sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Midrash Vayishlach

Yaacov envia mensageiros a Essav

Após passar vinte anos na casa de Lavan, Yaacov voltou a Israel com suas esposas - Rachel, Lea, Bil'há e Zilpá - e seus filhos. Ele não tinha certeza se Essav o tinha perdoado neste intervalo ou se ainda o odiava.
Yaacov decidiu: "Enviarei mensageiros a Essav para descobrir o que está planejando."
"Como você pode mandar-nos a Essav?" objetaram os mensageiros de Yaacov. "Temos medo de enfrentá-lo."
"Não temam! Pedirei aos anjos que nos encontraram quando entramos em Israel para que marchem à sua frente e lhes protejam."
Yaacov enviou anjos verdadeiros a fim de tanto impressionar como aterrorizar Essav.
Não devemos estranhar que seres celestiais foram mandados por Yaacov à seu irmão Essav, pois era comum que todos os nossos patriarcas lidassem com anjos:

• Três anjos visitaram Avraham após ter feito circuncisão.
• Enquanto vagava pelo deserto, os anjos dirigiram-se à Hagar, criada de Avraham. Por que, então, deveríamos admirar-nos de que nosso patriarca Yaacov tenha enviado anjos para uma missão?
• Se Eliêzer, servo de Avraham, foi acompanhado de anjos quando viajou para a casa de Lavan, certamente Yaacov, ele próprio, foi auxiliado por anjos.
• Na próxima parashá, quando o pai de Yossef enviou-o para procurar seus irmãos, deparou-se com três anjos. Por que deveríamos, então, admirar-nos de que seu pai Yaacov tivesse anjos sob seu comando?

Yaacov deu a seus mensageiros instruções detalhadas sobre como lidar com Essav. "Sejam humildes perante Essav. Chamem-no de 'Meu mestre.' Não obstante, deixem nossa posição bem clara para ele. Digam-lhe em meu nome: 'Vivi com Lavan, mestre de todos os mágicos e trapaceiros, mas sobrepujei-o (subentendendo: "certamente irei te sobrepujar!"). Apesar de morar na casa de Lavan, cumpri todas as seiscentas e treze mitsvot, (subentendendo: "sendo assim, você não pode esperar tornar-se vitorioso"). Adiei minha partida até agora (até o nascimento de Yossef, pois ele possui o poder para te dominar.)'"
[A Torá emprega a palavra 'garti' para escrever 'morei' com Lavan. As mesmas letras de 'garti', formam também a palavra 'taryag', que significa 'seiscentos e treze'. Yaacov assim indicava a Essav: 'Apesar de ter morado com Lavan, cumpri os seiscentos e treze mandamentos Divinos.]

"Digam-lhe: 'Você me odeia por causa das bênçãos que pensa que roubei de você. Nosso pai abençoou-me para que eu tenha o orvalho do céu e a gordura da terra, porém não os recebi. Possuo gado, asnos e jumentos, que não são nem do céu, nem da terra. Por quê, então, você me odeia?'"
As palavras de Yaacov: "Possuo um boi, um jumento, servos e servas," também têm uma implicação mais profunda. "Tenho Yossef, que é comparado a um boi. Tenho Yissachar, que é equiparado a um jumento (e quem, com seu estudo da Torá, vencerá!), tenho ovelhas - o fiel povo judeu, que segue Elohim como carneiros (a quem, portanto, Essav nunca será capaz de destruir). Haverá entre meus descendentes um servo, David, e uma serva, Avigayil (esposa de David) que, com sua grande santidade, enfraquecerão a força de Essav, que baseia-se na impureza!"

Yaacov instruiu seus homens: "Expliquem claramente a Essav que se ele quiser paz, estou pronto para a paz; mas se quiser guerra, também estou preparado. Meu acampamento é forte, e rezamos para Elohim, que realiza nossos pedidos!"
Os mensageiros partiram, retornando mais tarde com notícias desalentadoras: "Você agiu de maneira fraternal em relação a Essav," relataram a Yaacov, "mas você pensa que ele se comportou como irmão? Ele ainda é o antigo perverso Essav. Está marchando em sua direção trazendo quatrocentos generais. Cada general tem sob seu comando quatrocentos soldados!"
"Isso significa luta!", pensou Yaacov. "É verdade que Elohim prometeu ajudar-me, mas talvez alguém de minha família tenha pecado. É possível que Elohim nos puna agora e não nos ajude. Talvez Elohim faça com que Essav vença porque ele sempre honrou nosso pai Yitschac."
Yaacov ficou apavorado. Não era a possibilidade de ser morto que temia, mas estava apreensivo com a idéia de ter de matar alguém na batalha.
"O que posso fazer para salvar minha família?", ponderou Yaacov.

