e o pulgão e a lagarta, o meu grande exército que enviei contra vós.
E comereis abundantemente e vos fartareis, e louvareis o nome do Senhor vosso Elohim, que procedeu para convosco maravilhosamente; e o meu povo nunca mais será envergonhado.
(Yioel/Joel 2.12-26)

Para concluirmos este perek, prestemos atenção às seguintes palavras:

Guardai-vos, que o vosso coração não se engane, e vos desvieis, e sirvais a outros deuses, e vos inclineis perante eles;
(D’varim/Deuteronômio 11.16)

Veja que O Eterno não nos adverte contra nada nem ninguém que esteja distante de nós, mas que devemos nos proteger contra algo bem próximo a nós, na verdade, algo que está dentro de nós... O nosso próprio coração. Portanto, este é o nosso maior adversário (satan), pois como disse Sh’lomo HaMelech (O Rei Salomão):

Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.
(Mishlei/Provérbios 4.23)

Isto porque o coração do homem não é confiável, como disse o profeta Yirmeyahu:

Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?
Yirmeyahu/Jeremias 17.9

É interessante dizermos que a palavra utilizada para enganoso no texto hebraico é “akov”, sugerindo algo que mostra pegadas, pois este substantivo esta relacionado a “akev”, outro substantivo que indica calcanhar; casco; retaguarda; pegadas; ou seja, o engano pode vir por aquilo que está nos incitando a seguí-lo, pode ser, portanto, uma pessoa, uma idéia e etc. Por esta razão, compreendemos melhor a oração do salmista ao dizer:

Sonda-me, ó Elohim, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos.
E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno.
(Tehilim/Salmos 139.23-24)

Perek (capítulo) 12

Ao lermos as primeiras linhas deste perek, temos a nítida impressão de quando Israel tomasse posse da Terra Prometida, ele deveria fazer uma “faxina” pelo território eliminando todo resquício de idolatria que um dia foi praticada naquele local. Israel não deveria reciclar templos, altares ou qualquer outro lugar “sagrado” dos antigos habitantes, não a mínima idéia de uma proposta de sincretismo, mas uma ordem expressa para se apagar a memória daquilo que havia sido objeto de adoração.
Uma vez dentro dos limites de “Eretz Yisra’el” (Terra de Israel), o “Avodat HaShem” (Serviço ao Eterno) não deveria ser realizado em qualquer lugar, onde se bem entendia, mas onde O Eterno escolheu fazer habitar seu nome. Portanto, os sacrifícios, as ofertas e os dízimos deveriam ser entregues num lugar especial, especificado por HaShem.

Infelizmente, os mais afoitos aplicam esse entendimento a toda e qualquer situação dizendo, inclusive, que não deveríamos celebrar as festas da Torah fora de Israel, o que não é verdade, pois a proibição não está na celebração das festas, mas na execução dos sacrifícios que são apenas parte da liturgia, no entanto, as festas não são apenas sacrifícios, existem outras ordenanças a serem observadas. Vele lembrar ainda que o Eterno já previa uma situação que nos afastaria de eretz Israel, a “galut” (diáspora;dispersão; exílio) e, também, uma solução para todos aqueles que estariam buscando manter-se próximos dEle, vejamos o que diz o Sefer Yechezkel (Livro de Ezequiel):

Portanto, dize: Assim diz Adonai YHWH: Ainda que os lancei para longe entre os gentios, e ainda que os espalhei pelas terras, todavia lhes serei como um pequeno santuário, nas terras para onde forem.
Portanto, dize: Assim diz Adonai YHWH: Hei de ajuntar-vos do meio dos povos, e vos recolherei das terras para onde fostes lançados, e vos darei a terra de Israel.
(Yechezkel/Ezequiel 11.16-17)

Muitos comentaristas entendem que a expressão, “Lhes Serei um pequeno Santuário”, diz respeito às sinagogas espelhadas pelo mundo, possibilitando aos israelitas dispersos pelo mundo a oportunidade de estarem próximos de sua herança, como a Mishna afirma comparando, na megilah (28a), O Beit HaMikdash (Templo) com nossas sinagogas.
A Gemara, baseada no mesmo passuk (versículo) de Yechezkel, diz em 29a, que as sinagogas são miniaturas do Templo de Yerushalayim (Jerusalém). 

O Rabi Yeshua também ensina algo ligado a este conceito de local de adoração, vejamos:

Disse-lhe Yeshua: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai.
(Yochanan/João 4.21)

E ele continua sua explicação dizendo:

Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.
O Eterno é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.
(Yochanan/João 4.23-24)

Depois de autorizar tanto impuros quanto puros a comerem a carne de seus gados (vacas e ovelhas que eram utilizadas nos sacrifícios) como se comia o corço e o veado, outro aspecto importante deste perek é abordado, vejamos:

Guarda-te, que não desampares ao levita todos os teus dias na terra.
(D’varim/Deuteronômio 12.19)

Os levitas eram responsáveis pelo “avodat HaShem” (Serviço ao Eterno), portanto, os responsáveis pela conexão com aquilo que é sagrado. Desamparar o levita equivale ao abandono dos valores espirituais, significa negligenciar a “emunah” (Fidelidade; Fé). Creio que os princípios contidos nesta ordem dada pelo Eterno acerca do cuidado com os levitas, permanecem sobre nós, negligenciar nossa herança, a Torah, nos fará esquecer nossa vocação e, consequentemente, perder (HaShem não permita!) nossa identidade.

Shavua Tov L’Kulam!!!

(Boa semana para todos !!!)

segunda-feira, 3 de março de 2014

Expiação vicária e substituição penal no sofrimento do Tsadik (justo)

Compilado por Johann van Rooyen.

Traduzido e organizado em tópicos por Yochanan ben Avraham

Introdução.

No tratado Sanhedrin 39a, o Talmud Bavli fala da resposta do Rabbi Abahu a um escarnecedor que lhe disse o seguinte: “seu Elohim é um brincalhão... Porque Ele fez o profeta Yechezkel (Ezequiel) deitar-se sobre seu lado esquerdo por 390 dias e depois sobre seu lado direito por 40 dias.”
O escarnecedor achou estranha a natureza destes atos simbólicos e viu nisso uma oportunidade de zombar da Fé dos judeus em um Elohim justo e sensato.

Um representante justo suporta a punição devida a toda comunidade

Rabbi Abahu respondeu: “Quando uma nação se rebela contra seu rei, se este for cruel, ele matará a todos; se ele for misericordioso, matará metade deles; se ele estiver cheio de misericórdia, ele fará com que os principais dentre eles sofram, poupando a maioria. Assim também o Eterno castigou Yechezkel para apagar os pecados de Israel.
No comentário sobre o Sefer Yechezkel (Livro de Ezequiel), Rabbi Mosheh Eisemann continua: “O conceito deste tsadik (justo) sofrer em lugar da comunidade, está elaborado sobre o Sefer Chassidim (Livro dos Devotos). A passagem começa com uma discussão da responsabilidade comum que repousa sobre toda a nação de Israel: “Todo Israel é responsável uns pelos outros. O pecado de um é o pecado de todos.” Desta forma, em sua confissão no Yom Kippur o Kohen Gadol (Sumo Sacerdote) declara: “Eu tenho pecado junto com todo Israel.” Ele diz isso tendo pecado ou não. Isto é para que o povo tivesse um senso de amor e responsabilidade uns para com os outros e aprendessem a corrigir uns aos outros.

Um tsadik (justo) como representante.

