Por Yochanan ben Avraham
Introdução.
Antes que alguém possa condenar o autor deste artigo ao “inferno”, permita-me dizer que não se trata de uma censura aos devotos de qualquer uma destas religiões, mas sim de uma exposição de características idênticas no que diz respeito a sua posição perante as escrituras e o próprio Criador.
Numa análise superficial, todos poderão dizer que, apesar de ambas se definirem como monoteístas, elas são bem diferentes uma da outra, havendo inclusive um antagonismo em pontos fundamentais de sua Fé e prática.
Contrariando esta perspectiva comum, pretendemos chamar a atenção do amigo leitor para uma semelhança que, embora seja implícita, não há como ignorá-la, pois tal fato nos leva a inferir que ambos os seguimentos, Judaísmo e Cristianismo, possuem o mesmo espírito.
1- O fator Bavel (Babilônia).
“E era toda a terra de uma mesma língua e de uma mesma fala.
E aconteceu que, partindo eles do oriente, acharam um vale na terra de Sinar; e habitaram ali. E disseram uns aos outros: Eia, façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra, e o betume por cal. E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra.” (Bereshit/Gênesis 11.1-4)
É do conhecimento da grande maioria dos leitores da Bíblia Sagrada, todo o simbolismo e significado que Bavel (Babilônia) possui no contexto espiritual da vida do povo de Elohim. Bavel personifica tudo o que é contrário a vontade do Eterno, representa a altivez e arrogância do homem perante o único e verdadeiro Senhor, revela a soberba do homem em estabelecer seus próprios caminhos, suas próprias leis para se “chegar aos Céus”, revela também a mistura e a confusão de conceitos em contraste com a pureza e simplicidade dos mandamentos do Eterno.
Não é apenas no relato da construção da histórica torre, mas também no que (muitos séculos após este monumento) veio a existir que Bavel representaria um aspecto negativo. Sim, o impressionante império babilônico viria afetar diretamente o povo da promessa, Israel. O Reino do Sul (Yehudah) sofreu três deportações entre os anos 597 AEC e 582 AEC como pode ser verificado no livro de Yirmeyahu/Jeremias 52.27-30:
“E o rei de babilônia os feriu e os matou em Ribla, na terra de Hamate; assim Judá foi levado cativo para fora da sua terra.
Este é o povo que Nabucodonosor levou cativo, no sétimo ano: três mil e vinte e três judeus.
No ano décimo oitavo de Nabucodonosor, ele levou cativas de Jerusalém oitocentas e trinta e duas pessoas.
No ano vinte e três de Nabucodonosor, Nebuzaradã, capitão da guarda, levou cativas, dos judeus, setecentas e quarenta e cinco pessoas; todas as pessoas foram quatro mil e seiscentas”.
É a partir deste momento, que a influencia babilônica começa a ser exercida sobre os judeus de modo mais intenso e um elemento muito comum na relação entre dominado e dominador, começa a se manifestar, nos referimos ao sincretismo.
A influência babilônica sobre a vida dos judeus pode ser percebida no calendário judaico tradicional e religião judaica, vejamos:
“O Talmud (Yerushalmi, Rosh haShaná 1:1) corretamente afirma que os judeus
tomaram os nomes dos meses durante o período do exílio babilônio.”
(Enciclopédia judaica)
1A - Comprovando a influência no calendário.
De fato o nome dos meses do calendário judaico tradicional, é uma adaptação dos nomes dos meses babilônios, os quais são consagrados cada um ao seu respectivo deus como podemos ver abaixo:
Mês do Ano *Deus Babilônio Homenageado* *Mês Babilônio* *Mês Farisaico*
1 Anu Nissanu Nissan
2 Ea Ayaru Iyar
3 Sin Simanu Sivan
4 Tamuz Du’uzu Tamuz
5 Abzu Abu Av
6 Elil Ululu Elul
7 Ishtar Tasritu Tishrei
8 Marduk Arachsamna Marcheshvan
9 Lahmu e Lahamu Kislimu Kislev
10 Utu Tebetu Tevet
11 Sebiti Sabatu Shevat
12 Adad Adaru Adar
Este detalhe é muito relevante se considerarmos o fato deste calendário estar totalmente comprometido com a idolatria babilônica, seria possível haver tal incongruência? O Eterno permitiria tal referência a seu povo se Ele mesmo condena a idolatria? Pense nisso!
Como se não bastasse esta evidente influencia, outro aspecto do calendário judaico atual revela um sincretismo gravíssimo, nos referimos ao início do ano no sétimo mês. Vejamos o que a Torah nos fala sobre o início do ano:
“E falou o SENHOR a Moisés e a Arão na terra do Egito, dizendo:
Este mesmo mês vos será o princípio dos meses; este vos será o primeiro dos meses do ano.” (Shemot/Êxodo 12:1-2)
O mês em questão, é o mês que se inicia a primavera (HaAviv) no hemisfério norte, quando a cevada floresce, o que acontece entre os meses de Março e Abril no calendário gregoriano. Sendo assim, de onde vem a idéia de se celebrar o ano novo judaico no sétimo mês deste calendário?
