Por Yochanan ben Avraham
Introdução.
Numa leitura mais atenta desta sedrá, podemos perceber que,
embora tenhamos a impressão de uma única situação descrita, trata se de
acontecimentos diferentes, pois temos grupos, motivos, reclamações e punições
diferentes acontecendo quase, ou mesmo, simultaneamente.
Uma vez percebida as diferenças, podemos extrair algumas lições
práticas para nossa jornada no “Olam Hazé’ (Tempo/Mundo atual).
O Primeiro grupo e suas reivindicações.
Conforme o texto, o nome que encabeça todo o imbróglio é o
de Korach ben Yits’har. Korach era um levita, isto é, fazia parte da tribo
escolhida pelo Eterno para o serviço no “Mishkan” (Tabernáculo), isto significa
que ele não era uma pessoa qualquer, mas o teor de suas palavras dá a impressão
de que ele era alguém desprezado, injustiçado ou algo do gênero. No entanto,
como levita, gozava do privilégio de servir naquilo que era o centro da vida
israelita, já que Israel vivia um regime teocrático com uma ‘sociedade
templaria’ em desenvolvimento.
Do quê Korach reclamava afinal? A resposta encontra-se nos
passukim (versículos) 8 ao 11. Korach queria a kehunah (sacerdócio)... Qual o
problema de se desejar tão nobre função? Isto nós explicaremos mais adiante.
Para entendermos a situação, é necessário retornarmos
terceiro capítulo de Bamidbar (Números):
“E falou o SENHOR a Moisés, dizendo:
E eu, eis que tenho tomado os levitas do meio dos filhos de Israel, em
lugar de todo o primogênito, que abre a madre, entre os filhos de Israel; e os
levitas serão meus.”
(Bamidbar/Números 3.11-12)
“E falou o SENHOR a Moisés no deserto de Sinai, dizendo:
Conta os filhos de Levi, segundo a casa de seus pais, pelas suas
famílias; contarás a todo o homem da idade de um mês para cima.
E Moisés os contou conforme ao mandado do SENHOR, como lhe foi
ordenado.
Estes, pois, foram os filhos de Levi pelos seus nomes: Gérshon, e Kehat
e Merari.”
(Bamidbar/Números 3.14-17)
Os levitas estavam divididos em três grupos principais e
cada grupo tinha sua responsabilidade no serviço, montagem, desmontagem e
transporte do mishkan e seus utensílios na seguinte forma:
Gershon
Cuidavam da habitação/instalação do Mishkan e sua cobertura,
véu de entrada da tenda da reunião, cortinas do átrio, véu de entrada do átrio
e cordas necessárias ao serviço.
Kehat
Cuidavam da Arca, mesa, candelabro, altares, objetos
sagrados do culto e do véu com todos os pertences.
Merari
Cuidavam das tábuas, vigas, colunas e bases de todos acessórios
e de todos os utensílios, assim como das colunas que rodeiam o átrio, suas
bases, estacas e cordas.
Diante destas informações, podemos ver que Korach, fazia
parte do clã que cuidava das coisas mais sagradas do Mishkan... Uma grande
honra! Mas mesmo assim ele queria mais, ele queria a kehunah (sacerdócio). Embora
fosse um kehatita, sua parte não era sacerdotal, pois isto estava reservado aos
seus primos, os filhos de Amram. (É importante dizer que Kehat ben Levi (Kehat
filho de Levi) teve quatro filhos: Amram, Yits’har, Hebron e Uziel.)
Korach estava fazendo uma queixa de Aharon e seus filhos,
questionava uma determinação do Eterno, e como alguém ligado ao lado espiritual
do povo, percebemos porque o seu nome é tido como o principal rebelde da situação,
pois se o espiritual vai mal, consequentemente o material acompanhará a direção...
Se Korach era levita, do clã kehatita, responsável por um
importante serviço, portanto, inserido num contexto especial na vida dos
hebreus, percebemos que ele não queria servir, mas “aparecer”, queria destaque
e não submissão. Esta é a primeira lição que tiramos desta sedrá, devemos
cuidar de nossas motivações para que a vaidade não se apodere de nossas intenções
e ações e assim nos tornarmos reprováveis perante os olhos dAquele que tudo vê.
Que possamos tomar, por exemplo, as palavras de Yeshua ben Yosef, ha notsri:
“... O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e
para dar a sua vida em resgate de muitos.” (Matitiyahu/Mateus 20.28)
O segundo grupo e suas reivindicações
Assim como Korach liderava o primeiro grupo, entendemos que
Datan e Aviram, bnei Eliav (filhos de Eliav). Estes, diferentemente de Korach,
não faziam parte do serviço sagrado, pois não eram levitas, mas Rubenitas, ou
seja, pertenciam a tribo de Reuven (Ruben). A queixa destes foi contra Moshe,
um questionamento a liderança política que este exercia, a prova disso foi reação
que Moshe teve ao ter conhecimento da murmuração:
E Moisés mandou chamar a Datã e a Abirão, filhos de Eliabe; porém eles
disseram: Não subiremos;
Porventura pouco é que nos fizeste subir de uma terra que mana leite e
mel, para nos matares neste deserto, senão que também queres fazer-te príncipe
sobre nós?
Nem tampouco nos trouxeste a uma terra que mana leite e mel, nem nos
deste campo e vinhas em herança; porventura arrancarás os olhos a estes homens?
Não subiremos.
Então Moisés irou-se muito, e disse ao SENHOR: Não atentes para a sua
oferta; nem um só jumento tomei deles, nem a nenhum deles fiz mal.
(Bamidbar/Números 16.12-15)
Punições diferentes.
É notável a diferença das medidas tomadas por Moshe para
sanar o problema, com relação à Korach e os levitas que estavam com ele, foi proposto
um teste onde todos os duzentos e cinqüenta homens mais Aharon e Moshe,
deveriam apresentar seus incensários perante HaShem.
Quanto a Datan e Aviram, Moshe exclamou: “Não atentes para a
sua oferta...”
O texto vai se
desenvolvendo, indo e vindo da tenda da congregação ao acampamento onde estavam
as tendas de Datan e Aviram, entre os rubenitas, mas as sentenças foram
diferentes e aconteceram, aparentemente na mesma hora, mas em locais diferentes!
Isso pode causar certa confusão ao leitor mais afoito, mas as coisas se
desenvolveram da seguinte forma:
*Os duzentos e cinqüenta homens estavam reunidos com Moshe e
Aharon como seus incensários na tenda da reunião.
*O Eterno Ordena que Moshe saia de lá, pois Ele os
consumiria.
*Moshe intercede sem sucesso.
*Moshe se lavanta e vai a Datan e Aviram, seguido pelos
zakanim (anciãos).
*Moshe avisa ao povo para se desviarem destes homens ímpios.
*Datan e Aviram saíram à porta de suas tendas com suas famílias.
*Moshe pede um sinal: Uma punição extraordinária que não
deixasse dúvidas.
*A terra se abre, e traga os rebeldes vivos e no mesmo
momento, saiu fogo do Eterno consumindo os duzentos e cinqüenta homens que
ofereciam incenso na tenda da congregação.
Considerações finais.
É surpreendente lermos no final deste capítulo 15, que no
dia seguinte, mesmo com todas as demonstrações extraordinárias, parte povo
tenha se voltado contra Moshe e Aharon... Ficamos perplexos diante da dureza de
coração dos insurgentes. Isso mostra a baixa espiritualidade em que estavam
encerrados, não foram capazes de fazer a leitura correta da situação, pois
estavam totalmente voltados para questões matérias e envolvimentos emocionais,
que os impediam de avaliar a situação esquecendo-se de sua vocação e herança. Que
não sejamos assim para o bem de nossas almas.
Shabat Shalom!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário