sexta-feira, 10 de maio de 2013

Sedrá para o Shabat de 11/05/13 (Bamidbar 16)


Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

Numa leitura mais atenta desta sedrá, podemos perceber que, embora tenhamos a impressão de uma única situação descrita, trata se de acontecimentos diferentes, pois temos grupos, motivos, reclamações e punições diferentes acontecendo quase, ou mesmo, simultaneamente.
Uma vez percebida as diferenças, podemos extrair algumas lições práticas para nossa jornada no “Olam Hazé’ (Tempo/Mundo atual).

O Primeiro grupo e suas reivindicações.

Conforme o texto, o nome que encabeça todo o imbróglio é o de Korach ben Yits’har. Korach era um levita, isto é, fazia parte da tribo escolhida pelo Eterno para o serviço no “Mishkan” (Tabernáculo), isto significa que ele não era uma pessoa qualquer, mas o teor de suas palavras dá a impressão de que ele era alguém desprezado, injustiçado ou algo do gênero. No entanto, como levita, gozava do privilégio de servir naquilo que era o centro da vida israelita, já que Israel vivia um regime teocrático com uma ‘sociedade templaria’ em desenvolvimento.
Do quê Korach reclamava afinal? A resposta encontra-se nos passukim (versículos) 8 ao 11. Korach queria a kehunah (sacerdócio)... Qual o problema de se desejar tão nobre função? Isto nós explicaremos mais adiante.
Para entendermos a situação, é necessário retornarmos terceiro capítulo de Bamidbar (Números):

“E falou o SENHOR a Moisés, dizendo:
E eu, eis que tenho tomado os levitas do meio dos filhos de Israel, em lugar de todo o primogênito, que abre a madre, entre os filhos de Israel; e os levitas serão meus.”
(Bamidbar/Números 3.11-12)

“E falou o SENHOR a Moisés no deserto de Sinai, dizendo:
Conta os filhos de Levi, segundo a casa de seus pais, pelas suas famílias; contarás a todo o homem da idade de um mês para cima.
E Moisés os contou conforme ao mandado do SENHOR, como lhe foi ordenado.
Estes, pois, foram os filhos de Levi pelos seus nomes: Gérshon, e Kehat e Merari.”
(Bamidbar/Números 3.14-17)

Os levitas estavam divididos em três grupos principais e cada grupo tinha sua responsabilidade no serviço, montagem, desmontagem e transporte do mishkan e seus utensílios na seguinte forma:

Gershon
Cuidavam da habitação/instalação do Mishkan e sua cobertura, véu de entrada da tenda da reunião, cortinas do átrio, véu de entrada do átrio e cordas necessárias ao serviço.

Kehat
Cuidavam da Arca, mesa, candelabro, altares, objetos sagrados do culto e do véu com todos os pertences.

Merari
Cuidavam das tábuas, vigas, colunas e bases de todos acessórios e de todos os utensílios, assim como das colunas que rodeiam o átrio, suas bases, estacas e cordas.

Diante destas informações, podemos ver que Korach, fazia parte do clã que cuidava das coisas mais sagradas do Mishkan... Uma grande honra! Mas mesmo assim ele queria mais, ele queria a kehunah (sacerdócio). Embora fosse um kehatita, sua parte não era sacerdotal, pois isto estava reservado aos seus primos, os filhos de Amram. (É importante dizer que Kehat ben Levi (Kehat filho de Levi) teve quatro filhos: Amram, Yits’har, Hebron e Uziel.)
Korach estava fazendo uma queixa de Aharon e seus filhos, questionava uma determinação do Eterno, e como alguém ligado ao lado espiritual do povo, percebemos porque o seu nome é tido como o principal rebelde da situação, pois se o espiritual vai mal, consequentemente o material acompanhará a direção...
Se Korach era levita, do clã kehatita, responsável por um importante serviço, portanto, inserido num contexto especial na vida dos hebreus, percebemos que ele não queria servir, mas “aparecer”, queria destaque e não submissão. Esta é a primeira lição que tiramos desta sedrá, devemos cuidar de nossas motivações para que a vaidade não se apodere de nossas intenções e ações e assim nos tornarmos reprováveis perante os olhos dAquele que tudo vê. Que possamos tomar, por exemplo, as palavras de Yeshua ben Yosef, ha notsri:

“... O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos.” (Matitiyahu/Mateus 20.28)

O segundo grupo e suas reivindicações

Assim como Korach liderava o primeiro grupo, entendemos que Datan e Aviram, bnei Eliav (filhos de Eliav). Estes, diferentemente de Korach, não faziam parte do serviço sagrado, pois não eram levitas, mas Rubenitas, ou seja, pertenciam a tribo de Reuven (Ruben). A queixa destes foi contra Moshe, um questionamento a liderança política que este exercia, a prova disso foi reação que Moshe teve ao ter conhecimento da murmuração:

E Moisés mandou chamar a Datã e a Abirão, filhos de Eliabe; porém eles disseram: Não subiremos;
Porventura pouco é que nos fizeste subir de uma terra que mana leite e mel, para nos matares neste deserto, senão que também queres fazer-te príncipe sobre nós?
Nem tampouco nos trouxeste a uma terra que mana leite e mel, nem nos deste campo e vinhas em herança; porventura arrancarás os olhos a estes homens? Não subiremos.
Então Moisés irou-se muito, e disse ao SENHOR: Não atentes para a sua oferta; nem um só jumento tomei deles, nem a nenhum deles fiz mal.
(Bamidbar/Números 16.12-15)

Punições diferentes.

É notável a diferença das medidas tomadas por Moshe para sanar o problema, com relação à Korach e os levitas que estavam com ele, foi proposto um teste onde todos os duzentos e cinqüenta homens mais Aharon e Moshe, deveriam apresentar seus incensários perante HaShem.
Quanto a Datan e Aviram, Moshe exclamou: “Não atentes para a sua oferta...”
 O texto vai se desenvolvendo, indo e vindo da tenda da congregação ao acampamento onde estavam as tendas de Datan e Aviram, entre os rubenitas, mas as sentenças foram diferentes e aconteceram, aparentemente na mesma hora, mas em locais diferentes! Isso pode causar certa confusão ao leitor mais afoito, mas as coisas se desenvolveram da seguinte forma:
*Os duzentos e cinqüenta homens estavam reunidos com Moshe e Aharon como seus incensários na tenda da reunião.
*O Eterno Ordena que Moshe saia de lá, pois Ele os consumiria.
*Moshe intercede sem sucesso.
*Moshe se lavanta e vai a Datan e Aviram, seguido pelos zakanim (anciãos).
*Moshe avisa ao povo para se desviarem destes homens ímpios.
*Datan e Aviram saíram à porta de suas tendas com suas famílias.
*Moshe pede um sinal: Uma punição extraordinária que não deixasse dúvidas.
*A terra se abre, e traga os rebeldes vivos e no mesmo momento, saiu fogo do Eterno consumindo os duzentos e cinqüenta homens que ofereciam incenso na tenda da congregação.

Considerações finais.

É surpreendente lermos no final deste capítulo 15, que no dia seguinte, mesmo com todas as demonstrações extraordinárias, parte povo tenha se voltado contra Moshe e Aharon... Ficamos perplexos diante da dureza de coração dos insurgentes. Isso mostra a baixa espiritualidade em que estavam encerrados, não foram capazes de fazer a leitura correta da situação, pois estavam totalmente voltados para questões matérias e envolvimentos emocionais, que os impediam de avaliar a situação esquecendo-se de sua vocação e herança. Que não sejamos assim para o bem de nossas almas.

Shabat Shalom!!!

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