Por Yochanan ben Avraham
Introdução.
Em consideração àqueles que acompanham nossos estudos, damos
continuidade ao trabalho de postar os resumos do que foi comentado e estudado
na kehilah, mas que ainda não haviam sido publicados neste Blog.
Perek (Capítulo) 9.
Nos primeiros passukim (versículos) deste perek, O Eterno
deixa claro que a razão pela qual Israel herdaria a Terra Prometida, não seria
o seu mérito, mas o “demérito” daqueles que a possuíam, sendo assim, podemos
observar que mesmo aqueles que parecem intransponíveis, que vivem segundo suas
próprias vontades, um dia hão de sucumbir ante o juízo do Eterno. Por esta
razão os filhos de Israel não devem temer aos “grandes” deste mundo e nem se
sujeitar as “modas e tendências” de suas metrópoles que indubitavelmente têm
influenciado milhões no mundo inteiro. Devemos sim confiar que a maldade, a
corrupção e as injustiças que os poderosos deste mundo infringem sobre os
demais, receberão seu devido castigo, como aquelas nações receberam.
Neste perek também é notório que Israel, enquanto povo tem
uma tendência à rebeldia, pois a expressão “am
kesheh oref” (literalmente povo de pescoço duro; dura cerviz) nos passukim
(versículos) seis e treze não deixa dúvida sobre isso. Esta rebeldia se refere a
resistência que havia em se submeter à Torah, pois a palavra “kesheh”, vem da raiz “kasheh” que se origina de um contexto
agrícola, indicando os efeitos de um jugo pesado, comparando a resistência que
o boi oferece a este jugo a resistência de Israel em obedecer as mitsvot
(mandamentos) do Eterno.
Foi a desobediência do povo que levou Mosheh a quebrar as
primeiras tábuas, mas que também o obrigou a intermediar a situação criada em
decorrência da rebeldia. Percebe-se então, mais uma vez, a necessidade da
intermediação de um “Tsadik” (justo)
para a relação entre o Povo e O Eterno, como se vê em Bereshit 18. 16-33:
E levantaram-se aqueles homens
dali, e olharam para o lado de Sodoma; e Abraão ia com eles, acompanhando-os.
E disse o Senhor: Ocultarei eu a Abraão o que faço, visto que Abraão
certamente virá a ser uma grande e poderosa nação, e nele serão benditas todas
as nações da terra?
Porque eu o tenho conhecido, e sei que ele há de ordenar a seus filhos
e à sua casa depois dele, para que guardem o caminho do Senhor, para agir com
justiça e juízo; para que o Senhor faça vir sobre Abraão o que acerca dele tem
falado.
Disse mais o Senhor: Porquanto o clamor de Sodoma e Gomorra se tem
multiplicado, e porquanto o seu pecado se tem agravado muito, descerei agora, e
verei se com efeito têm praticado segundo o seu clamor, que é vindo até mim; e
se não, sabê-lo-ei.
Então viraram aqueles homens os rostos dali, e foram-se para Sodoma;
mas Abraão ficou ainda em pé diante da face do Senhor.
E chegou-se Abraão, dizendo: Destruirás também o justo com o ímpio?
Se porventura houver cinqüenta justos na cidade, destruirás também, e
não pouparás o lugar por causa dos cinqüenta justos que estão dentro dela?
Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o
justo seja como o ímpio, longe de ti. Não faria justiça o Juiz de toda a terra?
Então disse o Senhor: Se eu em Sodoma achar cinqüenta justos dentro da
cidade, pouparei a todo o lugar por amor deles.
E respondeu Abraão dizendo: Eis que agora me atrevi a falar ao Senhor,
ainda que sou pó e cinza.
Se porventura de cinqüenta justos faltarem cinco, destruirás por
aqueles cinco toda a cidade? E disse: Não a destruirei, se eu achar ali
quarenta e cinco.
E continuou ainda a falar-lhe, e disse: Se porventura se acharem ali
quarenta? E disse: Não o farei por amor dos quarenta.
