(A Torre de Babel, pintura do Sec.XVI por Bruegel)
Por Yochanan ben Avraham
Introdução.
Em Bereshit (Gênesis)11, temos o relato da famosa torre de
Bavel (Babel), monumento idealizado e construído por um povo vindo do oriente,
que chegando ao vale de Sinear resolveu se estabelecer ali e perpetuar seu nome
e um local fixo, (um prenuncio de mudança de uma vida nômade para o sedentarismo).
Não pretendemos
adentrar questões polêmicas sobre tal relato ser um mito criado para explicar a
diversidade de idiomas ou um evento histórico que pode, inclusive, ser
“comprovado” cientificamente. Nem tão pouco nos ocuparmos sobre questões
arquitetônicas ou religiosas no sentido de afirmar ou rejeitar que tal
construção se trataria de um zigurate (templos torres das religiões
mesopotâmicas) ou algo inédito. O que gostaríamos de explorar na narrativa é a
confusão de línguas (idiomas) ali mencionada e usá-la como analogia para algo
muito comum nos dias de hoje, principalmente no âmbito religioso, estamos nos referindo
a confusão de linguagem/comunicação (ou falta de).
Um mal chamado Bavel.
Bavel, numa perspectiva bíblica, personifica tudo aquilo que
contraria a vontade do Eterno, de modo que os profetas eram levantados para
advertir ao povo para não compactuar com seu “modus vivendis’, como vemos em
Yirmeyahu/Jeremias 51.45 e Zacarias 2.7:
“Saí do meio dela, ó povo meu, e livrai cada um a sua alma do ardor da
ira do SENHOR”.
“Ah! Sião! Escapa, tu, que habitas com a filha de babilônia.”
Poderíamos citar muitas outras passagens que demonstram a
conotação negativa que Bavel evoca e toda sua má influencia na vida do povo
israelita, como vemos em Yechezkel. 8.14:
“E disse-me: Ainda tornarás a ver maiores abominações, que estes fazem.
E levou-me à entrada da porta da casa do SENHOR, que está do lado
norte, e eis que estavam ali mulheres assentadas chorando a Tamuz.”
(Imagem de Tamuz)
Tammuz foi uma divindade importada para Judá. As origens da
adoração desse deus estão perdidas, embora o nome “Dumuzi” esteja relacionado
com um governante de uma das cidades-estados da Suméria antes da metade do 3º
milênio a.C. Durante o período neosumeriano (Ca. 2200-1900 a .C.), os sumérios
reconheceram Dumuzi como um deus e normalmente o relacionavam com a deusa
Inanna. Em cultos acadianos, Dumuzi era chamado Tamuz e Inanna era
identificada com Ishtar. Esses deuses são conhecidos por ambos os nomes:
Dumuzi/Tamuz e Inanna/Ishtar. É importante lembrar que boa parte da religião
babilônica provém das crenças sumerianas e acadianas
Saímos de Bavel?
Somos chamados a sair de Bavel e, embora a Torre construída
já não existia mais na época em que os profetas faziam seus pronunciamentos, a
Torre permanece como símbolo, um marco da arrogância humana em presumir que
poderia alcançar “os céus” por méritos próprios. A própria palavra hebraica
para Torre (מגדל)
“migdal”, sugere isto, pois esta palavra é proveniente de (גדל) “gadal” que, dentre
outras similaridades significa: tornar-se grande; magnificar-se.
Mas como entender isso em pleno Século XXI
se esta civilização já não existe mais? Como aplicar isso em nossos dias?
Responder esta questão não exige muito esforço intelectual, pois se sabemos que
Bavel representa uma oposição à vontade de Elohim, a proposta é simplesmente
não sermos rebeldes a sua instrução revelada ao longo do Tanach. Contudo, podemos
ser mais específicos em relação a sua aplicação se observarmos a série de
eventos que ocorreram antes e durante a edificação desta Torre, vejamos:
“E disseram uns aos outros: Eia, façamos tijolos e queimemo-los bem. E
foi-lhes o tijolo por pedra, e o betume por cal. E disseram: Eia, edifiquemos
nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome, para
que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra.” (Bereshit/Gênesis
11.3-4)
É interessante notarmos as expressões: façamos;
queimemo-los; edifiquemos e sejamos, pois fica a nítida impressão de,
(considerando a raiz da palavra “migdal”), de uma auto exaltação. De fato, a
arrogância de achar que alcançaremos um lugar junto ao Eterno pelos nossos
próprios méritos e não pela sua “CHESSED” (Graça/Misericórdia) têm sido desde
os tempos mais antigos, a grande ilusão da humanidade... Que O Eterno não
permita que esqueçamos de que:
“As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos,
porque as suas misericórdias não têm fim;” (Ecrá/Lamentações 3.22)
Outra situação que demonstra o quanto podemos estar sob a
influencia de “migdal Bavel” (Torre de Babel), (e é esta a razão que nos levou
a escrever este pequeno artigo), são as inúmeras discussões em meio a
construção da Torre, onde todos falam, mas ninguém entende nada...todos se
preocupam em falar como se faz para chegar “aos céus”, mas ninguém esta
disposto a ouvir o que o outro tem a dizer.
Tenho entendido que quando duas ou mais pessoas só estão
dispostas a falar, defender suas teses, ao invés de tentar ouvir, buscar uma
comunicação (que é simplesmente uma ação em comum, pois se só há emissores ou
só ouvintes, não há comunicação). Estamos reproduzindo em pleno Seculo XXI,
os ecos da grande confusão ocorrida em Bavel.
Lembremos da célebre frase de Voltaire:
“Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas
defenderei até a morte o direito de você dizê-las.”
Que O Eterno nos ensine não apenas a falar o que é certo,
mas também a ouvir.
Shalom!!!
Muito bom chaver!!!
ResponderExcluirSão palavras que alimenta nossa alma.
Em tempos de tanta turbulência sei que o ETERNO bendito seja ELE continuara a nos guiar em toda a verdade, embora o que mais ouço hoje e que não existe uma verdade absoluta.
Que HASHEM nos de direção em meio à toda essa ''confusão''.
Shalom, shalom