Por Yochanan ben Avraham
Introdução.
D’varim, termo hebraico que significa palavras, de fato é o
nome apropriado para o quinto livro da Torah, pois este é um livro de
discursos. Discursos estes que, explicavam “esta Torah” a todo povo hebreu.
Nestes três primeiros capítulos do livro, nos salta aos
olhos algo fundamental para o estabelecimento de um povo... Estamos nos
referindo à memória. Por isso, nosso comentário estará voltado para este
aspecto e não necessariamente a todo os eventos mencionados nestes capítulos.
Memória e identidade.
No tehilim (Salmos) 90, temos uma oração atribuída a Moshe
pedindo que lhe seja concedida capacidade para contar os dias até que se
alcance a sabedoria:
Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos
corações sábios.
(Tehilim/Salmos 90.12)
Nenhuma sociedade terá continuidade se desprezar o seu
passado, e a ligação com o passado é feita através da memória e é por meio dela
que distinguimos o ontem do hoje,
confirmando que tivemos um passado, um caminho percorrido,
enfim... Uma história. É essa história que nos dá um sentido de identidade,
pois sabendo o que fomos e por onde passamos, sabemos quem somos e para onde
devemos ir.
Há aproximadamente cinqüenta anos, o revolucionário
conhecido por Che Guevara disse as seguintes palavras:
“Um povo que não
conhece a sua história está condenado a repeti-la”
Ao ler os primeiros capítulo de D’varim, vemos que o princípio
citado pelo famoso revolucionário, já havia sido revelado há milênios! Contando
os dias de sua peregrinação, pontuando os diversos eventos ocorridos durante o
percurso, Israel encontraria o equilíbrio entre o que era, é e deveria ser.
Bem depois disso, já no primeiro século de nossa era, mais
uma vez a memória é evocada como algo fundamental para o êxito de nossa
caminhada:
Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos
debaixo da nuvem, e todos passaram pelo mar... Ora, tudo isto lhes sobreveio
como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os
fins dos séculos.
(Curintayah alef/1 Coríntios 10.1 e 11)
Verdadeiramente, um dos verbos mais significativos para o
povo hebreu é “Lembrar”. É na lembrança que pode estar a diferença entre a vida
e a morte, a benção e a maldição, este aspecto se torna interessante porque
neste detalhe, algo presente na própria palavra revela algo importantíssimo, ao utilizarmos a guemátria, isto é, o sistema de calculo das letras hebraicas, descobrimos que זכר “zakar” (Lembrar), tem o mesmo valor
das palavras ברכה “berakah” (Benção) e בכרה “bekorah”
(Primogenitura), ou seja, 227. Vale lembrar ainda que o sinal estabelecido pelo
Eterno para distinguir seu povo é a guarda do Shabat, o único dos dez
mandamentos que se inicia com a ordem, lembra-te!
Lembra-te do dia do sábado, para o santificar.
Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra.
Mas o sétimo dia é o sábado do YHWH teu Elohim; não farás nenhuma obra,
nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o
teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas.
Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que
neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou YHWH o dia do sábado, e
o santificou.
(Shemot/Êxodo 20.8-11)
Conclusão.
A benção e a primogenitura dos filhos de Israel estão
intimamente relacionadas à lembrança, portanto, a sua memória. Logo, não é
difícil imaginar porque Moshe começa seu discurso trazendo ao povo, as
lembranças de tudo que viveram até chegar aquele ponto. Que neste Shabat, todos
nós possamos aproveitar este momento para lembrar como chegamos até aqui e
fazer os ajustes necessários para prosseguirmos nossa caminhada.
Shabat Shalom!!!
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