sexta-feira, 12 de julho de 2013

Sedrá para o Shabat de 13/07/13 (Bamidbar 25)

Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

Embora o capítulo vinte e cinco não seja tão extenso, ele está repleto de lições e curiosidades que nos inspira à reflexão. Reflexão que nos leva a avaliar a qualidade de nossa adoração e fidelidade ao Eterno, pois surge no cenário Pinchas, neto de Aharon, cuja atitude trouxe expiação aos filhos de Israel.

Entre a assimilação e a redenção.

“E esteve Israel em Shitim, e começou o povo a errar com as filhas de Moab. E convidaram o povo aos sacrifícios de seus deuses, e o povo comeu e prostrou-se aos seus deuses.” (Bamidbar/Números 25.1 e 2)

Muito provavelmente, não se percebe a relevância do local em que Israel estava antes de “errar com as filhas de Moab”. O que afinal isso poderia significar? Se considerarmos o percurso que Israel tomaria para suas grandes conquistas, que culminaria com a posse da Terra prometida, a relevância é total e os significados, profundos. Vejamos: Shitim é o plural da palavra Shitah (acácia), madeira utilizada para confecção de diversos utensílios do Mishkan (Tabernáculo). Por estar no plural, acredita-se que Israel estava acampado nas proximidades de um bosque ou algo próximo a isso. Segundo alguns estudiosos, Este local foi o acampamento de Israel até vésperas da travessia do Yarden (Jordão) e posterior conquista de Yericho (Jericó). De fato, podemos constatar isto no Sefer ha Yehoshua (Livro de Josué):

“E Josué, filho de Num, enviou secretamente, de Shitim, dois homens a espiar, dizendo: Ide reconhecer a terra e a Jericó. Foram, pois, e entraram na casa de uma mulher prostituta, cujo nome era Raabe, e dormiram ali.” (Yehoshua/Josué 2.1)

“Levantou-se, pois, Josué de madrugada, e partiram de Shitim, ele e todos os filhos de Israel; e vieram até ao Jordão, e pousaram ali, antes que passassem.”     (Yehoshua/Josué 3.1)

O que estamos tentando dizer, é que o mesmo local, onde os israelitas acamparam, lugar que determinava o limite entre a peregrinação no deserto e a conquista da terra prometida, foi o ‘palco’ de uma grande tragédia, pois os filhos de Israel se deixaram assimilar pela cultura idólatra dos moabitas provocando a ira do Eterno! Foi em Shitim, à beira de sua redenção, que Israel sentiu as conseqüências da assimilação, foi quando negligenciou sua vocação e, como diz o passuk (versículo) três, “juntou-se a Baal-Peor”. Diante deste fato, vem a nossa memória as palavras atribuídas ao emissário Sha’ul (Paulo) na carta aos talmidim (discípulos) em Roma:

“E isto digo, conhecendo o tempo, que já é hora de despertarmos do sono; porque a nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando aceitamos a fé.”
(Ruhomayah/ Romanos 13.11)

Cremos que estamos muito perto de nossa “geulá” (Redenção), por isso a atenção deve ser dobrada para que não nos desviemos para a direita ou esquerda da Torah do Eterno... Vale lembrar que foi, mui provavelmente, em Shitim que O Eterno disse isto a Yehoshua:

“E sucedeu depois da morte de Moisés, servo do SENHOR, que o SENHOR falou a Josué, filho de Num, servo de Moisés, dizendo:
Moisés, meu servo, é morto; levanta-te, pois, agora, passa este Jordão, tu e todo este povo, à terra que eu dou aos filhos de Israel.
Todo o lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo tenho dado, como eu disse a Moisés.
Desde o deserto e do Líbano, até ao grande rio, o rio Eufrates, toda a terra dos heteus, e até o grande mar para o poente do sol, será o vosso termo.
Ninguém te poderá resistir, todos os dias da tua vida; como fui com Moisés, assim serei contigo; não te deixarei nem te desampararei.
Esforça-te, e tem bom ânimo; porque tu farás a este povo herdar a terra que jurei a seus pais lhes daria.
Tão-somente esforça-te e tem mui bom ânimo, para teres o cuidado de fazer conforme a toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que prudentemente te conduzas por onde quer que andares.
Não se aparte da tua boca o livro desta lei; antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme a tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás bem sucedido.” (Yehoshua/Josué 1.1-8)

A astúcia de Bil’am.

