sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Sedrá para o Shabat de 17/08/13 (Bamidbar 30)

Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

Os comentários desta semana abordarão as instruções sobre os “nedarim” (votos). Alguns aspectos destes comentários certamente irão de encontro a certas tendências da sociedade contemporânea, o que a meu ver demonstra o quanto os princípios estabelecidos pela Torah, quando observados, beneficiam o ser humano. Consequentemente, a quebra destes princípios causa vários desequilíbrios nos mais diversos seguimentos da vida, impedindo-nos de desfrutarmos do shalom.

Quem fala demais...

A palavra “neder” (voto) tem em sua raiz a conotação de consagrar (dedicar ao serviço) verbalmente ao Eterno, em outras palavras, seria uma promessa de realizar algo.
As mitzvot (mandamentos) sobre os votos demonstram que nossa relação com Eterno, deve ser permeada por racionalidade e consciência de com quem, quando e onde estamos lidando! De fato, as palavras deste “perek” (capítulo) da Torah reverberaram, ao longo dos séculos, no coração do povo israelita como podemos constatar no Tanach e em outros documentos semitas:

Pagarei os meus votos ao Senhor (nedarai L’YHWH), agora, na presença de todo o seu povo. (Tehilim/Salmos 116.14)

Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Elohim; porque chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal.
Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Elohim; porque Elohim está nos céus, e tu estás sobre a terra; assim sejam poucas as tuas palavras.
Porque, da muita ocupação vêm os sonhos, e a voz do tolo da multidão das palavras.
Quando a Elohim fizeres algum voto (neder), não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos; o que votares, paga-o.
Melhor é que não votes do que votares e não cumprires.
Não consintas que a tua boca faça pecar a tua carne, nem digas diante do anjo que foi erro; por que razão se iraria Elohim contra a tua voz, e destruiria a obra das tuas mãos?
Porque, como na multidão dos sonhos há vaidades, assim também nas muitas palavras; mas tu teme a Elohim. 
(Kohelet/Eclesiastes 5.1-7)

Ainda no primeiro século, podemos ver este princípio pulsando com veemência nos ensinamentos de Rabi Yeshua:

 Outrossim, ouvistes que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás os teus juramentos ao Senhor.
Eu, porém, vos digo que de maneira nenhuma jureis; nem pelo céu, porque é o trono de Elohim;
Nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei;
Nem jurarás pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto.
Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna. (Matitiyahu/Mateus 5.33-37)

Omissão masculina ou rebeldia feminina?

Do passuk (versículo) quatro até o final deste perek (capítulo), temos as instruções referentes aos votos feitos por mulheres. Nota-se então uma atenção especial dispensada a este detalhe, demonstrando claramente a autoridade que o homem possuía sobre estas, isto é obvio, pois se tratava de uma sociedade patriarcal. Contudo, ousamos dizer que esta autoridade não estaria limitada a questão sociológica. Estamos supondo que haveria uma razão para o homem ter este poder sobre a mulher, que só poderia, em tese, ser compreendida alguns milênios depois. É claro que tais palavras podem provocar nas mulheres contemporâneas e, quem sabe, alguns homens, repúdio, indignação e coisas do gênero considerando nossas palavras retrógradas e preconceituosas. Contudo, gostaríamos de basear nossa opinião em dados atuais, que demonstram um número cada vez maior de mulheres sofrendo doenças que anteriormente eram consideradas quase como uma “exclusividade” dos homens... Estamos nos referindo ao índice de mulheres enfartando mundo afora como disse o médico cardiologista Dr. Sérgio Augusto Latuf:

“Nos últimos tempos, a incidência de infarto do miocárdio nas mulheres aumentou assustadoramente. No Brasil, mulheres com mais de 40 anos, apresentam as mais altas taxas de doenças do coração da América Latina, superando o índice de mortalidade de tumores de útero e mama juntos. As doenças cardiovasculares são responsáveis por um terço de todas as mortes de mulheres no mundo. São cerca de 8,5 milhões de mortes por ano.
As doenças como infarto e acidente vascular cerebral (derrame), sempre foram mais comuns nos homens até pouco tempo atrás. O infarto afeta cada vez mais mulheres e cada vez mais cedo.
Existem diversas justificativas que podem explicar os motivos pelos quais ocorreram essas mudanças. A mudança do comportamento e estilo de vida das mulheres alterou significativamente a qualidade de vida nas mulheres. O aumento da responsabilidade também é um dos principais motivos. Cerca de 45% das mulheres são chefes de família no Brasil, muitas delas ocupam cargos de liderança no trabalho, antes restritos aos homens”.

A mudança no estilo de vida das mulheres é considerada uma das causas do aumento deste índice. Esta mudança vem ocorrendo não apenas por causa do aumento populacional feminino, mas está atrelado aos novos conceitos que a sociedade contemporânea tem elegido conforme as seguintes informações:

 “O mundo vem passando por grandes mudanças nas últimas décadas. E não são apenas climáticas. São, também, de gênero. Os homens estão perdendo a hegemonia na escala econômica mundial. Desde a revolução sexual dos anos 60 do século passado, a crescente independência feminina chegou a ponto de, naturalmente, transformar as mulheres em motor do crescimento de um país.
Elas já são 44% da população economicamente ativa do Brasil, segundo a Organização Internacional do Trabalho. Em uma década, 10,7 milhões de brasileiras ingressaram no mercado de trabalho. Seu poder crescente terá um impacto cada vez maior no desenvolvimento do País. Um estudo realizado em 2006 pelo Fórum Econômico Mundial concluiu que, quanto maior é a participação das mulheres na vida econômica de um país, mais desenvolvido ele é. Ou seja, lugar de mulher é na economia.” (FONTE: http://www.universitario.com.br/noticias/n.php?i=6084)

Toda mudança têm seu início e segundo Renato Cancian, o do comportamento das mulheres pode ser atribuído à Revolução Francesa:

“É possível encontrar na historiografia dos séculos 15 e 18 o aparecimento de temas dedicados à denúncia da condição de opressão das mulheres, tendo como principais fatores a superioridade e a dominação imposta pelos homens.
Porém, ainda não se pode atribuir aos mais variados escritos que surgiram nesse período o rótulo ou o conceito de "feminista". Por outro lado, os estudiosos do tema creditam ao contexto social e político da Revolução Francesa (1789) - e, portanto, do Iluminismo - o surgimento do feminismo moderno.”
(*Renato Cancian é cientista social, mestre em sociologia política e doutorando em ciências sociais. É autor do livro "Comissão Justiça e Paz de São Paulo: Gênese e Atuação Política - 1972-1985".)

Não iremos estender neste comentário, todo o desenvolvimento da história do movimento feminista, pois faltará espaço e tempo hábil para relatarmos as nuance tanto de seu pensamento quanto da sua prática.

Em resumo, pode-se notar que as mulheres passaram a ficar sobrecarregadas, pois além de trabalharem fora precisam dar conta das tarefas domésticas! Suas estruturas começaram a se abalar... Na verdade, em vias de regra, por serem mais sensíveis, estão mais propensas a somatizações. Alguém então poderia sugerir que a solução seria o homem executar as tarefas domésticas, mas isso também tem seus efeitos psicológicos como aponta a seguinte pesquisa:

Joshua Coleman, psicólogo do Council of Contemporary Families (Conselho das Famílas Contemporâneas), comentou o estudo no site da organização americana e sublinhou que: as mulheres dizem sentir mais atração sexual e afeto pelos maridos se estes participarem nas tarefas do lar. No sentido oposto, advertiu que passar demasiado tempo com os filhos pode prejudicar a intimidade do casal e diminuir consideravelmente o número dos momentos românticos.

 Já o periódico American Sociological Review diz:

“Ao analisar dados de 4,5 mil casais americanos heterossexuais, os pesquisadores relataram que aqueles em que a mulher executava tarefas tradicionalmente “femininas” faziam sexo 1,6 mais vezes do que aqueles que dividiam as tarefas de modo igualitário.”

Qual é a relevância do sexo na vida de um casal? Esta é uma pergunta que cada um deve responder a si mesmo, no entanto, é notório que a freqüência deste ato trás conseqüências ao relacionamento, as quais são documentadas há muito tempo... Vejamos:

Não vos priveis um ao outro, senão por consentimento mútuo por algum tempo, para vos aplicardes ao jejum e à oração; e depois ajuntai-vos outra vez, para que Satanás não vos tente pela vossa incontinência. (Curintayah alef/1 Coríntios 7.5)

Igualmente vós, maridos, coabitai com elas com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais fraco; como sendo vós os seus co-herdeiros da graça da vida; para que não sejam impedidas as vossas orações. (Kefah alef/1 Pedro 3.7)

Finalmente, gostaríamos de dizer que os desequilíbrios existentes na sociedade estão relacionados com a inversão de papéis tanto do homem quanto das mulheres. Pois muitos homens passaram a ‘fugir’ da responsabilidade de ser o provedor, obrigando as mulheres a assumir esta função. Em contra partida, também existem aquelas que não admitem, aceitam ou reconhecem os esforços de seus cônjuges para a manutenção do lar.

Vale lembrar que o matrimônio também é um voto, um juramento, um compromisso assumido entre um casal. Portanto, não é nenhum exagero incluí-lo como objeto de análise nesta sedrá (sequência de estudos).

Que possamos ter os devidos cuidados nos nossos relacionamentos com O Eterno e com nossos cônjuges.


Shabat Shalom!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário