Por Yochanan ben Avraham
Introdução.
As diversas prescrições deste capítulo têm o claro objetivo
de reforçar na mente dos hebreus, o caráter santo de sua vocação, a qual deve
ser manifesta nos mais diversos aspectos da vida humana: Na perda de algum
ente; na alimentação; no comprometimento com o Eterno e com o seu próximo, o
israelita deve ser fiel, ou seja, ter ‘emunah’
(Fidelidade/Fé) aos mandamentos do Eterno.
Relação com a morte.
A morte faz parte da vida e por isso deve ser encarada como
algo natural. No entanto, por causa da dor da separação imposta pela morte,
muitos se desesperam e acabam atravessando “fronteiras” perigosas e adentrando
“terrenos” perigosos, por isso o Eterno proíbe de maneira enfática:
Filhos sois de YHWH vosso Elohim; não vos cortareis a vós mesmos, nem
abrireis calva entre vossos olhos por causa de algum morto.
Porque és povo santo a YHWH teu Elohim, e YHWH te escolheu para lhe
seres o seu próprio povo...
(D’varim/Deuteronômio 14.1-2)
A ordem de não se mutilar por causa de um morto servia para
manter distância entre Israel e a idolatria, pois conforme é documentado em
Melachim alef (I Reis) 18.28, o alto flagelo está intimamente ligado a idolatria:
Sucedeu que, ao meio-dia, Elias zombava deles, dizendo: Clamai em altas
vozes, porque ele é um deus; pode ser que esteja falando, ou que tenha alguma
coisa que fazer, ou que intente alguma viagem; talvez esteja dormindo, e
necessite de que o acordem.
E eles clamavam em altas vozes e, conforme o seu costume se retalhavam
com facas e com lancetas, até correr o sangue sobre eles.
Alguns entendem que o ato de fazer incisões no corpo,
incluiria a tatuagem. Contudo, a proibição diz respeito a incisões POR CAUSA DE
UM MORTO. Logo, quando alguém fizesse uma tatuagem por algum motivo que não
fosse um morto, mas por questões “estéticas”, por exemplo, não estaria
transgredindo o mandamento, no entanto, quando buscamos conhecer as origens
destas práticas, percebemos suas perigosas relações, vejamos:
No Egito, as mulheres
que dançavam nos funerais por volta de 2000 a .C., tinham seus corpos desenhados com os
mesmos desenhos encontrados nas múmias do sexo feminino daquele período. Mais
tarde, nota-se também o surgimento de tatuagens que representavam “Bes”, a
deusa egípcia da fertilidade e da proteção dos lares.
Nas ilhas do pacífico,
a tatuagem faz parte da cultura de diversos povos desta área:
No Havaí, por exemplo,
quando as pessoas estavam de luto, elas tinham três pontos tatuados na língua.
Em Borneo, os nativos
costumavam gravar a imagem de um olho na palma da mão do falecido para que
servisse como um guia espiritual que o levaria à próxima vida.
Na Nova Zelândia, os
Maoris – um povo nativo da região – tatuam o rosto como uma forma de expressão
e uma maneira de identificar a família a que se pertence. (Fonte: ngm.nationalgeographic.com)
Como podemos observar, mesmo que as motivações para se fazer
uma tatuagem não esteja relacionada ao luto ou coisa parecida, a prática em si está
comprometida com práticas reprovadas pela Torah. Neste caso, a pergunta que
fazemos é: Como povo de Elohim, devemos estar associados com estas coisas?
Kashrut (Leis Alimentares).
Em uma citação atribuída a Hipócrates (460 a .C – 377 a .C), temos uma maneira
bem simples para explicar a Kashrut (Leis alimentares) descrita do passuk
(versículo) três até o vinte e um:
“O homem é aquilo que come”.
De fato, como o mesmo Hipócrates disse: "Que seu remédio seja seu alimento, e
que seu alimento seja seu remédio", percebemos que a alimentação não é
algo trivial. Portanto, a constatação
daquele que é considerado o “Pai da Medicina”, corrobora com aquilo que muito
tempo antes já havia sido revelado, ainda que indiretamente, pela Torah.
Diante do exposto acima poderíamos até concluir que se o
alimento que consumimos vira energia, logo, ao consumirmos alimentos impuros
geramos “energia impura”!
Embora a relação entre a Kashrut e a saúde do corpo seja
inegável, a principal razão não é esta, mas a saúde espiritual, que se
manifesta na capacidade de se submeter à vontade de Elohim, ou seja, ser
obediente aos mandamentos do Eterno. Pois se não somos capazes de resistir os
impulsos que estão dentro de nós, como resistir às pressões externas que um
mundo contrário a Torah nos impõe?
A kashrut, assim como toda Torah, não foi abolida. Rabi
Yeshua HaNotzri ensinou que:
Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem nem um
jota ou um til jamais passará da lei, sem que tudo seja cumprido.
(Matitiyahu/Mateus 5.18)
Alguns textos da Brit Chadashah (também chamado de Novo
Testamento) são citados na tentativa de afirmar que a Kashrut foi revogada por
Yeshua. Na verdade, se isso fosse verdade Yeshua teria mentido ao afirmar a
perpetuidade da Lei e, consequentemente ele teria que ser descartado como
Messias, O fato é que tanto ele quanto seus talmidim (discípulos) tiveram suas
palavras desconectadas dos contextos em que estavam inseridos criando, por
assim dizer, doutrinas estranhas à Torah. Vejamos os textos mais utilizados e
suas respectivas explicações de forma bem resumida:
A) E ajuntaram-se a ele os fariseus, e alguns
dos escribas que tinham vindo de Jerusalém.
E, vendo que alguns dos seus discípulos comiam pão com as mãos impuras,
isto é, por lavar, os repreendiam.
Porque os fariseus, e todos os judeus, conservando a tradição dos
antigos, não comem sem lavar as mãos muitas vezes;
E, quando voltam do mercado, se não se lavarem, não comem. E muitas
outras coisas há que receberam para observar, como lavar os copos, e os jarros,
e os vasos de metal e as camas.
Depois perguntaram-lhe os fariseus e os escribas: Por que não andam os
teus discípulos conforme a tradição dos antigos, mas comem o pão com as mãos
por lavar? (Marcos 7.1-5)
Precisamos entender que a acusação era de que os talmidim
(discípulos) de Yeshua NÃO LAVAVAM AS MÃOS... E não de que eles comiam coisas
impuras! Além do mais, foi dito que isso seria uma desconformidade com a
Tradição dos Anciãos e não uma transgressão a Torah!
B) E no dia seguinte, indo eles seu caminho, e estando
já perto da cidade, subiu Pedro ao terraço para orar, quase à hora sexta.
E tendo fome, quis comer; e, enquanto lho preparavam, sobreveio-lhe um
arrebatamento de sentidos,
E viu o céu aberto, e que descia um vaso, como se fosse um grande
lençol atado pelas quatro pontas, e vindo para a terra.
No qual havia de todos os animais quadrúpedes e feras e répteis da
terra, e aves do céu.
E foi-lhe dirigida uma voz: Levanta-te, Pedro, mata e come.
Mas Pedro disse: De modo nenhum, Senhor, porque nunca comi coisa alguma
comum e imunda.
E segunda vez lhe disse a voz: Não faças tu comum ao que Elohim
purificou.
(Ma’assei/Atos 10.9-15)
Neste caso, o tema não é alimentação, mas o anuncio das Boas
Novas aos gentios e, mesmo assim, se fosse alimentação, Kefa (Pedro), mesmo
numa visão, havia rejeitado tal proposta afirmando que de modo nenhum comeria,
pois jamais havia ingerido coisa imunda! Agora pense um pouco: se Yeshua
tivesse abolido a kashrut (Leis Alimentares) quando ainda estava entre seus
talmidim (discípulos) e Kefa (Pedro) era seu talmid (discípulo), por que razão
ele, anos depois, ainda observava a Kashrut? Mas se continuarmos a leitura do
texto perceberemos com clareza que não se tratava de autorização para ingestão
de coisas imundas, pois Kefa entendeu que os animais que desciam num vaso como
um lençol era uma representação dos povos pagãos:
E aconteceu que, entrando Pedro, saiu Cornélio a recebê-lo, e,
prostrando-se a seus pés o adorou.
Mas Pedro o levantou, dizendo: Levanta-te, que eu também sou homem.
E, falando com ele, entrou, e achou muitos que ali se haviam ajuntado.
E disse-lhes: Vós bem sabeis que não é lícito a um homem judeu
ajuntar-se ou chegar-se a estrangeiros; mas Elohim mostrou-me que a nenhum
homem chame comum ou imundo. (Ma’assei/Atos 10.25-28)
C) Ora, quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o, não em contendas sobre dúvidas.
Porque um crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come
legumes.
O que come não despreze o que não come; e o que não come, não julgue o
que come; porque Elohim o recebeu por seu.
Quem és tu, que julgas o servo alheio? Para seu próprio senhor ele está
em pé ou cai. Mas estará firme, porque poderoso é Elohim para o firmar.
Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias.
Cada um esteja inteiramente seguro em sua própria mente.
Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz e o que não faz caso do
dia para o Senhor o não faz. O que come, para o Senhor come, porque dá graças a
Elohim; e o que não come, para o Senhor não come, e dá graças a Elohim.
(Ruhomayah/Romanos 14.1-6)
Outra questão bem simples de ser resolvida. A problemática
aqui era o comer carne ou não, ou seja, deveríamos ser vegetarianos? E Sha’ul
resolve a situação afirmando que isso não seria problema se a posição assumida tinha
por objetivo glorificar O Eterno! Em nenhum momento a sugestão de comer algo
impuro está em questão, há inclusive um trecho muito interessante desta
passagem, pois fica “no ar” a questão de dias diferentes associados à questão
do comer carne... Estaria havendo uma discussão sobre os dias em que se poderia
comer carne ou não? Se a resposta for positiva, vale lembrar que existe uma
religião que em determinada época do ano proíbe seus adeptos de comerem carne
em certas épocas do ano.
A carne que o texto se refere, obviamente não poderia ser
alguma que não fosse permitida pela Torah, pois Sha’ul era judeu e observador
da Lei, e como judeu, certamente ele sabia quais carnes eram lícitas.
D) Ora a comida não nos faz agradáveis a
Elohim, porque, se comemos, nada temos de mais e, se não comemos, nada nos
falta. (Curintayah alef/1 Coríntios 8.8)
Ao nos depararmos com a palavra “comida” num texto de origem
hebraica, devemos ter em mente o que é considerado comida para este povo, do
contrário, poderemos cometer graves erros doutrinários e propagarmos
inverdades.
No texto acima, a questão mais uma vez é simples de ser
esclarecida a partir de seu contexto, pois não se trata, novamente, de abolição
da Kashrut, mas do problema de ingestão de alimentos sacrificados e/ou
oferecidos a ídolos e a repercussão de tal ato naqueles que, segundo as
palavras do emissário Sha’ul, tinham a “mente fraca” podendo entrar em alguma
“paranóia” por causa da situação.
E) Mas o Espírito expressamente diz que nos
últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores,
e a doutrinas de demônios; Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo
cauterizada a sua própria consciência; Proibindo o casamento, e ordenando a
abstinência dos alimentos que Elohim criou para os fiéis, e para os que
conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças; Porque toda a
criatura de Elohim é boa, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações
de graças. Porque pela palavra de Elohim e pela oração é santificada. (1
Timóteo 4.1-5)
Infelizmente, pessoas que não consideram o contexto histórico da epístola em questão, acabam sugerindo que quando alguém ensina que precisamos nos abster de algum alimento, está sob a influência de espíritos enganadores, mas não é isso que o texto está dizendo. O autor é enfático quando diz: “... Ordenando a abstinência dos alimentos que Elohim criou”. Notem que o autor se refere à abstinência daquilo que foi criado, ou seja, permitido como alimento! E o que nos foi dado como alimento? Vejamos:
E disse Elohim: Eis que vos tenho dado toda a erva que dê semente, que
está sobre a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê
semente, ser-vos-á para mantimento.
E a todo o animal da terra, e a toda a ave dos céus, e a todo o réptil
da terra, em que há alma vivente, toda a erva verde será para mantimento; e
assim foi.
(Bereshit/Gênesis 1.29-30)
E o temor de vós e o pavor de vós virão sobre todo o animal da terra, e
sobre toda a ave dos céus; tudo o que se move sobre a terra, e todos os peixes
do mar, nas vossas mãos são entregues.
Tudo quanto se move, que é vivente, será para vosso mantimento; tudo
vos tenho dado como a erva verde.
A carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis.
(Bereshit/Gênesis 9.2-4)
Podemos observar que a partir deste momento o homem passa a
ingerir carne, mas será que todo o tipo de carne deveria ser consumida?
