domingo, 13 de maio de 2012

A Mula “sem cabeça.”


Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

Ao ler o título acima, pode-se pensar que o presente texto se refira à personagem do folclore brasileiro, no entanto, o assunto é outro, pois este artigo pretende explicar uma expressão bíblica muito citada e conhecida pelos cristãos, mas que, geralmente, é apresentada desconectada de seu contexto histórico, criando um conceito que não pode ser sustentado pelas escrituras. Estamos nos referindo a expressão descrita em Colossenses 1.18, a qual diz que o Mashiach(Cristo) é o cabeça da igreja.
No decorrer das linhas deste artigo, poderemos ver que “mula sem cabeça” é um título bem apropriado a determinados seguimentos que reivindicam o status de corpo.

Conhecendo o autor da carta.

A carta aos colossenses é de autoria de Sha’ul (Paulo), emissário de Yeshua aos gentios e foi escrita entre os anos 60 – 64 d.C, e conforme dissemos em outro estudo (ver http://kehilahbeitchessed.blogspot.com.br/2011/10/iniciando-caminhada-1-parte.html), os emissários de Yeshua por meio de seus discursos e cartas, ensinavam suas lições de acordo com o que diziam as escrituras que possuíam, ou seja, tudo o que diziam deveria estar pautado na Lei e nos Profetas, que era o conjunto de livros que possuíam! O qual é conhecido atualmente como “Velho Testamento”. Este fato pode ser comprovado quando lemos as epístolas destes mesmos emissários e outros textos do chamado “Novo Testamento”, vejamos alguns deles:

“Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos.” (2 Timóteo 4.13)

Aqui vemos o próprio Sha’ul (Paulo), solicitando a seu talmid (discípulo) Timóteo, que este lhe trouxesse aquilo que, obviamente, fundamentava suas cartas.

“Mas confesso-te isto que, conforme aquele caminho que chamam seita, assim sirvo ao Elohim de nossos pais, crendo tudo quanto está escrito na lei e nos profetas.”
(Ma’assei/Atos 24.14)

Neste texto, vemos qual era a Fé de Sha’ul e, consequentemente, a “mola propulsora” de suas ações, a Lei e os Profetas. Mais uma vez temos confirmado o princípio que regia o ensinamento deste homem.

“(...) estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim. De sorte que creram muitos deles, e também mulheres gregas da classe nobre, e não poucos homens.” (Ma’assei/Atos 17.11-12)

Neste relato fica evidente que, a maior virtude que alguém que se diz crente nas palavras do Senhor pode ter, é verificar se um ensinamento apresentado, seja por quem for, está em conformidade com a Torah e os Profetas.

Sobre o quê Sha’ul (Paulo) estava falando em colossenses 1.18?

Bem... Se o que era escrito pelos emissários devia estar respaldado pela Torah e os Profetas (Velho Testamento), de onde surgiu o conceito ou idéia de “cabeça da igreja”?
Em primeiro lugar, devemos lembrar que o termo “igreja” vem do grego “ekklesia”, que por sua vez é a tradução do hebraico “Kehilah” ou “kahal”, termos que são utilizados para designar congregação ou assembléia como podemos verificar em Vayikrá/Levítico 8.3 em seu idioma original. Neste caso, devemos informar que a “ekklesia” foi, é e sempre será “Am Israel” (Povo de Israel) enquanto este guardar a Aliança de seu Elohim.
É importante dizermos que nas Bíblias editadas na língua portuguesa, o texto de Ma’assei/Atos 7.38, a palavra “ekklesia” foi traduzida como assembléia e congregação, mas nunca como “Igreja”! O que não ocorre no restante dos textos, onde “ekklesia” é sempre traduzida como igreja. Esta imparcialidade na tradução nos faz pensar se alguém (humano?) estaria por trás desta discrepância, já que ao omitir este fato, dá  margem para a hipótese de haver uma “igreja” que não seja Israel, o que está longe de ser uma verdade já que o chamado “Novo Testamento” afirma categoricamente que aqueles que recebem ao Mashiach (Cristo) são enxertados na Oliveira (Israel), como constatamos em Ruhomayah/Romanos 11 e passam a fazer parte deste povo, que só pode ser povo enquanto andar de acordo com a Lei do Eterno, a sua santa Torah!

Isto posto, vamos agora entender sobre o que Sha’ul (Paulo) estava falando:
Na verdade, Sha’ul estava de certa forma, parafraseando a profecia de Oshea/Oséias, onde a restauração do Reino de Israel é anunciada, quando Efraim (10 tribos do norte) e Yehudah (duas tribos do sul) voltarão a ser um só povo sob a legislação de um único líder (Rosh/cabeça), vejamos o texto:

 “E os filhos de Judá e os filhos de Israel juntos se congregarão, e constituirão sobre si uma só cabeça, e subirão da terra; porque grande será o dia de Jizreel.” (Oshaea/Oséias 1:11)

Para ser mais específico, quando as escrituras dizem que o Mashiach (Cristo) é a cabeça, o corpo não pode ser outro senão Israel! Pois a missão do Mashiach (Cristo) é reunir os dispersos (ovelhas perdidas) da casa de Israel (ver Mat.15.24). Não podemos aceitar a idéia de que um corpo separado de Israel possa viver, pois o próprio Sha’ul (Paulo) escrevendo aos efésios declarou esta verdade, vejamos:

“Portanto, lembrai-vos de que vós noutro tempo éreis gentios na carne, e chamados incircuncisão pelos que na carne se chamam circuncisão feita pela mão dos homens;
Que naquele tempo estáveis sem Mashiach (Cristo), separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Elohim no mundo.
Mas agora em Yeshua HaMashiach, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue do Mashiach chegastes perto.” (Efessayah/Efésios 2:11-13)

Sem nos esquecermos que a fonte das cartas de Sha’ul era o “Velho Testamento”, a conclusão que apresentamos acerca de quem é o corpo do mashiach chega a ser obvia, a saber, Israel.

Quem ou o quê, então, seria a “mula sem cabeça”?

Segundo as escrituras sagradas, nenhuma pessoa ou instituição que não estiver por meio do Mashiach, ligadas ao Eterno observando as Leis (Torah) do Seu Reino, poderá fazer parte do seu corpo (Ver Yochanan/João 15). Por isso, podemos dizer que Yeshua não é a cabeça de um corpo que não observa a Torah, e um corpo sem cabeça não pode ser nada além do que um folclore...

Shavua tov l’kulam!
(Boa semana a todos!)

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