Por Yochanan ben Avraham
Introdução.
Na sequência de comentários do Sefer Bamidbar, hoje
estaremos analisando o perek (capítulo) 29. Vale ressaltar que este capítulo é
uma continuação das instruções sobre as ofertas para os dias festivos,
especificamente os do sétimo mês. Veremos ao longo deste comentário que todas
as celebrações desta época apontam para os acontecimentos na plenitude dos
tempos.
Um breve esclarecimento.
Certamente você já ouviu que o ano judaico se inicia no
sétimo mês, pois para alguns, em Israel existe um início civil e outro
religioso para o ano. Porém, a Torah não nos diz nada parecido com isso! Diz
sim, que o primeiro mês do ano é o mês que se celebra o Pessach como podemos
constatar em Shemot (Êxodo):
E falou o Senhor a Moisés e a Arão na terra do Egito, dizendo:
Este mesmo mês vos será o princípio dos meses; este vos será o
primeiro dos meses do ano.
Falai a toda a congregação de Israel, dizendo: Aos dez deste mês tome
cada um para si um cordeiro, segundo as casas dos pais, um cordeiro para cada
família.
Mas se a família for pequena para um cordeiro, então tome um só com seu
vizinho perto de sua casa, conforme o número das almas; cada um conforme ao seu
comer, fareis a conta conforme ao cordeiro.
O cordeiro, ou cabrito, será sem mácula, um macho de um ano, o qual
tomareis das ovelhas ou das cabras.
E o guardareis até ao décimo quarto dia deste mês, e todo o ajuntamento
da congregação de Israel o sacrificará à tarde.
E tomarão do sangue, e pô-lo-ão em ambas as ombreiras, e na verga da
porta, nas casas em que o comerem.
E naquela noite comerão a carne assada no fogo, com pães ázimos; com
ervas amargosas a comerão. (Shemot/Êxodo 12.1-8)
Se o Pessach ocorre no primeiro mês do ano, nada mais obvio
do que concluir que o ano se inicia ao que no calendário gregoriano, corresponde
aos meses de Março e Abril, ou seja, no começo da Primavera no hemisfério
norte.
Como, quando e
onde começou a celebração do ano novo no sétimo mês?
Esta mudança é fruto de um sincretismo com uma celebração
babilônica, durante o período em que os judeus estiveram exilados naquele
império. Referimos-nos ao festival chamado “akitu” celebrado duas vezes por ano
(plantio e colheita da cevada) a cada primeiros e sétimos meses dos anos.
Sétimo mês. Uma “sinopse” da plenitude dos tempos?
Tentaremos demonstrar que cada celebração do sétimo mês trás
consigo, um profundo significado que pode estar revelando, a sequência dos
eventos para a plenitude dos tempos.
O número sete está envolto em muitos simbolismos: descanso,
plenitude, completude, perfeição e etc. Logo, a idéia de que justamente no
sétimo mês ter o maior número de celebrações, nos atrai à reflexão e,
consequentemente, vislumbramos algumas coisas que tanto na literatura rabínica,
quanto nazarena (seguidores de Rabi Yeshua) são corroboradas...
O Sétimo mês inicia-se com uma celebração:
“Semelhantemente, tereis santa convocação no sétimo mês, no primeiro
dia do mês; nenhum trabalho servil fareis; será para vós dia de sonido de
trombetas.”
(Bamidbar/Números 29.1)
Este dia é descrito na Torah como “Yom Teruah” (Dia do
brado), mas também é conhecida popularmente como “Festa das Trombetas”, pois é
o dia em que, além de se tocar o Shofar (chifre de carneiro) anunciando o novo
mês, deve ocorrer santa convocação e nenhuma obra servil deve ser realizada, e
possível entender que o brado seria uma reunião para preces públicas, feitas em
voz alta, por exemplo. Seria um dia para se fazer um “barulho santo”!
Uma das curiosidades desta festa é que seu propósito não é
revelado como as demais, o que leva alguns comentaristas a atribuir certo
mistério a esta celebração, devido a uma expressão utilizada em Vayikrá
(Levítico) 23.24 – “Zichron Teruah”:
“Fala aos filhos de Israel, dizendo: No mês sétimo, ao primeiro do mês,
tereis descanso, memorial com sonido de trombetas, santa convocação.”
A palavra hebraica traduzida para memorial é “Zichron”, por
isso este dia também é conhecido como “Zichron Teruah” (Memorial do Brado).
Destarte, surgiu a pergunta: “Memorial do que?” A partir desta pergunta muitas
teorias são criadas, indicando que este brado aponta para o futuro. No entanto,
“Zichron’ também pode ser traduzido como mencionar, inclusive como mencionar o
nome do Eterno, como o termo está associado em algumas passagens do Tanach,o
que faz com alguns sugiram que Yom
Teruah seja um dia de se bradar o Nome do Eterno em uníssono numa reunião
pública.
No décimo dia deste mês, ocorre a mais sagrada celebração
israelita, “Yom HaKippurim” (Dia das expiações). Neste dia aflige-se a alma,
algo que foi entendido como um dia de jejum, que se inicia no por do sol do
nono dia e termina no por do sol do décimo dia (ver Vayikrá/Levítico 23.32).
É interessante o entendimento que a tradição judaica tem deste
dia, pois o considera como o dia em que o Tribunal do Eterno é estabelecido
para decidir o destino da humanidade.
No décimo quinto dia, inicia-se “Sukot”, a festa das
cabanas, também chamada de tabernáculos. Nesta celebração, o povo deve montar
sua “suká” (cabana) em memória da habitação de nossos antepassados quando
tirados do Egito pelo Eterno. Por sete dias devemos “habitar” nestas cabanas
para que nossos filhos saibam a trajetória de nosso povo e não esqueça que
somos dependentes do Eterno em um tempo em que o Eterno ‘habitava’ em nosso
meio.
Considerando o propósito de cada Festa, temos a seguinte
sequência:
- Toca-se o Shofar.
- As expiações são realizadas. (segundo a tradição, o Tribunal Celestial é estabelecido)
- Cinco dias após, as tendas são montadas.
Para “Yom Teruah”:
E, depois destas coisas ouvi no céu uma grande voz de uma grande
multidão, que dizia: Aleluia! A salvação, e a glória, e a honra, e o poder
pertencem a Adonai Eloheino;
Porque verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a grande
prostituta, que havia corrompido a terra com a sua fornicação, e das mãos dela
vingou o sangue dos seus servos.
(Guilyana/Apocalipse 19.1-2)
E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo, e uma grande
cadeia na sua mão.
Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e
amarrou-o por mil anos.
E lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e pôs selo sobre ele, para que
não mais engane as nações, até que os mil anos se acabem. E depois importa que
seja solto por um pouco de tempo.
E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de
julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Yeshua, e
pela palavra de YHWH, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não
receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos; e viveram, e reinaram com
Mashiach durante mil anos.
(Guilyana/Apocalipse 20.1-4)
Para Yom
Hakippurim:
E, acabando-se os mil anos, Satanás será solto da sua prisão,
E sairá a enganar as nações que estão sobre os quatro cantos da terra,
Gogue e Magogue, cujo número é como a areia do mar, para as ajuntar em batalha.
E subiram sobre a largura da terra, e cercaram o arraial dos santos e a
cidade amada; e de YHWH desceu fogo, do céu, e os devorou.
E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde
estão a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para
todo o sempre.
E vi um grande trono branco, e o que estava assentado sobre ele,
de cuja presença fugiu a terra e o céu; e não se achou lugar para eles.
E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante de YHWH, e
abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos
foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as
suas obras.
E deu o mar os mortos que nele havia; e a morte e o inferno deram os
mortos que neles havia; e foram julgados cada um segundo as suas obras.
(Guilyana/Apocalipse
20.7-13)
Para Sukot
(Tabernáculos):
E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a
primeira terra passaram, e o mar já não existe.
E eu, Yochanan, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de YHWH descia
do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido.
E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de
YHWH com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o
mesmo YHWH estará com eles, e será o seu Elohim.
(Guilyana/Apocalipse 21.1-3)
Ou seja, segunda esta perspectiva, os eventos finais seguem
a sequência das festas do sétimo mês: Yom Teruah, Yom Hakippurim e Sukot.
E no sétimo dia haverá descanso.
Na literatura rabínica encontramos algumas interpretações
muito interessantes que complementa a idéia exposta acima, pois conta o tempo
de uma forma que se encaixa com a sugestão acima descrita:
“O mundo deve existir por seis mil anos: dois mil anos de desolação,
dois mil de Torah e dois mil dos dias de Mashiach.” (Sanhedrin 97A)
Estas etapas são divididas de modo a considerar cada dia da
criação como se fossem mil anos, uma profecia para a longevidade da humanidade,
ou seja, estão previstos seis milênios para a terra, o sétimo é o grande
descanso, o estabelecimento do Reino de Mashiach ben David. Assim, dividindo os
seis milênios teríamos três períodos de dois mil anos cada:
*Dois mil anos até Avraham, o período da desolação.
*Dois mil anos a partir de Avraham, o período da Torah.
*Dois mil anos finais, são chamados de “icveta dimeshicha”
(passos do Mashiach)
Se considerarmos esta divisão, associando personagens
históricos de cada período, poderíamos chegar a seguinte fórmula:
*De Adam à Avraham, dois mil anos.
*De Avraham à Rabi Yeshua, dois mil anos.
*De Rabi Yeshua até hoje, dois mil anos.
O Próprio Rambam dizia que esses seis mil anos espelham os
seis dias da criação. Ele até compara os eventos de cada dia com seu milênio
correspondente. A Chassidut também faz esta associação, vejamos como fica:
- Primeiro dia (Mil anos) = Luz infinita criada representando a bondade do Eterno que alimentava as pessoas.
- Segundo dia (Dois mil anos) = separação das águas de “cima” das de “baixo” representando o julgamento pelo grande dilúvio,
- Terceiro dia (Três mil anos) = Começa a aparecer a porção seca e o propósito da criação começa a se revelar, representando o Êxodo do Egito e o surgimento do povo escolhido
- Quarto dia (Quatro mil anos) = Os luminares são criados, Rabi Yeshua surge no cenário da História trazendo “luz” ao mundo com seus ensinamentos.
- Quinto dia (Cinco mil anos) = As águas se encheram de criaturas vivas e aves voaram sobre a terra, aludindo ao governo das nações gentias no quinto milênio.
- Sexto dia (Seis mil anos) = O Eterno termina sua Obra criando o homem, assim, também, no sexto milênio, o homem perfeito se manifestará, que na linguagem de Rambam é o Mashiach ben David, o Filho de HaShem.
- Sétimo dia (Sete mil anos) = No sétimo dia O Eterno descansou, no sétimo milênio inicia-se o Reino de Mashiach ben David.
Concluindo...
Estaria a Torah revelando os
eventos finais da humanidade por meio das festas do sétimo mês? De fato, o
sétimo mês iniciava-se com um grande brado e na expectativa de alguns
israelitas do primeiro século, a vinda de Mashiach ben David seria anunciada
por um grande brado como se vê em outro documento desta época:
Então aparecerá no céu o sinal do
Filho do homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do
homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória.
E ele enviará os seus anjos com
rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os
quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus.
(Matitiyahu/Mateus 24.30-31)
Também na literatura rabínica é dito que a manifestação do
Mashiach ben David será precedida por épocas difíceis marcada por degeneração
moral, estando de acordo com isso os ensinamentos de rabi Yeshua:
E ouvireis de guerras e de rumores de guerras; olhai, não vos
assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim.
Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e
haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares.
Mas todas estas coisas são o princípio de dores.
Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e matar-vos-ão; e
sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome.
Nesse tempo muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros,
e uns aos outros se odiarào.
E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos.
E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará.
Mas aquele que perseverar até ao fim, esse será salvo.
(Matitiyahu/Mateus 24.6-13)
Que O Eterno nos ensine a ler os tempos.
Shabat Shalom!!!
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