sexta-feira, 28 de junho de 2013

Sedrá para o Shabat de 29/06/13 (Bamidbar 23)

Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

A sequência de estudos do sefer Bamidbar feitos a cada Shabat nos trouxe hoje ao momento em que Balak, rei de Moav, inicia seus rituais de maldição contra os filhos de Israel sob a regência de Bil’am (Balaão). Como é de nosso costume, gostamos de enfatizar que, apesar da distância tanto de tempo quanto de espaço, sempre temos algo de prático para aprender na Torah que serve para nos esclarecer e orientar em diversos aspectos de nossa jornada. Dito isto, vamos aos comentários.

O empenho dos adversários.

O número sete traz consigo muita especulação é como se ele tivesse vida própria! De fato, são tantas curiosidades envolvendo o número sete, que fica difícil acreditar que todas as ocorrências nas mais diversas situações da vida humana, seja coincidência. Dentre os muitos simbolismos do número sete, encontra-se o de que ele representa a plenitude, a perfeição, algo que não precisa de complemento... E como o mundo foi criado em seis dias, sendo o sétimo o dia de shabat (descanso), alguns associam o número sete ao mundo físico, as obras que se fazem na terra no “olam hazé” (Tempo atual ou mundo de hoje). Pegando “carona” neste entendimento, temos uma leitura interessante da edificação dos sete altares para amaldiçoar Israel, vejamos: Considerando os símbolos propostos, vemos que Balak “fez de tudo” para que seu intento tivesse êxito, construir sete altares nos sugere que houve uma plenitude de esforço para que Israel fosse amaldiçoado! Diante disso, não podemos ser negligentes, pois a história nos mostra (como vimos no estudo do shabat passado) que os inimigos de Israel, a “descendência da serpente” têm se empenhado em “nos riscar do mapa”, ao ponto de frases como: “Se a minha teoria da relatividade triunfar, serei alemão; se ela falhar, serei um judeu.” do renomado físico judeu, Albert Einstein serem ditas.
Diante disso, nada é mais urgente para um filho de Israel do que ser sóbrio e vigilante, para não cairmos nas ciladas armadas pelo caminho.

O Eterno não se “vende”!

Outra lição que aprendemos nesta sedrá é que, esforço sacrificial não garante que teremos nossas petições atendidas! Infelizmente, o número de pessoas induzidas pelos “Balaões” modernos a acreditarem que O Senhor as atenderá só porque tudo o que era possível foi feito, têm aumentado... Estas não sabem, (ou esquecem) que O Eterno não está comprometido com quem não assumiu o compromisso de observar sua Torah. O salmista escreveu:

“Deleite-se no Senhor, e ele atenderá aos desejos do seu coração.”
                                                                                                     (Tehilim/Salmos 37.4)

Ao vivermos diante do Eterno, conformados à sua Lei, certamente desfrutaremos de bens cujos valores não podem ser mensurados por quem vive voltado para o “aqui e agora”. Esta experiência também foi relatada pelo salmista:

 “Como são felizes os que obedecem aos seus estatutos e de todo o coração o buscam!”                        (Tehilim/Salmos 119.2)

“Muita paz têm os que amam a tua lei, e para eles não há tropeço.”
                                                                                                (Tehilim/Salmos 119.165)

Como amaldiçoar o que O Eterno não amaldiçoa?

Este questionamento de Bil’am (Balaão) traz um profundo ensinamento que, a nosso ver, elimina diversas “paranóias” em que muitos filhos de Israel são acometidos. Muitos andam de um lado para o outro tentando entender porque as coisas “não dão certo” e etc., para explicar isto não é preciso nenhuma formula mirabolante, basta estarmos atento ao que diz a Torah:

“Será, porém, que, se não deres ouvidos à voz de YHWH teu Elohim, para não cuidares em cumprir todos os seus mandamentos e os seus estatutos, que hoje te ordeno, então virão sobre ti todas estas maldições, e te alcançarão:”
                                                                   (D’varim/Deuteronômio 28.15)

Simples assim! O único meio de um filho de Israel estar sob maldição é quando ele passa a desobedecer as palavras do Eterno, ou seja, Sua Lei! Não devemos temer feiticeiros, impérios ou o que quer que seja, devemos temer ao Eterno, cuidando em não transgredirmos suas mitzvot (mandamentos) como disse Yeshayahu (Isaías):

 “Ao SENHOR dos Exércitos, a ele santificai; e seja ele o vosso temor e seja ele o vosso assombro.” 
                   (Yeshayahu/Isaías 8.13)

Isto não significa, necessariamente, que devemos viver oprimidos por causa da Torah... Mas que nossa atenção esteja em observá-la, pois fazendo isso não haverá o que temer, como foi escrito:

“Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.
Antes tem o seu prazer na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite.
Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará.”
                                                                                            (Tehilim/Salmos 1.1-3)

A Torah é o “manual do bem viver”, tanto física quanto espiritualmente; é a formula para o bom relacionamento consigo mesmo, com o próximo e com o Eterno! Quando experimentarmos isso na prática, não apenas no intelecto, ouso dizer que muitas pessoas sofrendo de psicopatologias serão curadas.

Nada muda, se você não muda.

Todos já devem ter ouvido esta frase, e este princípio parece se corroborado pelo que podemos observar nesta sedrá. Vejamos alguns passukim do texto:

“Então Balaque lhe disse: Rogo-te que venhas comigo a outro lugar, de onde o verás; verás somente a última parte dele, mas a todo ele não verás; e amaldiçoa-mo dali.”
                                                                                                               (Bamidbar/Números 23.13)

“Disse mais Balaque a Balaão: Ora vem, e te levarei a outro lugar; porventura bem parecerá aos olhos de Deus que dali mo amaldiçoes.”
                                                                 (Bamidbar/Números 23.27)

Como podemos ver, Balak mudou de lugar duas vezes após ver suas tentativas de amaldiçoar a Israel serem frustradas, ele acreditava que mudar de lugar mudaria sua sorte fazendo ele ser bem sucedido! Certamente acreditava que seus fracassos estavam relacionados ao lugar que estava e não em si mesmo, nas suas idéias, nos seus planos.
A experiência de Balak serve como um exemplo para diversas situações, excetuando, é claro, o aspecto nefasto do episódio, vemos que não adianta mudar de lugares externos se mudanças não forem executadas em nosso interior! Esta é uma grande lição a ser aprendida... As mudanças externas são apenas medidas paliativas que alimenta uma falsa esperança de solução para seus medos, suas dúvidas, seus problemas e etc. Talvez, o imperativo “Nascer de novo” dito à Nakdimon (Nicodemus) por Rabi. Yeshua (Ver Yochanan/ João 3 1-7), ilustre bem esta necessidade...


Shabat Shalom !!!

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Sedrá para o Shabat de 22/06/13 (Bamidbar 22)

Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

O estudo da sedrá deste shabat trás mais uma porção clássica da Torah, o episódio de Balak, rei de Moav e Bil’am, o “misterioso” profeta. Certamente não conseguiremos elucidar todas as questões que emergem do texto, mas lições preciosas podem ser tiradas, além de outras explicações que podem nos ajudar entender certas situações enfrentadas por “Am Israel” (Povo de Israel).

Ódio gratuito?

Vejamos o texto:

“Depois partiram os filhos de Israel, e acamparam-se nas campinas de Moabe, além do Jordão na altura de Jericó.
Vendo, pois, Balaque, filho de Zipor, tudo o que Israel fizera aos amorreus,
Moabe temeu muito diante deste povo, porque era numeroso; e Moabe andava angustiado por causa dos filhos de Israel.”
(Bamidbar/Números 22.1-3)

Vemos que Balak, rei de Moav só em ver o acampamento hebreu, é tomado por um medo injustificável, pois os israelitas estavam apenas acampados! Não houve nenhuma ameaça formal por parte destes para Balak intentasse atacá-los... Seria só a presença física dos israelitas a causadora deste efeito? Tentaremos elucidar esta questão mais adiante.

A história do povo hebreu é regada a lágrimas e sangue. Conseqüência de um ódio que, racionalmente, não se encontra motivos para tal. Por diversas vezes nosso povo foi banido de nações, agredido, capturado, exilado, humilhado, roubado e etc., contudo, por causa da fidelidade do Eterno, estamos aqui, ainda vivos. Sobrevivemos as mais diversas atrocidades e ocupações estrangeiras como as que apontamos abaixo:

Egito (Todo povo hebreu).
Assíria (Reino do Norte/10 tribos/ Efraim)
Babilônia (Reino do Sul/ Judá)
Macedônia.
Roma.

