Por Yochanan ben Avraham
Introdução.
Neste shabat, estaremos comentando o perek (capítulo) 26 do
Sefer Bamidbar (Livro de Números), mas ao nos depararmos com seu relato somos
desafiados a buscar um sentido para ele, pois aparentemente não há nada de
prático a se extrair deste conteúdo, pois temos a impressão de estarmos lendo
uma “lista telefêonica”! No entanto, somos surpreendidos ao ver emergir de suas
palavras, profundas lições e curiosidades que nos remetem a sérias reflexões
acerca da vida israelita em todos (e para) os tempos.
Depois da morte, a Vida!
“E foi depois da mortandade...”
Muito interessante é
a forma como este capítulo se inicia, pois O Eterno ordena o censo de todos os
filhos de Israel, ou seja, contar os que estavam vivos, criando uma espécie de
contraponto que certamente pretende nos despertar para um entendimento mais
elevado da situação. Qual, (ou quais) entendimentos, seriam esses?
Primeiramente, percebemos claramente que a vida continuou, pois mesmo após a
morte de toda uma geração, Israel ainda vivia e seguia sua jornada. Com isso, a
Torah está dizendo: “A Vida continua!” Sim... Em que pese enfrentarmos
perseguições, injúrias e todos os problemas desta vida, temos uma vocação a
seguir, um caminho a percorrer, a Torah é o livro da esperança, da oportunidade
de um recomeço... Ao levantar este censo, O Eterno estaria trazendo a memória
dos israelitas, outro censo que foi feito algumas décadas antes, como a Torah
descreve:
“Falou mais o SENHOR a Moisés no deserto de Sinai, na tenda da
congregação, no primeiro dia do segundo mês, no segundo ano da sua saída da
terra do Egito, dizendo: Tomai a soma de toda a congregação dos filhos de
Israel, segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais, conforme o
número dos nomes de todo o homem, cabeça por cabeça; Da idade de vinte anos
para cima, todos os que em Israel podem sair à guerra, a estes contareis
segundo os seus exércitos, tu e Arão.”
(Bamidbar/Números 1:1-3)
Era como se Eterno estivesse dizendo àquela geração: “Agora
é com vocês!” Pois seiscentos e três mil quinhentos e cinquenta homens de uma
geração, com exceção de dois (Yehoshua/Josué e Kaleb/Calebe), morreram sem
adentrar a terra prometida. Diante disso, somos chamados a uma grande
responsabilidade: Que tipo de legado deixaremos à geração seguinte?
Ninguém é insubstituível.
Seiscentos e três mil quinhentos e quarenta e oito homens
pereceram, mas seiscentos e um mil setecentos e trinta estavam vivos para dar
continuidade à história de nosso povo. O Eterno está nos ensinando que sempre
haverá alguém de sua parte levando adiante sua mensagem, mesmo que alguém
chamado por Ele venha falhar, desistir ou mesmo negar este chamado, Ele criará
meios para que sua mensagem seja divulgada e sua vontade seja feita, pois com
Yiov (Jó) pode constatar:
“Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser
impedido.”
(Yiov/Jó 42.2)
Entendemos que isto nos coloca em nosso devido lugar, pois o
protagonista da história é O Eterno! Como bem disse Sha’ul (Paulo):
“Porque dEle e por Ele, e para Ele, são todas as coisas; glória, pois,
a Ele eternamente. Amém.” (Ruhomayah/Romanos 11.36)
Em outra carta, Sha’ul (Paulo) expressa isto de outra forma,
ratificando ainda mais que nossa participação é ínfima diante da grandeza desta
obra:
“Pois, quem é Paulo, e quem é Apolo, senão ministros pelos quais
crestes, e conforme o que o Senhor deu a cada um?
Eu plantei, Apolo regou; mas O Eterno deu o crescimento.
Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas YHWH,
que dá o crescimento.” (Curintayah alef/1 Coríntios 3.5-7)
Na história israelita temos vários exemplos de que ninguém
foi insubstituível: Eli foi substituído por Sh’muel (Samuel); Sha’ul por David;
Elyiahu (Elias) por Elisha (Eliseu)...Isso deveria ser entendido por aqueles
que exercem algum tipo de liderança que a história não depende deles, mas do
Eterno. Muitos foram chamados a desempenhar algum papel no serviço ao Eterno,
mas em algum momento se envaideceram, achando-se auto-suficientes e acabaram
como Shimshon que, sem perceber foi abandonado pela Ruach Elohim (Shoftim
/Juízes 16.20) e consequentemente ficou cego.
Se não honramos nossos pais...
A contagem de cada tribo dos filhos de Israel no censo deste
capítulo 26 acaba comprovando algo que a Torah ensina de maneira bem enfática,
Pai e mãe devem ser honrados, pois do contrário não somos abençoados.
Na relação, percebemos que as tribos com menos homens (filhos) são Shimon e Levi, respectivamente com 22.200 e 23.000 indivíduos
contados. Estes dois foram justamente os filhos de Ya’akov (Israel), que
trouxeram um grande transtorno ao nosso patriarca:
“E aconteceu que, ao terceiro dia, quando estavam com a mais violenta
dor, os dois filhos de Jacó, Simeão e Levi, irmãos de Diná, tomaram cada um a
sua espada, e entraram afoitamente na cidade, e mataram todos os homens.
Mataram também ao fio da espada a Hamor, e a seu filho Siquém; e
tomaram a Diná da casa de Siquém, e saíram.” (Bereshit/Gênesis
34.25-26)
“Então disse Jacó a Simeão e a Levi: Tendes-me turbado, fazendo-me
cheirar mal entre os moradores desta terra, entre os cananeus e perizeus; tendo
eu pouco povo em número, eles ajuntar-se-ão, e serei destruído, eu e minha
casa.” (Bereshit/Gênesis 34.30)
O Tanach nos deixa entender que a quantidade de filhos é
sinal de benção, como podemos inferir do Tehilim (Salmos) 127:
“Eis que os filhos são herança do Senhor, e o fruto do ventre o seu
galardão.
Como flechas na mão de um homem poderoso, assim são os filhos da
mocidade.
Bem-aventurado o homem que enche deles a sua aljava...”
(Tehilim/Salmos 127.3-5)
E ainda:
“Bem-aventurado aquele que teme ao SENHOR e anda nos seus caminhos.
Pois comerás do trabalho das tuas mãos; feliz serás, e te irá bem.
A tua mulher será como a videira frutífera aos lados da tua casa; os
teus filhos como plantas de oliveira à roda da tua mesa.
Eis que assim será abençoado o homem que teme ao Senhor.”
(Tehilim/Salmos 128.1-4)
Seria só coincidência o fato das tribos de Levi e Shimon
terem “menos filhos”?
O Mashiach está no meio!
A relação do censo nesta sedrá traz uma curiosidade. Ao
lermos a ordem das doze tribos, percebemos que ela não obedece a ordem de
nascimento dos filhos de Israel, e isto é muito interessante, pois vemos que
Yosef (José), o décimo primeiro filho de Ya’akov (Israel), aparece na lista
como o sétimo nome e isto é muito significativo, já que nenhuma tribo recebe
propriamente o seu nome, mas o nome de seus filhos (Menashe e Efraim), pois
Ya’akov, seu pai havia reivindicado seus filhos como sendo dele:
“E aconteceu, depois destas coisas, que alguém disse a José: Eis que
teu pai está enfermo. Então tomou consigo os seus dois filhos, Manassés e
Efraim.
E alguém participou a Jacó, e disse: Eis que José teu filho vem a ti. E
esforçou-se Israel, e assentou-se sobre a cama.
E Jacó disse a José: O El Shadai me apareceu em Luz, na terra de Canaã,
e me abençoou.
E me disse: Eis que te farei frutificar e multiplicar, e tornar-te-ei
uma multidão de povos e darei esta terra à tua descendência depois de ti, em
possessão perpétua.
Agora, pois, os teus dois filhos, que te nasceram na terra do Egito,
antes que eu viesse a ti no Egito, são meus: Efraim e Manassés serão meus, como
Rúben e Simeão;”
(Bereshit/Gênesis 48.1-5)
Sabemos que Yosef é um arquétipo do Mashiach (Messias), e ao
encontrá-lo na relação justamente como o sétimo nome da lista e considerando
que o shabat é o sétimo dia, o sagrado dia de descanso. Entendemos que o Mashiach
trará descanso! Mas não é só isso, o nome de Yosef divide a relação das tribos
exatamente no meio... Seis nomes antes e seis depois! Seria isso um sinal de
que o Mashiach dividiria as opiniões em Israel e/ou dividiria a história de
Israel em antes e depois dele? De qualquer forma, considerando Yosef como
figura messiânica, percebesse que ele, o Mashiach andaria entre seus irmãos,
como um legítimo israelita.
Shabat shalom!!!
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