Por Yochanan ben Avraham
Introdução.
Este capítulo trás as instruções sobre as ofertas cotidianas
e, semelhantemente a Vayikrá (Levítico) 23, as ofertas para os dias festivos.
Mas ao nos depararmos com a sedrá deste Shabat, nos perguntamos: “Qual a
utilidade que as instruções sobre os sacrifícios podem ter para nós que vivemos
na galut (exílio), sem cohanim (sacerdotes) e sem o Beit HaMikdash (Templo)?”
Mais uma vez, quando atentamos para o “espírito” da Torah ao invés de somente
na “letra”, podemos extrair muitas lições para o desenvolvimento de uma vida
justa em conformidade com a vontade do Eterno. Isso é o que tentaremos
demonstrar ao longo deste singelo comentário.
Entendendo os sacrifícios.
Antes de adentrarmos propriamente nos comentários deste
perek (capítulo), vale lembrar que a Torah menciona sobre cinco tipos de
sacrifícios, são eles:
*Olah - (Oferta
de elevação; totalmente consumida pelo fogo.)
*Minchah - (Oferta
de cereais; parcialmente consumida pelo fogo)
*Shelamim -
(Oferta de paz; pode ser comida pelo ofertante e sacerdotes, sacrifício de
comunhão)
*Chatat - (Oferta
pelo pecado; caráter expiatório)
*Ashan - (Oferta
pela culpa; caráter expiatório)
Os três primeiros sacrifícios deveriam ser voluntários, por
isso é considerado como o tipo preferido pelo Eterno, pois deseja que a relação
com Ele seja voluntária. Os dois últimos, chata e ashan, eram obrigatórios.
Cada um destes sacrifícios trás à reboque um princípio que permanece em vigor, independente
de tempo e espaço e é a partir disso que entendemos a importância deste relato
para os dias atuais.
“Olah”. O
desafio da elevação contínua.
Diariamente, pela manhã e a tarde, deveria se apresentar ao
Eterno em oferta de elevação um cordeiro (por cada período), que depois de
sacrificado seria queimado sobre o altar, com isso, a fumaça proveniente deste
ato subiria, ou melhor, era elevada até os céus, simbolizando a elevação do
ofertante. Ou seja, por ser uma oferta voluntária, demonstra claramente que
quem oferecia este tipo de sacrifício realmente estava buscando uma vida mais
elevada, uma maior proximidade com o Eterno, pois a própria palavra “korban”
que nos remete a idéia de oferta, significa literalmente, aproximação.
Considerando este princípio, percebemos o quão desafiador é
para quem deseja se aproximar do Eterno e elevar sua vida nos dias de hoje,
pois que está disposto a dedicar, diariamente, dois períodos de devoção ao
Eterno? Sim... Pois o princípio contido nesta mitzvah (mandamento) é
permanente! Logo, a aplicabilidade deste conceito é total.
Aqueles que, equivocadamente, dizem que “Jesus” (Yeshua)
aboliu estes sacrifícios, deveriam ler com mais atenção o livro que declaram
seguir, pois nele está registrado com clareza o seguinte:
“E Pedro e João subiam juntos ao templo à hora da oração, a nona.
E era trazido um homem que desde o ventre de sua mãe era coxo, o qual
todos os dias punham à porta do templo, chamada Formosa, para pedir esmola aos
que entravam.”
(Ma’assei/Atos 3.1-2)
No momento em
que Kefah (Pedro) e Yochanan (João) vão ao Templo, segundo os
relatos da Brir Chadashah (chamada pelos cristãos de Novo Testamento, e
desrespeitosamente, por Brit HaRá, por alguns judeus) Yeshua já havia morrido e
ressuscitado, o que segundo a crença de alguns, teria abolido os sacrifícios,
se fosse isso mesmo, o que Kefa e Yochanan iriam fazer no Templo na hora do
sacrifício da tarde? Será que eles não sabiam que Yeshua aboliu os sacrifícios?
Ou eles sabiam que qualquer que fosse o Mashiach, este não aboliria a Lei, mas
a manteria elevando-a ainda mais? Entendemos que a segunda opção é a mais
provável.
Outra peculiaridade do sacrifício “Olah” era que este era o
único dos sacrifícios que o animal oferecido deveria ser totalmente queimado no
altar. Portanto, era uma oferta inteira... Compare isso com o que diz
Divrei Hayamim beit/ II Crônicas 25.1-2, 14:
“Era Amazias da idade de vinte e cinco anos, quando começou a reinar, e
reinou vinte e nove anos em Jerusalém; e era o nome de sua mãe Joadã, de Jerusalém.
E fez o que era reto aos olhos do Senhor, porém não com inteireza de
coração... E sucedeu que, depois que Amazias veio da matança dos edomitas e
trouxe consigo os deuses dos filhos de Seir, tomou-os por seus deuses, e
prostrou-se diante deles, e queimou-lhes incenso.”
Quando o nosso coração não é “inteiramente entregue no
altar”, o risco dele ser entregue a outra coisa é eminente e as conseqüências
geralmente são desastrosas. Não podemos esquecer que:
“Amarás, pois, a YHWH teu Elohim de todo o teu coração, e de toda a tua
alma, e de todas as tuas forças.” (D’varim/Deuteronômio 6.5)
As Festas do Eterno. Dias para irmos além.
Como lemos na Torah, vemos o Eterno instruindo ao povo sobre
como e quando as ofertas deveriam ser apresentadas, em relação ao que se lê em
Vayikrá/Levítico 23, vemos que em Bamidbar temos incluídas as instruções para o
Rosh Chodashim (início dos meses). O que nos chama a atenção é que, nos dias
das Festas é recomendado, ALÉM das ofertas diárias, outras ofertas.
Considerando isto, notamos que nestes dias as ofertas eram maiores, o
‘movimento no santuário era mais intenso’, por isso a necessidade de se abster
de obras servis e, nos shabatot e yom ha kippurim de todas as obras! Pois eram
dias de envolvimento total com o “avodat HaShem” (Serviço ao Eterno).
Segundo o que entendemos deste capítulo, é um dia para irmos
além, de oferecermos mais Àquele que não nos deixa faltar nada, que nos
protege, nos supre e orienta. A Ele seja a Glória para sempre... Amén! Nesta
condição, lembramo-nos do salmista:
“Que darei eu ao Senhor, por todos os benefícios que me tem feito?”
(Tehilim/Salmos 116.12)
Após se perguntar, ele mesmo responde:
“Tomarei o cálice da salvação, e invocarei o nome do Senhor.
Pagarei os meus votos ao Senhor, agora, na presença de todo o seu povo.”
(Tehilim/Salmos 116.13,14)
Ao lermos esta resposta, somos remetidos a outra expressão
envolvendo “cálice”, que nos fala de intensidade na devoção, vejamos:
“E, saindo, foi como costumava,
para o Monte das Oliveiras; e também os seus discípulos o seguiram.
E quando chegou àquele lugar, disse-lhes: Orai, para que não entreis em
tentação.
E apartou-se deles cerca de um tiro de pedra; e, pondo-se de joelhos,
orava,
Dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça
a minha vontade, mas a tua.
E apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia.
E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se
como grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão.” (Lucas
22.39-44)
Vale lembrar que esta intensidade se deu em um dia festivo,
no Pessach, durante a vigília ordenada pelo Eterno para esta ocasião como
descreve a Torah:
“Guarda o mês de Abibe, e celebra a páscoa a YHWH teu Elohim; porque no
mês de Abibe YHWH teu Elohim te tirou do Egito, de noite.
Então sacrificarás a páscoa a YHWH teu Elohim, das ovelhas e das vacas,
no lugar que o Senhor escolher para ali fazer habitar o seu nome.
Nela não comerás levedado; sete dias nela comerás pães ázimos, pão de
aflição (porquanto apressadamente saíste da terra do Egito), para que te
lembres do dia da tua saída da terra do Egito, todos os dias da tua vida.
Levedado não aparecerá contigo por sete dias em todos os teus termos;
também da carne que matares à tarde, no primeiro dia, nada ficará até à manhã.
Não poderás sacrificar a páscoa em nenhuma das tuas portas que te dá
YHWH teu Elohim; Senão no lugar que escolher YHWH teu Elohim, para fazer
habitar o seu nome, ali sacrificarás a páscoa à tarde, ao pôr do sol, ao tempo
determinado da tua saída do Egito. Então a cozerás, e comerás no lugar que
escolher o YHWH teu Elohim; depois voltarás pela manhã, e irás às tuas tendas.”
(D’varim/Deuteronômio 16:1-7)
O relato de Lucas mostra, nada mais nada menos, que Yeshua,
como um Tsadik (justo) estava cumprindo as determinações da Torah, em que, além
das ofertas cotidianas oferecia, com maior intensidade sua devoção, ou seja
abdicando de sua vontade para fazer a vontade do Eterno.
Teshuvah (Retorno)? Sim! Incoerência? Não!
Atualmente, vemos muitas pessoas buscando celebrar as
“Festas do Senhor”, incluindo em sua agenda anual os dias relativos a estas
celebrações. Isso não deixa de ser uma espécie de “despertamento”, é como se O
Eterno estivesse chamando a atenção daqueles que são descendentes das tribos
perdidas, (mas que ainda não sabem), de volta para casa! Contudo, dentre estes
que têm desejado celebrar estas datas, nota-se ainda uma resistência ao Shabat,
o que se configura numa grande incoerência! Pois o shabat é a primeira destas
Festas! Como Levítico descreve:
“Depois falou o SENHOR a Moisés, dizendo:
Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: As solenidades do Senhor, que
convocareis, serão santas convocações; estas são as minhas solenidades:
Seis dias trabalho se fará, mas o sétimo dia será o sábado do descanso,
santa convocação; nenhum trabalho fareis; sábado do Senhor é em todas as vossas
habitações.” (Vayikrá/Levítico 23.1-3)
Esperamos que, mesmo em dias tão corridos, possamos
realmente oferecer uma devoção plena, inteira, diariamente. Mesmo que para
isso, como ensinou Rabi Yeshua, neguemos a nós mesmos.
Shabat Shalom!!!
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