Por Yochanan ben Avraham
Introdução.
Este capítulo trás importantes acontecimentos da história
hebréia, nele está relatada as mortes de Miriam e Aharon. Também é mencionada
neste capítulo a murmuração do povo contra Moshe por causa da falta d’água; a
sentença do Eterno a Moshe e Aharon afirmando que ambos não entrarão na terra
prometida e a negação de passagem dos hebreus pelas terras de Edom.
Uma associação interessante.
Alguns comentaristas associam a falta d’água e a sede do
povo com a morte Miriam, isso pode estar relacionado com o fato da Torah
afirmar em shemot (Êxodo) 15.20, que ela, Miriam, fosse uma “ha neviah” (Uma
profetiza).
Um profeta tem a responsabilidade de trazer a palavra de
YHWH ao povo, ou seja, uma espécie de representante do Altíssimo perante a
comunidade enquanto o Cohen (sacerdote) representava o povo perante o Eterno.
No Tanach, temos um trecho muito interessante relacionando a
falta de palavra de YHWH com a sede dos homens, vejamos:
“Eis que vêm dias, diz o Senhor DEUS, em que enviarei fome sobre a
terra; não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do SENHOR.” (Amós
8:11)
É importante dizer que, quando as escrituras afirmam
“Palavra do Senhor” ela está se referindo a Torah. Esta falta de “Palavra do
Senhor” tem levado muitos a saciarem sua sede com os mais variados recursos, no
entanto, todos estes artifícios não passam de paliativos que não produzem
satisfação interior. Entretenimento,
polêmicas e etc. Têm sido a tônica daqueles que há muita já perderam a
“palavra” e pensam que por meio destas coisas encontrarão o sentido da vida. O
resultado? O texto nos diz: Murmuração! Sim... Pois como disse Sh’lomo:
“Não havendo profecia, o povo perece; porém o que guarda a lei, esse é
bem-aventurado.” (Mishlei/Provérbios 29.18)
Miriam tem lugar de destaque na história de nosso povo, ela
pode ser vista como um dos pilares da redenção de nosso povo da terra do Egito como
podemos inferir a partir de Mikhah/Miquéias 6.4:
“Pois te fiz subir da terra do Egito, e da casa da servidão te remi; e
enviei adiante de ti a Moisés, Arão e Miriam.”
Outra cena marcante deste episódio é a atitude de Moshe em
relação ao comando do Eterno. Foi dito a Moshe:
E o SENHOR falou a Moisés dizendo:
“Toma a vara, e ajunta a congregação, tu e Arão, teu irmão, e falai à rocha, perante os seus olhos, e
dará a sua água; assim lhes tirarás água da rocha, e darás a beber a
congregação e aos seus animais.” (Bamidbar/Números 20.7-8)
A palavra do Eterno a Moshe foi clara, ele deveria apenas
falar a rocha, no entanto, ele bateu duas vezes na mesma... Fazendo algo que O
Eterno não ordenou, desviando, de certa forma, o foco da palavra de Elohim para
sua atitude. Isto trás uma lição para todos os que desempenham o papel de
liderança entre o povo de YHWH: É a palavra do Eterno que deve nos nortear e
não nosso estado emocional!
Outra lição pode ser aprendida a partir de uma analogia, pois
por muitas vezes a dureza de nosso coração é comparada a uma pedra e, algumas
vezes os profetas foram levantadas para nos revelar isso, vejamos um exemplo:
Então veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo:
Filho do homem, teus irmãos, sim, teus irmãos, os homens de teu
parentesco, e toda a casa de Israel, todos eles são aqueles a quem os
habitantes de Jerusalém disseram: Apartai-vos para longe do SENHOR; esta terra
nos foi dada em possessão.
Portanto, dize: Assim diz o Senhor YHWH: Ainda que os lancei para longe
entre os gentios, e ainda que os espalhei pelas terras, todavia lhes serei como
um pequeno santuário, nas terras para onde forem.
Portanto, dize: Assim diz o Senhor YHWH: Hei de ajuntar-vos do meio dos
povos, e vos recolherei das terras para onde fostes lançados, e vos darei a
terra de Israel.
E virão ali, e tirarão dela todas as suas coisas detestáveis e todas as
suas abominações.
E lhes darei um só coração, e um espírito novo porei dentro deles; e tirarei da sua carne o coração de pedra, e
lhes darei um coração de carne;
Para que andem nos meus estatutos, e guardem os meus juízos, e os
cumpram; e eles me serão por povo, e eu lhes serei por Elohim. (Yechezkel/Ezequiel
11.14-20)
Em outros lugares, vemos que os próprios homens são
comparados a pedras, como na igueret Kefá alef (1ª epístola de Pedro) 2.5:
“Vós também, como pedras vivas,
sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios
espirituais agradáveis a YHWH por Yeshua HaMashiach.”
O que estamos querendo dizer, é que ninguém deve ser
convencido à força, por meio de agressões ou violência. Esta é uma lição que
precisa ser aprendida! Quantos estão tentando convencer outros de alguma coisa,
mas o fazem de forma equivocada... Agredindo, zombando, ridicularizando as
convicções alheias afastando, desta forma, àqueles que gostariam da trazê-los
para perto.
Nossa parte no processo de teshuvah dos dispersos de Israel
é a de anunciar a palavra do Eterno por meio de nossa voz e ação, não
“arrastá-los” a força.
O legado de Aharon X O legado do povo.
O Perek (Capítulo) vinte termina com o relato da morte de
Aharon, onde ele é despido por seu irmão Moshe, e seu filho El’azar assume o
sumo sacerdócio. Acredito que a partida de Aharon foi em absoluta Shalom ,
pois certamente viu seu filho “vestindo” a função que durante tanto tempo
desempenhara, a continuidade de seu ofício estava sendo garantida e a certeza
de ter deixado um legado honroso a seu filho deve ter lhe proporcionado um
momento indizível de felicidade, pois como se diz:
“Não tenho maior gozo do que este o de ouvir que os meus filhos andam
na verdade.”
(Yochanan gimel/3 João 1.4)
Isto contrasta e muito, com o que vimos no início desta
sedrá, já que vemos o povo “vestindo” a função de seus pais... Isto porque
entendemos que os murmuradores de então eram filhos daquela geração que estava
se findando, haja vistas para a morte de Miriam e Aharon, os quarenta anos de
peregrinação estavam terminando e tudo que aquelas pessoas deixaram foi um
coração amargurado, amargura esta herdada e assumida pela geração de então.
Que possamos refletir nisso, para não deixarmos aos nossos
filhos esta herança nefasta, mas a esperança de nossa geulá (redenção) e uma
emunah (fidelidade) inabalável ao nosso Redentor.
Shabat Shalom!!!
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