E falou o SENHOR a Moisés e a Arão, dizendo-lhes:
Fala aos filhos de Israel, dizendo: Estes são os animais, que comereis
dentre todos os animais que há sobre a terra;
Dentre os animais, todo o que tem unhas fendidas, e a fenda das unhas
se divide em duas, e rumina, deles comereis.
Destes, porém, não comereis; dos que ruminam ou dos que têm unhas
fendidas; o camelo, que rumina, mas não tem unhas fendidas; esse vos será
imundo;
E o coelho, porque rumina, mas não tem as unhas fendidas; esse vos será
imundo;
E a lebre, porque rumina, mas não tem as unhas fendidas; essa vos será
imunda.
Também o porco, porque tem unhas fendidas, e a fenda das unhas se
divide em duas, mas não rumina; este vos será imundo.
Das suas carnes não comereis, nem tocareis nos seus cadáveres; estes
vos serão imundos.
De todos os animais que há nas águas, comereis os seguintes: todo o que
tem barbatanas e escamas, nas águas, nos mares e nos rios, esses comereis.
Mas todo o que não tem barbatanas, nem escamas, nos mares e nos rios,
todo o réptil das águas, e todo o ser vivente que há nas águas, estes serão
para vós abominação.
Ser-vos-ão, pois, por abominação; da sua carne não comereis, e
abominareis o seu cadáver.
Todo o que não tem barbatanas ou escamas, nas águas, será para vós
abominação.
Das aves, estas abominareis; não se comerão, serão abominação: a águia,
e o quebrantosso, e o xofrango,
E o milhano, e o abutre segundo a sua espécie.
Todo o corvo segundo a sua espécie,
E o avestruz, e o mocho, e a gaivota, e o gavião segundo a sua espécie.
E o bufo, e o corvo marinho, e a coruja,
E a gralha, e o cisne, e o pelicano,
E a cegonha, a garça segundo a sua espécie, e a poupa, e o morcego.
Todo o inseto que voa, que anda sobre quatro pés, será para vós uma
abominação.
Mas isto comereis de todo o inseto que voa, que anda sobre quatro pés:
o que tiver pernas sobre os seus pés, para saltar com elas sobre a terra.
Deles comereis estes: a locusta segundo a sua espécie, o gafanhoto
devorador segundo a sua espécie, o grilo segundo a sua espécie, e o gafanhoto
segundo a sua espécie.
E todos os outros insetos que voam, que têm quatro pés, serão para vós
uma abominação.
E por estes sereis imundos: qualquer que tocar os seus cadáveres,
imundo será até à tarde.
Qualquer que levar os seus cadáveres lavará as suas vestes, e será
imundo até à tarde.
Todo o animal que tem unha fendida, mas a fenda não se divide em duas,
e todo o que não rumina, vos será por imundo; qualquer que tocar neles será
imundo.
E todo o animal que anda sobre as suas patas, todo o animal que anda a
quatro pés, vos será por imundo; qualquer que tocar nos seus cadáveres será
imundo até à tarde.
E o que levar os seus cadáveres lavará as suas vestes, e será imundo
até à tarde; eles vos serão por imundos.
Estes também vos serão por imundos entre os répteis que se arrastam
sobre a terra; a doninha, e o rato, e a tartaruga segundo a sua espécie,
E o ouriço cacheiro, e o lagarto, e a lagartixa, e a lesma e a
toupeira.
Estes vos serão por imundos dentre todos os répteis; qualquer que os
tocar, estando eles mortos, será imundo até à tarde. (Vayikrá/Levítico
11.1-31)
Depois que O Eterno estabeleceu seu pacto com as normas para os hebreus e todos aqueles que querem fazer parte do Seu povo, tornando-se um povo peculiar, e por
assim dizer santo, fica claro que a alimentação também faz parte deste
processo de separação dentre os demais povos. Portanto, se somos israelitas, ou
mesmo, estrangeiros que desejam servir ao Elohim de Toda a Terra, devemos
atentar para estas coisas e sermos santos, como Santo é aquele que nos chamou.
Dízimos
Os passukim (versículos) vinte e dois ao vinte e nove deste
perek (capítulo), tratam de outro tema muito discutido nas religiões.
Referimos-nos aos dízimos. A questão é: Seriam os dízimos dinheiro? Por
questões de brevidade, sugerimos ao amigo leitor que leia nosso artigo que
trata deste assunto com detalhes no seguinte link:
Shavua tov a todos e até a próxima!!!