segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Ecos da Torre


      
   (A Torre de Babel, pintura do Sec.XVI por Bruegel)

Por Yochanan ben Avraham

Introdução.
Em Bereshit (Gênesis)11, temos o relato da famosa torre de Bavel (Babel), monumento idealizado e construído por um povo vindo do oriente, que chegando ao vale de Sinear resolveu se estabelecer ali e perpetuar seu nome e um local fixo, (um prenuncio de mudança de uma vida nômade para o sedentarismo).
Não pretendemos adentrar questões polêmicas sobre tal relato ser um mito criado para explicar a diversidade de idiomas ou um evento histórico que pode, inclusive, ser “comprovado” cientificamente. Nem tão pouco nos ocuparmos sobre questões arquitetônicas ou religiosas no sentido de afirmar ou rejeitar que tal construção se trataria de um zigurate (templos torres das religiões mesopotâmicas) ou algo inédito. O que gostaríamos de explorar na narrativa é a confusão de línguas (idiomas) ali mencionada e usá-la como analogia para algo muito comum nos dias de hoje, principalmente no âmbito religioso, estamos nos referindo a confusão de linguagem/comunicação (ou falta de).

Um mal chamado Bavel.

Bavel, numa perspectiva bíblica, personifica tudo aquilo que contraria a vontade do Eterno, de modo que os profetas eram levantados para advertir ao povo para não compactuar com seu “modus vivendis’, como vemos em Yirmeyahu/Jeremias 51.45 e Zacarias 2.7:

“Saí do meio dela, ó povo meu, e livrai cada um a sua alma do ardor da ira do SENHOR”.

“Ah! Sião! Escapa, tu, que habitas com a filha de babilônia.”

Poderíamos citar muitas outras passagens que demonstram a conotação negativa que Bavel evoca e toda sua má influencia na vida do povo israelita, como vemos em Yechezkel. 8.14:

“E disse-me: Ainda tornarás a ver maiores abominações, que estes fazem.
E levou-me à entrada da porta da casa do SENHOR, que está do lado norte, e eis que estavam ali mulheres assentadas chorando a Tamuz.”

  
         (Imagem de Tamuz)

Tammuz foi uma divindade importada para Judá. As origens da adoração desse deus estão perdidas, embora o nome “Dumuzi” esteja relacionado com um governante de uma das cidades-estados da Suméria antes da metade do 3º milênio a.C. Durante o período neosumeriano (Ca. 2200-1900 a.C.), os sumérios reconheceram Dumuzi como um deus e normalmente o relacionavam com a deusa Inanna. Em cultos acadianos, Dumuzi era chamado Tamuz e Inanna era identificada com Ishtar. Esses deuses são conhecidos por ambos os nomes: Dumuzi/Tamuz e Inanna/Ishtar. É importante lembrar que boa parte da religião babilônica provém das crenças sumerianas e acadianas

 Saímos de Bavel?                                                

Somos chamados a sair de Bavel e, embora a Torre construída já não existia mais na época em que os profetas faziam seus pronunciamentos, a Torre permanece como símbolo, um marco da arrogância humana em presumir que poderia alcançar “os céus” por méritos próprios. A própria palavra hebraica para Torre (מגדל) “migdal”, sugere isto, pois esta palavra é proveniente de (גדל) “gadal” que, dentre outras similaridades significa: tornar-se grande; magnificar-se.

Mas como entender isso em pleno Século XXI se esta civilização já não existe mais? Como aplicar isso em nossos dias? Responder esta questão não exige muito esforço intelectual, pois se sabemos que Bavel representa uma oposição à vontade de Elohim, a proposta é simplesmente não sermos rebeldes a sua instrução revelada ao longo do Tanach. Contudo, podemos ser mais específicos em relação a sua aplicação se observarmos a série de eventos que ocorreram antes e durante a edificação desta Torre, vejamos:

“E disseram uns aos outros: Eia, façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra, e o betume por cal. E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra.” (Bereshit/Gênesis 11.3-4)

É interessante notarmos as expressões: façamos; queimemo-los; edifiquemos e sejamos, pois fica a nítida impressão de, (considerando a raiz da palavra “migdal”), de uma auto exaltação. De fato, a arrogância de achar que alcançaremos um lugar junto ao Eterno pelos nossos próprios méritos e não pela sua “CHESSED” (Graça/Misericórdia) têm sido desde os tempos mais antigos, a grande ilusão da humanidade... Que O Eterno não permita que esqueçamos de que:

“As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim;” (Ecrá/Lamentações 3.22)

Outra situação que demonstra o quanto podemos estar sob a influencia de “migdal Bavel” (Torre de Babel), (e é esta a razão que nos levou a escrever este pequeno artigo), são as inúmeras discussões em meio a construção da Torre, onde todos falam, mas ninguém entende nada...todos se preocupam em falar como se faz para chegar “aos céus”, mas ninguém esta disposto a ouvir o que o outro tem a dizer.
Tenho entendido que quando duas ou mais pessoas só estão dispostas a falar, defender suas teses, ao invés de tentar ouvir, buscar uma comunicação (que é simplesmente uma ação em comum, pois se só há emissores ou só ouvintes, não há comunicação). Estamos reproduzindo em pleno Seculo XXI, os ecos da grande confusão ocorrida em Bavel.

Lembremos da célebre frase de Voltaire:

“Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.”

Que O Eterno nos ensine não apenas a falar o que é certo, mas também a ouvir.

Shalom!!!

Um comentário:

  1. Muito bom chaver!!!

    São palavras que alimenta nossa alma.
    Em tempos de tanta turbulência sei que o ETERNO bendito seja ELE continuara a nos guiar em toda a verdade, embora o que mais ouço hoje e que não existe uma verdade absoluta.

    Que HASHEM nos de direção em meio à toda essa ''confusão''.

    Shalom, shalom

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