Na obra “Tablettes sumériennes de Suruppak” de R. Jestin temos a informação de que em Ur dos caldeus, celebrava-se um festival duas vezes por ano, no primeiro e no sétimo mês, ligado ao plantio e colheita da cevada, este festival era conhecido como “Akitu” que era dedicado ao deus supremo “Marduk” e que poderia ser considerado como festival do ano novo. Logo, não é difícil concluirmos de onde surgiu a prática de celebrar o novo ano no sétimo mês, Bavel.
1B - Kabalah, mística babilônia adotada pelos judeus exilados.
É bem provável que este seja o aspecto mais fascinante do judaísmo, capaz de atrair pessoas dos mais diversos seguimentos, pois a forte inclinação pelo oculto que existe nas pessoas faz com que estas mergulhem de cabeça nos conceitos cabalísticos, que são intitulados como sabedoria oculta da Torah, quando na verdade a própria Torah diz justamente o contrário! Vejamos:
“As coisas encobertas pertencem a YHWH nosso Elohim, porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei.” (D’varim/Deuteronômio 29.29)
“Porque este mandamento, que hoje te ordeno, não te é encoberto, e tampouco está longe de ti. Não está nos céus, para dizeres: Quem subirá por nós aos céus, que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos? Nem tampouco está além do mar, para dizeres: Quem passará por nós além do mar, para que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos? Porque esta palavra está mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a cumprires.” (D’varim/Deuteronômio 30:11-14)
Além do mais, o que era segredo, o que estava oculto foi revelado:
“O mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos seus santos; Aos quais Elohim quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é o Mashiach/Cristo em vós, esperança da glória;” (Colossayah/Colossenses 1.26-27)
Para maiores informações e aprofundamento no assunto, sugiro a leitura do seguinte texto:
“Cabalá: Judaísmo antigo ou misticismo pagão”
Diante do exposto até aqui, podemos entender o porquê das advertências dos profetas ao povo, devido a estas influências:
“Porque Israel e Judá não foram abandonados do seu Elohim, de YHWH Tseva’ot, ainda que a sua terra esteja cheia de culpas contra o Santo de Israel.
Fugi do meio de Babilônia, e livrai cada um a sua alma, e não vos destruais na sua maldade; porque este é o tempo da vingança do SENHOR; que lhe dará a sua recompensa. Babilônia era um copo de ouro na mão do SENHOR, o qual embriagava a toda a terra; do seu vinho beberam as nações; por isso as nações enlouqueceram.”
(Yirmeyahu/Jeremias 51:5-7)
2 – Bavel na concepção Cristã.
Embora o cristianismo interprete equivocadamente que a igreja viva independente de Israel, ele se contradiz quando assume explicitamente que Bavel é a responsável pela corrupção espiritual dos cristãos, fazendo uso de textos como Guilyana/Apocalipse 18.1-4 para fundamentarem seus argumentos:
“E depois destas coisas vi descer do céu outro anjo, que tinha grande poder, e a terra foi iluminada com a sua glória. E clamou fortemente com grande voz, dizendo: Caiu, caiu a grande Babilônia, e se tornou morada de demônios, e covil de todo espírito imundo, e esconderijo de toda ave imunda e odiável.
Porque todas as nações beberam do vinho da ira da sua prostituição, e os reis da terra se prostituíram com ela; e os mercadores da terra se enriqueceram com a abundância de suas delícias.
E ouvi outra voz do céu, que dizia: Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas.”
(Guilyana/Apocalipse 18:1-4)
Os cristãos evangélicos, de um modo geral, afirmam que a Babilônia citada em Guilyana/Apocalipse, se refere a Roma e, consequentemente, a Igreja Romana, isentando, desta forma, os protestantes. No entanto, por mais que neguem, os protestantes não só reconhecem a autoridade da Igreja Católica como também se submetem a ela, abaixo listaremos algumas evidências deste fato:
a) Ao reconhecer o domingo como o dia do Senhor, pois foi Roma que efetuou esta mudança.
b) Ao batizar em nome do Pai, Filho e Espírito Santo, pois esta fórmula não foi ordenada pelo Senhor e nem utilizada pelos primeiros emissários. O texto utilizado como base para esta fórmula (Mat. 28.19) é um acréscimo reconhecido pelos acadêmicos.
c) Ao celebrar a páscoa (Pessach) na data cristã, pois desde o concílio de Nicéia (325 d.C) é celebrada em outra data, diferente daquela estabelecida pelo Eterno.
d) Ao dizer que o ano termina em Dezembro e inicia-se em Janeiro, quando o Eterno estabeleceu o início do Ano na Primavera (HaAviv) no hemisfério norte (Ver Shemot/Êxodo 12)
e) Ao dizer que o Mashiach/Cristo nasceu em 25 de Dezembro, data da celebração do Mitraísmo.
