Por Yochanan ben Avraham
Introdução.
A sequência deste Shabat, trás o relatório dos acampamentos
de Israel ao longo de sua jornada até a terra prometida. Ao todo foram quarenta
e dois acampamentos, este número (42) é associado por alguns comentaristas com
a expressão: “Ehiê asher Ehiê” (Serei o que Serei) dita pelo Eterno a Moshe em
Shemot (Êxodo 3.14), pois a palavra “Ehiê” tem o valor numérico de vinte um,
logo, ao ser dita duas vezes temos o valor de quarenta e dois. O significado
disto, segundo estes comentaristas é que O Eterno já estava revelando que
estaria com os filhos de Israel durante todas as etapas de sua caminhada, mas
existem outras lições que podem ser extraídas deste texto como tentaremos demonstrar.
O ponto de partida para a promessa.
O início da jornada dos hebreus foi em “Ramsés’, conforme
diz o texto:
Partiram, pois, de Ramsés no primeiro mês, no dia quinze do primeiro
mês; no dia seguinte da páscoa saíram os filhos de Israel por alta mão, aos
olhos de todos os egípcios,
Enquanto os egípcios enterravam os que o Senhor tinha ferido entre
eles, a todo o primogênito, e havendo o Senhor executado juízos também contra
os seus deuses.
(Bamidbar/Números 33.3-4)
Este relato é muito importante e significativo para nossa
compreensão, pois a libertação dos filhos de Israel se inicia quando eles
deixam Ramsés. O nome “Ramsés” significa: “Rá o gerou; gerado por Rá”. Para
quem não sabe, “Rá” é considerada a divindade mais importante do Egito. Conhecido
como o deus sol, devido a importância da luz para a produção dos alimentos.
Segundo a mitologia, Rá além de ser considerado o deus Sol, é também denominado
como o criador dos deuses e da ordem divina, teria recebido de seu pai o
domínio sobre a Terra.
Considerando as informações acima, poderíamos dizer que para
alcançar a terra prometida, os filhos de Israel deveriam em primeiro lugar,
deixar aquele que foi gerado por Rá, ou seja, abandonar a idolatria.
Abandonar a idolatria é o princípio básico para quem deseja
ter um relacionamento com O Eterno, tanto é assim que o primeiro dos Dez Ditos
(conhecidos como os dez mandamentos) se inicia da seguinte forma:
Eu sou o YHWH teu Elohim, que te tirei da terra do Egito, da casa da
servidão.
Não terás outros deuses diante de mim. (Shemot/Êxodo 20.2-3)
O que é Idolatria afinal? Poderíamos de forma simples dizer
que idolatria é adoração a ídolos, poderíamos também aprofundar a questão
dizendo que estes ídolos não são apenas imagens produzidas pelo homem, mas
também conceitos, já que a palavra utilizada para deuses (elohim) pode ser
traduzida como “poderes”. Assim sendo, quando colocamos outros “poderes” diante
de nós, como aquilo que nos provê em tudo, podemos estar cometendo idolatria no
sentido mais grave da palavra. Além de atribuir poderes a entidades (muitas
vezes fictícias!) existem o poder da persuasão; poder econômico; poder bélico e
etc. que podem estar sendo a maior esperança de alguém.
É fato conhecido, que a idolatria tentou ser disfarçada ao
longo da história ocidental. Alguns termos foram criados como forma de
“suavizar” a gravidade do ato, mantendo os mais simples no pecado, Estes termos
são:
Dulia:
Do grego δουλεια,
"douleuo" que significa "honrar", é um termo teológico que
significa honra e culto de veneração devotado aos santos.
Hiperdulia:
Do grego
‘υπερδουλεια. Uma veneração especial devotada a Maria.
Estes termos têm a
finalidade de justificar o culto às imagens, sem causar “danos” na consciência
dos “fieis” quando estes se depararem com as advertências das escrituras contra
tal prática. Pois estes não estariam oferecendo a “Latria” Do grego (λατρεια, "latreuo" que significa
"adorar"), latria é um
termo teológico utilizado pelas Igrejas Católica e Ortodoxa que significa o
culto de adoração devida e dada somente ao Eterno. Ou seja, é como se um jogo
de palavras e terminologias cobrisse o flagrante delito. Contudo, O Eterno não
seja deixa enganar e conhece os que são Seus.
Seis semanas de história?
Outra curiosidade
que observamos relacionada ao número quarenta e dois reside no fato de que
quarenta e dois é o resultado da multiplicação do número sete (número de dias
da semana e extremamente simbólico nas escrituras) pelo número seis (número do
homem, pois este foi criado no sexto dia). Logo, estaria o número dos
acampamentos de Israel durante sua jornada, indicando os estágios da vida
humana até poder adentrar as promessas do Eterno?
Se considerarmos a
“matemática” proposta acima, entendemos que o que nos resta é caminhar...
Prosseguir em nossa jornada.
É interessante
pensar que, o primeiro lugar após os hebreus deixarem “Ramsés”, para acampar
foi Sukot, que significa tendas, ou seja, moradia provisória. Isto parece ter
sido a inspiração do escritor aos hebreus:
Pois não temos aqui nenhuma
cidade permanente, mas buscamos a que há de vir. (Ivrim/Hebreus 13.14)
Conclusão
Cada acampamento
teve sua peculiaridade: tragédias, milagres, vitórias, derrotas e etc., mas
nenhum deles era a terra prometida, eram apenas estações, lugares para o povo
parar e aprender lições, reorganizar a vida, refazer as forças... Enfim, para
que estivessem preparados para entrar na terra prometida.
Creio que da mesma
forma devemos encarar as situações que enfrentamos no dia a dia, entendendo que
tudo que vivemos aqui é passageiro e por isso, devemos procurar aproveitar o
que for de melhor para nossa formação como cidadãos do Reino do Eterno.
Que a Ruach Chochmah
(Espírito de Sabedoria) nos capacite, impulsionando-nos a este mister.
Shabat Shalom!!!
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