Como Yaacov se preparou para encontrar Essav

Yaacov preparou-se de três maneiras:
1) - Rezou a Elohim:
Yaacov dirigiu-se a Elohim, dizendo: "Sei que Tua promessa de ajudar-me está condicionada ao meu mérito. Contudo, não possuo méritos, não sou merecedor de toda a verdade e bondade que me demonstrastes. Da primeira vez que atravessei o Jordão estava sozinho, mas agora me destes uma família que compreende dois acampamentos.
"Por favor, Elohim, salve-me das mãos de meu irmão Essav. Ele não age como irmão, mas como o malvado Essav. Está vindo para nos assassinar a todos."
Yaacov não apenas rezou, como também instruiu cada um dos filhos a juntarem-se a ele em prece. A prece de Yaacov foi respondida imediatamente por Elohim, embora ele tenha descoberto isso mais tarde, baseado no relato de Essav. Elohim enviou um grupo de anjos disfarçados de soldados armados para atacar as tropas de Essav e intimidá-las.
Aprendemos com Yaacov que se estamos em situação perigosa, devemos rezar para Elohim pedindo para que nos ajude.
2) - Preparou um presente:
Yaacov pensou: "Enviarei a Essav um presente custoso. Talvez isso o ponha de bom humor e seja amável comigo."
Yaacov escolheu duzentas cabras de seu rebanho, assim como numerosas ovelhas e outros animais. Ordenou aos servos que os entregassem a Essav.
Yaacov disse aos servos: "Não levem a Essav todos os animais ao mesmo tempo. Separem os rebanhos. Mostrem a ele primeiro um rebanho para que pense que recebeu todo o presente. Depois mostrem outro rebanho, e então outro. Dessa maneira o presente parecerá enorme e ele apreciará muito mais o que recebe."
3) - Aprontou-se para guerra:
Sabiamente, Yaacov vestiu todos os de sua casa com trajes brancos. Mesmo assim, ordenou a cada um que escondesse uma espada sob a capa. Ao mesmo tempo fez planos de fuga. Dividiu seu pessoal em dois acampamentos, dizendo: "Se Essav lutar contra um batalhão e vencer, neste ínterim o outro grupo terá tempo de fugir".
Disso aprendemos que numa situação de emergência devemos - além de rezar - fazer todo o possível para salvar nossas vidas.

Yaacov luta com um anjo durante a noite

Aquela noite, após sua família estar a salvo no outro lado do rio Yaboc, Yaacov voltou, cruzando o rio novamente, porque havia esquecido do outro lado alguns de seus pertences, umas vasilhas. Um tsadic valoriza a menor de suas posses, e não a deixaria ser desperdiçada, pois cada um de seus pertences foi adquirido honestamente.
De repente, foi atacado por um ser semelhante a um homem. Na realidade, era um anjo, o anjo de Essav, que Elohim havia mandado para lutar com Yaacov. Yaacov se defendeu, mas o anjo continuou tentando derrubá-lo. Os dois lutaram durante toda a noite. Quando a alvorada despontou, o anjo viu que a Shechiná (Divindade) pairava sobre Yaacov, protegendo-o e soube então que não poderia vencê-lo. Mas ele deslocou uma parte da coxa de Yaacov, que não podia mais caminhar sem mancar. Quando o sol saiu, o anjo implorou a Yaacov; "Deixe-me ir agora. Já é dia"
"Por que?", perguntou-lhe Yaacov.
O anjo explicou: "Sou um anjo de Elohim. Pela manhã tenho que estar no céu para cantar louvores a Elohim."
"Deixe que seus companheiros digam shirá em seu lugar, e você cantará amanhã, em vez deles."
"Isto não é permitido. Se você não me soltar para que eu possa cantar agora, perderei minha vez para sempre."
Yaacov respondeu: "Não o deixarei ir a menos que admita primeiro que eu tinha razão ao tomar a bênção de meu pai, pois comprei o direito da primogenitura de Essav"
"Não posso fazer isto!", replicou o anjo.
"Por que não pode abençoar-me, como os anjos que apareceram para Avraham o abençoaram? Eles só partiram depois de revelar-lhe a notícia de que teria um filho."
"Eles foram enviados com esse propósito, mas não posso fazer o que não me foi ordenado. Fazendo isso, estaria ultrapassando meus limites, e como castigo, seria expulso de minha posição no céu."
"Apesar disto, continuarei a recusar-me a dispensá-lo, a não ser que me abençoe!"
"Qual o seu nome?" perguntou-lhe o anjo.
"Yaacov."

"De agora em diante seu nome principal não mais será Yaacov, (que tem conotação de: 'aquele que tomou as bênçãos através de trapaça') mas serás chamado por um novo nome - Yisrael (Israel), significando: 'lutaste contra seres celestiais (o anjo de Essav), e contra mortais (Lavan e Essav, seus asseclas), e venceste'. És merecedor das bênçãos de seu pai!"
Yaacov perguntou então ao anjo: "Qual o seu nome?"
"Por que você está me perguntando qual o meu nome?" replicou o anjo. "Anjos não têm nome permanente. O nome muda de acordo com a missão que cumprem."
O amanhecer raiou, e o anjo começou a cantar shirá da terra, antes mesmo de voltar ao céu. Elevou a voz, louvando e enaltecendo Elohim. As hostes Celestiais ouviram-no e exclamaram: "Em honra ao tsadic foi-lhe permitido dizer shirá na terra, enquanto sua voz alcança os céus!"

A proibição de comer do Guid Hanashê, tendão da veia da coxa

Em lembrança à luta entre Yaacov e o anjo, na qual a coxa de Yaacov foi deslocada, a Torá proíbe o judeu de comer o tendão da veia da coxa.
Dois tecidos importantes são proibidos nos quartos traseiros do animal: o tendão interno - nervo ciático - que se ramifica desde a base da coluna e estende-se pelo lado interno da perna do animal, este é proibido pela lei da Torá. Os Sábios proibiram também o tendão externo - o nervo peroneal comum - que se estende pela coxa no lado externo da perna. Qualquer traço destes nervos deve ser removido, e a gordura que recobre o nervo ciático também é retirada. Além disso, mais seis nervos que assemelham-se a cordas e veias específicas também são removidas.
Abster-nos de comer essa parte ajuda-nos a lembrar como o anjo deslocou a coxa de Yaacov, mas não pôde vencê-lo.
Elohim protegeu Yaacov das mãos do anjo de Essav como um sinal de que mais tarde protegeria o povo judeu das mãos de Essav.
O anjo conseguiu apenas feri-lo na coxa. Assim também, apesar do povo judeu passar por muito sofrimento nas mãos de outras nações, nunca será totalmente erradicado. Os povos jamais conseguirão exterminar o povo judeu completamente; mas infligir-lhe-ão apenas ferimentos de natureza temporária. Estes serão curados na época de Mashiach, assim como Elohim curou Yaacov.

Como Yaacov foi curado

Yaacov foi curado da seguinte maneira:
Neste dia o sol nasceu duas horas antes do tempo, compensando assim as duas horas que perdera pondo-se cedo quando Yaacov deixou Charan (conforme relata a parashá anterior, Vayetsê).
Quando o sol se levantou, Elohim intensificou a luz, revelando a Yaacov aquela resplandescente luz especial que Ele criou no primeiro dia da Criação, e posteriormente escondeu-a ocultou-a do mundo (para preservá-la para os tsadikim, no futuro). Ele agora irradiava estes fortes raios sobre Yaacov, para curá-lo da claudicação.
No futuro, Elohim curará todos os coxos e cegos com estes mesmos raios.

O significado da luta entre Yaacov e Essav

Por que Elohim enviou o anjo de Essav para lutar contra Yaacov?
A batalha entre Yaacov e Essav era sinal de uma luta que estava sendo travada no céu naquela mesma hora.
O anjo de Essav afirmou perante Elohim: "Essav tem maiores méritos que Yaacov! Essav honrava seu pai mais que qualquer outro jamais fez. Além disso, Essav tem o mérito especial de viver em Israel, ao passo que Yaacov estava na casa de Lavan, fora de Israel." O anjo concluiu seu argumento da seguinte maneira: "Portanto, Essav e seus filhos merecem governar Yaacov e seus filhos!"
O anjo de Yaacov por sua vez argumentou: "Yaacov é um justo (tsadic) e Essav não o é. Então Yaacov e seus descendentes é que merecem prevalecer sobre Essav e seus descendentes!"
Quando o anjo de Essav lutou com Yaacov na terra, demonstrou que ao mesmo tempo havia uma discussão no céu: quem prevaleceria sobre quem?
O anjo de Essav perdeu a batalha no céu; conseqüentemente, perdeu também a batalha na terra. Elohim anunciou: "Embora os descendentes de Essav sejam às vezes mais fortes que os de Yaacov, no final - no tempo de Mashiach - Yaacov prevalecerá sobre Essav."

Yaacov e Essav se encontram

Pela manhã Yaacov viu Essav aproximar-se, com seu exército. Yaacov posicionou-se à frente do seu acampamento. Pensou: "Se o perverso Essav quer atacar, que lute comigo primeiro!"
Yaacov inclinou-se sete vezes perante Essav. Quando Essav viu isto, correu, abraçou-o e beijou-o.

O Midrash explica: O beijo de Essav

O que Essav tinha em mente ao beijar Yaacov?
Nossos Sábios têm opiniões diferentes sobre isso:
Rabi Shimon ben Yochai explicou: "Quando Essav viu Yaacov curvando-se humildemente à sua frente, sentiu pena do irmão. Beijou-o com todo seu coração e sua alma."
Rabi Yanai explicou de outro modo: Na Torá, a palavra 'vayishakêhu' (e ele o beijou) possui pequenos pontinhos sobre cada letra. A Torá nos sugere que Essav, na verdade, planejava morder Yaacov! Pensou que pegaria Yaacov desprevenido porque estaria esperando um beijo do irmão. Essav planejou rapidamente cravar os dentes no pescoço de Yaacov e morder o irmão tão profundamente que este morreria!
Por que Essav planejou matar o irmão com uma mordida?
Ele queria evitar uma batalha, pois sabia que Yaacov tinha um grande número de homens que o apoiavam. Além disso, os generais de Essav o desertaram quando viram a sagrada face de Yaacov. Essav, portanto, preferiu assassinar Yaacov enganando-o com um truque. Mas Elohim fez um milagre para Yaacov. Seu pescoço tornou-se duro como mármore! E os dentes de Essav encontraram grande dificuldade para atingir seu alvo.
Este episódio é novamente um sinal para o futuro. Assim como a tentativa de Essav de matar Yaacov falhou, assim Elohim protegerá seus filhos da fúria das nações.

Yaacov e Essav fazem as pazes

Essav viu as esposas e filhos de Yaacov. "Quem são tais pessoas?" - perguntou.
"São os filhos que Elohim me concedeu", respondeu Yaacov.
As esposas e filhos de Yaacov aproximaram-se para curvarem-se perante Essav. Essav observou-os, mas não percebeu Rachel entre eles. Yossef colocou-se na frente de sua mãe, ocultando-a das vistas de Essav. "Quem sabe o que este perverso Essav tem em mente," pensou. "Não o deixarei olhar para Rachel, nem é bom que minha mãe olhe para este homem malvado, pois o choque poderia ocasionar-lhe um aborto." Rachel estava então grávida de Binyamin.
Ao perceber os servos e gado de Yaacov, Essav disse: "Pensei que você só estivesse interessado no Mundo Vindouro. Como você conseguiu amealhar tanta riqueza neste mundo?"
"Elohim concedeu-me tudo isto para ser utilizado em Seu serviço."
"E de quem era aquele acampamento que encontrei?" perguntou Essav a Yaacov.
"Não te disseram? São meus homens!" retrucou Yaacov.
"Dizer-me? Em vez disso, me bateram! Um batalhão após o outro veio a mim, alguns montados à cavalo, outros de armadura. Perguntaram-me : 'Quem é você?' 'Essav,' repliquei. Ao ouvir isto, começaram a me bater, e gritei: 'Deixem-me em paz! Sou o neto de Avraham!' Ignoraram minhas súplicas e continuaram a me chicotear. 'Sou o filho de Yitschac!' Não me deram atenção, mas desferiram golpes sem dó. 'Sou o irmão de Yaacov. Ele retornou após vinte anos de ausência, e quero ir ao seu encontro!' Assim que mencionei seu nome, pararam de me bater, dizendo: 'Você é o irmão de nosso amigo Yaacov. Por causa dele deixaremos você ir!'. Um segundo e terceiro grupo armado marchou em minha direção, para me bater, e só me soltaram quando mencionei seu nome. Recebi um número suficiente de pancadas!"
Yaacov compreendeu que Elohim havia enviado exércitos de anjos para amedrontar Essav.
Essav quis saber: "De quem são todos esses rebanhos vindo em minha direção?" "São um presente para você," respondeu Yaacov.
"Tenho muito. Guarde o que quer que seja teu!"
Com estas palavras Essav admitiu que Yaacov pode ficar com as bênçãos de Yitschac legitimamente.
"Por favor, fique com meu presente," insistiu Yaacov. "Considero meu encontro com você tão grandioso quanto meu encontro com o anjo que derrotei. Aceite meu agrado, pois Elohim foi gracioso comigo e tenho tudo."
Finalmente, Essav aceitou o presente de Yaacov.
(Ao descrever suas posses Yaacov diz: "Tenho tudo", ou seja, tudo que necessito. Isto é a característica de um tsadic. Não importa o quão muito ou pouco possui, sempre está satisfeito, pois sente que o que quer que tenha é tudo o que necessita. Porém perversos como Essav, falam de maneira arrogante: "Tenho muito", enfatizando a abundância de seus bens e proclamando que acumularam muito, mas nunca o suficiente, pois são constantemente consumidos pela ganância.)
Essav sugeriu a Yaacov: "Continuemos nossa viagem juntos!"
Yaacov pensou: "É melhor não viajar na companhia de um rashá (perverso)."
"Não," respondeu Yaacov. "Estou viajando com crianças pequenas e rebanhos de animais jovens. Tenho que ser delicado com eles, e movemo-nos a passos muito lentos. É melhor que você vá na frente para Seir, e eu chegarei lá depois, em algum momento!"
Essav concordou e se separaram em paz.
Yaacov nunca viajou a Seir para encontrar-se com Essav. Em vez disso, porém, ficou na cidade de Sucot. Não obstante, nosso patriarca Yaacov não mentiu. Ele indicou a Essav que encontrar-se-iam no Monte Seir em alguma data futura, na época de Mashiach, quando Essav lá será julgado por sua iniqüidade.
Após o encontro com Yaacov, Essav voltou para a terra de Seir sozinho, sem seus quatrocentos generais. Desertaram-no um a um, pois assim que ficaram face a face com Yaacov e contemplaram sua grandeza, foram tomados de medo.
Foi realmente um milagre que Essav tenha voltado para casa sem ter prejudicado Yaacov.

O sequestro de Dina

Yaacov e sua família estabeleceram-se nas cercanias da cidade de Shechem (Nablus).
Imediatamente, ao chegar em Israel, após uma ausência de vinte e um anos, Yaacov adquiriu uma gleba de terra, simbolizando assim que não era mais um transeunte, mas morador, residente na terra que Elohim prometera a seus descendentes. Yaacov queria estabelecer o direito inalienável à terra através da aquisição. (Este é um dos três locais que a Torá assegura a propriedade do povo judeu. Como nos relata a parashá, Yaacov comprou-o com moeda inconteste. Os outros dois locais são a Gruta de Machpelá em Hebron, comprada por Avraham, e o local do Templo Sagrado em Jerusalém, adquirido pelo rei David.)
Um dia, a filha de Yaacov, Dina, ouviu o som de músicos e tambores do lado de fora da sua tenda.
"Quem será que está tocando?", pensou. Dina esgueirou-se sozinha para fora da tenda para assistir ao espetáculo.
Mas enquanto ela assistia, alguém mais a estava vigiando. Era Shechem, um príncipe de Chivi (uma tribo de Canaã). Quando viu Dina, gostou dela. Decidiu raptar Dina e levá-la para seu palácio. Ela seria exatamente a mulher que ele queria!
Tentou a persuadi-la a ficar em sua casa, com palavras convincentes. "Seu pai foi obrigado a gastar uma enorme quantia em dinheiro para adquirir uma propriedade em Shechem," disse-lhe. "Sou o governador desta cidade. Se você ficar comigo, dar-te-ei a cidade inteira, com seus campos e vinhedos!"
Quando Yaacov e os filhos voltaram dos campos, Dina havia desaparecido. Logo ouviram que Shechem a havia levado e ficaram perturbados e muito enraivecidos.
Imediatamente, Yaacov enviou dois servos para resgatar Dina da casa de Shechem; porém estes foram expulsos.
Shechem, que arrependeu-se de ter pego Dina ilicitamente, pediu a seu pai que contactasse Yaacov e lhe pedisse para dar-lhe Dina como sua legítima esposa.
Chamor, pai de Shechem, procurou Yaacov e seus filhos e lhes disse: "Meu filho Shechem deseja muito Dina para esposa. Daremos a vocês todo o dote que desejarem. Por favor, aceite! Por que não podemos nos tornar uma grande família? Nossos jovens casar-se-ão com suas filhas e vocês com as nossas."
Dentre os filhos de Yaacov, Shimon e Levi eram os mais abalados pelo maldoso feito de Shechem: além de ter raptado Dina, também a violara e a fizera sofrer. Exclamaram: "Este ato abjeto é proibido até de acordo com suas leis! Em vez de falarem por aí: 'Uma moça judia sofreu abuso,' melhor que digam: 'Idólatras foram mortos porque pegaram a filha de Yaacov, uma moça judia."
Decidiram punir não só o raptor Shechem, mas todo o povo da cidade que não havia protestado pelo sequestro.
(Shimon e Levi agiram de acordo com a lei ao planejarem matar os habitantes de Shechem, porque todo o povo de Shechem merecia pena capital, de acordo com as Sete Leis de Nôach, leis universais aceitas por toda a humanidade. O próprio Shechem era passível de pena capital, por ter raptado Dina, e transgredira a proibição de "Não roubarás". Seus concidadãos também eram culpados, uma vez que sabiam de seu ato, mas não o levaram à justiça. Violaram, portanto, mais uma das Sete Leis de Nôach, a obrigação de administrar a justiça. Mereciam morrer, por terem falhado em aplicar a punição apropriada a Shechem).
Sem consultar seu pai, Shimon e Levi, que àquela época tinham treze anos de idade, decidiram: "Amanhã não haverá mais vestígios da cidade de Shechem!"
Shimon e Levi responderam ao pai de Shechem. "Sabe que nós, judeus, temos circuncisão. Não podemos permitir que desposem nossas filhas, a menos que todos os homens da cidade concordem em submeter-se a um berit milá."
Eles não tinham intenção de aceitar a proposta de Shechem e Chamor. Por isso, a Torá nos diz que responderam a Chamor com astúcia e inteligência. Escolheram a circuncisão como meio de incapacitar os habitantes de Shechem, a fim de infligir dano ao órgão que Shechem usou para agredir Dina.
O pai de Shechem voltou à sua cidade e persuadiu o povo. "Façamos a circuncisão, então tomaremos as filhas de Yaacov para nós e poderemos dar nossas filhas a eles."
O povo de Shechem aceitou ser circuncidado, porque pensou: "A família de Yaacov é rica. Se nos casarmos com suas filhas, teremos acesso a seu dinheiro."
No terceiro dia após os homens de Shechem terem feito berit milá, sentiram-se fracos e doentes. Shimon e Levi cingiram as espadas e entraram na cidade. Mataram Shechem e seu pai, assim como todos os homens da cidade. Em seguida, trouxeram sua irmã Dina de volta para casa.
Quando Yaacov ficou sabendo o que Shimon e Levi haviam feito, assustou-se bastante. "Não agiram com prudência!", repreendeu-os. "Agora todo o povo de Canaã nos atacará em vingança! O vinho no barril estava claro como o cristal, mas vocês o turvaram! Apesar dos canaanitas saberem que um dia conquistaremos sua terra, acharam que a conquista só se tornaria realidade num futuro distante. Por isso, estavam quietos, e não nos causavam mal. Mas agora que vocês os atacaram, pensam que começamos a tomar posse da terra. Portanto, irão empreender todos os esforços para nos destruir!"
Shimon e Levi argumentaram que agiram como agiram a fim de proteger suas esposas e filhas. "Tínhamos que atacá-los," declararam, "a fim de mostra-lhes que nossas moças não estão disponíveis para serem tomadas. Fizemos isso para impedir a reincidência de ocorrências similares no futuro!"
Elohim ajudou Yaacov e sua família. Quando os canaanitas atacaram a família de Yaacov, Elohim os protegeu. Os canaanitas perderam todas as batalhas contra a família de Yaacov. Desde então, tinham medo de lutar contra Yaacov ou seus filhos.
Não obstante, Yaacov era da opinião que Shimon e Levi colocaram em perigo a família inteira, e portanto, no final de sua vida amaldiçoou a raiva que os levou a atacar a cidade de Shechem.

Asnat filha de Dina

Dina, a filha de Yaacov, deu à luz a uma filha a quem deu o nome de Asnat, derivado da palavra 'asson', infortúnio. "É meu infortúnio", lamentou ela, "ter tido uma filha de Shechem, filho de Chamor, que me tomou à força."
Os filhos de Yaacov não suportavam ver Asnat, que os lembrava do desagradável episódio. Yaacov percebeu este sentimento e ficou preocupado. Pegou uma corrente de ouro, escreveu a palavra 'kedoshá' num amuleto e pendurou-o no pescoço dela. Então a mandou embora, para um lugar onde teria uma vida melhor.
"Mas aonde eu irei?", perguntou Asnat. "O que farei? Ainda sou jovem." Yaacov tranqüilizou-a, dizendo: "Elohim a protegerá aonde quer que você vá."
Asnat deixou a casa de Yaacov. O anjo Gavriel a acompanhou e conduziu-a ao Egito, onde ela conheceu a esposa de Potifar, que não tinha filhos e de bom grado adotou a menina. Muito tempo depois, esta mesma Asnat se casaria com seu tio Yossef.

Um ensinamento chassídico importante nesta parashá

Ao relatar a reação de medo dos canaanitas em relação à família de Yaacov, a Torá diz o seguinte:
"E o temor ('chitat') de Elohim estava nas cidades, e eles não perseguiram os filhos de Yaacov."
Neste versículo é usado uma palavra pouco comum para descrever 'temor' = 'chitat', ao invés da palavra mais conhecida 'yir'at'.
O que há por trás dessa palavra?
A palavra 'Chitat', temor é também um acrônimo para Chumash, Tehilim e Tanya.
O Rebe Anterior de Chabad, Rabi Yossef Yitschac Schneersohn, exortou todo judeu para que a cada dia da semana, estudasse:
• a porção do Chumash (com as explicações do comentarista Rashi) da parashá semanal correspondente ao dia da semana (por exemplo, no domingo, o trecho da parashá a ser estudado é do 'primeiro a ser chamado' até 'o segundo a ser chamado'),
• uma porção do Tehilim segundo o dia do mês (o Tehilim está dividido para os 30 dias do mês hebraico),
• uma porção do Tanya, (o Tanya está dividido para cada dia do ano).
Este estudo, revelou o Rebe é uma grande fonte de bênção para tudo, tanto material como espiritualmente.
Em 1843, o terceiro Lubavitcher Rebe enviou seu filho Rabi Shmuel a S. Petersburgo para discutir alguns assuntos comunitários. Antes da partida, disse-lhe que sua mãe já falecida, Devora Lea, lhe aparecera, dizendo, que havia visitado a morada do sagrado Báal Shem Tov no céu. Ela buscava sua bênção para aliviar as dificuldades que o filho teria com os adversários do chassidismo. O Báal Shem Tov disse a ela que ao estudar os sagrados livros Chumash, Tehilim e Tanya, todas as dificuldades e obstáculos seriam anuladas.
O versículo acima refere-se a justamente a isso: quando a pessoa estuda diariamente Chumash, Tehilim e Tanya, 'Chitat', então - ninguém perseguirá os filhos de Yaacov para fazer-lhes qualquer mal, tanto material como espiritualmente.

Yaacov oferece sacrifícios na cidade de Bet E-l

Elohim apareceu a Yaacov e lembrou-o: "Antes de viajar para a casa de Lavan, você prometeu que me daria um décimo de todos seus ganhos. Você ainda não cumpriu a promessa. Vá imediatamente a Bet E-l para construir um altar e oferecer os sacrifícios que Me prometeu!"
Antes da viagem, Yaacov perguntou à sua família: "Algum de vocês têm ídolos? Talvez vocês tenham retidos alguns quando Shimon e Levi lhes deram os despojos de Shechem. Todos os ídolos devem ser enterrados na terra; dêem-nos para mim. Precisamos também trocar de roupa para ficarmos em estado de pureza ao oferecer os sacrifícios para Elohim em Bet E-l"
Ao chegar lá, Yaacov construiu um altar e queimou sobre ele as oferendas como havia prometido.

O falecimento de Rivca e o consolo de Elohim a Yaacov

Em Bet E-l um membro idoso da casa de Yaacov faleceu; era a babá de sua mãe Rivca, que se chamava Devora. Yaacov a enterrou sob uma grande árvore em Bet E-l.
Logo chegaram a Yaacov mais notícias tristes: sua própria mãe, Rivca, havia falecido! Yaacov não a via desde que saíra de casa para ir à casa de Lavan. Haviam já se passado 34 anos.
Antes de morrer, Rivka ordenou que deveria ser enterrada à noite, em segredo. Raciocinou: "Quem irá acompanhar meu caixão após minha morte? O tsadic Yaacov não está aqui. Meu marido Yitschac é cego e não consegue sair de casa. Assim, só resta Essav para me acompanhar. Por que deveriam as pessoas amaldiçoarem-me por ter dado à luz a Essav? Melhor que seja enterrada em segredo!"
Enquanto Yaacov estava de luto pela sua mãe, D'us apareceu-lhe para consolá-lo e abençoá-lo com a bênção dos enlutados.
Elohim anunciou-lhe: "Seu nome não mais será Yaacov, mas Yisrael, o príncipe e governante. Frutifique-se e multiplique-se! Uma nação e assembléia de nações nascerão de você, e reis serão seus descendentes! A terra que dei a Avraham e Yitschac pertencerá a você e a seus descendentes!"
As palavras de Elohim, "uma nação" nascerá de Yaacov, referem-se a Binyamin, que ainda não nascera. A profecia de Elohim, que uma "assembléia de nações" nascerá de Yaacov, alude aos filhos de Yossef, netos de Yaacov, Efrayim e Menashe, que serão elevados ao status de tribos, como seus próprios filhos.

Rachel morre ao dar à luz a Binyamin

Yaacov e sua família continuaram viajando em direção a Hebron, onde morava Yitschac, seu pai. No caminho Rachel deu a luz à um segundo filho, Binyamin.
Inicialmente, Rachel o chamou 'Ben Oni', que significa 'filho de minha dor', pois sentira que estava para morrer. Mas Yaacov trocou o nome do bebê para 'Binyamin', que significa 'filho da direita'. Queria dizer com isso: "este filho apoiará minha mão direita na minha velhice."
Rachel faleceu durante o parto. Yaacov enterrou Rachel perto de Bet Lêchem (Belém), no local onde ela falecera. Sobre seu túmulo ele ergueu um monumento memorial, para o qual cada filho trouxe uma pedra. Yaacov colocou as pedras uma em cima da outra, formando um pilar, colocando a sua pedra no topo.
Por que Yaacov não levou Rachel à Gruta de Machpelá para enterrá-la junto com as outras matriarcas?
Antes de falecer Yaacov explicou a seu filho Yossef a razão de sua conduta (porque Yossef indicou ao pai que objetava enterrar Rachel ao lado da estrada), dizendo: "Juro-lhe que exatamente tanto quanto você quer que sua mãe descanse na Gruta da Machpelá, assim desejo que ela seja enterrada lá!"
"Ordene isto agora," apressou-o Yossef, "e eu ainda a transferirei e a enterrarei na Gruta de Machpelá!"
"Você não pode fazer isto, meu filho," respondeu Yaacov, "porque enterrei-a no cruzamento de estradas de Bet Lechem, de acordo com a ordem Divina. No futuro, quando os filhos de Rachel forem exilados por Nevuchadnetsar, no caminho à Babilônia, passarão pelo túmulo de Rachel. Ela suplicará a Elohim por misericórdia para seus filhos, e Elohim escutará sua prece".
As palavras de Yaacov cumpriram-se quando o povo judeu foi exilado após a destruição do primeiro Templo Sagrado.
Rachel levantou-se perante Elohim e rezou: "Mestre do Universo, sabes muito bem o quanto Seu servo Yaacov me amou, e serviu meu pai por sete anos por mim. Ao final dos sete anos, quando chegou o momento do casamento, meu pai decidiu dar-lhe minha irmã em meu lugar. Eu sabia, e encontrei-me numa situação bastante difícil. Enviei uma mensagem a meu futuro marido, e ele me revelou certos sinais através dos quais ele poderia distinguir-me de minha irmã. Então o plano de meu pai teria falhado. Mais tarde, porém, mudei de idéia, porque tive pena de minha irmã, que seria exposta à vergonha pública. Quando minha irmã estava vestida para o casamento, revelei-lhe os sinais secretos que havia combinado com Yaacov, e até me escondi no quarto do casal, e respondi às questões de Yaacov, para que ele não descobrisse o engodo através de sua voz."
"Sou apenas humana, mas não tive ciúmes dela, nem a expus à desgraça. O Senhor é o Elohim Eternamente Vivo, por que deveria ter ciúmes de ídolos insignificantes, e permitir que, em conseqüência, Seus filhos sejam exilados, mortos a fio de espada, e sofram abusos dos inimigos?"
A prece de Rachel evocou a misericórdia de Elohim, e Ele respondeu-lhe (Yirmiyáhu 31:15-16), "Abstenha tua voz de chorar, e teus olhos de lágrimas, pois teus bons atos serão recompensados, diz Elohim, e eles [teus filhos] retornarão novamente da terra do inimigo!"
Hoje em dia, mais de 3500 anos após o falecimento de Rachel, conhecemos a localização do túmulo de Rachel. Muitos judeus vão lá para rezar. Elohim ouve suas preces em mérito da matriarca Rachel, a grande tsadêket.

O pecado de Reuven no incidente de Bil'há, e sua teshuvá

Durante sua vida Rachel foi a principal esposa de Yaacov. Após sua morte, Yaacov transferiu seu leito para a tenda de Bil'ha, indicando que agora Bil'ha tomaria o lugar de Rachel.
Reuven, que estava preocupado com a honra de sua mãe Lea, argumentou: "Enquanto estava viva, Rachel era rival de minha mãe. Será que agora a criada de Rachel também se tornará rival de minha mãe?"
Yaacov havia se mudado para a tenda de Bil'ha, a fim de honrar a memória de Rachel, pois ele trabalhara quatorze anos para ter o direito de casar-se com ela, e ela era o esteio do seu lar. Como tributo a Rachel, honrou sua fiel criada; pois mesmo depois que Bil'ha casou-se com Yaacov, continuou a servir Rachel fielmente.
Yaacov também pode ter feito isto porque Bil'ha estava educando Yossef, que tinha oito anos de idade e o pequeno Binyamin. Estes não eram apenas seus caçulas, mas a lembrança de sua esposa mais amada.
Para impedir Yaacov de entrar na tenda de Bil'ha, e indicar que Yaacov deveria ficar com sua mãe Lea, Reuven deitou-se na cama do pai e fingiu que dormia.
Yaacov arrumara um divã especial para a Shechiná (Divindade) nas tendas de cada uma de suas esposas. Ele costumava ir para a tenda na qual percebia a presença da Shechiná. Assim, a conduta de Reuven desrespeitou não apenas a honra de seu pai, mas também a honra Divina.
A Torá afirma: "Reuven foi e deitou-se com Bil'ha." Isto não quer dizer que ele cometera o pecado de adultério, mas refere-se ao fato dele ter desarrumado o leito de seu pai. A Torá considera a interferência nos assuntos maritais de seu pai um pecado tão grave como se tivesse realmente se deitado com ela.
O Talmud (Shabat 55b) explica: "Aquele que alega que Reuven pecou incorre em erro." Os motivos de Reuven eram nobres: defender a honra de sua mãe.
Contudo, Reuven perdeu o direito de primogenitura em decorrência de seu erro. A dupla porção devida ao primogênito foi concedida a Yossef.
Pelo resto da vida Reuven não parou de repreender-se pelo erro que cometera. Jejuou e fez teshuvá continuamente. O arrependimento sincero de Reuven serve de exemplo a todos os baalê teshuvá depois dele.

Yitschac falece

Finalmente Yaacov e toda sua família voltaram para Hebron, onde vivia seu pai Yitschac.
Yitschac estava transbordando de felicidade ao receber seu filho Yaacov, o tsadic, acompanhado de suas justas esposas, e doze filhos maravilhosos, depois de trinta e seis anos separados!
Encontrou em Yaacov o cumprimento da bênção da Torá (Tehilim 128:6): "E verás os filhos de seus filhos, paz sobre Israel." (Neste contexto, "Israel" refere-se ao nosso patriarca Yaacov, chamado de Yisrael.)
Yitschac viveu vinte e um anos mais e chegou a ver todos os netos crescerem como tsadikim, justos. Faleceu quando já era um ancião, aos 180 anos.
Yitschac deixou suas posses para ambos os filhos, por isso Essav também apareceu para prestar as últimas honras a seu pai.
A família carregou Yitschac para a Gruta de Machpelá, enlutando-se e andando descalços. Todos os reis de Canaã acompanharam o caixão.
Essav disse a Yaacov: "Vamos dividir a herança de nosso pai em duas partes. Cada um de nós pegará metade. Como sou o mais velho, escolherei qual a minha porção."
Yaacov fez a divisão, repartindo os bens de Yitschac da seguinte maneira: Juntou em uma pilha a fortuna inteira que pertencera a Yitschac - escravos, gado, ouro e prata - e disse a Essav: "As posses de nosso pai passarão a um de nós. O outro filho herdará o título da Terra de Israel e a Gruta de Machpelá. Escolha qual das duas porções você quer!"
Essav foi pedir a opinião de Nevayot filho de Yishmael, acerca de qual herança escolher. Nevayot aconselhou-o: "Atualmente os canaanitas estão na terra, e não há meios de saber o que o futuro trará. A riqueza material, por outro lado, lhe será de utilidade imediata!" Essav deu ouvidos a Nevayot e decidiu ficar com a fortuna de Yitschac, em vez de Canaã.
Yaacov e Essav escreveram um contrato que estipulava:
"A terra de Canaã, incluindo a Gruta de Machpelá, foi adquirida por Yaacov e seus filhos para sempre."
Essav então pegou suas esposas e pessoas de seu lar, deixou Canaã e estabeleceu-se no monte de Seir.

Os descendentes de Essav

O final da parashá nos relata quem foram os filhos e netos de Essav. Viveram na terra de Seir e Edom. Muitos tornaram-se príncipes e regentes e conquistaram novas terras.
A bênção de Yitschac para Essav de que ele seria vitorioso na guerra, tornou-se realidade.
Por que Elohim fez os descendentes de Essav serem reis e regentes?
Uma das razões é que Elohim não quis que os filhos de Essav reclamassem mais tarde: "Não é justo! O povo judeu teve grandes tsadikim porque foi orientado por grandes líderes e reis. Se nós, filhos de Essav, tivéssemos reis e regentes, também seríamos uma nação justa e Elohim nos teria nos escolhido como Seu Povo."
Assim, a Torá nos conta que houve poderosos reis liderando os filhos de Essav em Seir e Edom. Mesmo assim, os líderes e o povo, foram tão perversos que Elohim não os escolheu para se tornarem Seu Povo. Em vez disso, optou pelo justo Yaacov e seus doze filhos, pois cada um deles era um tsadic.

Por que a Torá traz uma relação dos descendentes de Essav?

A resposta é explicada através de uma parábola:
Um príncipe deixou cair uma preciosa pérola na areia. Convocou-se uma busca para recuperá-la. Seus escravos não deixaram uma pedrinha sequer sem ter sido revirada, na esperança de descobrir a jóia desaparecida. Porém, assim que a jóia foi encontrada, descartaram toda a areia e pedras restantes como sem valor, não dando mais nem uma olhadela para a areia. Concentravam-se agora apenas na pérola, embrulhando-a cuidadosamente para presenteá-la ao príncipe.
Assim também é no princípio da história da humanidade. A Torá enumera a genealogia de todas as gerações, listando seus nomes sem, contudo, dar detalhe algum:

• Dez gerações de Adam até Nôach.
• Dez gerações de Nôach até Avraham.

Assim que chegamos à época de Avraham, contudo, a Torá o descreve extensamente, pois Avraham é a gema pela qual a areia foi peneirada. Por isso o livro de Bereshit estende-se detalhadamente sobre as histórias de Avraham, Yitschac e Yaacov, que constituem o propósito para o qual o mundo foi criado.
Sob essa mesma óptica, a Torá lista brevemente os descendentes de Essav sem entrar em detalhes, para demonstrar o desgosto de Elohim com eles. A Torá continua então a descrição completa e minuciosa das vidas dos filhos de Yaacov, na próxima parashá, para demonstrar que eles são o propósito da Criação.



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