O sefer chassidim então cita o sofrimento de Yechezkel (Ezequiel) conforme descrito no capítulo quatro. Vejamos:
Pois este é o caminho perante HaShem. Quando algo é decretado e eles não se arrependem, então a punição deve vir. Agora, se o tsadik é feito para sofrer, então esta punição é suportada por ele.
Um castigo severo tinha sido decretado sobre Israel nos pecaminosos dias do rei Menashe (Manassés) e do rei Yehoyakim (Joaquim). No entanto, o povo simplesmente foi exilado, não sofrendo uma punição física severa.
O Midat HaDin (atributo de justiça; penalidade severa) argumenta: “Por que eles foram tratados tão suavemente ?” Assim disse HaShem a Yechezkel (Ezequiel): “Aceite o sofrimento sobre ti mesmo. Deste modo o Midat HaDin não terá como reivindicar, pois quando ele ver o sofrimento do tsadik (o justo que não merecia ser punido), não terá como exigir a punição sobre todo o povo. Assim, de acordo com o sefer chassidim, o Midat HaDin do Eterno, que busca uma punição para a comunidade inteira é satisfeita quando a punição é dispensada apenas ao tsadik (pessoa justa) representante.
Para entendermos este conceito, devemos voltar à ideia que temos discutido ao longo deste comentário: a unidade essencial da assembleia de Israel. Enquanto cada pessoa criada é a imagem de Elohim e em si mesmo é um microcosmo, a justiça de Elohim, no entanto, pode dirigir-se à comunidade de Israel como um todo na capacidade que uma pessoa justa (tsadik) tem para salvar toda comunidade com o seu mérito.
Quando toda comunidade é considerada uma unidade indivisível, então, de fato, a culpa por uma má ação individual é atribuída a todos. Embora não se possa dizer que o tsadik tenha pecado como indivíduo, por fazer parte da comunidade que pecou e tendo em vista sua solidariedade, ele assume a responsabilidade pelos pecados da comunidade... E por isso mesmo, o sofrimento de um pode ser visto como o sofrimento de todos. [Ver. loc. cit.: Maharal: “Um rei misericordioso pune os grandes da comunidade, que é a parte equivalente ao todo. Ver capítulo quatro do RaMChaL, Mesilat Yesharim, que discute a tensão entre a severidade de Elohim (Midat HaDin) e a sua Misericórdia (Midat Rachamim), mencionando a possibilidade de rachamim (misericórdias) amenizar Dinah (severidade) na medida em que um tsadik suporte sobre si o castigo devido a toda comunidade]. Assim Yechezkel (Ezequiel) expia seu povo, porque a culpa comum é amenizada pela dor de toda comunidade sofrida por um de seus componentes indivisíveis - um tsadik representante. 

Rebbe Nachman de Breslov, neto do Rabino Yisrael ben Eliezer, o Baal Shem Tov, escreveu sobre o efeito expiatório do sofrimento de um tsadik em Likutey Moharan II, 8.6: “Saiba que, por vezes, o perdão dos pecados acontece pelo mérito coletivo da comunidade, há porém, momentos em que os membros da comunidade não são suficientemente dignos de terem seus pecados perdoados em seus próprios méritos. O tsadik é então obrigado a comprometer-se a sofrer por causa do povo de Israel. “certamente ele levou as nossas doenças e carregou as nossas dores”. (Yeshayahu 53.4). A comunidade em geral é salva do sofrimento e da doença, mas não o tsadik, porque ele comprometeu-se a sofrer em nome de todo o povo de Israel.

No livro: “Trust-me: A Anthology of Emunah and Bitachon.” dos Rabinos Eliezer Parkoff e Eliezer Linas,( publicado pela Feldheim Publishers, 2002, ISBN 1583305319 & 9781583305317), lemos o seguinte:
 “A opinião de Rabbi Elazar é que... Assim como o agricultor coloca o jugo somente no boi, que pode arcar com o ônus, assim também HaShem coloca o ônus da punição pelas transgressões do mundo sobre o tsadik (o justo representante). Isto serve para proteger o mundo, ao expiar transgressões, mesmo que nós não possamos compreender plenamente como isso funciona."