Muitas outras evidências poderiam ser apresentadas, mas por questões de brevidade citamos apenas estas.
Como podemos ver, Bavel está presente tanto no cristianismo quanto no judaísmo é este espírito que a séculos têm corrompido a Fé de milhares de pessoas, misturando, confundindo e corrompendo.
Evidências da semelhança.
Quando recorremos à história, podemos encontrar diversos registros de ambos os seguimentos que demonstram o quanto estão ligados, a forma como se posicionam ante as escrituras e como se julgam perante os demais, não deixa dúvidas quanto ao caráter de suas origens, vejamos:
No final de sua vida, o Talmude nos diz, rabino Yochanan ben Zakkai estava aos prantos. Seus discípulos vieram até ele e disseram:
"Oh grandioso mestre, porque você está chorando? Porque é que a sua alma esta em perigo?" E Rabbi Yochanan ben Zakkai disse: "Estou prestes a encontrar com HaShem – (O Eterno) - abençoado seja Ele, e diante de mim vejo dois caminhos: um líder para o Paraíso e o outro líder para o (inferno) e não sei qual o caminho que Ele me sentenciará".
O fundador do judaísmo Rabínico admitiu que ele não tinha absolutamente nenhuma garantia de salvação. Ele disse que não sabia se iria para Elohim ou para o “inferno” por aquilo que ele fez, no final de sua vida ele estava apavorado, pois iria morrer. Agora compare isso com a expressão de um daqueles que ocupou o lugar da maior autoridade do cristianismo, o Papa Marcelo II:
“Dificilmente um papa escaparia do inferno”
(Vita Del Marcelo, página 132).
O Papa Inocêncio III disse que o Papa é:
“... superior ao homem. É juiz de todos, mas não é julgado por ninguém”
O Talmude é o livro mais sagrado do judaísmo (na verdade uma coleção de livros) têm uma citação semelhante a do Papa Inocêncio III. No judaísmo sua autoridade tem precedência sobre o Antigo Testamento. A evidência dessa precedência pode ser encontrada no próprio Talmude, Erubin 21b (edição de Soncino):
“Filho meu, tenha mais cuidado em observar as palavras dos escribas do que as palavras da Torah (Antigo Testamento)."
O papa Leão XIII asseverou em 1894:
“Ocupamos nesta terra o lugar do Elohim santo”
(Será Mesmo Cristão o Catolicismo? Hugh P. Jeter, Editora Betel, 2ª Edição de 2000, página 50).
Semelhantemente, o Talmud (Tratado Baba Metzia 59b) relata o episódio de uma grande disputa entre Rabi Eliezer e os Sábios de Israel a respeito da capacidade de um recipiente em especial de tornar-se tamê. A própria Torá apresenta o princípio fundamental que em caso de disputa devemos regulamentar de acordo com a maioria.
Rabi Eliezer foi enormemente derrotado, mas recusou-se a ceder terreno. Tão convencido estava de que a lei seguia sua opinião que começou a solicitar meios sobrenaturais para consolidar seu ponto de vista, e declarou: "Se a lei é como eu, que o rio corra para cima!"
Com certeza, o rio mudou seu curso e a água subiu corrente acima. O restante dos sábios rejeitou friamente sua exposição, dizendo: "Não se pode citar evidência legal baseado em riachos!" Rabi Eliezer continuou a trazer provas sobrenaturais, todas rejeitadas pelos sábios da mesma maneira. Finalmente, em desespero de causa, Rabi Eliezer disse: "Se a lei é como eu, que uma voz venha dos céus para confirmar isso!"
Como para aproveitar a deixa, uma voz celestial foi ouvida, dizendo: "Por que discutem com Rabi Eliezer? Com certeza ele está certo!" Nesta altura, Rabi Yehoshua (a força liderante por trás da discordância) levantou-se e proclamou: "A Torá não está mais nos céus (referindo-se aos versículos acima citados); foi confiada aos sábios de Israel e nós, a maioria, decretamos que a halachá está de acordo conosco."
Ou seja, no relato acima até o Criador se submeteu a deliberação de Rabi Eliezer... Que absurdo!
Considerações finais.
Este artigo não teve a ambição de esgotar os argumentos que justificam a proposta do título, mas instigar o leitor a examinar as escrituras sagradas sem uma teologia pré concebida, despojado de tendências imparciais, vasculhando registros históricos aproximando-se da verdade dos fatos, para que possa desenvolver um a Fé genuína e não um conjunto de dogmas segundo a cosmovisão de um determinado grupo.
Shavua Tov L’Kulam!!
(Boa Semana para Todos!!)
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