sexta-feira, 12 de abril de 2013

Sedra para o Shabat de 13/04/13 (Bamidbar 11)


Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

Neste Shabat, estudaremos o perek 11 do sefer Bamidbar (capitulo 11 do livro de Números), onde esta relatada a ira do Eterno se inflamando em fogo entre o povo; o lamento de Moshe junto ao Eterno; a murmuração do povo por causa de carne e outros mantimentos que eram usufruídos no Egito; murmuração por causa do Maná; a resposta do Eterno; a efusão do Espírito sobre os anciãos  e o envio das codornizes ao povo.

Uma face assustadora se revela.

Neste capitulo da Torah, não há como não se assustar com o comportamento do povo hebreu diante das circunstâncias vividas naquele momento, pois depois de presenciar tantos sinais e prodígios do Eterno, ele, o povo, reage como se não houvesse testemunhado as maravilhas operadas para que sua libertação ocorresse... Mais assustador ainda é o fato de que ainda hoje, sem perceber, agimos da mesma forma como veremos mais adiante.
Podemos observar claramente neste episodio que apenas os "corpos" do povo haviam se retirado do Egito, pois os "corações" continuavam lá! Desta forma, considerando que a vida é uma síntese entre o físico e o espiritual, percebe-se o desenvolvimento de um desequilíbrio afetando o shalom do arraial, pois a partir do momento em que a preocupação com o bem estar físico (material) se torna maior que a do espiritual, a tendência e nos tornarmos egoístas, imediatistas e, consequentemente, murmuradores, porque se as coisas não acontecem como e quando queremos, geralmente reagimos desta forma.
Vejam a que ponto chegou a murmuração do povo, e constatemos o desequilíbrio entre o material e o espiritual existente naquele momento: RECLAMARAM DO MANÁ !!! Isso mesmo... Estavam tão preocupados com "o corpo" que se esqueceram da "alma". Mas por que reclamaram do maná? Para entendermos isto, devemos analisar tudo o que envolve o maná, seu anuncio, sua colheita seu preparo e etc. Para isso, leiamos Shemot (Êxodo) 16.4, 21 e Bamidbar (Números) 11.7-9.

Após a leitura sugerida, vemos que para se obter o maná era necessário diariamente, de manhã bem cedo, antes de o sol estar "alto", colhê-lo, pois do contrário ele derreteria. Para consumi-lo, dever-se-ia moer, pilar, cozinhar... Enfim, tudo isso demandaria tempo e trabalho e para quem é preguiçoso obviamente isto seria muito desconfortável, poderíamos até sugerir que a Torah, indiretamente, já estaria mostrando os efeitos destrutivos da Preguiça como mais tarde Shlomo hamelech (Rei Salomão) iria dizer:

“O preguiçoso, até quando ficarás deitado? Quando te levantarás do teu sono?” Mishlei/Provérbios 6.9

“Vai ter com a formiga, ó preguiçoso; olha para os seus caminhos, e sê sábio.” Mishlei/Provérbios 6.6

“Como vinagre para os dentes, como fumaça para os olhos, assim é o preguiçoso para aqueles que o mandam.”
Mishlei/Provérbios 10.26

Mas o que realmente nos salta aos olhos é o fato de o maná ser um sinal que provaria a fidelidade do povo à Torah, veja o texto:

 “Então disse o SENHOR a Moisés: Eis que vos farei chover pão dos céus, e o povo sairá, e colherá diariamente a porção para cada dia, para que eu o prove se anda em minha lei ou não.”
Shemot/Êxodo 16.4

Logo, ao lermos Bamidbar 11.6, compreende-se que o povo estava, de certa forma, murmurando contra a Lei/Torah, ele, o povo, estava “cansado” deste sinal, não queriam mais permanecer na Lei do Eterno. Compare isso com a carta escrita a Timóteo:

“Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências;
e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.”
II Timóteo 4.3-4

Vale lembrar que a sã doutrina mencionada é a dos emissários, que é a mesma dos profetas, pois ambos têm o mesmo fundamento - A Lei/Torah (cf Efésios 2.20) e que“Verdade” é um eufemismo para a Lei (verTehilim/ Salmos 119.142).

Um detalhe pitoresco que reforça a relação entre o maná e a obediência a Torah. pode ser captado, ao utilizarmos a guematria (sistema de cálculo das letras hebraicas), pois a palavra maná, do hebraico (מן)“man” tem o valor 90, que é o mesmo valor da letra (צ) “tsad”, a primeira letra da palavra “tsadik”- Justo. Ou seja, a diferença entre justo e injusto, se observa na permanência (ou não) na “colheita” do Maná... Ou melhor, a diferença esta na permanência na Lei do Eterno.

Cuidado com o que desejas

Quando atendemos ao impulso carnal, o resultado não pode ser bom. Embora lições possam ser aprendidas, as conseqüências por agirmos segundo esta natureza trazem, em vias de regra, muita dor. Vejamos a resposta do Eterno ao desejo do povo:

“E dirás ao povo: Santificai-vos para amanhã, e comereis carne; porquanto chorastes aos ouvidos do SENHOR, dizendo: Quem nos dará carne a comer? Pois íamos bem no Egito; por isso o SENHOR vos dará carne, e comereis; Não comereis um dia, nem dois dias, nem cinco dias, nem dez dias, nem vinte dias; Mas um mês inteiro, até vos sair pelas narinas, até que vos enfastieis dela; porquanto rejeitastes ao SENHOR, que está no meio de vós, e chorastes diante dele, dizendo: Por que saímos do Egito?”
Bamidbar/Números 11.18-20

Comparem isso com as palavras de Sha'ul aos romanos:

Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz.
Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra o Eterno, pois não é sujeita à lei de YHWH, nem, em verdade, o pode ser.
Portanto, os que estão na carne não podem agradar ao Eterno.
Romanos 8.6-8


Conclusão

O desejo nasceu na lembrança do passado, quando viviam sem a Torah e sob o tacão de Faraó, em meio à idolatria e influencias estrangeira. Da mesma forma, ainda hoje, se não avaliarmos de onde vêm os impulsos que eventualmente sentimos, e nos entregarmos aos desejos, podemos até nos satisfazermos por algum tempo, mas as “náuseas” virão e, por fim, o “Kibrot Hataava” (sepulcro dos desejosos) ver Bamidbar 11.33-34).
Não devemos esquecer os milagres que O Eterno operou para nos libertar do cativeiro, nem questionar o sustento que O Sagrado, Bendito seja Ele, têm nos dado ao longo dos anos. A vida vivida longe da ética e moral ensinada pela Torah não deve ser motivo de orgulho, o seu prazer era efêmero e sua "liberdade" ilusória

Shabat Shalom !!! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário