sexta-feira, 19 de abril de 2013

Sedrá para o Shabat de 20/04/13 (Bamidbar 12)


Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

A sedra deste Shabat relata um grave episódio ocorrido no deserto durante a peregrinação do povo hebreu, nos referimos ao pecado de Miriam e Aharon contra Moshê. Neste perek (capítulo), podemos ver claramente o quão prejudicial é a maledicência, cujo termo hebraico é “lashon hará”.
A lashon hará é tão destrutiva que não atinge apenas quem fala, mas também de quem se fala e aquele que ouve... Uma verdadeira arma!

Miriam e seu pecado

 Antes de examinarmos o pecado propriamente dito, vamos verificar quem foi Miriam para entendermos o impacto de seu ato na comunidade. Verifiquemos o que a Torah diz sobre ela:

“Então Miriam, a profetiza, a irmã de Arão, tomou o tamboril na sua mão, e todas as mulheres saíram atrás dela com tamboris e com danças.” 
                                                                              (Shemot/Êxodo 15.20)

É nítida a proeminência de Miriam sobre o povo, e sua influência, inegável. Portanto, compreende-se o rigor com que O Eterno tratou a situação, percebe-se também algo muito interessante durante a repreensão aplicada a Miriam e Aharon, vejamos:

“Então o SENHOR desceu na coluna de nuvem, e se pôs à porta da tenda; depois chamou a Arão e a Miriã e ambos saíram.
E disse: Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós houver profeta, eu, o SENHOR, em visão a ele me farei conhecer, ou em sonhos falarei com ele.
Não é assim com o meu servo Moisés que é fiel em toda a minha casa.
Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas; pois ele vê a semelhança do SENHOR; por que, pois, não tivestes temor de falar contra o meu servo, contra Moisés?”
                                                                                                                   (Bamidbar/Números 12.5-8)

Se Miriam era uma profetiza, conforme vimos anteriormente, e se Moshe se identifica como profeta (D’varim/Deuteronômio 34.10), fica comprovado a humildade de Moshe citada no passuk 3 da sedrá, pois pelo que observamos nas palavras de YHWH, Moshe era mais que profeta! No entanto se apresentava simplesmente como um profeta. Esta atitude de Moshe é uma grande lição para todos nós, por isso o chamamos de “Rabenu” (Nosso professor).

Voltando à Miriam, é preciso entender que a palavra dita é uma manifestação do que esta no coração de quem a pronuncia, “... Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca.”(Yeshua ben Yosef, ha natsri).  O teor das palavras de Miriam revelou que seu interior estava doente, consequentemente a doença que se manifestou em sua pele- “Tsaraat” (que foi traduzida como lepra, mas que na verdade não se pode afirmar o que era de fato), tinha origem espiritual.

Língua. Uma ponte que liga o mundo espiritual ao mundo físico.

O vocábulo hebraico “Lashon” (Língua) ocorre 117 vezes no Tanach. E em poucas passagens tem sentido físico, a grande maioria destas ocorrências está focalizada no mau uso da língua. Não é à toa que Sh’lomo hamelech (o rei Salomão) disse:

“A morte e a vida estão no poder da língua; e aquele que a ama comerá do seu fruto.”
                                                                                                                          (Mishlei/Provérbios 18.21)

Sob este ponto de vista, podemos entender porque a epístola atribuída a Ya’akov ha tsadik (Tiago o justo), considerou o homem que refreia sua língua como alguém perfeito. Este documento, datado entre o final do primeiro século e início do segundo, diz o seguinte:

“Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal é perfeito, e poderoso para também refrear todo o corpo. Ora, nós pomos freio nas bocas dos cavalos, para que nos obedeçam; e conseguimos dirigir todo o seu corpo.”
                                                                                             (Ya’akov/Tiago 3.2-3)

A fraqueza de Aharon.

Não foi apenas Miriam que errou. Aharon, seu irmão, também cometeu uma grande falha, pois algo recorrente aconteceu... Mais uma vez ele se deixou influenciar por outros da mesma forma como ocorreu no episódio do “egel zahav” (bezerro de ouro) conforme descrito em Shemot/Êxodo 32.1 e 2.
Portanto, é necessário permanecermos firmes nos ensinamentos de HaShem e não nos deixarmos levar pela pressão externa, seja quem for, tenha este reputação de profeta ou seja toda uma comunidade precisamos manter nossa fidelidade como Yehoshua e Caleb mantiveram as suas como veremos na próxima sedrá.

Lashon hará. Um “atraso” na vida

“E disse o SENHOR a Moisés: Se seu pai cuspira em seu rosto, não seria envergonhada sete dias? Esteja fechada sete dias fora do arraial, e depois a recolham. Assim Miriam esteve fechada fora do arraial sete dias, e o povo não partiu, até que recolheram a Miriam.”
               (Bamidbar/Números 12.14-15)

O povo teve que interromper sua jornada por causa de Miriam, este fato deve ser levado na mais alta consideração. A “lashon hará” impediu o avanço do povo por sete dias naquele tempo, mas podemos até dizer que, mesmo hoje, quando cometemos lashon hará, ou seja, questionamos a Torah (instrução) de YHWH, ficamos impedidos de alcançar nossos objetivos, pois foi o próprio Eterno que nos advertiu contra este mal:

“Guarda-te da praga da lepra, e tenhas grande cuidado de fazer conforme a tudo o que te ensinarem os sacerdotes levitas; como lhes tenho ordenado, terás cuidado de fazê-lo. Lembra-te do que o SENHOR teu Elohim fez a Miriam no caminho, quando saíste do Egito.”
            (D’varim/Deuteronômio 24.8-9)

Conclusão.

Muito já especulou sobre quais foram as motivações da lashon hará de Miriam: problemas no relacionamento entre Moshe e sua esposa cuxita, ciúmes em relação a posição de Moshe ante o povo e etc. Mas tais especulações muitas vezes acabam nos tirando do foco, que é não cometer a lashon hará, até porque, por mais irônico que pareça, as especulações muitas vezes podem nos levar a maledicência,

Shabat Shalom!!!


Nenhum comentário:

Postar um comentário