Na galut (exílio), sofremos ainda diversas expulsões e massacres, dentre os quais, destacamos:

694-711
Todos os judeus sob o governo Visigótico em Espanha foram declarados escravos, suas possessões confiscadas e a Religião Judaica declarada ilegal.

1012
O imperador Henry II expulsa os judeus de Mainz, o começo das perseguições contra os judeus na Alemanha.

1096-99
Primeira cruzada: Os cruzados massacram os judeus de Rhineland (1096).


1182
O rei Philip Augustus da França decreta a expulsão dos judeus de seu reino e do confisco de suas propriedades.

1190
Manifestações anti-Judaica na Inglaterra: massacre em York, e outras cidades.

1242
Queima pública do Talmud em Paris.

1306
Expulsão dos judeus da França.

1321-22
Novamente expulsão do reino da França.

1470
Judeus expulsos da Bavária estabeleceram-se na Turquia.

1478
Foram vítimas da Inquisição espanhola

1492
Foram expulsos da Espanha. Cinco anos mais tarde, era a vez de Portugal enviar todos os judeus para fora do país.

Na Alemanha, em 1547, uma das grandes vozes do anti-semitismo partiu de Martinho Lutero, o monge que iniciou o movimento de reforma protestante. É dele um dos manifestos contra os judeus conhecido como “Sobre os judeus e suas mentiras”.

Como podemos ver, não foi Adolf Hitler (que seja esquecido!) o único a empreender dor e sofrimento ao nosso povo, ele teve seus “arquétipos” ao longo da história.

Mas o que afinal causa tanto ódio contra os israelitas? Haveria alguma explicação plausível? Sobre isso alguns comentaristas trouxeram razões muito interessantes... Vejamos:
Para eles, existe uma conexão entre a palavra ódio em hebraico שנא (Siné) com a palavra Sinai (סיני), local onde o povo assumiu o compromisso de cumprir a Lei do Eterno (Torah). Ou seja, a partir do momento em que Israel é manifesto como povo peculiar do Eterno (ver Shemot/Êxodo 19.5 e 6) o mundo passa a odiá-lo! Corroborando com isso, temos alguns textos na Brit Chadashah (conhecido como Novo Testamento) os quais dizem o seguinte:

“Sabemos que somos do Eterno, e que todo o mundo está no maligno.”
(Yochanan alef/1 João 5.19)

“... A luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más.
Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.
Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Elohim.”
(Yochanan/João 3.19-21)

Vale lembrar que “Luz” e “Verdade” são designações para a Lei/Torah do Eterno como podemos constatar:

“Porque o mandamento é lâmpada, e a lei é luz; e as repreensões da correção são o caminho da vida.”
(Mishlei/Provérbios 6.22)

“A tua justiça é uma justiça eterna, e a tua lei é a verdade.”
(Tehilim/Salmos 119.142)

O Rabi Yeshua também ensinou que:

“Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome.”
(Matitiyahu/Mateus 24.9)

Este ódio por causa do seu nome seria conseqüência de um ensino da Torah a partir da halachá (interpretação) de Yeshua. Ao contrário do que alguns afirmam o ensino de Yeshua não é uma abolição dos preceitos perpétuos da Torah, mas um aprofundamento espiritual de seus princípios. Sobre isso temos alguns registros interessantes:

"Yeshua de Nazaré não só observou a lei de Moisés mas também os
estatutos dos rabinos. Se qualquer de suas palavras os atos parecem à
primeira vista contradizê-los, esta impressão rapidamente se apaga.
Se examinamos cuidadosamente sua vida, encontramos tudo a respeito
dela em completa concordância não apenas com as Escrituras
mas também com a tradição."
(Moses Mendelssohn (1729-1786), um dos mais importantes filósofos judeus e teóricos do Iluminismo alemão. Sendo considerado como um dos três grandes Moises da história israelita, os outros seria Moshe Rabeino e o outro Maimônides, o Rambam – Rabi Moshe ben Maimon)

Rabbi Isaac Lichtenstein (1824-1908) também escreveu:

"De cada linha no Novo Testamento, a partir de cada palavra, o espírito judaico fluía luz, vida, força, resistência, fé, esperança, amor, caridade, sem limites e indestrutível fé em Deus.”

Bil’lam e Avraham. Existe alguma relação?

No passuk (Versículo) seis, temos uma afirmação curiosa:

“... Naquele tempo Balaque, filho de Zipor, era rei dos moabitas.
Este enviou mensageiros a Balaão, filho de Beor, a Petor, que está junto ao rio, na terra dos filhos do seu povo, a chamá-lo, dizendo: Eis que um povo saiu do Egito; eis que cobre a face da terra, e está parado defronte de mim.
Vem, pois, agora, rogo-te, amaldiçoa-me este povo, pois mais poderoso é do que eu; talvez o poderei ferir e lançar fora da terra; porque eu sei que, a quem tu abençoares será abençoado, e a quem tu amaldiçoares será amaldiçoado.”
(Bamidbar/Números 22.4-6)

Quando Balak diz que aquele que Bil’am abençoar será abençoado e quando amaldiçoar será amaldiçoado, não há como não lembra das palavras do Eterno a Avraham avino (Abraão nosso pai):

“Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei.
E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção.
E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra.”
(Bereshit/Gênesis 12.1-3)

Bil’am (Balaão) era originário de Petor, cujos termos eram próximos ao Rio Eufrates em Aram. A terra de Aram têm esse nome por causa de seu patriarca que era filho de Shem ben Noach (Sem filho de Noé), que foi tio avô de Éver (Heber). Ever gerou a Péleg, que gerou a Reú, que gerou a serúg, que gerou a Nachór, que gerou a Térach... Pai de Avraham. Provavelmente, por ser um semita (descendente de Shem/Sem) e em decorrência de Shem ser o primogênito de Noach (Noé), pairava sobre esta linhagem o “status” de abençoador por causa das palavras dirigidas a Shem:

“E disse: Bendito seja YHWH, Elohim de Sem; e seja-lhe Canaã por servo.
Alargue Elohim a Jafé, e habite nas tendas de Sem; e seja-lhe Canaã por servo.”
Bereshit/Gênesis 9.26-27

Podemos notar que o Eterno é anunciado como “O Elohim de Shem” e que Yafet (Jafé) habitaria nas terras de Shem, portanto, Yafet estava sob Shem “hierarquicamente” falando. Não é absurdo então, supor que Bil’am, de certa forma, aproveitou a “fama”.

O Nome revelando o caráter.

Bil’am pode ser a junção de duas palavras: בלע (bala) “confundir” e עמ (am) “povo”, que resultaria em “confundir o povo”, ou בלע (bela) “engolir, devorar” e עמ (am) “povo” resultando em “Engolir, devorar o povo”. De fato, este personagem está envolto em mistérios, pois ao mesmo tempo em que ele é descrito como um profeta, que tinha acesso ao Eterno e temente ao Todo Poderoso, no decorrer da história percebemos que as coisas não são bem assim... Inclusive, alguns estudiosos têm sugerido que Bil’am foi traduzido por “Nikolaos” (conquistador do povo) como se vê em Guilyana/Apocalipse 2.6, 14 e 15:
“Tens, porém, isto: que odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio.”

“Mas algumas poucas coisas tenho contra ti, porque tens lá os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, para que comessem dos sacrifícios da idolatria, e se prostituíssem.
Assim tens também os que seguem a doutrina dos nicolaítas, o que eu odeio.”

Considerando estas coisas, poderíamos dizer que muitos reivindicam as prerrogativas de serem filhos de Avraham, mas não se submetem ao pacto pertinente a este “status”, e assim como Bil’am,  estes “profetas” têm confundido a muitos no que diz respeito ao serviço ao Eterno. Porém, está escrito que:

“Na verdade, não serão confundidos os que esperam em ti; confundidos serão os que transgridem sem causa.” (Tehilim/Salmos 25.3)

“Por isso diz o Soberano Senhor: "Eis que ponho em Sião uma pedra, uma pedra já experimentada, uma preciosa pedra angular para alicerce seguro; aquele que confia, jamais será abalado.” (Yeshayahu/Isaías 28.16)

Uma contradição?

Os passukim (versículos) vinte ao vinte e dois apresenta algo curioso, aparentemente temos uma contradição, pois segundo o texto, a palavra de elohim foi dirigida a Bil’am para que ele acompanhasse os homens de Moav, SE ESTES O CHAMASSEM, no entanto, pela manhã, quando Bil’am albarda sua jumenta e acompanha a comitiva, a ira do Eterno se acende contra ele! Estranho... Não é mesmo? Como O Eterno daria uma ordem e ao “cumpri-la” o profeta é repreendido?
As prováveis, a explicações seriam:

1)      Que para acompanhá-los, ele deveria primeiro ser chamado pelos mensageiros de Balak, mas o texto sugere que ele foi por iniciativa própria, sem aguardar o referido chamado.
2)      Ele já havia sido advertido para não ir, pois o povo era é bendito, mas mesmo assim aceitou a insistência do contratante. (22.12)
3)      Demonstrou falta de caráter, pois anteriormente havia dito que não desobedeceria a palavra de Elohim por nenhuma prata ou ouro.

Considerações finais.

A riqueza de temas presentes neste capítulo é um convite à exploração de livros, comentários e outras obras que possam oferecer subsídios para pesquisas sobre os porquês de narrativas como a do diálogo de Bil’am com sua jumenta, que para os teóricos das quatro fontes, é uma das provas de suas teses. Contudo, no campo da prática, a resposta é imediata: “Quando Israel está comprometido com sua vocação, os reinos deste mundo se abalam e conspiram contra os escolhidos de YHWH”.


Shabat Shalom!!! 

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Sedrá para o Shabat de 15/06/13 (Bamidbar 21)

Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

M ais um rico trecho do sefer bamidbar a ser estudado que, apesar da distância tanto temporal quanto espacial, está repleta de princípios morais e éticos a serem vivenciados ainda hoje em pleno Século XXI. Neste perek (capítulo) temos: A luta contra o cananeu rei de Arad; a murmuração do povo e o ataque das “nachashim haserafim” (serpentes abrasadoras); a confecção da serpente de bronze e sua exposição no alto de uma haste e as batalhas contra os emoreus e Og, rei de Bashan.

Resistindo a ganância.

A primeira lição que aprendemos nesta sedrá está logo no início do capítulo quando vemos Israel lutando contra o cananeu rei de Arad. Assim como o povo necessitou passar pelas terras de Edom, agora precisaria atravessar os termos de Arad, o que não foi possível sem que houvesse uma batalha. E aqui que aprendemos a primeira lição:
Por que O Eterno permitiu que Israel lutasse contra o cananeu e não permitiu que lutasse contra Edom? Alguns comentaristas afirmam que isso se deu por causa dos limites estabelecidos pelo próprio YHWH para as nações:

 “Quando o Altíssimo distribuía as heranças às nações, quando dividia os filhos de Adão uns dos outros, estabeleceu os termos dos povos, conforme o número dos filhos de Israel.” (D’varim/Deuteronômio 32.8)

Embora esta explicação seja bem plausível e, portanto, satisfatória, existe outra forma de olhar para esta questão e é nisso que nos detemos para extrair a lição sugerida, pois quando vemos que Israel conquista Arad e posteriormente o emoreu (cujo encontro e diálogo foram muito semelhantes ao que havia ocorrido com Edom) e também a Bashan, aprendemos que nem tudo que está em nosso caminho deve ser apropriado! Infelizmente, muitos dão ouvidos a discursos triunfalistas e desenvolvem uma ganância desmedida entendendo que conquistar tudo o que está diante de si é sinônimo de vida abençoada. Lembremos do último dos dez ditos:

“Não cobiçarás a mulher do teu próximo; e não desejarás a casa do teu próximo, nem o seu campo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo.” (D’varim/Deuteronômio 5.21)

As serpentes abrasadoras

Outro episódio importante neste capítulo é o ataque das serpentes abrasadoras ao povo, salta-nos aos olhos, o elemento causador deste ataque, a impaciência do povo. O texto diz claramente que “a alma do povo” impacientou-se e não simplesmente o povo:

“E partiram do monte Hor, pelo caminho do yam suf, para rodear a terra de Edom, e impacientou-se a alma do povo no caminho.” (Bamidbar /Números 21.4)


 É Interessante dizer que o termo aqui utilizado para alma é “Nefesh” que para muitos é o estágio, digamos, “animalesco” da alma, diferente de “Ruach” (espírito) e neshamah (alma divina e/ou estágio mais elevado), ou seja, os instintos mais primitivos do homem (sobrevivência física) norteando as palavras, pensamentos e ações. Quando isso ocorre, as coisas certamente não terminarão bem como de fato ocorreu com aqueles que não resistiram ao “yetser hará” (impulso mal).
O que é surpreendente neste episódio, está no valor numérico das palavras נפש העם
“nefesh haam” (alma do povo) que é 545, o mesmo valor da palavra “methaleah” (dentes incisivos, mordedores)! Lembremos que por causa de “suas almas” o povo foi MORDIDO pelas serpentes abrasadoras... Mais uma constatação do que Sh’lomo (Salomão) escreveu:

“A morte e a vida estão no poder da língua; e aquele que a ama comerá do seu fruto.” (Mishlei/Provérbios 18.21)

Por ter “mordido” ao Eterno e a Moshe, o povo recebeu em si o mesmo mal.

Um dado histórico interessante reside nos achados arqueológicos em Timna. Diversas pequenas serpentes de cobre, relacionando esta história com as minas de Arabá, que fica justamente entre Cadesh (local da morte Miriam) e Ácaba (yam suf).

Olhando para a serpente de “El”.

Outro aspecto curioso deste capítulo foi o meio utilizado para curar as vítimas das serpentes abrasadoras, está escrito que Moshe fez uma serpente de cobre e a pôs sobre uma haste para que todo aquele que fosse mordido, ao olhar para a réplica de metal sobreviveria. O texto original descreve esta réplica como “El nachash hanechoshet” e não simplesmente “nachash hanechoshet”. O termo “El” geralmente é utilizado para indicar seres sobrenaturais e o uso deste está indicando que havia uma diferença, pois enquanto as “nachash serafim” vieram por causa da maldade dos homens a “El Nachash HaNechoshet” veio pela misericórdia do Eterno.
Olhar para a serpente, não é a única vez em que olhar para algo resultaria em salvação e/ou livramento para o povo, vejamos o que disse Yeshayahu ha navi (Isaías o profeta):

“Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou El, e não há outro.”
(Yeshayahu/Isaías 45.22)

Isso fica mais interessante porque ao invés do tetragrama יהוה, ou os termos comumente utilizados para se referir ao Eterno como Adonay, Elohim, Elyon e etc, têm justamente “El”! O mesmo utilizado para se referir a serpente de bronze como podemos contatar:

 פנו אלי והושעו כל אפסי ארץ  כי אני אל ואין עוד

Outro aspecto curioso surge quando aplicamos a guemátria (sistema de cálculo das letras hebraicas) na palavra נחש “nachash” (serpente), que é de 358 exatamente o mesmo valor da palavra משיח “mashiach” (ungido/messias)! Extremamente curioso ainda é o fato de que, no futuro, a serpente de “El” estava sendo objeto de idolatria como podemos verificar:

“E sucedeu que, no terceiro ano de Oséias, filho de Elá, rei de Israel, começou a reinar Ezequias, filho de Acaz, rei de Judá.
Tinha vinte e cinco anos de idade quando começou a reinar, e vinte e nove anos reinou em Jerusalém; e era o nome de sua mãe Abi, filha de Zacarias.
E fez o que era reto aos olhos do SENHOR, conforme tudo o que fizera Davi, seu pai.
Ele tirou os altos, quebrou as estátuas, deitou abaixo os bosques, e fez em pedaços a serpente de metal que Moisés fizera; porquanto até àquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso, e lhe chamaram Neustã.” (Melachim beit/2 Reis 18.1-4)

O fato da serpente de “El” ter sido um instrumento de salvação, cura e livramento não fazia dela um objeto de adoração, e SE este princípio é aplicável ao equivalente “guemátrico” (Mashiach), isto significa que adoração ao Mashiach deve ser repensada... Reverencia, respeito, honra são manifestações aceitáveis, mas adoração...? Até porque nas instruções sobre os ungidos em D’varim (Deuteronômio) 17.14-20 (reis); 18.1-8 (sacerdotes e levitas) e 18.15-22 (profetas), não há nada que indique o menor sinal de uma “adoração”, muito pelo contrário! Há uma séria advertência nos versos 9 ao 14 para que Israel não fosse como as outras nações e considerando que algumas poucas nações mesopotâmicas e também o Egito, consideravam seus reis como divindades, fica a forte impressão de tal coisa não deveria ser repetida pelos hebreus. Contudo, qualquer conclusão deve ser muito bem examinada antes de ser exposta. “Não devemos jogar fora o bebê junto com a água suja...”

Um livro perdido?

No passuk (versículo) 14 temos uma informação intrigante:

“Por isso se diz no livro das guerras do SENHOR: O que fiz no Mar Vermelho e nos ribeiros de Arnom, e à corrente dos ribeiros, que descendo para a situação de Ar, se encosta aos termos de Moabe.” (Bamidbar/Números 21.14-15)

Seria o livro das guerras de YHWH um livro perdido? Quais os milagres feitos nos rios de Arnon e nas correntes dos rios no território de Ar? Segundo Rashi (Rabi Shlomo Yitschaki, 22 de fevereiro de 1040 – 13 de julho de 1105), um dos maiores comentaristas da Torah, o ocorrido foi o seguinte:

 O que aconteceu no Arnon foi que o povo de Sichon se escondeu nas cavernas que havia nas duas ladeiras dos montes, entre os quais se achava o estreito vale de Arnon. Os israelitas deviam passar por lá e os amorreus iam massacrá-los. Porém, quando os israelitas chegaram ao cume do monte para descer o vale, os dois montes se juntaram e os inimigos de Israel que estavam nas ladeiras, foram esmagados sem que os israelitas percebessem. Entretanto, depois que os montes se juntaram e os israelitas passaram, os montes se juntaram e os israelitas passaram, os montes voltaram a sua antiga posição e o rio do vale arrastou o sangue e os membros dos corpos dos inimigos esmagados. Foi então que os israelitas compreenderam o grande milagre e cantaram um cântico ao famoso poço de água (que segundo o Midrash, acompanhou-os durante os quarenta anos que estiveram no deserto), pois foi por meio deste os israelitas tomaram conhecimento do milagre ocorrido. (Fonte: “Torá. A lei de Moisés” Ed. Sefer)

Considerações finais.

Diante de todas as informações aqui citadas, nos resta estudarmos com diligência e imparcialidade para que possamos conhecer as maravilhas da Lei do Eterno e desfrutarmos da paz abundante como disse o salmista:

“Muita paz têm os que amam a tua lei, e para eles não há tropeço.”
 (Tehilim/Salmos 119.165)


Shabat Shalom !!!

sábado, 8 de junho de 2013

Sedrá para o Shabat de 07/06/13 (Bamidbar 20)

Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

Este capítulo trás importantes acontecimentos da história hebréia, nele está relatada as mortes de Miriam e Aharon. Também é mencionada neste capítulo a murmuração do povo contra Moshe por causa da falta d’água; a sentença do Eterno a Moshe e Aharon afirmando que ambos não entrarão na terra prometida e a negação de passagem dos hebreus pelas terras de Edom.

Uma associação interessante.

Alguns comentaristas associam a falta d’água e a sede do povo com a morte Miriam, isso pode estar relacionado com o fato da Torah afirmar em shemot (Êxodo) 15.20, que ela, Miriam, fosse uma “ha neviah” (Uma profetiza).
Um profeta tem a responsabilidade de trazer a palavra de YHWH ao povo, ou seja, uma espécie de representante do Altíssimo perante a comunidade enquanto o Cohen (sacerdote) representava o povo perante o Eterno.
No Tanach, temos um trecho muito interessante relacionando a falta de palavra de YHWH com a sede dos homens, vejamos:

“Eis que vêm dias, diz o Senhor DEUS, em que enviarei fome sobre a terra; não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do SENHOR.” (Amós 8:11)

É importante dizer que, quando as escrituras afirmam “Palavra do Senhor” ela está se referindo a Torah. Esta falta de “Palavra do Senhor” tem levado muitos a saciarem sua sede com os mais variados recursos, no entanto, todos estes artifícios não passam de paliativos que não produzem satisfação interior.  Entretenimento, polêmicas e etc. Têm sido a tônica daqueles que há muita já perderam a “palavra” e pensam que por meio destas coisas encontrarão o sentido da vida. O resultado? O texto nos diz: Murmuração! Sim... Pois como disse Sh’lomo:

“Não havendo profecia, o povo perece; porém o que guarda a lei, esse é bem-aventurado.” (Mishlei/Provérbios 29.18)

Miriam tem lugar de destaque na história de nosso povo, ela pode ser vista como um dos pilares da redenção de nosso povo da terra do Egito como podemos inferir a partir de Mikhah/Miquéias 6.4:

“Pois te fiz subir da terra do Egito, e da casa da servidão te remi; e enviei adiante de ti a Moisés, Arão e Miriam.”

 Não é por força!

Outra cena marcante deste episódio é a atitude de Moshe em relação ao comando do Eterno. Foi dito a Moshe:

E o SENHOR falou a Moisés dizendo:
“Toma a vara, e ajunta a congregação, tu e Arão, teu irmão, e falai à rocha, perante os seus olhos, e dará a sua água; assim lhes tirarás água da rocha, e darás a beber a congregação e aos seus animais.” (Bamidbar/Números 20.7-8)

A palavra do Eterno a Moshe foi clara, ele deveria apenas falar a rocha, no entanto, ele bateu duas vezes na mesma... Fazendo algo que O Eterno não ordenou, desviando, de certa forma, o foco da palavra de Elohim para sua atitude. Isto trás uma lição para todos os que desempenham o papel de liderança entre o povo de YHWH: É a palavra do Eterno que deve nos nortear e não nosso estado emocional!
Outra lição pode ser aprendida a partir de uma analogia, pois por muitas vezes a dureza de nosso coração é comparada a uma pedra e, algumas vezes os profetas foram levantadas para nos revelar isso, vejamos um exemplo:

Então veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo:
Filho do homem, teus irmãos, sim, teus irmãos, os homens de teu parentesco, e toda a casa de Israel, todos eles são aqueles a quem os habitantes de Jerusalém disseram: Apartai-vos para longe do SENHOR; esta terra nos foi dada em possessão.
Portanto, dize: Assim diz o Senhor YHWH: Ainda que os lancei para longe entre os gentios, e ainda que os espalhei pelas terras, todavia lhes serei como um pequeno santuário, nas terras para onde forem.
Portanto, dize: Assim diz o Senhor YHWH: Hei de ajuntar-vos do meio dos povos, e vos recolherei das terras para onde fostes lançados, e vos darei a terra de Israel.
E virão ali, e tirarão dela todas as suas coisas detestáveis e todas as suas abominações.
E lhes darei um só coração, e um espírito novo porei dentro deles; e tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne;
Para que andem nos meus estatutos, e guardem os meus juízos, e os cumpram; e eles me serão por povo, e eu lhes serei por Elohim. (Yechezkel/Ezequiel 11.14-20)

Em outros lugares, vemos que os próprios homens são comparados a pedras, como na igueret Kefá alef (1ª epístola de Pedro) 2.5:

Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a YHWH por Yeshua HaMashiach.”

O que estamos querendo dizer, é que ninguém deve ser convencido à força, por meio de agressões ou violência. Esta é uma lição que precisa ser aprendida! Quantos estão tentando convencer outros de alguma coisa, mas o fazem de forma equivocada... Agredindo, zombando, ridicularizando as convicções alheias afastando, desta forma, àqueles que gostariam da trazê-los para perto.
Nossa parte no processo de teshuvah dos dispersos de Israel é a de anunciar a palavra do Eterno por meio de nossa voz e ação, não “arrastá-los” a força.

O legado de Aharon X O legado do povo.

O Perek (Capítulo) vinte termina com o relato da morte de Aharon, onde ele é despido por seu irmão Moshe, e seu filho El’azar assume o sumo sacerdócio. Acredito que a partida de Aharon foi em absoluta Shalom, pois certamente viu seu filho “vestindo” a função que durante tanto tempo desempenhara, a continuidade de seu ofício estava sendo garantida e a certeza de ter deixado um legado honroso a seu filho deve ter lhe proporcionado um momento indizível de felicidade, pois como se diz:

“Não tenho maior gozo do que este o de ouvir que os meus filhos andam na verdade.”
(Yochanan gimel/3 João 1.4)

Isto contrasta e muito, com o que vimos no início desta sedrá, já que vemos o povo “vestindo” a função de seus pais... Isto porque entendemos que os murmuradores de então eram filhos daquela geração que estava se findando, haja vistas para a morte de Miriam e Aharon, os quarenta anos de peregrinação estavam terminando e tudo que aquelas pessoas deixaram foi um coração amargurado, amargura esta herdada e assumida pela geração de então.

Que possamos refletir nisso, para não deixarmos aos nossos filhos esta herança nefasta, mas a esperança de nossa geulá (redenção) e uma emunah (fidelidade) inabalável ao nosso Redentor. 


Shabat Shalom!!!