Por Yochanan ben Avraham
Introdução.
Curiosamente, neste shabat de 27/07, estaremos estudando o
capítulo 27 do Sefer Bamidbar (Livro de Números). Mais um capítulo com ricas
lições a serem aprendidas, pois Israel estava se aproximando de uma mudança na
liderança, onde a maturidade e confiança em HaShem seria colocada a prova.
Moshe, o homem que intermediou a relação do povo com o Eterno, estaria
encerrando sua etapa e novos tempos se aproximavam para toda nação israelita.
Imprevistos acontecem.
Contrariando os mais “apaixonados”, que muitas vezes afirmam
que a Torah trata de todos assuntos, percebemos
no texto sagrado uma situação que não estava contemplada na Torah, ou seja, o
que fazer quando alguém não deixar herdeiros? Com a perspectiva deste século e
sob a influência de uma cultura ocidental capitalista, certamente a situação
não será compreendida de maneira adequada, pois alguns aspectos da sociedade sofreram
ao longo dos séculos grandes mudanças, de modo que, em vias de regra, temos uma
participação feminina no cotidiano, cada vez maior de modo que valor de uma
sociedade patriarcal, sociedade agropecuária onde a terra era a base da
subsistência, soa de forma estranha aos ouvidos, e o fato das mulheres não
serem previstas como herdeiras certamente provocaria discursos feministas muito
inflamados.
Entendemos que o relato desta situação, é um convite para
refletirmos nas nossas atribuições enquanto seres racionais. Sim, pois ao nos
depararmos com situações extraordinárias, devemos fazer uso de nossa
inteligência, buscar soluções e respostas que não estão prontas, “embaladas” e
aguardando na “prateleira” de um mercado qualquer, que as peguemos e
utilizemos.
E dito por alguns comentaristas, em outras palavras, que na
criação O Eterno nos deu a “matéria prima” e nós deveríamos fazer “bom uso”
destes insumos para o desenvolvimento da vida. Por exemplo, O Eterno criou a
madeira para que o homem fizesse os móveis, e assim por diante. Quando
estivermos diante de uma situação que a Torah não abordou com clareza, devemos
entender que O Eterno nos convida ao crescimento, “Ele quer nos ensinar a
pescar” ao invés de nos dar o “peixe”.
A humildade de Moshe.
Ao ser abordado pelas cinco moças naquela situação
inusitada, Moshe agiu de forma exemplar. Ele poderia confiar na sua
experiência, afinal já estava no “cargo” há quase quarenta anos! No entanto, a
Torah relata o seguinte:
“E levou Moshe a causa delas perante O Eterno.”
(Bamidbar/Números 27.5)
Por maior que seja nossa experiência, por maior que seja
nossa erudição não devemos esquecer que:
“... Para todo o propósito há seu tempo e juízo; porquanto a miséria do
homem pesa sobre ele.
Porque não sabe o que há de suceder, e quando há de ser, quem lho dará
a entender?
Nenhum homem há que tenha domínio sobre o espírito, para o reter; nem
tampouco tem ele poder sobre o dia da morte...” (Kohelet/Eclesiastes
8.6-8)
Fortalecendo os laços familiares.
Em tempos que a sociedade contemporânea quer redefinir (ou
mesmo extinguir)
o conceito original de “família”, vemos na Sedrá de hoje,
uma linda instrução que nos convida a resistir todas estas “inovações” que os
filhos de belial tentam impor aos homens, nos referimos a transmissão da
herança ao parente mais próximo na ausência de um herdeiro direto:
“E falarás aos filhos de Israel, dizendo: Quando alguém morrer e não
tiver filho, então fareis passar a sua herança à sua filha.
E, se não tiver filha, então a sua herança dareis a seus irmãos.
Porém, se não tiver irmãos, então dareis a sua herança aos irmãos de
seu pai.
Se também seu pai não tiver irmãos, então dareis a sua herança a seu
parente, àquele que lhe for o mais chegado da sua família, para que a possua;
isto aos filhos de Israel será por estatuto de direito, como o Senhor ordenou a
Moisés.”
(Bamidbar/Números 27.8-11)
Para não esquecermos a lei da semeadura.
Esta sedrá (sequência) contem um dos momentos mais marcantes
da Torah, pois aqui, O Eterno anuncia a Moshe, Seu servo, que este iria ser
‘juntado ao seu povo”, ou seja, ele iria morrer. É interessante notarmos que O
Eterno dá uma instrução bem específica a Moshe:
“Depois disse o Senhor a Moisés:
Sobe a este monte de Abarim, e vê a terra que tenho dado aos filhos de Israel.”
(Bamidbar/Números 27.12)
Subir ao monte “Abarim” tem um profundo significado, Moshe
deveria olhar de lá para a Terra que foi dada aos filhos de Israel, mas que
ele, Moshe, não iria adentrar... Isso pode parecer para alguns, um sadismo
cruel para com o ancião. No entanto, como vimos na semana passada, a vida de
Israel iria continuar e os erros da geração passada não deveria ser repetidos,
e uma das últimas lições estava sendo aplicada pelo Eterno por intermédio de
Moshe, pois nome do monte que Moshe
deveria ir – Abarim, pode ser entendido como plural de “abar”, que significa
exatamente irritar, enfurecer-se, ficar encolerizado. Podendo ainda estar
relacionado com “ebra” (ser arrogante; enfurecer-se), por esta razão, ao
especificar um monte que se chama “enfurecer-se; ser arrogante e etc.”, era
como se O Eterno estivesse lembrando o porquê de Moshe não estar entrando na
Terra prometida e ensinando as gerações seguintes que a arrogância humana
impede o desfrute das promessas de HaShem ao Seu povo. O Nome do monte era o
nome da transgressão cometida, O que foi semeado em Kadesh no deserto de Tsin
(ver Bamidbar/Números 20.7-13), estava prestes a ser colhido.
O Amor de Moshe pelos seus irmãos.
Outro exemplo a ser seguido, é o pedido feito ao Eterno por
Moshe pelo povo:
“Então falou Moisés ao Senhor, dizendo:
O Senhor, Elohei HaRuchot (D’us dos espíritos) de toda a carne, ponha
um homem sobre esta congregação,
Que saia diante deles, e que entre diante deles, e que os faça sair, e
que os faça entrar; para que a congregação do Senhor não seja como ovelhas que não
têm pastor.” (Bamidbar/Números 27.15-17)
Este é o espírito da Torah! O amor ao próximo e a
preocupação com seu destino, a busca pela ovelha perdida, o repúdio a “síndrome
de Cain” (Que não se julgava responsável por seu irmão). Ao interceder por
Israel e seu futuro, Moshe demonstra o perfil de um mashiach. Séculos depois
Rabi Yeshua disse que seus talmidim(discípulo) não ficariam “órfãos”, e seus
talmidim (discípulos) ensinaram também que:
“... Se em vós permanecer o que
desde o princípio ouvistes, também permanecereis no Filho e no Pai.” (Yochanan
alef/1 João 2.24)
Isto significa que a fórmula para não ficarmos como ovelhas
sem Pastor é permanecermos nos mandamentos de Elohim, assim Ele estaria conosco
e certamente poderemos dizer como David:
“Adonai Roí lo Echsar...”
(O Senhor é o meu Pastor...)
Shabat Shalom!!!