sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Sedrá para o Shabat de 14/09/13 (Bamidbar 34)

Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

Neste Shabat, alcançamos o antepenúltimo capítulo do Sefer Bamidbar (Livro de Números), nele estão descritos os limites da Terra Prometida.
Depois de quarenta anos de peregrinação e de quarenta e dois acampamentos no deserto, finalmente o povo hebreu começa a ter uma perspectiva mais clara de sua herança, aquilo que outrora estava sem forma em sua mente, começa a ganhar contornos de realidade concreta e certamente a vida dos hebreus como povo passaria a ter um novo “status” e significado na história.

Os limites de Israel e a criação.

Quando O Eterno diz a Moshe para ordenar aos filhos de Israel demarcar os limites da terra que por herança receberiam, acreditamos que o nível de entendimento, comprometimento e responsabilidade de todo o povo, perante O Eterno e Sua palavra (Torah), começou a mudar, pois conforme dissemos na introdução acima, algo ainda indefinido começava a ser vislumbrado. Por isso, vemos uma relação entre o relato da criação do Sefer Bereshit (Livro de Gênesis) com este episódio, relação esta que tentaremos explicar a seguir.
Em Bereshit 1.27 temos o seguinte:

E criou Elohim o homem à sua imagem; à imagem de Elohim o criou; homem e mulher os criou. (Bereshit/Gênesis 1.27)

Em contra partida, temos no capitulo seguinte outras declarações que tornam o relato da criação mais interessante:

E formou YHWH Elohim homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente. (Bereshit/Gênesis 2.7)

E ainda:

Havendo, pois, YHWH Elohim formado da terra todo o animal do campo, e toda a ave dos céus, os trouxe a Adão, para este ver como lhes chamaria; e tudo o que Adão chamou a toda a alma vivente, isso foi o seu nome.
E Adão pôs os nomes a todo o gado, e às aves dos céus, e a todo o animal do campo; mas para o homem não se achava ajudadora idônea. (Bereshit/Gênesis 2.19-20)

O interessante neste relato é o fato de que no capítulo um “macho e fêmea” haviam sido criados, mas no capítulo seguinte, o homem estava só, pois ainda não havia para ele uma companheira! Contradição? Obviamente não... Tudo se esclarece quando lemos o texto no seu idioma original com a devida atenção, vejamos: No capítulo um a palavra utilizada para descrever a criação do homem e da mulher, vem da raiz  ברא “bara” (Criar) enquanto no capítulo dois a palavra vem da raiz יצר “yatsar” (Modelar, formar, amoldar). Isto significa que a criação passou por estágios, como se houvessem níveis diferentes de existência. Sendo assim houve primeiro a criação (abstrato) e depois a formação (concreto). Para exemplificar, é como se alguém idealizasse uma casa, depois a desenharia (faria uma planta) e por fim construísse.


No início os hebreus sabiam que herdariam uma terra, depois exploraram o território e agora estavam recebendo “as medidas” e, porque não dizer, a “planta” para o seu “empreendimento”:


Embora haja discordâncias entre historiadores e geógrafos quanto aos limites descritos, podemos ter uma idéia do território israelita conforme diz as escrituras, observando a gravura acima.

Seja Luz!

Ainda explorando a relação entre a criação e a delimitação do território israelita, temos outra conexão interessante, pois a primeira coisa criada foi a luz - não a luz física, pois sol, lua e estrelas só foram criadas no quarto dia - esta luz pode ser entendida como o bem e a justiça, já que o seu oposto, trevas (Choshek em hebraico) é descrito em muitas passagens como ignorância, mal, ocultação, cegueira, juízo e etc. Outro detalhe a ser observado é que ao invés de: “Haja luz”, o texto em Bereshit (Gênesis) 1.3 é melhor traduzido como:

“Seja Luz!” E foi luz.

Agora compare isso com o que diz o Sefer Yeshayahu (Livro de Isaías):

Ouvi-me, ilhas, e escutai vós, povos de longe: YHWH me chamou desde o ventre, desde as entranhas de minha mãe fez menção do meu nome.
E fez a minha boca como uma espada aguda, com a sombra da sua mão me cobriu; e me pôs como uma flecha limpa, e me escondeu na sua aljava;
E me disse: Tu és meu servo; és Israel, aquele por quem hei de ser glorificado.
Porém eu disse: Debalde tenho trabalhado, inútil e vãmente gastei as minhas forças; todavia o meu direito está perante YHWH, e o meu galardão perante o meu Elohim.
E agora diz YHWH, que me formou desde o ventre para ser seu servo, para que torne a trazer Jacó; porém Israel não se deixará ajuntar; contudo aos olhos de YHWH serei glorificado, e o meu Elohim será a minha força.
Disse mais: Pouco é que sejas o meu servo, para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os preservados de Israel; também te dei para luz dos gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da terra. (Yeshayahu/Isaías 49.1-6)

Embora alguns considerem a expressão: “és Israel” uma glosa devido sua incompatibilidade com os passukim (versículos) 5 e 6, que distinguem O Servo e Ya’akov/Israel, algo que talvez se justifique pela ambivalência da figura do Servo que ora é Israel (povo) ora é seu líder, o Mashiach. A responsabilidade de ser Luz é afirmada.
Ser luz é a vocação dos israelitas, e esta luz é manifesta quando cumprimos as mitzvot (mandamentos) do Eterno, isso é compreendido quando lemos as palavras de Sh’lomo ha melech (O rei Salomão):

“Pois o preceito é uma lâmpada. E a Torah (instrução) é uma luz, e é um caminho de vida a exortação que disciplina”. (Mishlei/Provérbios 6.23) 

Por esta razão nós, como israelitas, não podemos nos omitir e fugir da responsabilidade que temos de tornar este mundo melhor. Este é o ensinamento de Rabi Yeshua HaNetsari:

Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte;
Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa.
Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus. (Matitiyahu/Mateus 5.14-16)

Como podemos ver Rabi Yeshua não estava trazendo um “novo conceito” ou uma “nova religião”. Ele estava trazendo a memória do povo ali presente, algo que já havia sido estabelecido alguns séculos antes!

Concluindo:
No início havia uma vaga idéia da Terra Prometida, depois ela foi ganhando forma na mente dos filhos de Israel com a demarcação dos limites de seu território. Faltava agora a formação, a concretização da idéia, ou seja, um povo especifico, num lugar específico que representasse o Único e Verdadeiro Elohim e iluminasse todos ao redor com uma conduta ética, justa e amorosa.

Shabat Shalom!!!

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