sexta-feira, 26 de julho de 2013

Sedrá para o Shabat de 27/07/13 (Bamidbar 27)

Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

Curiosamente, neste shabat de 27/07, estaremos estudando o capítulo 27 do Sefer Bamidbar (Livro de Números). Mais um capítulo com ricas lições a serem aprendidas, pois Israel estava se aproximando de uma mudança na liderança, onde a maturidade e confiança em HaShem seria colocada a prova. Moshe, o homem que intermediou a relação do povo com o Eterno, estaria encerrando sua etapa e novos tempos se aproximavam para toda nação israelita.

Imprevistos acontecem.

Contrariando os mais “apaixonados”, que muitas vezes afirmam que a Torah  trata de todos assuntos, percebemos no texto sagrado uma situação que não estava contemplada na Torah, ou seja, o que fazer quando alguém não deixar herdeiros? Com a perspectiva deste século e sob a influência de uma cultura ocidental capitalista, certamente a situação não será compreendida de maneira adequada, pois alguns aspectos da sociedade sofreram ao longo dos séculos grandes mudanças, de modo que, em vias de regra, temos uma participação feminina no cotidiano, cada vez maior de modo que valor de uma sociedade patriarcal, sociedade agropecuária onde a terra era a base da subsistência, soa de forma estranha aos ouvidos, e o fato das mulheres não serem previstas como herdeiras certamente provocaria discursos feministas muito inflamados.
Entendemos que o relato desta situação, é um convite para refletirmos nas nossas atribuições enquanto seres racionais. Sim, pois ao nos depararmos com situações extraordinárias, devemos fazer uso de nossa inteligência, buscar soluções e respostas que não estão prontas, “embaladas” e aguardando na “prateleira” de um mercado qualquer, que as peguemos e utilizemos.
E dito por alguns comentaristas, em outras palavras, que na criação O Eterno nos deu a “matéria prima” e nós deveríamos fazer “bom uso” destes insumos para o desenvolvimento da vida. Por exemplo, O Eterno criou a madeira para que o homem fizesse os móveis, e assim por diante. Quando estivermos diante de uma situação que a Torah não abordou com clareza, devemos entender que O Eterno nos convida ao crescimento, “Ele quer nos ensinar a pescar” ao invés de nos dar o “peixe”.

A humildade de Moshe.

Ao ser abordado pelas cinco moças naquela situação inusitada, Moshe agiu de forma exemplar. Ele poderia confiar na sua experiência, afinal já estava no “cargo” há quase quarenta anos! No entanto, a Torah relata o seguinte:

“E levou Moshe a causa delas perante O Eterno.” (Bamidbar/Números 27.5)

Por maior que seja nossa experiência, por maior que seja nossa erudição não devemos esquecer que:

“... Para todo o propósito há seu tempo e juízo; porquanto a miséria do homem pesa sobre ele.
Porque não sabe o que há de suceder, e quando há de ser, quem lho dará a entender?
Nenhum homem há que tenha domínio sobre o espírito, para o reter; nem tampouco tem ele poder sobre o dia da morte...” (Kohelet/Eclesiastes 8.6-8)

Fortalecendo os laços familiares.

Em tempos que a sociedade contemporânea quer redefinir (ou mesmo extinguir)
o conceito original de “família”, vemos na Sedrá de hoje, uma linda instrução que nos convida a resistir todas estas “inovações” que os filhos de belial tentam impor aos homens, nos referimos a transmissão da herança ao parente mais próximo na ausência de um herdeiro direto:

E falarás aos filhos de Israel, dizendo: Quando alguém morrer e não tiver filho, então fareis passar a sua herança à sua filha.
E, se não tiver filha, então a sua herança dareis a seus irmãos.
Porém, se não tiver irmãos, então dareis a sua herança aos irmãos de seu pai.
Se também seu pai não tiver irmãos, então dareis a sua herança a seu parente, àquele que lhe for o mais chegado da sua família, para que a possua; isto aos filhos de Israel será por estatuto de direito, como o Senhor ordenou a Moisés.”
(Bamidbar/Números 27.8-11)

Para não esquecermos a lei da semeadura.

Esta sedrá (sequência) contem um dos momentos mais marcantes da Torah, pois aqui, O Eterno anuncia a Moshe, Seu servo, que este iria ser ‘juntado ao seu povo”, ou seja, ele iria morrer. É interessante notarmos que O Eterno dá uma instrução bem específica a Moshe:

 “Depois disse o Senhor a Moisés: Sobe a este monte de Abarim, e vê a terra que tenho dado aos filhos de Israel.” (Bamidbar/Números 27.12)

Subir ao monte “Abarim” tem um profundo significado, Moshe deveria olhar de lá para a Terra que foi dada aos filhos de Israel, mas que ele, Moshe, não iria adentrar... Isso pode parecer para alguns, um sadismo cruel para com o ancião. No entanto, como vimos na semana passada, a vida de Israel iria continuar e os erros da geração passada não deveria ser repetidos, e uma das últimas lições estava sendo aplicada pelo Eterno por intermédio de Moshe, pois  nome do monte que Moshe deveria ir – Abarim, pode ser entendido como plural de “abar”, que significa exatamente irritar, enfurecer-se, ficar encolerizado. Podendo ainda estar relacionado com “ebra” (ser arrogante; enfurecer-se), por esta razão, ao especificar um monte que se chama “enfurecer-se; ser arrogante e etc.”, era como se O Eterno estivesse lembrando o porquê de Moshe não estar entrando na Terra prometida e ensinando as gerações seguintes que a arrogância humana impede o desfrute das promessas de HaShem ao Seu povo. O Nome do monte era o nome da transgressão cometida, O que foi semeado em Kadesh no deserto de Tsin (ver Bamidbar/Números 20.7-13), estava prestes a ser colhido.

O Amor de Moshe pelos seus irmãos.

Outro exemplo a ser seguido, é o pedido feito ao Eterno por Moshe pelo povo:

“Então falou Moisés ao Senhor, dizendo:
O Senhor, Elohei HaRuchot (D’us dos espíritos) de toda a carne, ponha um homem sobre esta congregação,
Que saia diante deles, e que entre diante deles, e que os faça sair, e que os faça entrar; para que a congregação do Senhor não seja como ovelhas que não têm pastor.” (Bamidbar/Números 27.15-17)

Este é o espírito da Torah! O amor ao próximo e a preocupação com seu destino, a busca pela ovelha perdida, o repúdio a “síndrome de Cain” (Que não se julgava responsável por seu irmão). Ao interceder por Israel e seu futuro, Moshe demonstra o perfil de um mashiach. Séculos depois Rabi Yeshua disse que seus talmidim(discípulo) não ficariam “órfãos”, e seus talmidim (discípulos) ensinaram também que:

 “... Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também permanecereis no Filho e no Pai.” (Yochanan alef/1 João 2.24)

Isto significa que a fórmula para não ficarmos como ovelhas sem Pastor é permanecermos nos mandamentos de Elohim, assim Ele estaria conosco e certamente poderemos dizer como David:

“Adonai Roí lo Echsar...”
(O Senhor é o meu Pastor...)


Shabat Shalom!!!

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