O grande filósofo e cabalista judeu Rabbi Mosheh Chaim Luzatto (o RaMChaL) nos dá algumas dicas em “Derech HaShem” (O Caminho de HaShem), seu resumo clássico do judaísmo: “Todos os homens foram originalmente ligados um ao outro, como nossos sábios ensinam: todos os israelitas são fiadores  e responsáveis uns dos outros”. (Tratado Shavuot 39a. Talmud Bavli). Como resultado deste princípio, sofrimento e dor podem ser impostos a um tsadik (pessoa justa) como expiação para sua geração inteira. Este tsadik então deve aceitar o sofrimento com amor em benefício de sua geração, assim como ele aceita que o sofrimento lhe seja imposto para o seu próprio bem. Ao fazer isso ele beneficia sua geração e, ao mesmo tempo, ele mesmo é elevado a um grau muito maior.
Como foi feito a este tsadik, será feito em um dos líderes da comunidade no mundo futuro, como discutido anteriormente. Tal sofrimento inclui também casos em que o tsadik sofre porque toda sua geração merece grande castigo, beirando a aniquilação, mas é poupada via sofrimento do Tsadik. Expiando sua geração através de seu sofrimento, este tsadik salva essas pessoas neste tempo e também os beneficia muito no Olam Haba (mundo vindouro). Além disso, há algo especial, um tipo maior de sofrimento que trata o tsadik, que é ainda maior e mais aperfeiçoado do que os que foram discutidos acima. Este sofrimento maior providenciará a ajuda necessária para trazer uma cadeia de eventos que levam a humanidade como um todo, à perfeição final. De acordo com o plano original, é necessário que o homem passe antes por, pelo menos, algum sofrimento, assim, tanto ele como o mundo poderiam atingir a perfeição. Isto se tornou necessário porque um dos conceitos básicos da situação do homem é de que HaShem conteve sua Luz escondendo sua face (presença). Isto ocorreu por causa da corrupção e dano espiritual causados pelos muitos pecados do homem, que retrocedeu ainda mais causando maior afastamento da presença de Elohim. O mundo e tudo o que nele há está degradado, portanto, exige que a sabedoria insondável do Eterno traga uma série de eventos para atingir sua retificação. Entre os elementos mais importantes desta sequência é a exigência de que o homem seja punido por sua maldade até que o atributo de justiça (Midat HaDin) seja satisfeito. No entanto, HaShem “arranjou” as coisas, selecionando pessoas perfeitas para corrigir as coisas para e em nome de outros, como tem sido discutido.
O Midat HaDin portanto, diz respeito a estes tsadkim (justos) e não para todo o mundo em geral, indivíduos como estes, são perfeitos e são, portanto, dignos apenas do bem. A única razão pela qual sofrem é para o perdão e benefício de outros, e o atributo de justiça deve, portanto, ser satisfeito com uma pequena quantidade de sofrimento, ou seja, o sofrimento de um tsadik compensaria uma grande quantidade de sofrimento daqueles que realmente pecaram. Além disso, o mérito e o poder destes tsadkim também são aumentados por causa de tal sofrimento, e isso lhes da ainda maior capacidade de corrigir a sua própria geração e também poder corrigir todos os danos espirituais causados desde o início do tempo dos primeiros pecadores. É óbvio que indivíduos como estes acabarão sendo os maiores líderes no Olam HaBa (Mundo Vindouro), e serão os que estarão mais próximo de HaShem.

Fonte: “Derech HaShem.” Rabbi Moshe Chaim Luzatto (o RaMChaL)

“A realidade e necessidade da expiação vicária por substituição penal, é parte integrante do judaísmo clássico.” (Derech Yisrael/ O caminho de Israel)

 Exemplos nos Midrashim.

Sobre a amarração de Yits’chak no monte Moriyah, lemos o seguinte no Midrash Bereshit (Genesis):
 “Meu pai, meu pai.” Chorava Yits’chak. 
“Aqui estão o fogo e a lenha, mas onde esta o cordeiro para o sacrifício?”
Avraham respondeu: “HaShem escolherá o cordeiro para o sacrifício meu filho, e se não, você vai ser o cordeiro.” 
Yits’chak pôs as mãos no rosto e chorou. Mas Yits’chak se controlou e confortou a Avraham: 
“Não se sinta angustiado meu pai... Cumpra a vontade do Criador através de mim! Que meu sangue seja uma expiação para o futuro povo de Israel.”

No midrash Shir HaShirim Rabbah 1.14.1 é dito:
 “O meu amado é para mim como um cacho de henna (kofer). O cacho refere-se a Yits’chak, que estava amarrado no altar como um cacho de henna  (kofer), porque ele expia (kapar) as iniqüidades de Israel.”

É importante dizer que, no hebraico, as consoantes B e V são essencialmente idênticas, assim como as consoantes F e P também são, de modo que as palavras com K,F,R ou com a raiz consonantal K.P,R são muito próximas. Por isso, segundo este entendimento, “Kofer” é uma indicação de “Kapar”.

Em outro Midrash Lemos o seguinte:
“Moshe disse a HaShem: Chegará o tempo em que Israel não terá um Templo ou Tabernáculo... O que vai acontecer com eles então? HaShem respondeu: Eu tomarei um de seus justos, e o manterei como penhor (garantia) por vós, a fim de que eu possa perdoar todos os seus pecados.” 
(Shemot Rabbah 35.4)

Exemplos no Talmud.

O dito Talmudico é claro ao dizer que a morte de um tsadik (justo) é uma expiação pelos pecados das pessoas comuns. Vamos ver algumas citações:
“Disse o Rabino Ammi: Por que o relato da morte de Miriam está colocado ao lado das leis da Parah Adumah (Novilha Vermelha)? Para nos informar que assim como o ritual das cinzas da Parah Adumah faz expiação, o mesmo acontece com a morte do tsadik que faz kaparah (expiação; cobertura de pecados) pela vida que deixaram para trás.” (Moed kattan 28 a)
“Rabbi Eleazar disse: Por que o relato da morte de Aharon está perto do relato da deposição das vestes sacerdotais? Para nos informar que, assim como os paramentos do Cohen (sacerdote) eram meios para efetuar kaparah (expiação), da mesma forma a morte das obras de justiça expiam.” (Moed katan 28 a)

“E O Senhor disse ao malach (anjo; mensageiro) que destruiu o povo: É suficiente. Rabbi Eleazar disse: Ha Kadosh Baruch hu (O Santo, Bendito seja Ele) disse ao malach: Leve um rav (grande; homem virtuoso) dentre eles, pois através de sua morte muitos pecados serão expiados...”
(Berachot 62 b)

Exemplos em Qumran.

Os manuscritos do Mar Morto, encontrados nas cavernas de Qumran, ensinam que a dor em lugar do próximo e até mesmo a difamação universal de um tsadik (justo) pode efetuar a expiação:
“Sua sabedoria será grande. Ele vai fazer expiação por todos os filhos de sua geração. Ele será enviado para todos os filhos de sua geração. Sua palavra será como a palavra do Céu e seu ensino será de acordo com a vontade do Senhor. Seu sol arderá eternamente. O fogo será aceso em todos os cantos da Terra. Sobre as trevas ele brilhará. Então a escuridão se afastará da Terra assim como a profunda escuridão da terra seca. Falarão muitas palavras contra ele. Haverão muitas mentiras. Inventarão muitas histórias caluniosas sobre ele. Dirão coisas vergonhosas sobre ele. Ele derrubará a geração má e haverá grande ira. Quando ele surgir haverá mentira e violência e o povo vagueará nos seus dias e ficarão confusos.” (4Q541)

Exemplos no Zohar.

O ensinamento da expiação vicária e da substituição penal pelo sofrimento de um tsadik (justo), também é parte integrante do Zohar (principal obra cabalista):
“Daí o Tasdik é (ele mesmo) verdadeiramente uma oferta de expiação. Mas quem não é justo é desqualificado como oferta em razão do defeito que sofre, e é, portanto, como os animais defeituosos, dos quais esta escrito: Eles não será aceitos por ti. (Vayikrá/Levítico 22.25). Por isso é que os tsadkim (justos) são sacrifício e expiação pelos pecados do mundo.” (Zohar; seção 1 pg 65)

“Nós aprendemos que, enquanto Israel está em cativeiro não pode trazer ofertas, a menção dos filhos de Aharon seria sua expiação. Por isso temos aprendido que Avihu e Nadav foram iguais aos seus dois irmãos Eleazar e Ithamar, para que juntos, fossem reconhecidos como os setenta anciãos que estavam associados com Mosheh, por isso suas mortes foram expiação por Israel.” 
(Zohar; seção 3 pg 56).

“Quando HaShem deseja dar a cura ao mundo. Ele fere um representante tsadik (justo) dentre eles com aflições e sofrimentos, e através deste justo dá a cura para todos, como está escrito: mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades e pelas suas pisaduras fomos sarados (Yeshayahu/ 53.5). Um tsadik nunca é atingido, a não ser para trazer a cura para a sua geração e para fazer expiação por ela. (Zohar; seção 3, pg 218)

“Os antigos sábios têm opiniões divididas sobre Yiov (Jó), alguns mantêm a opinião de que ele era um tsadik dos gentios e outros que ele era um tsadik de Israel, que foi ferido para fazer expiação pelos pecados do mundo” (Zohar; Seção 3, pg 231)

Exemplos em fontes antigas.

A doutrina da expiação vicária e substituição penal pelo sofrimento do Tsadik (justo) também é encontrada em fontes primitivas:
“E quando sua carne tinha sido queimada e ele estava prestes a expirar, Eleazar levantou os olhos a HaShem e disse: Tu sabes HaShem, que, embora eu poderia ter salvo a mim mesmo, eu estou morrendo por causa da Lei (Torah). Tenha misericórdia do teu povo Israel e aceite nosso castigo como expiação por eles. Faça do meu sangue sua purificação e leve minha vida em troca de deles.” (IV Macabeus 6.26-29).

“E estes homens, portanto, depois de terem dado a vida... Através de suas mortes nossa nação foi purificada, tendo eles se tornado uma expiação pelos pecados de nossa nação; e por meio do sangue destes homens justos e piedosos e da expiação pelas suas mortes HaShem salvou Israel...” 
(IV Macabeus 17. 21-22).

Uma nota.
*É importante dizer que o IV livro de Macabeus foi escrito, provavelmente, na primeira metade do Século I d.C. em idioma grego. Trata-se de uma homilia que ressalta a superioridade da razão sobre a paixão, utilizando, inclusive pensamentos de origens pagãs. Contudo, em nível de estudo, a inclusão de algumas passagens servem para que se saiba que a opinião da comunidade que utilizava estas palavras, tinha o mesmo entendimento sobre expiação de outros grupos judaicos em tempos e locais diferentes.

Exemplos na Literatura contemporânea

No livro, “Expiação na morte de um Tsadik.” (Rabbi Elchanan Lewis), lemos o seguinte:

Pergunta”: Como pode a morte de um tsadik tornar-se expiação?”


“Resposta”: O tsadik não é simplesmente uma pessoa, um indivíduo que tem impacto apenas em si mesmo; ele é uma personalidade corporativa, uma figura pública que afeta a todos aqueles que estão ao redor dele; a perda de um tsadik é, portanto, uma perda pública e não apenas a perda de um indivíduo ou de uma única família. Os Tsadkim (justos) não estão aqui para si mesmos, mas para os outros. Esta é a forma como eles vivem e é assim que eles também morrem. Assim, como a morte serve como expiação daquele que falece, a morte de um tsadik faz “kaparah” (expiação) para toda sua comunidade.