Sedrá para o Shabat de 14/09/13 (Bamidbar 34)
Por Yochanan ben Avraham
Introdução.
Neste Shabat, alcançamos o antepenúltimo capítulo do Sefer
Bamidbar (Livro de Números), nele estão descritos os limites da Terra
Prometida.
Depois de quarenta anos de peregrinação e de quarenta e dois
acampamentos no deserto, finalmente o povo hebreu começa a ter uma perspectiva
mais clara de sua herança, aquilo que outrora estava sem forma em sua mente,
começa a ganhar contornos de realidade concreta e certamente a vida dos hebreus
como povo passaria a ter um novo “status” e significado na história.
Os limites de Israel e a criação.
Quando O Eterno diz a Moshe para ordenar aos filhos de
Israel demarcar os limites da terra que por herança receberiam, acreditamos que
o nível de entendimento, comprometimento e responsabilidade de todo o povo,
perante O Eterno e Sua palavra (Torah), começou a mudar, pois conforme dissemos
na introdução acima, algo ainda indefinido começava a ser vislumbrado. Por
isso, vemos uma relação entre o relato da criação do Sefer Bereshit (Livro de
Gênesis) com este episódio, relação esta que tentaremos explicar a seguir.
Em Bereshit 1.27 temos o seguinte:
E criou Elohim o homem à sua imagem; à imagem de Elohim o criou; homem
e mulher os criou. (Bereshit/Gênesis 1.27)
Em contra partida, temos no capitulo seguinte outras
declarações que tornam o relato da criação mais interessante:
E formou YHWH Elohim homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o
fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente. (Bereshit/Gênesis
2.7)
E ainda:
Havendo, pois, YHWH Elohim formado da terra todo o animal do campo, e
toda a ave dos céus, os trouxe a Adão, para este ver como lhes chamaria; e tudo
o que Adão chamou a toda a alma vivente, isso foi o seu nome.
E Adão pôs os nomes a todo o gado, e às aves dos céus, e a todo o
animal do campo; mas para o homem não se achava ajudadora idônea. (Bereshit/Gênesis
2.19-20)
O interessante neste relato é o fato de que no capítulo um
“macho e fêmea” haviam sido criados, mas no capítulo seguinte, o homem estava
só, pois ainda não havia para ele uma companheira! Contradição? Obviamente
não... Tudo se esclarece quando lemos o texto no seu idioma original com a
devida atenção, vejamos: No capítulo um a palavra utilizada para descrever a
criação do homem e da mulher, vem da raiz
ברא
“bara” (Criar) enquanto no capítulo dois a palavra vem da raiz יצר
“yatsar” (Modelar, formar, amoldar). Isto significa que a criação passou por
estágios, como se houvessem níveis diferentes de existência. Sendo assim houve
primeiro a criação (abstrato) e depois a formação (concreto). Para
exemplificar, é como se alguém idealizasse uma casa, depois a desenharia (faria
uma planta) e por fim construísse.
No início os hebreus sabiam que herdariam uma terra, depois
exploraram o território e agora estavam recebendo “as medidas” e, porque não
dizer, a “planta” para o seu “empreendimento”:
Embora haja discordâncias entre historiadores e geógrafos
quanto aos limites descritos, podemos ter uma idéia do território israelita
conforme diz as escrituras, observando a gravura acima.
Seja Luz!
Ainda explorando a relação entre a criação e a delimitação
do território israelita, temos outra conexão interessante, pois a primeira
coisa criada foi a luz - não a luz física, pois sol, lua e estrelas só foram
criadas no quarto dia - esta luz pode ser entendida como o bem e a justiça, já
que o seu oposto, trevas (Choshek em hebraico) é descrito em muitas passagens
como ignorância, mal, ocultação, cegueira, juízo e etc. Outro detalhe a ser
observado é que ao invés de: “Haja luz”, o texto em Bereshit (Gênesis) 1.3 é
melhor traduzido como:
“Seja Luz!” E foi luz.
Agora compare isso com o que diz o Sefer Yeshayahu (Livro de
Isaías):
Ouvi-me, ilhas, e escutai vós, povos de longe: YHWH me chamou desde o
ventre, desde as entranhas de minha mãe fez menção do meu nome.
E fez a minha boca como uma espada aguda, com a sombra da sua mão me
cobriu; e me pôs como uma flecha limpa, e me escondeu na sua aljava;
E me disse: Tu és meu servo; és Israel, aquele por quem hei de
ser glorificado.
Porém eu disse: Debalde tenho trabalhado, inútil e vãmente gastei as
minhas forças; todavia o meu direito está perante YHWH, e o meu galardão
perante o meu Elohim.
E agora diz YHWH, que me formou desde o ventre para ser seu servo, para
que torne a trazer Jacó; porém Israel não se deixará ajuntar; contudo aos olhos
de YHWH serei glorificado, e o meu Elohim será a minha força.
Disse mais: Pouco é que sejas o meu servo, para restaurares as tribos
de Jacó, e tornares a trazer os preservados de Israel; também te dei para
luz dos gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da terra. (Yeshayahu/Isaías
49.1-6)
Embora alguns considerem a expressão: “és Israel” uma glosa
devido sua incompatibilidade com os passukim (versículos) 5 e 6, que distinguem
O Servo e Ya’akov/Israel, algo que talvez se justifique pela ambivalência da
figura do Servo que ora é Israel (povo) ora é seu líder, o Mashiach. A
responsabilidade de ser Luz é afirmada.
Ser luz é a vocação dos israelitas, e esta luz é manifesta
quando cumprimos as mitzvot (mandamentos) do Eterno, isso é compreendido quando
lemos as palavras de Sh’lomo ha melech (O rei Salomão):
“Pois o preceito é uma lâmpada. E a Torah (instrução) é uma luz, e é um
caminho de vida a exortação que disciplina”. (Mishlei/Provérbios 6.23)
Por esta razão nós, como israelitas, não podemos nos omitir
e fugir da responsabilidade que temos de tornar este mundo melhor. Este é o
ensinamento de Rabi Yeshua HaNetsari:
Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada
sobre um monte;
Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no
velador, e dá luz a todos que estão na casa.
Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as
vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus. (Matitiyahu/Mateus
5.14-16)
Como podemos ver Rabi Yeshua não estava trazendo um “novo
conceito” ou uma “nova religião”. Ele estava trazendo a memória do povo ali
presente, algo que já havia sido estabelecido alguns séculos antes!
Concluindo:
No início havia uma vaga idéia da Terra Prometida, depois
ela foi ganhando forma na mente dos filhos de Israel com a demarcação dos
limites de seu território. Faltava agora a formação, a concretização da idéia,
ou seja, um povo especifico, num lugar específico que representasse o Único e
Verdadeiro Elohim e iluminasse todos ao redor com uma conduta ética, justa e
amorosa.
Shabat Shalom!!!
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