sexta-feira, 17 de maio de 2013

Sedrá para o Shabat de 18/05/13 (Bamidbar 17)


Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

No este estudo da Sedrá deste Shabat, vale dizer que nas bíblias convencionais, o Capítulo 17 se inicia com a ordem de Adonai a Moshe para que cada tribo trouxesse uma vara, um ramo em representação de sua casa paterna. Porém, este relato inicia-se somente a partir do Passuk (versículo) 16 nas bíblias hebraicas. Por esta razão, iniciaremos nossos comentários deste passuk em diante.
Lembrando do episódio, vemos que a autoridade de Aharon estava sendo questionada e O Eterno, mais uma vez, estaria dando uma prova de quem ele havia escolhido.

Uma simplicidade perturbadora?

É muito curioso o fato do povo ainda necessitar de uma “prova” de que Aharon era realmente o escolhido pelo Eterno, após sinais inconfundíveis como a morte dos rebeldes dias antes! Isto nos leva a buscar razões para tamanha descrença e uma delas pode ser a simplicidade e acessibilidade deste líder. Infelizmente, muitos julgam a instrumentalidade a partir de fatores externos, mistificando indivíduos atribuindo-lhes poderes sobre humanos ao invés de simplesmente demonstrar-lhes o devido respeito. Neste caso em particular, especulamos tal situação, a partir da seguinte sugestão: Será que o povo não conseguia respeitar a Aharon por ele está tão próximo? Já vimos em outra sedrá que o povo, por vezes, se dirigia a Aharon sem um aviso prévio, sem agendar uma audiência... Demonstrando que havia uma acessibilidade a este e parece que isso foi confundido pelo povo. Infelizmente, nós homens, temos dificuldades de reconhecer O Eterno nas coisas simples da vida, sempre buscamos algo “sobrenatural” para nos excitar ao serviço da justiça. No entanto, se não reverenciamos ao Criador nas pequenas coisas da Vida, como poderemos fazer isso nas grandes? Como foi dito:

“Se alguém diz: Eu amo ao Eterno, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu como pode amar ao Eterno, a quem não viu?”
(Yochanan alef /1 João 4.20)

A Torah ensina o amor:

“Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o SENHOR.” (Vayikrá /Levítico 19.18)

Se o povo não “temia” aquele que oficiava em nome de YHWH, como poderiam temer o próprio YHWH? Nada mais contraditório do que se dizer zeloso da Lei e ser difamador, vingativo e iracundo.

A diferença está nos frutos.

A Torah descreve a prova em que os representantes das casas paternas foram submetidos:

“Então falou o SENHOR a Moisés, dizendo:
Fala aos filhos de Israel, e toma deles uma vara para cada casa paterna de todos os seus príncipes, segundo as casas de seus pais, doze varas; e escreverás o nome de cada um sobre a sua vara.
Porém o nome de Arão escreverá sobre a vara de Levi; porque cada cabeça da casa de seus pais terá uma vara.
E as porás na tenda da congregação, perante o testemunho, onde eu virei a vós.
E será que a vara do homem que eu tiver escolhido florescerá; assim farei cessar as murmurações dos filhos de Israel contra mim, com que murmuram contra vós.
Falou, pois, Moisés aos filhos de Israel; e todos os seus príncipes deram-lhe cada um uma vara, para cada príncipe uma vara, segundo as casas de seus pais, doze varas; e a vara de Arão estava entre as deles.
E Moisés pôs estas varas perante o SENHOR na tenda do testemunho.”
(Bamidbar /Números 17.1-7)

O que ratificou a escolha de Aharon perante o povo, foi o fato de sua vara florescer e frutificar como se lê a seguir:

“Sucedeu, pois, que no dia seguinte Moisés entrou na tenda do testemunho, e eis que a vara de Arão, pela casa de Levi, florescia; porque produzira flores e brotara renovos e dera amêndoas.”
(Bamidbar/Números 17.8)

Seguindo a intenção de buscar uma aplicação prática para nosso dia a dia, entendemos que a Torah está ensinando que alguém escolhido pelo Eterno, se destaca pelo seu fruto. Este fruto brota de uma vida de meditação e prática da Lei do Eterno como disse o Salmista:

“Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.
Antes tem o seu prazer na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite.
Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará.”
(Tehilim/Salmos 1.1-3)

Este princípio era compreendido ainda no primeiro século de nossa era como podemos constatar da seguinte forma: Fruto do Espírito é descrito como sendo uma consequência de se andar no Espírito, vejamos o que está escrito:

"Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne.
Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis.
Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.
Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza, lascívia,
Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias,
Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus.
Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei.” (Gálatas 5:16-23)
O que poucos percebem, é que este texto diz apenas qual é o fruto do Espírito, ou seja, a consequência de se andar no Espírito... Mas não diz propriamente o que é andar no Espírito! É como se alguém nos dissesse que nos foi dado um tesouro, mas não disse onde este tesouro estaria... Frustrante não acha? Porém tudo se esclarece em outro texto, vejamos:

"Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito.
Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz.
Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Elohim, pois não é sujeita à lei (Torá) de Elohim, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Elohim."  (Romanos 8:5-8)


Supondo que o autor da carta aos Gálatas seja Sha'ul (Paulo), vejamos como os textos se harmonizam, pois demonstram que a inclinação da carne é uma insubordinação à Lei do Eterno, isto significa então que, sujeição a Lei do Eterno é uma inclinação espiritual, ou porque não dizer, é andar no espírito...
De fato, o mesmo Sha'ul nos dá um entendimento mais claro sobre isso ao dizer que a Lei (Torá) é espiritual:

"Porque bem sabemos que a Lei é espiritual..." (Romanos 7:14)

Os ramos (varas) escolhidos ?

No texto de Bamidbar (Números), a palavra original utilizada para designar ‘vara’ é “mateh” (מטה). Aliás, existem muitas outras palavras hebraicas que são traduzidas como vara e sugerem algumas interpretações interessantíssimas, indicando possíveis sinais dos escolhidos, vejamos quais são:

*גליל -------------(Galil) “A Hebrew-English Lexicon of the old testament”(Brown,Driver ,Brigs,1905)
*חטר -------------(Choter) “Dicionário Int. de Teologia do Ant. Testamento” (Ed. Vida Nova)
*מוט ------------- (Mot) “Dicionário Int. de Teologia do Ant. Testamento” (Ed. Vida Nova)
*מטה -------------(Mota) “Dicionário Int. de Teologia do Ant. Testamento” (Ed. Vida Nova)
*מקל -------------(Maqel) “Dicionário Int. de Teologia do Ant. Testamento” (Ed. Vida Nova)
*מטה--------------(Mateh) “Dicionário Int. de Teologia do Ant. Testamento” (Ed. Vida Nova)
*עץ  --------------(Ets) “Dicionário Int. de Teologia do Ant. Testamento” (Ed. Vida Nova)
*פלך-------------- (Pelech) “Dicionário Int. de Teologia do Ant. Testamento” (Ed. Vida Nova)
*שבט------------- (Shevet) “Dicionário Int. de Teologia do Ant. Testamento” (Ed. Vida Nova)

Chama nossa atenção, o fato de uma das palavras que podem ser traduzidas como vara ser “Galil”, justamente a região onde Yeshua ben Yosef começou a formar seus primeiros talmidim (discípulos). Isso pode não passar de mera coincidência, mas o fato de homens galileus terem sido os escolhidos para levar adiante sua mensagem não deixa de ser, no mínimo, curioso. Ainda mais quando estes primeiros talmidim eram conhecidos como “Netsarim” (plural de Netser) que significa Ramos... ("Mas estes sectários... não chamavam a si mesmos de cristãos, mas de Nazarenos (Netsarim)...". (Epifânio; Panarion 29).
Esta forma de se identificarem, usando o nome daquele que era a síntese do grupo, Yeshua ha Notsri, deriva da compreensão que tinham do texto de Yeshayahu ha navi (Isaías o profeta) 60.21:

“E todos os do teu povo serão justos, para sempre herdarão a terra; serão renovos (netser) por mim plantados, obra das minhas mãos, para que eu seja glorificado.”

Ou seja, eles se viam como os remanescentes de Israel, doutrina exposta no Tanach, bem resumida em Tsefanyah (Sofonias 3.11-13).

Conclusão.

Muitos reivindicam o “status” de serem os escolhidos do Senhor, e por conta disso sentenciam os outros à condenação. Na verdade, a diferença entre quem serve e quem não serve à Ele, está intimamente relacionada com uma vida de obediência e não apenas de “ciência” de Suas palavras.
Assim como as flores e os frutos que brotaram na vara de Aharon confirmaram a sua escolha, são os frutos do espírito que identificam o caráter de um tsadik (justo).

Shabat Shalom!!! 

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