sexta-feira, 19 de julho de 2013

Sedrá para o Shabat de 20/07/13 (Bamidbar 26)

Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

Neste shabat, estaremos comentando o perek (capítulo) 26 do Sefer Bamidbar (Livro de Números), mas ao nos depararmos com seu relato somos desafiados a buscar um sentido para ele, pois aparentemente não há nada de prático a se extrair deste conteúdo, pois temos a impressão de estarmos lendo uma “lista telefêonica”! No entanto, somos surpreendidos ao ver emergir de suas palavras, profundas lições e curiosidades que nos remetem a sérias reflexões acerca da vida israelita em todos (e para) os tempos.

Depois da morte, a Vida!

“E foi depois da mortandade...”
 Muito interessante é a forma como este capítulo se inicia, pois O Eterno ordena o censo de todos os filhos de Israel, ou seja, contar os que estavam vivos, criando uma espécie de contraponto que certamente pretende nos despertar para um entendimento mais elevado da situação. Qual, (ou quais) entendimentos, seriam esses? Primeiramente, percebemos claramente que a vida continuou, pois mesmo após a morte de toda uma geração, Israel ainda vivia e seguia sua jornada. Com isso, a Torah está dizendo: “A Vida continua!” Sim... Em que pese enfrentarmos perseguições, injúrias e todos os problemas desta vida, temos uma vocação a seguir, um caminho a percorrer, a Torah é o livro da esperança, da oportunidade de um recomeço... Ao levantar este censo, O Eterno estaria trazendo a memória dos israelitas, outro censo que foi feito algumas décadas antes, como a Torah descreve:

“Falou mais o SENHOR a Moisés no deserto de Sinai, na tenda da congregação, no primeiro dia do segundo mês, no segundo ano da sua saída da terra do Egito, dizendo: Tomai a soma de toda a congregação dos filhos de Israel, segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais, conforme o número dos nomes de todo o homem, cabeça por cabeça; Da idade de vinte anos para cima, todos os que em Israel podem sair à guerra, a estes contareis segundo os seus exércitos, tu e Arão.”
(Bamidbar/Números 1:1-3)

Era como se Eterno estivesse dizendo àquela geração: “Agora é com vocês!” Pois seiscentos e três mil quinhentos e cinquenta homens de uma geração, com exceção de dois (Yehoshua/Josué e Kaleb/Calebe), morreram sem adentrar a terra prometida. Diante disso, somos chamados a uma grande responsabilidade: Que tipo de legado deixaremos à geração seguinte?

Ninguém é insubstituível.

Seiscentos e três mil quinhentos e quarenta e oito homens pereceram, mas seiscentos e um mil setecentos e trinta estavam vivos para dar continuidade à história de nosso povo. O Eterno está nos ensinando que sempre haverá alguém de sua parte levando adiante sua mensagem, mesmo que alguém chamado por Ele venha falhar, desistir ou mesmo negar este chamado, Ele criará meios para que sua mensagem seja divulgada e sua vontade seja feita, pois com Yiov (Jó) pode constatar:
“Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido.”
(Yiov/Jó 42.2)

Entendemos que isto nos coloca em nosso devido lugar, pois o protagonista da história é O Eterno! Como bem disse Sha’ul (Paulo):

“Porque dEle e por Ele, e para Ele, são todas as coisas; glória, pois, a Ele eternamente. Amém.” (Ruhomayah/Romanos 11.36)

Em outra carta, Sha’ul (Paulo) expressa isto de outra forma, ratificando ainda mais que nossa participação é ínfima diante da grandeza desta obra:

“Pois, quem é Paulo, e quem é Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e conforme o que o Senhor deu a cada um?
Eu plantei, Apolo regou; mas O Eterno deu o crescimento.
Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas YHWH, que dá o crescimento.” (Curintayah alef/1 Coríntios 3.5-7)

Na história israelita temos vários exemplos de que ninguém foi insubstituível: Eli foi substituído por Sh’muel (Samuel); Sha’ul por David; Elyiahu (Elias) por Elisha (Eliseu)...Isso deveria ser entendido por aqueles que exercem algum tipo de liderança que a história não depende deles, mas do Eterno. Muitos foram chamados a desempenhar algum papel no serviço ao Eterno, mas em algum momento se envaideceram, achando-se auto-suficientes e acabaram como Shimshon que, sem perceber foi abandonado pela Ruach Elohim (Shoftim /Juízes 16.20) e consequentemente ficou cego.

Se não honramos nossos pais...

A contagem de cada tribo dos filhos de Israel no censo deste capítulo 26 acaba comprovando algo que a Torah ensina de maneira bem enfática, Pai e mãe devem ser honrados, pois do contrário não somos abençoados.
Na relação, percebemos que as tribos com menos homens (filhos) são Shimon e Levi, respectivamente com 22.200 e 23.000 indivíduos contados. Estes dois foram justamente os filhos de Ya’akov (Israel), que trouxeram um grande transtorno ao nosso patriarca:

“E aconteceu que, ao terceiro dia, quando estavam com a mais violenta dor, os dois filhos de Jacó, Simeão e Levi, irmãos de Diná, tomaram cada um a sua espada, e entraram afoitamente na cidade, e mataram todos os homens.
Mataram também ao fio da espada a Hamor, e a seu filho Siquém; e tomaram a Diná da casa de Siquém, e saíram.” (Bereshit/Gênesis 34.25-26)

“Então disse Jacó a Simeão e a Levi: Tendes-me turbado, fazendo-me cheirar mal entre os moradores desta terra, entre os cananeus e perizeus; tendo eu pouco povo em número, eles ajuntar-se-ão, e serei destruído, eu e minha casa.” (Bereshit/Gênesis 34.30)

O Tanach nos deixa entender que a quantidade de filhos é sinal de benção, como podemos inferir do Tehilim (Salmos) 127:

“Eis que os filhos são herança do Senhor, e o fruto do ventre o seu galardão.
Como flechas na mão de um homem poderoso, assim são os filhos da mocidade.
Bem-aventurado o homem que enche deles a sua aljava...” (Tehilim/Salmos 127.3-5)

E ainda:

“Bem-aventurado aquele que teme ao SENHOR e anda nos seus caminhos.
Pois comerás do trabalho das tuas mãos; feliz serás, e te irá bem.
A tua mulher será como a videira frutífera aos lados da tua casa; os teus filhos como plantas de oliveira à roda da tua mesa.
Eis que assim será abençoado o homem que teme ao Senhor.”
(Tehilim/Salmos 128.1-4)

Seria só coincidência o fato das tribos de Levi e Shimon terem “menos filhos”?

O Mashiach está no meio!

A relação do censo nesta sedrá traz uma curiosidade. Ao lermos a ordem das doze tribos, percebemos que ela não obedece a ordem de nascimento dos filhos de Israel, e isto é muito interessante, pois vemos que Yosef (José), o décimo primeiro filho de Ya’akov (Israel), aparece na lista como o sétimo nome e isto é muito significativo, já que nenhuma tribo recebe propriamente o seu nome, mas o nome de seus filhos (Menashe e Efraim), pois Ya’akov, seu pai havia reivindicado seus filhos como sendo dele:

“E aconteceu, depois destas coisas, que alguém disse a José: Eis que teu pai está enfermo. Então tomou consigo os seus dois filhos, Manassés e Efraim.
E alguém participou a Jacó, e disse: Eis que José teu filho vem a ti. E esforçou-se Israel, e assentou-se sobre a cama.
E Jacó disse a José: O El Shadai me apareceu em Luz, na terra de Canaã, e me abençoou.
E me disse: Eis que te farei frutificar e multiplicar, e tornar-te-ei uma multidão de povos e darei esta terra à tua descendência depois de ti, em possessão perpétua.
Agora, pois, os teus dois filhos, que te nasceram na terra do Egito, antes que eu viesse a ti no Egito, são meus: Efraim e Manassés serão meus, como Rúben e Simeão;”
(Bereshit/Gênesis 48.1-5)

Sabemos que Yosef é um arquétipo do Mashiach (Messias), e ao encontrá-lo na relação justamente como o sétimo nome da lista e considerando que o shabat é o sétimo dia, o sagrado dia de descanso. Entendemos que o Mashiach trará descanso! Mas não é só isso, o nome de Yosef divide a relação das tribos exatamente no meio... Seis nomes antes e seis depois! Seria isso um sinal de que o Mashiach dividiria as opiniões em Israel e/ou dividiria a história de Israel em antes e depois dele? De qualquer forma, considerando Yosef como figura messiânica, percebesse que ele, o Mashiach andaria entre seus irmãos, como um legítimo israelita.


Shabat shalom!!!

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