Nos três capítulos anteriores, viu-se que Bil’am foi contratado por Balak para amaldiçoar a Israel, mas ao invés disso ele o abençoava e disse a célebre frase:

“Como amaldiçoarei a quem não amaldiçoou YHWH?” (Bamidbar/Números 23.8A)

Bil’am percebeu que a única forma de Israel ser amaldiçoado, é quando este transgride a Torah, pois está escrito:

“Será, porém, que, se não deres ouvidos à voz de YHWH Eloheicha (teu Elohim), para não cuidares em cumprir todos os seus mandamentos e os seus estatutos, que hoje te ordeno, então virão sobre ti todas estas maldições, e te alcançarão...”
(D’varim/Deuteronômio 28.15)

Sabedor disso, conforme a Torah infere no capítulo 31 de Bamidbar, Bil’am orquestrou um plano que levou os israelitas a pecarem contra o Eterno:

“E Moisés disse-lhes: Deixastes viver todas as mulheres?
Eis que estas foram as que, por conselho de Bil’am (Balaão), deram ocasião aos filhos de Israel de transgredir contra o SENHOR no caso de Peor; por isso houve aquela praga entre a congregação do SENHOR.” (Bamidbar/Números 31.15-16)

Não devemos temer os feiticeiros, devemos temer ao Eterno e cuidar para que não venhamos ceder aos maus impulsos de nossa natureza carnal.

O culto a Baal-Peor.

Em muitos comentários rabínicos e segundo alguns estudiosos, o culto a Baal-Peor era um dos mais populares naquela região senão o mais popular! E as mais estranhas e absurdas práticas são descritas como parte integrante do ritual a esta entidade. De acordo com a tradição talmúdica, por exemplo, a adoração a este ídolo envolvia práticas escatológicas (nojentas, asquerosas, repugnantes e etc.) (Sifri; San’hedrin 60B, 64A; Rashi). A enciclopédia judaica ainda diz o seguinte:

A adoração a esse ídolo consistia em expor a parte do corpo que todas as pessoas geralmente tomam o maior cuidado para esconder. Conta-se que em uma ocasião, um governante estrangeiro veio até o lugar onde Peor era adorado, para sacrificar a ele, mas quando ele ouviu falar dessa prática, ele fez com que seus soldados atacassem e matassem os adoradores deste deus (Sifre, Bamidbar. 131. San’hedrim 106)

Considerando estas informações, temos a impressão de que, quanto mais depravada a ação do adorador, maior seria o nível de devoção. Sendo assim, fazendo uma analogia com os dias de hoje, parece-nos que este ídolo continua muito popular, pois ‘seus adeptos’ podem ser encontrados ainda hoje em tempo e espaço bem distante do relato bíblico. As músicas carregadas de letras infames, os filmes cada vez mais insinuantes na perversão do sexo são pequenas amostras de uma degradação dos valores humanos, onde os artistas mais se parecem com as prostitutas cultuais das antigas civilizações do que qualquer outra coisa.

Pinchas e a expiação do Povo.

A Torah descreve as conseqüências do pecado cometido pelo povo, vinte e quatro mil pessoas morreram em decorrência da praga que se abateu sobre Israel. Mas a coisa poderia ser ainda pior se o neto de Aharon, Pinchas ben Eleazar ha Cohen (Pinchas filho de Eleazar o sacerdote) não interviesse na situação!

