sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Sedrá para o Shabat de 31/08/13 (Bamidbar 32)

Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

Prosseguindo nossa sequência de comentários, chegamos ao perek (capítulo) trinta e dois do Sefer Bamidbar (Livro de Números), onde está relatado o pedido das tribos de Reuven (Ruben) e Gad, para não atravessarem o “Nahar Yarden” (Rio Jordão). Pedido este que revelam alguns dos aspectos mais negativos da natureza humana, o materialismo e a ganância.

Busque primeiro o Reino de Elohim.

Logo nas primeiras linhas deste relato, vemos a preocupação dos rubenitas e gaditas em reivindicar para si as terras de Iazêr e Gilead, pois estas atendiam bem as necessidades daqueles grupos já que possuíam muito gado. Até aqui, nada assim tão grave se a ordem das coisas não estivesse invertida, vejamos:

“E chegaram-se a ele e disseram: Currais edificaremos para nosso gado aqui e cidades para nossas crianças...” (Bamidbar/Números 32.16)

Alguns rabinos observam que ao citar “currais e gado” antes de “cidade e nossas crianças”, aqueles homens priorizavam sua vida material, este materialismo notório fez com que eles se esquecessem de sua vocação, que era juntamente com as demais tribos, conquistar a terra prometida! Se não fosse a repreensão de Moshe, provavelmente o tempo da conquista, se é que ainda haveria uma, seria mais longo, pois as fileiras israelitas estariam “esvaziadas” e desunidas.
De fato, quando a vida material é colocada como prioridade a tendência é nos tornarmos egoístas, causando cada vez mais desequilíbrio e desigualdade na sociedade. Sobre isto, um dos melhores ensinamentos sobre essa situação foi feito pelo Rabi Yeshua HaNetsari:

Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Elohim e as riquezas.
Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?
Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?
E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura?
E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam;
E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.
Pois, se Elohim assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé?
Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos ou que beberemos, ou com que nos vestiremos?
Porque todas estas coisas os gentios procuram. Decerto vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas;
Mas, busquem primeiro o reino de Elohim, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal. (Matitiyahu/Mateus 6.24-34)

Em épocas que os homens andam mais preocupados com o “Ter” do que com o “Ser”, nada melhor do que uma reflexão nestas palavras para não nos deixarmos levar por este mal.

Quem quer descer?

Para a maioria dos estudiosos, o termo “yarden” (Jordão), vem do verbo “yarad”, que significa descer. Logo, para o Nahar Yarden (Rio Jordão), dá-se o sentido de “aquele que desce”. Diante disso, poderíamos sugerir o seguinte: “Ruben e Gad não estavam dispostos a descer”.
Usando este episódio como uma analogia para retratar algo muito comum em nossos dias, perguntamos ao caro leitor: Você está disposto a “descer”? Ou seja, se humilhar, perder... Para que todos possam ganhar?
Sh’lomo (Salomão) em um dos seus provérbios ensina:

“A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda.”
(Mishlei/Provérbios 16.18)

A nível individual, infelizmente, sempre haverá aqueles que se preocupam mais consigo mesmo, com sua reputação e prestígio ao invés de admitir um erro, de pedir desculpas e perdão. São pessoas orgulhosas que na verdade são o que chamamos de “ególatras”, pessoas que adoram a imagem que tem de si mesmas, cultivando inconscientemente a idéia de serem infalíveis.
Para nós israelitas a proposta se torna mais séria ainda quando consideramos a situação de nosso povo, pois enquanto mantivermos nosso orgulho ideológico, filosófico, cabalista, haláchico, chassídico, caraíta, reformista, reconstrucionista, sefaradita, ashkenazita, ou seja qual for a linha de pensamento e interpretação da Torah que tivermos, sem estarmos dispostos a descermos de nossos “pedestais”, não poderemos alcançar a promessa de novamente sermos um e estarmos sob um único Rosh, a saber, Melech HaMashiach.

Aprendendo a lição.

Felizmente o desfecho da situação não foi trágico, pois tanto os rubenitas quanto os gaditas e também meia tribo de Menashe (Manasses), retornaram à sensatez e à sua vocação:
Porém nós nos armaremos, apressando-nos adiante dos de Israel, até que os levemos ao seu lugar; e ficarão as nossas crianças nas cidades fortes por causa dos moradores da terra.
Não voltaremos para nossas casas, até que os filhos de Israel estejam de posse, cada um, da sua herança. (Bamidbar/Números 32.17-18)

No final, vemos que o desejo de Ruben e Gad foi concedido quando estes se comprometeram a lutarem com seus irmãos e de só retornarem para suas casas quando todos tivessem conquistado sua parte:

Então Moisés lhes disse: Se isto fizerdes assim, se vos armardes à guerra perante o Senhor;
E cada um de vós, armado, passar o Jordão perante o Senhor, até que haja lançado fora os seus inimigos de diante dele,
E a terra esteja subjugada perante o Senhor; então voltareis e sereis inculpáveis perante o Senhor e perante Israel; e esta terra vos será por possessão perante o Senhor;
(Bamidbar/Números 32.20-22)

De forma sutil, as palavras de Moshe, demonstraram qual deveria ser a escala de valores a ser cultivada por aqueles homens:

“Edificai cidades para as vossas crianças, e currais para as vossas ovelhas; e fazei o que saiu da vossa boca.”
(Bamidbar/Números 32.24)

Ao citar “Cidades e vossas crianças” antes de “Currais e vossas ovelhas”, Moshe estava colocando as coisas em seus devidos lugares. Que nós possamos avaliar como anda nossa escala de valores e, se preciso for, ajustemos tudo antes que causemos mais desigualdades e desequilíbrio.


Shabat Shalom!!!

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