Disse mais: Ora, não se ire o Senhor, se eu ainda falar: Se porventura
se acharem ali trinta? E disse: Não o farei se achar ali trinta.
E disse: Eis que agora me atrevi a falar ao Senhor: Se porventura se
acharem ali vinte? E disse: Não a destruirei por amor dos vinte.
Disse mais: Ora, não se ire o Senhor, que ainda só mais esta vez falo:
Se porventura se acharem ali dez? E disse: Não a destruirei por amor dos dez.
E retirou-se o Senhor, quando acabou de falar a Abraão; e Abraão
tornou-se ao seu lugar.
As ações mediadoras de Avraham e Mosheh parecem ter
estabelecido uma espécie de “lei”, pois no decorrer da história dos filhos de
Israel, nós vemos o Eterno buscando alguém que se apresentasse perante Ele em
pró da Nação:
E veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:
Filho do homem, dize-lhe: Tu és uma terra que não está purificada; e
que não tem chuva no dia da indignação.
Conspiração dos seus profetas há no meio dela, como um leão que ruge,
que arrebata a presa; eles devoram as almas; tomam tesouros e coisas preciosas,
multiplicam as suas viúvas no meio dela.
Os seus sacerdotes violentam a minha lei, e profanam as minhas coisas
santas; não fazem diferença entre o santo e o profano, nem discernem o impuro
do puro; e de meus sábados escondem os seus olhos, e assim sou profanado no
meio deles.
Os seus príncipes no meio dela são como lobos que arrebatam a presa,
para derramarem sangue, para destruírem as almas, para seguirem a avareza.
E os seus profetas têm feito para eles cobertura com argamassa não
temperada, profetizando vaidade, adivinhando-lhes mentira, dizendo: Assim diz Adonai
YHWH; sem que YHWH tivesse falado.
Ao povo da terra oprimem gravemente, e andam roubando, e fazendo
violência ao pobre e necessitado, e ao estrangeiro oprimem sem razão.
E busquei dentre eles um homem que estivesse tapando o muro, e
estivesse na brecha perante mim por esta terra, para que eu não a destruísse;
porém a ninguém achei.
(Yechezkel/Ezequiel 22.23-30)
Sobre alguém representar o povo perante HaShem, existe algo
interessante registrado em um documento de meados do Século II de nossa era.
Referimos-nos a Bessorah (notícias; boas novas) de Yochanan (João):
Muitos, pois, dentre os judeus que tinham vindo a Miriam, e que tinham
visto o que Yeshua fizera, creram nele.
Mas alguns deles foram ter com os fariseus, e disseram-lhes o que
Yeshua tinha feito.
Depois os principais dos sacerdotes e os fariseus formaram conselho, e
diziam: Que faremos? Porquanto este homem faz muitos sinais.
Se o deixamos assim, todos crerão nele, e virão os romanos, e
tirar-nos-ão o nosso lugar e a nação.
E Caifás, um deles que era sumo sacerdote naquele ano, lhes disse: Vós
nada sabeis,
Nem considerais que nos convém que um homem morra pelo povo, e que não
pereça toda a nação.
Ora ele não disse isto de si mesmo, mas, sendo o sumo sacerdote naquele
ano, profetizou que Yeshua devia morrer pela nação.
(Yochanan/João 11.45-51)
Perek (Capítulo) 10
Logo no início deste perek, salta aos nossos olhos a ordem
que O Eterno da a Mosheh, ordenando-lhe a preparar duas tábuas como as
primeiras. Devemos lembrar que as primeiras tábuas foram quebradas por Mosheh e
que estas tábuas foram, (pelo que se depreende do texto que leremos a seguir),
preparadas pelo próprio Elohim:
Então disse o Senhor a Moisés: Sobe a mim ao monte, e fica lá; e
dar-te-ei as tábuas de pedra e a lei, e os mandamentos que tenho escrito, para
os ensinar.
(Shemot/Êxodo 24.12)
Ou seja, as primeiras tábuas foram preparadas pelo Eterno, mas
as segundas, embora tenham sido escritas pelo próprio Elohim, foram preparadas
por Mosheh. Este detalhe nos ensina algo muito valioso: o princípio do “tikun” (reparação).
Mosheh havia quebrado as primeiras tábuas e, portanto, ele
agora deveria reparar o “dano” causado. Isto significa que quando “quebramos”
algo devemos providenciar o reparo... Mosheh poderia alegar que foi o povo que
o levou a errar, mas ao invés disso fez o que lhe foi ordenado sem transferir a
outros a responsabilidade de preparar novas tábuas. Logo, nós também devemos
assumir nossa parcela de culpa e providenciar o “tikun olam” (reparação do mundo), vale lembrar que a expressão “tikun olam” está relacionada com a
justiça social, portanto, não devemos “jogar” toda a responsabilidade no
governo, mas nós mesmos darmos nossa contribuição para tornar a sociedade
melhor.
Este episódio também ensina que, recomeçar é mais difícil do
que iniciar... Repare que as primeiras tábuas foram entregues prontas a Mosheh,
mas as segundas ele precisou preparar e carregá-las monte acima, demonstrando
que o caminho da reparação envolve levar um “peso extra”. De fato, reparar,
restaurar ou refazer algo, principalmente relacionamentos é muito mais
trabalhoso, vejamos o que disse Sh’lomo HaMelech (O rei Salomão):
O irmão ofendido é mais difícil de conquistar do que uma cidade forte;
e as contendas são como os ferrolhos de um palácio.
(Mishlei/Provérbios 18.19)
Por esta razão entendemos a dificuldade que muitos têm em se
arrependerem, pois sabem que envolve um esforço a mais em sua caminhada.
Outra passagem marcante deste perek (capítulo) está no
passuk (versículo) 16:
Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração, e não mais endureçais a
vossa cerviz.
Isto significa que a “circuncisão do coração” ensinada por
Sha’ul (Paulo) em suas cartas, não é uma substituição da “Brit Milah” (aliança
da circuncisão), mas o verdadeiro sentido do pacto, pois nem todos os que
circuncidam seus membros, têm seus corações circuncidados; mas todos os que têm
seus corações circuncidados, circuncidam seus membros conforme estabelecido na
Torah como estatuto perpétuo:
O filho de oito dias, pois, será circuncidado, todo o homem nas vossas
gerações; o nascido na casa, e o comprado por dinheiro a qualquer estrangeiro,
que não for da tua descendência.
Com efeito, será circuncidado o nascido em tua casa, e o comprado por
teu dinheiro; e estará a minha aliança na vossa carne por aliança perpétua.
E o homem incircunciso, cuja carne do prepúcio não estiver
circuncidada, aquela alma será extirpada do seu povo; quebrou a minha aliança.
(Bereshit/Gênesis 17.12-14)
Devemos “descobrir”, abrir o nosso coração aos mandamentos
do Eterno, Sua Torah é o caminho para a Vida, este é o significado da circuncisão
do coração, este era o apelo dos profetas desde os tempos mais antigos:
Porque assim diz o Senhor aos homens de Judá e a Jerusalém: Preparai
para vós o campo de lavoura, e não semeeis entre espinhos.
Circuncidai-vos ao Senhor, e tirai os prepúcios do vosso coração, ó
homens de Judá e habitantes de Jerusalém, para que o meu furor não venha a sair
como fogo, e arda de modo que não haja quem o apague, por causa da malícia das
vossas obras.
(Yirmeyahu/Jeremias 4.3-4)
Perek (Capítulo) 11
O perek 11 começa definindo muito bem o que nos cabe
enquanto povo do Eterno: guardar os estatutos, os juízos e os mandamentos de
nosso Elohim todos os dias. Esta é a verdadeira forma de se demonstrar amor ao
Eterno, ou seja, não são apenas expressões verbais ou corporais numa canção,
fazes sacrifícios ou votos e etc., mas, conforme ratifica documentos
posteriores, amar ao Eterno é obedecer a sua Lei. Rabi Yeshua em seus
ensinamentos disse:
Se me amais, guardai os meus mandamentos.
(Yochanan/João 14.15)
E os “seus” mandamentos não eram propriamente dele, mas do
Eterno, vejamos:
Yeshua respondeu, e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha
palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada.
Quem não me ama não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que
ouvistes não é minha, mas do Pai que me enviou.
(Yochanan/João 14.23-24)
Diante disso, poderíamos dizer que a “fórmula do amor” é
simples: se você ama ao Eterno, obedece a sua Torah!
O passuk (versículo) dois também nos ensina algo precioso,
pois diz, em outras palavras, que aqueles que tiveram experiência, que
testemunharam as obras de Elohim ao longo de peregrinação, são os maiores
responsáveis perante O Eterno e, segundo o que nos ensina a Torah, são os pais
que têm a tarefa de ensinar os filhos:
E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração;
E as ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e
andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te.
(D’varim/Deuteronômio 6.6-7)
Entendemos então que a tarefa de ensinar, no que tange as
coisas sagradas, está atrelada a experiência pessoal, pois não se trata
simplesmente de transmissão de conceitos e informações, pois isso qualquer um
pode fazer. Isso fica mais evidente quando percebemos que a palavra empregada
no texto é “Yad’u”; da raiz “Yad’a”, que dá origem, dentre outras
palavras, ao termo “da’at”, que
indica um conhecimento adquirido pela experiência. Sendo assim, surge uma
pergunta: “Quem não têm experiência está apto a ensinar?”
O passuk (versículo) oito também nos revela algo importante
para nossa edificação, pois afirma que quando guardamos os mandamentos do
Eterno nos fortalecemos e é interessante lembrarmos que quando completamos o
estudo dos livros da Torah, ao final do último perek (capítulo) de cada um dos
cinco livros, é tradição recitarmos juntos as seguintes palavras: “chazak, chazak, venit chazek!” (força,
força, sejamos fortalecidos!).
De fato, a força do nosso povo não está em recursos
materiais, como foi cantado em versos pelo salmista:
Uns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós faremos menção do
nome do Senhor nosso Elohim.
Uns encurvam-se e caem, mas nós nos levantamos e estamos de pé.
(Tehilim/Salmos 20.7-8)
É por isso que continuaremos a declarar que:
... O homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do
Senhor viverá o homem.
(D’varim/Deuteronômio 8.3)
Dos passukim (versículos) dez ao quinze, outro aspecto
importante deve ser comentado, pois indica outra peculiaridade do povo hebreu
em relação às demais nações, vejamos por que. Sabemos que as antigas
civilizações começaram a se organizar a partir da proximidade aos rios, de onde
começaram a desenvolver formas de cultivo utilizando este recurso natural e
aproveitando sua força para impulsionar vários seguimentos de sua vida. Tanto
foi assim que, para os egípcios, por exemplo, o Rio Nilo era tratado com uma
divindade! Mas os hebreus foram dirigidos para outra direção, vejamos:
Porque a terra que passas a possuir não é como a terra do Egito, de
onde saíste, em que semeavas a tua semente, e a regavas com o teu pé, como a
uma horta.
Mas a terra que passais a possuir é terra de montes e de vales; da
chuva dos céus beberá as águas;
(D’varim/Deuteronômio 11.10-11)
Isto significa que a sobrevivência dos Filhos de Israel não
está condicionada aos recursos naturais, mas a fidelidade aos valores éticos e
morais oriundos de um plano superior, oriundos do Eterno.
O território hebreu seria de montanhas e planícies, cuja
fertilidade dependia da obediência do povo aos mandamentos de Elohim. Esta
condição foi ratificada posteriormente pelos profetas, como Yoel (Joel), por
exemplo, como podemos constatar abaixo:
Ainda assim, agora mesmo diz o Senhor: Convertei-vos a mim de todo o
vosso coração; e isso com jejuns, e com choro, e com pranto.
E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao
Senhor vosso Elohim; porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em
irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal.
Quem sabe se não se voltará e se arrependerá, e deixará após si uma
bênção, em oferta de alimentos e libação para o Senhor vosso Elohim?
Tocai a trombeta em Sião, santificai um jejum, convocai uma assembléia
solene.
Congregai o povo, santificai a congregação, ajuntai os anciãos,
congregai as crianças, e os que mamam; saia o noivo da sua recâmara, e a noiva
do seu aposento.
Chorem os sacerdotes, ministros do Senhor, entre o alpendre e o altar,
e digam: Poupa a teu povo, ó Senhor, e não entregues a tua herança ao opróbrio,
para que os gentios o dominem; por que diriam entre os povos: Onde está o seu
Elohim?
Então o Senhor se mostrou zeloso da sua terra, e compadeceu-se do seu
povo.
E o Senhor, respondendo, disse ao seu povo: Eis que vos envio o trigo,
e o mosto, e o azeite, e deles sereis fartos, e vos não entregarei mais ao
opróbrio entre os gentios.
Mas removerei para longe de vós o exército do norte, e lançá-lo-ei em
uma terra seca e deserta; a sua frente para o mar oriental, e a sua retaguarda
para o mar ocidental; e subirá o seu mau cheiro, e subirá a sua podridão;
porque fez grandes coisas.
Não temas, ó terra: regozija-te e alegra-te, porque o Senhor fez
grandes coisas.
Não temais, animais do campo, porque os pastos do deserto reverdecerão,
porque o arvoredo dará o seu fruto, a vide e a figueira darão a sua força.
E vós, filhos de Sião, regozijai-vos e alegrai-vos no Senhor vosso
Elohim, porque ele vos dará em justa medida a chuva temporã; fará descer a
chuva no primeiro mês, a temporã e a serôdia.
E as eiras se encherão de trigo, e os lagares trasbordarão de mosto e
de azeite.
E restituir-vos-ei os anos que comeu o gafanhoto, a locusta, e o pulgão
e a lagarta, o meu grande exército que enviei contra vós.
E comereis abundantemente e vos fartareis, e louvareis o nome do Senhor
vosso Elohim, que procedeu para convosco maravilhosamente; e o meu povo nunca
mais será envergonhado.
(Yioel/Joel 2.12-26)
Para concluirmos este perek, prestemos atenção às seguintes
palavras:
Guardai-vos, que o vosso coração não se engane, e vos desvieis, e
sirvais a outros deuses, e vos inclineis perante eles;
(D’varim/Deuteronômio 11.16)
Veja que O Eterno não nos adverte contra nada nem ninguém
que esteja distante de nós, mas que devemos nos proteger contra algo bem
próximo a nós, na verdade, algo que está dentro de nós... O nosso próprio
coração. Portanto, este é o nosso maior adversário (satan), pois como disse
Sh’lomo HaMelech (O Rei Salomão):
Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele
procedem as fontes da vida.
(Mishlei/Provérbios 4.23)
Isto porque o coração do homem não é confiável, como disse o
profeta Yirmeyahu:
Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o
conhecerá?
Yirmeyahu/Jeremias 17.9
É interessante dizermos que a palavra utilizada para
enganoso no texto hebraico é “akov”,
sugerindo algo que mostra pegadas, pois este substantivo esta relacionado a “akev”, outro substantivo que indica
calcanhar; casco; retaguarda; pegadas; ou seja, o engano pode vir por aquilo
que está nos incitando a seguí-lo, pode ser, portanto, uma pessoa, uma idéia e
etc. Por esta razão, compreendemos melhor a oração do salmista ao dizer:
Sonda-me, ó Elohim, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os
meus pensamentos.
E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno.
(Tehilim/Salmos 139.23-24)
Perek (capítulo) 12
Ao lermos as primeiras linhas deste perek, temos a nítida
impressão de quando Israel tomasse posse da Terra Prometida, ele deveria fazer
uma “faxina” pelo território eliminando todo resquício de idolatria que um dia
foi praticada naquele local. Israel não deveria reciclar templos, altares ou
qualquer outro lugar “sagrado” dos antigos habitantes, não a mínima idéia de
uma proposta de sincretismo, mas uma ordem expressa para se apagar a memória
daquilo que havia sido objeto de adoração.
Uma vez dentro dos limites de “Eretz Yisra’el” (Terra de Israel), o “Avodat HaShem” (Serviço ao Eterno) não deveria ser realizado em
qualquer lugar, onde se bem entendia, mas onde O Eterno escolheu fazer habitar
seu nome. Portanto, os sacrifícios, as ofertas e os dízimos deveriam ser
entregues num lugar especial, especificado por HaShem.
Infelizmente, os mais afoitos aplicam esse entendimento a
toda e qualquer situação dizendo, inclusive, que não deveríamos celebrar as
festas da Torah fora de Israel, o que não é verdade, pois a proibição não está
na celebração das festas, mas na execução dos sacrifícios que são apenas parte
da liturgia, no entanto, as festas não são apenas sacrifícios, existem outras
ordenanças a serem observadas. Vele lembrar ainda que o Eterno já previa uma
situação que nos afastaria de eretz Israel, a “galut” (diáspora;dispersão;
exílio) e, também, uma solução para todos aqueles que estariam buscando
manter-se próximos dEle, vejamos o que diz o Sefer Yechezkel (Livro de Ezequiel):
Portanto, dize: Assim diz Adonai YHWH: Ainda que os lancei para longe
entre os gentios, e ainda que os espalhei pelas terras, todavia lhes serei como
um pequeno santuário, nas terras para onde forem.
Portanto, dize: Assim diz Adonai YHWH: Hei de ajuntar-vos do meio dos
povos, e vos recolherei das terras para onde fostes lançados, e vos darei a
terra de Israel.
(Yechezkel/Ezequiel 11.16-17)
Muitos comentaristas entendem que a expressão, “Lhes Serei um pequeno Santuário”, diz
respeito às sinagogas espelhadas pelo mundo, possibilitando aos israelitas
dispersos pelo mundo a oportunidade de estarem próximos de sua herança, como a
Mishna afirma comparando, na megilah (28a), O Beit HaMikdash (Templo) com
nossas sinagogas.
A Gemara, baseada no mesmo passuk (versículo) de Yechezkel,
diz em 29a, que as sinagogas são miniaturas do Templo de Yerushalayim
(Jerusalém).
O Rabi Yeshua também ensina algo ligado a este conceito de
local de adoração, vejamos:
Disse-lhe Yeshua: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte
nem em Jerusalém adorareis o Pai.
(Yochanan/João 4.21)
E ele continua sua explicação dizendo:
Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o
Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.
O Eterno é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito
e em verdade.
(Yochanan/João 4.23-24)
Depois de autorizar tanto impuros quanto puros a comerem a
carne de seus gados (vacas e ovelhas que eram utilizadas nos sacrifícios) como se
comia o corço e o veado, outro aspecto importante deste perek é abordado,
vejamos:
Guarda-te, que não desampares ao levita todos os teus dias na terra.
(D’varim/Deuteronômio 12.19)
Os levitas eram responsáveis pelo “avodat HaShem” (Serviço ao Eterno), portanto, os responsáveis pela
conexão com aquilo que é sagrado. Desamparar o levita equivale ao abandono dos
valores espirituais, significa negligenciar a “emunah” (Fidelidade; Fé). Creio que os princípios contidos nesta
ordem dada pelo Eterno acerca do cuidado com os levitas, permanecem sobre nós,
negligenciar nossa herança, a Torah, nos fará esquecer nossa vocação e,
consequentemente, perder (HaShem não permita!) nossa identidade.
Shavua Tov L’Kulam!!!
(Boa semana para todos !!!)