“E eis que veio um homem dos filhos de Israel, e trouxe a seus irmãos uma midianita, à vista de Moisés, e à vista de toda a congregação dos filhos de Israel, chorando eles diante da tenda da congregação.
Vendo isso Finéias, filho de Eleazar, o filho de Arão, sacerdote, se levantou do meio da congregação, e tomou uma lança na sua mão;
E foi após o homem israelita até a tenda, e os atravessou a ambos, ao homem israelita e à mulher, pelo ventre; então a praga cessou de sobre os filhos de Israel.”
(Bamidbar/Números 25.6-8)

O zelo deste homem lhe rendeu um memorial eterno, sua atitude “radical” demonstra que quando se trata de pecado, devemos muitas vezes tomar uma atitude drástica como ensinou Rabi Yeshua:

“E Eu vos digo, Qualquer que olhar para uma mulher no intuito de cobiçá-la, já cometeu adultério com ela em seu coração.
E se o teu olho direito te seduz arranca-o, e lança-o de ti; porquanto é melhor para ti que um dos teus membros pereça, do que todo o teu corpo seja lançado no Gei-Hinnom.
E se tua mão direita te seduz corta-a, e lança-a de ti; pois é mais proveitoso a ti que um dos teus membros pereça, do que todo o teu corpo ser lançado no Gei-Hinnom.”
(Matitiyahu/Mateus 5.28-30)

É interessante a Torah afirmar que o zelo de Pinchas trouxe expiação sobre o povo de Israel. Este zelo foi evidenciado pelo derramamento de sangue dos transgressores. Numa perspectiva mais imediata, percebemos que no que diz respeito à expiação do povo, ou seja, quando é o coletivo que necessita de expiação, sempre vemos a presença do sangue como o elemento expiatório... O que não acontece quando se trata de pecado individual, pois para estes existem outros meios expiatórios. Este aspecto merece uma maior atenção e um estudo à parte para que sejam esclarecidas as implicações que este detalhe evoca. Porém não será neste comentário que abordaremos a questão.

Eliminando a falsa adoração.

Já mencionamos em outros estudos que na cultura semita, um nome é mais do que um substantivo próprio, um nome traz consigo os aspectos de quem o recebeu. É por isso que se diz que mudança de nome é mudança de destino. Neste caso, quando Pinchas mata o casal que afronta a santidade do arraial desprezando a palavra do Eterno, ele estava eliminando alguns aspectos que contaminavam todo o povo! Que aspectos seriam estes? Descobriremos isso observando o nome do casal transgressor:

“E o nome do israelita, que foi morto com a midianita, era Zimri, filho de Salu, príncipe da casa paterna dos simeonitas.
E o nome da mulher midianita morta era Cosbi, filha de Zur, cabeça do povo da casa paterna entre os midianitas.” (Bamidbar/Números 25.14-15)

Vamos analisar os respectivos nomes: o nome “Zimri” tem com raiz as letras zain, mem e resh a mesma raiz da palavra “zimra”, que significa canção; música. Quanto a mulher, o seu nome era “Kozbi” cuja raiz é Kaf, zain e beit, a mesma raiz da palavra mentira, dando um sentido de ser achado mentiroso; ser em vão. Logo, se unirmos os aspectos de cada nome envolvido teremos um “cântico mentiroso”; “um cântico vão”. Com isso em mente, vejamos o Tehilim/Salmos 100:

 “Celebrai com júbilo ao SENHOR, todas as terras.
Servi ao SENHOR com alegria; e entrai diante dele com canto.”
(Tehilim/Salmos 100:1-2)

O cântico é descrito aqui como a forma introdutória de se apresentar ao Eterno, percebe-se então que Pinchas estava limpando Israel de uma adoração mentirosa, de um louvor enganoso e isso está em plena harmonia com os ensinamentos de Yeshua que disse:

“Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.
O Eterno é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” (Yochanan/João 4.23-24)

Esta é uma grande lição que a Torah nos ensina. Não é apenas cantar, dançar e etc. mecanicamente. Nossa expressão de adoração ao Eterno tem que ter vida! Do contrário estaremos enquadrados naquilo que Yeshayahu (Isaías) disse:

“Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído;
Portanto eis que continuarei a fazer uma obra maravilhosa no meio deste povo, uma obra maravilhosa e um assombro; porque a sabedoria dos seus sábios perecerá, e o entendimento dos seus prudentes se esconderá.” (Yeshayahu/Isaías 29.13-14)

Que O Eterno suscite em nós um zelo como o de Pinchas, para que a praga não se instale em nossas vidas e que não sejamos assimilados às portas de nossa redenção.


Shabat Shalom!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário