quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O Julgamento do Novo Testamento


Por Yochanan ben Avraham

Introdução.
Quando se trata de julgamento, todos querem saber qual o veredicto. Porém, para a frustração daqueles que iniciam esta leitura, não estamos aqui para “bater o martelo”, mas levantar algumas questões para que se conste nos “autos” deste julgamento.
Também não pretendemos fazer as vezes de advogado tanto de defesa quanto de acusação, a imparcialidade deste autor (imparcialidade esta que certamente pode “irritar” os mais afoitos) nada mais é do que um cuidado para não incorrer em um fundamentalismo que está mais do que provado ser extremamente nocivo para o estabelecimento de diálogos que proporcionem o conhecimento mútuo de seus participantes e a melhoria nas relações humanas.

O Réu.
“Sentado no banco dos réus”, temos o Novo Testamento. Obra literária que norteia (ou norteou) a conduta de milhares de pessoas mundo afora, cujos princípios ensinados são atribuídos a Yeshua ben Yosef (Conhecido como Jesus) e seus discípulos, todos eles judeus que viveram por volta do primeiro Século. Embora os supostos autores tenham vivido no referido período, o Novo Testamento foi organizado e oficializado em meados do Século V, ou seja, muito tempo depois do que foi vivido pelos seus autores.

A Acusação.
Devido à distância entre o tempo da autoria dos livros que compõe o Novo Testamento e sua oficialização como parte integrante das escrituras sagradas, muitas suspeitas se levantam e algumas evidências são constatadas de modo que o Novo Testamento é acusado de:
Ser uma fraude, obra espúria e mentirosa que contradiz a Torah (Lei) do Eterno e que, por isso, deve ser descartada no “lixo”.

Algumas perguntas.
Seria mesmo essa (jogar no lixo) a melhor maneira de lidarmos com estas descobertas? É assim mesmo que devemos agir? Como Lutero e os inquisidores do tribunal de Cristo queimando os sidurim (manual litúrgico judeu) e outras obras literárias judaicas? Não estaríamos nos assemelhando aos algozes de nosso povo?
Bem, como podemos ver a questão não é tão simples, é preciso separar as coisas. Primeiramente precisamos saber se o que queremos afirmar é: o Novo Testamento pode ser considerado escritura sagrada ou se é uma obra desprovida de valores éticos e morais, de rica documentação que revela o pensamento e os costumes de um povo em relação à Torah em determinada época?  
Portanto, são coisas completamente distintas que devem ser consideradas.

A Alegação do Réu.
Sobre a acusação de contradizer a Lei (Torah) do Eterno, o réu afirma:

* “A Lei é santa e o mandamento santo, justo e bom.” (Rom.7.12)

* “Não cuideis que vim destruir a Lei. Não vim destruir, mas cumprir... Até que o céu e a terra passem, nem um traço ou yod (menor letra do alfabeto hebreu) se omitirá da Lei.” (Mat. 5.17)

* “Porque este é o amor de Elohim: que guardemos os seus mandamentos e os seus mandamentos não são pesados” (1 Jo. 5.3)

* “Anulamos a Lei pela Fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a Lei.” (Rom. 3.31)

Muitas outras afirmações são feitas, mas estas são suficientes para demonstrar a intenção do “acusado”.

Sobre a acusação de ser uma fraude por causa de problemas de autoria e datação, a história afirma que no Velho Testamento também encontramos problemas para se definir autores e datas e nem por isso seu valor é questionado, pois livros como Yeshayahu (Isaías) pode ter tido até três autores; Z’charyah (Zacarias) teria dois autores; a dúvidas quanto ao final do último livro da Torah (D’varim/ Deuteronômio), pois como Moshe (Moisés) poderia escrever se ele já teria morrido? Enfim, se buscamos um julgamento justo, não podemos ter dois pesos e duas medidas, pois isso é abominação perante o Eterno:

“Dois pesos diferentes e duas espécies de medida são abominação ao SENHOR, tanto um como outro.” (Mishlei/Provérbios) 20.10

Uma testemunha corajosa.
Sugerimos que antes de qualquer coisa, examinemos os conteúdos, pois podemos perder uma grande oportunidade de aprendermos como viver a Torah em alguma situação inusitada que possamos nos encontrar, pois como escreveu o célebre rabino Isaac Liechtenstein ao seu filho:

“De cada linha do “Novo Testamento”, de cada palavra, o espírito judaico fluía luz, poder, resistência, fé, esperança, amor, caridade, sem limites e indestrutível fé em Elohim.”

O interessante é que alguns anos antes, este rabino tomou o Novo Testamento das mãos de um professor judeu de uma escola comunitária no norte da Hungria, e num acesso de raiva lançou pela sala.

Finalmente
Sabemos que o manual para a vida é a Torah, e que os demais livros da bíblia se baseiam nela para desenvolver suas mensagens, descartá-los por causa de problemas de autorias suspeitas e supostas contradições de um ou outro texto, a meu ver é um grande desperdício. Contudo, aguardaremos o veredicto que O Eterno a seu tempo dará.



segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A ansiosa expectativa pelo... Caos?


Por Yochanan ben Avraham

Introdução

Não, não há um equívoco no titulo deste texto. Por mais estranho que possa parecer, é uma proposta para reflexão que, embora possa contrariar alguns dogmas, achamos que ela pode ser útil àqueles que, por alguma razão, se consideram “perdidos” e procuram encontrar um início, o “fio da meada”, para retomarem suas caminhadas.
Alguém poderá perguntar: “Por que desejar o Caos?” Reconhecemos que, devido à conotação negativa da palavra, a primeira impressão é de que tal desejo é algo doentio, pois quem, em sã consciência, desejaria algo assim? Porém quando examinamos o conceito do termo Caos, entendemos que existe uma linha de raciocínio positiva, esperançosa e confiante no domínio e soberania do Eterno Criador atrelada a este conceito. Logo, não haveria razão para o desespero e atitudes precipitadas em relação aos outros, aos lugares, as coisas e a si mesmo.

O conceito de “Caos”

Não é possível dizer tudo o que envolve a conceituação de Caos para uma análise mais pormenorizada do assunto, os debates sobre como melhor definir o termo ocuparia muitas linhas (ou mesmo páginas!), além da interdisciplinaridade exigida que nos levaria a investir um tempo muito maior para a pesquisa. Mesmo assim, tentaremos com poucas palavras apresentar uma conceituação simples para podermos desenvolver nosso raciocínio.
A palavra Caos (do grego Χάος, transl. khaos), embora de origem grega, tem um conceito antiguíssimo, podendo ser identificado em literaturas de outras civilizações anteriores, portanto, o conceito é mais antigo que a palavra.
Caos geralmente está associado a um estado de desordem, indefinição ou mesmo confusão, embora alguns acadêmicos questionem esta definição. De qualquer forma, o Caos sempre foi visto pelas antigas civilizações como uma espécie de ponto de partida para a criação, um cenário propício para a ação criativa “das divindades”. As similaridades entre sumérios, egípcios, hebreus e fenícios, nesse aspecto, são impressionantes! Ainda mais quando levamos em consideração que as conclusões que eles chegaram, estão mais associadas à intuição e o misticismo do que as ciências propriamente ditas.

O “Caos” nas civilizações antigas

SUMÉRIOS:
“Quando a Terra se teve separado do Céu,
Quando se teve fixado o Nome do Homem,
Quando An se teve «levado» ao Céu,
Quando Enlil se teve «levado» à Terra...”

O texto acima foi encontrado em tabuletas sumérias, traduzidas pelo especialista Samuel Noah Kramer. Assim, o conceito de caos nasceu, possivelmente, na Suméria. As tabuletas sumérias falam que no principio do mundo somente havia um “oceano primordial” infinito, no qual todas as coisas estavam misturadas. Era o caos. Da leitura do texto Kramer tira três conclusões:

1) Por algum tempo o céu e a terra eram uma unidade. E logo se separaram.
2) Havia alguns deuses antes da separação da terra e do céu.
3) Quando essa separação do céu e da terra aconteceu, foi o deus do
céu An, que "levou" o céu, mas foi o deus do ar, Enlil, que "levou" a
terra.

EGÍPCIOS:
No Egito antigo, também encontramos algo impressionante:

“No início, havia apenas Nun. Nun era as águas escuras do caos.
Um dia, um monte levantou-se para fora das águas. Este monte
foi chamado Ben-Ben. Nesta colina estava Atum, o primeiro
deus. Atum tossiu e cuspiu Shu, o deus do ar, e Tefnut, a deusa
da umidade. Shu e Tefnut tiveram dois filhos. Primeiro, houve
Geb, o deus da terra. Então, houve Nut, a deusa do céu. Shu
ergueu Nut de modo que ela se tornou um dossel sobre Geb.
Nut e Geb tiveram quatro filhos chamados Osíris, Isis, Seth e
Néftis. Osíris era o rei da terra e Isis era a rainha. Osíris foi um
bom rei, e reinou sobre a terra por muitos anos. No entanto, tudo
não estava bem. Seth estava com ciúmes de Osíris, pois ele
queria ser o soberano da terra. Ele cresceu mais e mais furioso,
até que um dia ele matou Osíris. Osíris desceu ao mundo
subterrâneo e Seth permaneceu na terra e tornou-se rei. Osíris e
Ísis tiveram um filho chamado Horus. Horus lutou contra Seth e
recuperou o trono. Depois disso, Horus era o rei da terra e Osíris
era o rei do submundo”

Podemos concluir esta parte sobre o caos no antigo Egito afirmando que para eles o caos era algo anterior à criação. Esse caos primordial estava imerso nas águas pantanosas e obscuras do oceano primitivo. A ordem começou a aparecer juntamente com uma ilha que emerge do oceano.

FENÍCIOS
Um historiador fenício chamado Sanchoniaton, que viveu na cidade de Tiro no Séc. XII a.C escreveu o seguinte:

“Os princípios das coisas eram um caos, em que os elementos
estavam misturados sem desenvolver-se, e um espírito do ar.
Este teve cópula com o caos e gerou com ele uma matéria
viscosa, Mot (hilyn) que encerrava em si as forças viventes e as
sementes dos animais. Através da mistura de Mot com a matéria
do caos e a fermentação, originada dela, se separaram os
elementos. As partículas de fogo se elevaram e formaram as
estrelas. Pelo influxo do fogo no ar, foram produzidas as nuvens.
A terra se tornou fértil. Da mistura, corrompida por Mot, de água
e terra, se originaram os animais mais defeituosos e sem
sentidos. Estes produziram outros animais de novo, mais
perfeitos e dotados de sentidos. O reboar do trovão na tormenta
foi o que fez despertar para a vida os primeiros animais que
dormiam em seus invólucros seminais.”

GREGOS:
A concepção grega difere um pouco das anteriores, pois o poeta Hesíodo apresenta o Caos como o primeiro e mais velho deus:

“Primeiro que tudo surgiu o Caos, e depois Gaia [Terra] de amplo
peito, para sempre firme alicerce de todas as coisas, e o
brumoso Tártaro num recesso da terra de largos caminhos, e
Eros [amor], o mais belo entre os deuses imortais, que amolece
os membros e, no peito de todos os deuses e de todos os
homens, domina o espírito e a vontade ponderada. Do Caos
nasceram o Érebo e a negra Noite; e da Noite, por sua vez,
surgiu o Aither e o Dia, que ela concebeu e deu à luz depois da
sua ligação amorosa com Érebo. E a Terra gerou primeiro Urano
[céu] constelado, igual a ela própria, para a cobrir em toda a
volta, e para ser eternamente a morada segura dos deuses bemaventurados.
Deu à luz, em seguida, as altas Montanhas, retiros
aprazíveis das Ninfas divinas, que habitam nas montanhas
arborizadas. Também deu à luz o mar estéril, que se agita com
as suas vagas, o Ponto, sem deleitoso amor; e seguidamente,
tendo partilhado o leito com Urano, gerou Okeanos dos
redemoinhos profundos, e Coió e Crio e Hipérion e Jápeto...”
                                                                                           [Hesíodo, Teogonia 116]


O “Caos” na Bíblia

A concepção hebraica pode ser observada logo no início do relato bíblico,  onde em Bereshit (Gênesis) 1.2 temos uma expressão que nos remete ao conceito de Caos, referimo-nos a “Tohu va vohu” (תהו ובהו). Esta expressão merece uma atenção especial, pois apesar de não encontrarmos cognatos conhecidos em outros idiomas para a palavra “Tohu”, ela é traduzida como algo informe, confuso, caótico, nulo e outros termos que sugerem a mesma idéia. Para entendermos melhor como ela pode ser aplicada, destacaremos abaixo alguns textos onde “Tohu” é utilizada e suas respectivas conotações:

D’varim (Deuteronômio) 32.10 e Yov (Jô) 6.18 = Área deserta
Yeshayahu (Isaías) 24.10 = Cidade destruída
Sh’muel alef (I Samuel) 12.21; Yeshayahu (Isaias) 29.21, 41.29, 44.9, 45.19 e 59.4 = Confusão moral e espiritual
Bem Sirach (Eclesiástico) 41.10 = Irrealidade

Podemos perceber que “Tohu”, geralmente está associada a uma situação negativa.
A palavra “Vohu”, por sua vez, sempre aparece acompanhada de “Tohu” e significa “Vazio”, possivelmente por causa do cognato árabe “bahiya” (Estava vazio). Logo, “Tohu va Vohu” pode ser traduzida como: “Sem forma e vazia”; “Confusa e Vazia”; Caótica e Vazia”

Sendo assim, notamos que assim como os sumérios e os egípcios, o relato da criação é extremamente semelhante, podendo até causar certo “desconforto” a determinadas pessoas e grupos religiosos, pois se pode sugerir que ele é nada mais nada menos que a repetição de um mito, já que as civilizações Suméria e egípcia são anteriores a hebréia! Porém, não vemos assim, entendemos que estas civilizações já conheciam de alguma forma, provavelmente por transmissão oral, o relato da criação e com o passar dos anos outros elementos, conforme suas crenças foram acrescentados criando, por assim dizer, uma “nova história” para o fato e que mais tarde, o relato original da criação foi registrado pelos hebreus.

O Profeta e o “Caos”

Assim veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo:
“Antes que te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da madre, te santifiquei; às nações te dei por profeta”.
“Olha, ponho-te neste dia sobre as nações, e sobre os reinos, para arrancares, e para derrubares, e para destruíres, e para arruinares; e também para edificares e para plantares.” (Yirmeyahu/Jeremias 1:4-5, 10)

Você já percebeu que antes de edificar e plantar, o profeta deveria arrancar, derrubar, destruir e arruinar? Pois é... Qual é a situação decorrente disto? Desordem, confusão, “muito entulho”.
Só depois de derrubar o “velho” é que se pode estabelecer o “novo”... E independente de se considerar o texto seguinte como inspirado ou não, não conheço nada melhor para exemplificar essa realidade do que as palavras atribuídas a Yeshua:

“Ninguém deita remendo de pano novo em roupa velha, porque semelhante remendo rompe a roupa, e faz-se maior a rotura. Nem se deita vinho novo em odres velhos; aliás rompem-se os odres, e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; mas deita-se vinho novo em odres novos, e assim ambos se conservam.”
(Matitiyahu/Mateus 9.16-17)

Parafraseando Paulo Freire, o qual disse: “o Mundo não é. O Mundo esta sendo”, dizemos que o conhecimento segue a mesma perspectiva, portanto, estamos conhecendo, aprendendo, redescobrindo coisas que já considerávamos descobertas e, consequentemente uma “desordem” (Caos) mental, irá se estabelecer se não se permite uma abertura de mente, uma quebra de paradigmas.
Contudo, é justamente aí que vislumbramos “a criação”, pois não cremos em uma criação “Ex nihilo” (termo Latim que significa "do nada"), são as “ruínas” de um paradigma que fornece os insumos para a criação.

A reflexão que propomos é:

Parece que O Eterno realiza sua criação a partir da destruição daquilo que não está correto, é quando nos desfazemos de conteúdos, que não servem para a manutenção do equilíbrio, é quando o “caos” se estabelece e nossa miserabilidade se manifesta revelando nossa dependência, que Ele, Bendito Seja, ordena nossa vida segundo o seu propósito.
Finalmente, lembramos que a terra estava caótica e foi reordenada (Bereshit 1.2); O mundo foi destruído pelo mabul (dilúvio) e a partir de Noach (Noé) e sua família foi refeito (Bereshit 9.1); Avraham iniciou uma nação sem saber para onde iria depois de abdicar de tudo que poderia lhe dar alguma segurança (Bereshit 12.1). Homens que presenciaram o “Caos” e a partir do Caos, foram redefinidos, reordenados para uma vida vivida nos caminhos do El Elyion...Por isso, não se desespere diante de uma situação confusa ou de um quadro de destruição, pois Aquele que Vive e Reina Eternamente tem o poder de pegar a massa disforme e fazer um vaso novo.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Ecos da Torre


      
   (A Torre de Babel, pintura do Sec.XVI por Bruegel)

Por Yochanan ben Avraham

Introdução.
Em Bereshit (Gênesis)11, temos o relato da famosa torre de Bavel (Babel), monumento idealizado e construído por um povo vindo do oriente, que chegando ao vale de Sinear resolveu se estabelecer ali e perpetuar seu nome e um local fixo, (um prenuncio de mudança de uma vida nômade para o sedentarismo).
Não pretendemos adentrar questões polêmicas sobre tal relato ser um mito criado para explicar a diversidade de idiomas ou um evento histórico que pode, inclusive, ser “comprovado” cientificamente. Nem tão pouco nos ocuparmos sobre questões arquitetônicas ou religiosas no sentido de afirmar ou rejeitar que tal construção se trataria de um zigurate (templos torres das religiões mesopotâmicas) ou algo inédito. O que gostaríamos de explorar na narrativa é a confusão de línguas (idiomas) ali mencionada e usá-la como analogia para algo muito comum nos dias de hoje, principalmente no âmbito religioso, estamos nos referindo a confusão de linguagem/comunicação (ou falta de).

Um mal chamado Bavel.

Bavel, numa perspectiva bíblica, personifica tudo aquilo que contraria a vontade do Eterno, de modo que os profetas eram levantados para advertir ao povo para não compactuar com seu “modus vivendis’, como vemos em Yirmeyahu/Jeremias 51.45 e Zacarias 2.7:

“Saí do meio dela, ó povo meu, e livrai cada um a sua alma do ardor da ira do SENHOR”.

“Ah! Sião! Escapa, tu, que habitas com a filha de babilônia.”

Poderíamos citar muitas outras passagens que demonstram a conotação negativa que Bavel evoca e toda sua má influencia na vida do povo israelita, como vemos em Yechezkel. 8.14:

“E disse-me: Ainda tornarás a ver maiores abominações, que estes fazem.
E levou-me à entrada da porta da casa do SENHOR, que está do lado norte, e eis que estavam ali mulheres assentadas chorando a Tamuz.”

  
         (Imagem de Tamuz)

Tammuz foi uma divindade importada para Judá. As origens da adoração desse deus estão perdidas, embora o nome “Dumuzi” esteja relacionado com um governante de uma das cidades-estados da Suméria antes da metade do 3º milênio a.C. Durante o período neosumeriano (Ca. 2200-1900 a.C.), os sumérios reconheceram Dumuzi como um deus e normalmente o relacionavam com a deusa Inanna. Em cultos acadianos, Dumuzi era chamado Tamuz e Inanna era identificada com Ishtar. Esses deuses são conhecidos por ambos os nomes: Dumuzi/Tamuz e Inanna/Ishtar. É importante lembrar que boa parte da religião babilônica provém das crenças sumerianas e acadianas

 Saímos de Bavel?                                                

Somos chamados a sair de Bavel e, embora a Torre construída já não existia mais na época em que os profetas faziam seus pronunciamentos, a Torre permanece como símbolo, um marco da arrogância humana em presumir que poderia alcançar “os céus” por méritos próprios. A própria palavra hebraica para Torre (מגדל) “migdal”, sugere isto, pois esta palavra é proveniente de (גדל) “gadal” que, dentre outras similaridades significa: tornar-se grande; magnificar-se.

Mas como entender isso em pleno Século XXI se esta civilização já não existe mais? Como aplicar isso em nossos dias? Responder esta questão não exige muito esforço intelectual, pois se sabemos que Bavel representa uma oposição à vontade de Elohim, a proposta é simplesmente não sermos rebeldes a sua instrução revelada ao longo do Tanach. Contudo, podemos ser mais específicos em relação a sua aplicação se observarmos a série de eventos que ocorreram antes e durante a edificação desta Torre, vejamos:

“E disseram uns aos outros: Eia, façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra, e o betume por cal. E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra.” (Bereshit/Gênesis 11.3-4)

É interessante notarmos as expressões: façamos; queimemo-los; edifiquemos e sejamos, pois fica a nítida impressão de, (considerando a raiz da palavra “migdal”), de uma auto exaltação. De fato, a arrogância de achar que alcançaremos um lugar junto ao Eterno pelos nossos próprios méritos e não pela sua “CHESSED” (Graça/Misericórdia) têm sido desde os tempos mais antigos, a grande ilusão da humanidade... Que O Eterno não permita que esqueçamos de que:

“As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim;” (Ecrá/Lamentações 3.22)

Outra situação que demonstra o quanto podemos estar sob a influencia de “migdal Bavel” (Torre de Babel), (e é esta a razão que nos levou a escrever este pequeno artigo), são as inúmeras discussões em meio a construção da Torre, onde todos falam, mas ninguém entende nada...todos se preocupam em falar como se faz para chegar “aos céus”, mas ninguém esta disposto a ouvir o que o outro tem a dizer.
Tenho entendido que quando duas ou mais pessoas só estão dispostas a falar, defender suas teses, ao invés de tentar ouvir, buscar uma comunicação (que é simplesmente uma ação em comum, pois se só há emissores ou só ouvintes, não há comunicação). Estamos reproduzindo em pleno Seculo XXI, os ecos da grande confusão ocorrida em Bavel.

Lembremos da célebre frase de Voltaire:

“Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.”

Que O Eterno nos ensine não apenas a falar o que é certo, mas também a ouvir.

Shalom!!!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Reflexões sobre o Mashiach

Por Yochanan Ben Avraham

Introdução
Nos últimos dias, os ambientes virtuais das comunidades Messiânicas e Nazarenas brasileiras, andaram bem agitados...Isso por conta de uma (aparente ou fatual) "renuncia da fé em Yeshua" como o Mashiach (Messias) por um importante grupo que, ao longo dos anos se destacou pela consistência bíblica de seus artigos e estudos. Como alguém que fez parte deste referido grupo e participante do processo de restauração da emunah israelita que, diga-se de passagem, não é propriedade de nenhuma instituição ou grupo, me sinto compelido a dizer algo sobre este momento.
Antes de qualquer coisa, quero esclarecer que não pretendo, com este artigo, condenar ou absolver a quem quer que seja, mas abrir uma via de reflexão para todos aqueles que amam ao Eterno e sua santa Torah, desejando de todo coração observar seus preceitos.

Quem é o Mashiach?
Esta é a pergunta que muitos estão fazendo neste momento, só o fato de se permitir a dúvida, muitos já sentenciam à condenação o "infeliz" questionador...No entanto, considerando que a dúvida é o pavio do conhecimento, ela pode ser o caminho das certezas mais inabaláveis que alguém poderia desejar. Seja para a ratificação de Yeshua como O Mashiach, seja para sua desqualificação como tal. Isso posto, dentre tantas incertezas, uma certeza posso apresentar: "Dizer que Yeshua não é o Mashiach, é tão duvidoso quanto dizer que ele é o Mashiach".

Explico:
A discussão sobre ele ser ou não o Mashiach é antiga, bem anterior a minha geração, e os proponentes de cada uma destas opiniões, se esmeraram (e ainda se esmeram) em defendê-las. Ambas as partes apresentam  fortes argumentos bíblicos para justificarem suas posições e refutarem seus "oponentes", também se "deliciam" a apresentar testemunhos de homens que, em dado momento de suas fugazes existências, "viraram a casaca" e passaram a jogar a seu favor, homens que passaram a ser exibidos como troféus.
Se "biblicamente" é possível provar tanto uma quanto outra ideia, me pergunto se o fator condicionante para o conhecimento (ou reconhecimento) do Mashiach, seja extra bíblico...seria algo reservado a esfera mística? Obviamente tal "sugestão" causa arrepios naqueles que chamo de "biblicistas ortodoxos", ou seja, pessoas que rejeitam toda e qualquer variável que não estejam registradas nas escrituras, sem considerar o fato de que, nem tudo está nas escrituras e o próprio Elohim deu ao homem condições de deliberar sobre estas "variáveis" (vide os shoftim em D'varim/Deuteronômio 16). E para complicar um pouco mais, muito do que se diz: "Escritura", numa análise mais séria, sequer poderia ser chamada de tal coisa devido ao grande número de inserções, interpolações e etc. que os homens fizeram ao longo dos anos.

Qual é a verdade?
No campo filosófico, esta discussão (é ou não o Mashiach), pode ser enquadrada perfeitamente no que chamamos de dialética, onde uma tese (afirmação ou situação inicial), sofre uma oposição. A esta oposição denominamos antítese e deste conflito, resulta a síntese, que é uma nova perspectiva da afirmação ou situação apresentada inicialmente. Isso significa que nem a tese e nem a antítese sejam a realidade (querer afirmar que uma ou outra seja a verdade, é precipitação), se há alguma realidade, ouso dizer que o que mais se aproxima disso seria  a síntese...
Diante destes pensamentos, o que era absurdo passa a ser plausível e aos moldes de um "Brainstorming", poderíamos até cogitar: "haverá de fato um Mashiach como tradicionalmente se afirma? Ou  Mashiach seria uma condição espiritual alcançada pelo povo, onde (como um só homem) realizaria o "tikun ha olam" (retificação do mundo)?"

Estamos perdidos?
Alguém pode achar que estas palavras revelam uma condição negativa de  desorientação, mas não é isso o que acontece, vale dizer que uma das tarefas messiânica seria trazer o povo à Torah (um dos raros momentos de concordância entre os proponentes de cada pensamento), isto significa que o que devemos viver é a Torah do Eterno, ou seja, sabemos exatamente o que fazer. Identificar o Mashiach, dependendo da abordagem, pode não garantir a entrada no "olam haba" (mundo vindouro), mas seguir seus ensinamentos sim, isto fará toda a diferença.

Nossa posição
Nós estamos examinando a história, as escrituras e as diversas perspectivas messiânicas que temos encontrado. Temos muitas impressões, algumas certezas estão se configurando, mas submetemos tudo ao Eterno crendo que Ele, bendito seja, é o maior interessado neste processo. E no tempo adequado estaremos (afirmando ou reafirmando) o que temos visto e ouvido até aqui...

Que O Eterno nos abençoe com sua maravilhosa luz, guiando nos à sua verdade.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Novos tempos

Shalom chaverim,

Como vocês devem ter notado, nos últimos meses não ocorreram muitas atividades neste blog. Os motivos para isso se dão por conta de um novo tempo vivido por nossa kehilah (congregação/assembléia), a qual, atendendo sua vocação, está "levantando acampamento" para seguir sua jornada de retorno às veredas antigas, estabelecidas pelo nosso Eterno Criador.
Acreditamos que, ao fazer isso, estamos vivendo o que somos em nossa essência, hebreus. Vale lembrar que,  assim como Avraham avinu (Abraão nosso pai), pois este homem, o primeiro a ser chamado "ha ivri" (o hebreu), recebeu um chamado do Eterno e sem saber exatamente para onde ia, atendeu a este chamado confiando naquele que o chamou.  Nós estamos dando seguimento a nossa jornada. A palavra "ivri" significa: "aquele que atravessa; que cruza", portanto, temos em nosso "DNA" esta característica e, cientes disso, iniciamos uma nova etapa.

Em que se baseia estes "Novos tempos"?
Bem amados, estes novos tempos significam que a Beit Chessed, não está mais ligada ou filiada a nenhum grupo, associação ou convenção religiosa, embora possa haver algumas similaridades doutrinárias, oficialmente não existe tal situação, somos um grupo de pessoas que buscam adorar e servir ao único e verdadeiro Elohim, seguindo sua instrução (Torah) sem as adições ou subtrações humanas que com o passar do tempo foram feitas. Se por um lado, estamos como Avraham, sem saber exatamente para onde ir, por outro, SABEMOS EXATAMENTE PARA ONDE NÃO IR,  que é retornar para o cativeiro  de uma ditadura de dogmas (cristãs, judaicas ou qualquer outra).

Entendemos também que, num processo de restauração, nada pode ser considerado definitivo e a medida que vamos caminhando, vamos aprendendo o Caminho que o Eterno traçou até que se chegue à sua vontade, desta forma, não significa que, em um futuro não possamos estar unidos a algum grupo que creia e busque o mesmo que nós, que é o estabelecimento do Reino do Eterno, proclamando e fazendo a sua vontade. É possível que ocorra mudanças em alguns aspectos de nossa emunah (fé), novas perspectivas em relação a diversos pontos podem ser alcançadas, negar isso é negar possibilidades a um processo, contudo, o Fundamento permanece: "Shema Israel YHWH Eloheino, YHWH Echad".

Esperamos que aqueles que nos acompanharam neste blog até hoje, continue nos dando o prazer de sua companhia, pois em breve retornaremos (bezrat HaShem) a postar novos estudos e novas reflexões que possam contribuir para a edificação de todos.

Elohim abençoe a todos e nos conduza em shalom...

Yochanan ben Avraham

terça-feira, 10 de julho de 2012

"Conversa pra boi dormir."

Por Yochanan ben Avraham

Dentre os muitos ditos populares, adágios e provérbios, frequentemente encontramos alguns que acabam expressando exatamente um pensamento uma experiência e até mesmo verdades bíblicas e históricas!

A frase que intitula esta pequena reflexão, ao ter suas palavras substituídas por determinados significados de um contexto bíblico, nos proporciona uma interessante reflexão sobre os dispersos da casa de Israel.

O Boi.

É de conhecimento da maioria dos estudiosos que, as doze tribos de Israel tinham suas bandeiras/estandartes, com as insígnias das casas paternas:

איש על דגלו באתת לבית אבתם יחנו בני ישראל  מנגד סביב לאהל מועד יחנו

(Ish al diglo veotot liveit avotem iachnu benei Israel mineged saviv liohel moed iachnu)

“Os filhos de Israel armarão as suas tendas, cada um debaixo da sua bandeira, segundo as insígnias da casa de seus pais; ao redor, defronte da tenda da congregação, armarão as suas tendas.” (Bamidbar/Números 2.2)

Pois bem, uma das tribos tinha como insígnia o Boi e esta tribo era Efraim:

בכור שורו הדר לו וקרני ראם קרניו--בהם עמים ינגח יחדו אפסי ארץ והם רבבות אפרים והם אלפי מנשה 

(Bechor Shoro hadar lo vikarnei rem karnaiv vahem amim inagach iachdav afsei aretz vehem rivevot Efraim vehem alfei Menashe)

Ele tem a glória do primogênito do seu touro, e os seus chifres são chifres de boi selvagem; com eles rechaçará todos os povos até as extremidades da terra; estes pois são os dez milhares de Efraim, e estes são os milhares de Manassés.”
                                                                                         (D’varim/Deuteronômio 33.17)

Isso é muito significativo, pois Efraim era um dos nomes pelo qual as dez tribos do norte eram conhecidas (os outros eram Casa Israel e Casa de José) que desde o ano 921 AEC, passou a ser um reino paralelo a Yehudah, como podemos verificar em Melachim alef /1º reis capítulos 11,12 e 13 e que a partir do ano 721 AEC, foi capturado pelos assírios e dispersados pelos quatro cantos da Terra.

Dormir

O sono e, consequentemente, dormir é um eufemismo para “apostasia”. Abaixo seguem dois exemplos dentre tantos que poderíamos apresentar:

כי נסך עליכם יהוה רוח תרדמה ויעצם את עיניכם  את הנביאים ואת ראשיכם החזים כסה

(Ki nasach aleichem YHWH ruach tardemach vaia’atsem et eneichem ha neviim v’et rosheichem hachozim kissah)

Porque o YHWH derramou sobre vós um espírito de profundo sono, e fechou os vossos olhos, vendou os profetas, e os vossos principais videntes.”
                                                                                                         (Yeshayahu/Isaías 29:10)

E ainda:

“Então o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do esposo.
E cinco delas eram prudentes, e cinco loucas.
As loucas, tomando as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo.
Mas as prudentes levaram azeite em suas vasilhas, com as suas lâmpadas.
E, tardando o esposo, tosquenejaram todas, e adormeceram.”
                                                                                                 (Matitiyahu/Mateus 25:1-5)

É interessante notarmos que o número de virgens adormecidas é exatamente o número de tribos que se “perderam”, ou seja, dez! Mais interessante ainda é o número das virgens consideradas prudentes... cinco que é exatamente a quantidade de livros da Torah! Estaria o Mashiach Yeshua dizendo que aqueles guardam a Torah/Lei são aqueles que adentrarão no Seu Reino?

Afinal, o que quer dizer “conversa para boi dormir”?

Considerando que Efraim (as dez tribos perdidas da Casa de Israel) tem como símbolo o boi, e que dormir significa apostasia, esse conhecido dito popular brasileiro revela, “sem querer”, uma tremenda verdade histórica e profética. Poderíamos interpretar, “conversa para boi dormir”, como:

“Discurso para levar/manter Efraim (10 tribos) na apostasia”

Mas que discursos seriam estes?

Listarei apenas algumas das frases mais ditas por aqueles que desconhecem o plano de restauração do Reino:

1ª – “A Igreja substituiu Israel...”
         Isto só poderia ser verdade, se o Eterno mentisse!

2ª – “A Lei foi abolida, agora vivemos na graça...”
         Como podem contradizer o próprio Yeshua? (Ver Mat. 5.17-20)

3ª – “A Lei continua vigente sim, mas só para os Judeus...”
         E o que faremos com Bamidbar/Números 15.16 e Yeshayahu 56.6?

Espero que o prezado leitor não caia nesta falácia, pois não passam de “Conversa pra Boi Dormir...”

Até a próxima!

domingo, 24 de junho de 2012

O Templo e o Messias.

Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

No livro do profeta Hagai (Ageu) que, embora seja pequeno no tamanho, é grandioso e riquíssimo no seu conteúdo devido ao relato nele contido, pois um período importantíssimo na história israelita é abordado trazendo aspectos que, ao serem examinados cuidadosamente, confirmam a manifestação do “Mashiach” (Messias) em duas etapas. Estamos nos referindo a reconstrução do “Beit HaMikdash”(O Templo), ocorrida em meados do ano 520 a.C.
A mensagem de restauração que permeia o período pós-exílio ecoa até hoje e apesar de atualmente muitos utilizarem esta mensagem de uma forma totalmente desconectada do seu propósito e, consequentemente, sentido original, é inegável a importância deste texto na constituição da verdadeira “emunah” (Fé) israelita.

O Templo, símbolo da presença de YHWH.

Assim como o “Mishkan” (O santuário móvel do período da peregrinação no deserto), o Templo representava a presença do Eterno entre os “b’nei Israel” (filhos de Israel), pois era nele que os sacrifícios, ofertas e expiações eram feitos e o encontro entre Criador e criaturas, Céus e Terra se realizava como podemos verificar nos textos abaixo:

E me farão um santuário, e habitarei no meio deles.
“Conforme a tudo o que eu te mostrar para modelo do tabernáculo, e para modelo de todos os seus pertences, assim mesmo o fareis.” (Shemot/Êxodo 25:8-9)

E ainda:

“Um cordeiro oferecerás pela manhã, e o outro cordeiro oferecerás à tarde.
Com um cordeiro a décima parte de flor de farinha, misturada com a quarta parte de um him de azeite batido, e para libação a quarta parte de um him de vinho,
E o outro cordeiro oferecerás à tarde, e com ele farás como com a oferta da manhã, e conforme à sua libação, por cheiro suave; oferta queimada é a YHWH.
Este será o holocausto continuo por vossas gerações, à porta da tenda da congregação, perante YHWH, onde vos encontrarei, para falar contigo ali.
E ali virei aos filhos de Israel, para que por minha glória sejam santificados.
E santificarei a tenda da congregação e o altar; também santificarei a Arão e seus filhos, para que me administrem o sacerdócio.
E habitarei no meio dos filhos de Israel, e lhes serei o seu Elohim,
E saberás que eu sou YHWH seu Elohim, que os tenho tirado da terra do Egito, para habitar no meio deles. Eu sou YHWH seu Elohim.”  (Shemot/Êxodo 29:39-46)

Cremos não ser necessário explicar neste artigo, que o “Beit HaMikdash” (Templo) mantinha todo o propósito, simbolismo e serviços do “Mishkan” (Santuário móvel), pois é algo descrito ao longo das escrituras com tanta clareza que uma dissertação sobre isso chegaria ser redundante.

O Templo também representa os tempos messiânicos e sua edificação, inclusive, é atribuída à linhagem de David, da qual nasceria o “Mashiach” (Messias) escatológico, conforme verificamos em She’muel beit (II Samuel) 7.1-17:

“E sucedeu que, estando o rei Davi em sua casa, e tendo YHWH lhe dado descanso de todos os seus inimigos em redor,
Disse o rei ao profeta Natã: Eis que eu moro em casa de cedro, e a arca de Elohim mora dentro de cortinas.
E disse Natã ao rei: Vai, e faze tudo quanto está no teu coração; porque YHWH é contigo.
Porém sucedeu naquela mesma noite, que a palavra de YHWH veio a Natã, dizendo:
Vai, e dize a meu servo David: Assim diz YHWH: Edificar-me-ás tu uma casa para minha habitação?
Porque em casa nenhuma habitei desde o dia em que fiz subir os filhos de Israel do Egito até ao dia de hoje; mas andei em tenda e em tabernáculo.
E em todo o lugar em que andei com todos os filhos de Israel, falei porventura alguma palavra a alguma das tribos de Israel, a quem mandei apascentar o meu povo de Israel, dizendo: Por que não me edificais uma casa de cedro?
Agora, pois, assim dirás ao meu servo David: Assim diz YHWH Ts’vaot: Eu te tomei da malhada, de detrás das ovelhas, para que fosses o soberano sobre o meu povo, sobre Israel.
E fui contigo, por onde quer que foste, e destruí a teus inimigos diante de ti; e fiz grande o teu nome, como o nome dos grandes que há na terra.
E prepararei lugar para o meu povo, para Israel, e o plantarei, para que habite no seu lugar, e não mais seja removido, e nunca mais os filhos da perversidade o aflijam, como dantes,
E desde o dia em que mandei que houvesse juízes sobre o meu povo Israel; a ti, porém, te dei descanso de todos os teus inimigos; também YHWH te faz saber que te fará casa.
Quando teus dias forem completos, e vieres a dormir com teus pais, então farei levantar depois de ti um dentre a tua descendência, o qual sairá das tuas entranhas, e estabelecerei o seu reino.
Este edificará uma casa ao meu nome, e confirmarei o trono do seu reino para sempre.
Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; e, se vier a transgredir, castigá-lo-ei com vara de homens, e com açoites de filhos de homens.
Mas a minha benignidade não se apartará dele; como a tirei de Saul, a quem tirei de diante de ti.
Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será firme para sempre.
Conforme a todas estas palavras, e conforme a toda esta visão, assim falou Natã a David.”

Como podemos ver, a relação entre o Templo e o Messias é íntima, algo que fica mais evidente ainda quando verificamos as datas das duas dedicações em comparação com o nascimento de certo personagem como veremos mais adiante.

Um Templo, duas etapas.

A motivação para escrevermos este artigo, originou-se justamente da comparação feitas entre o “primeiro” Templo (construído por Sh’lomo ha melech/ rei Salomão), e o “segundo” Templo (restauração liderada por Zirubavel/Zorobabel), ambos descendentes de David, mantendo e avivando os aspectos messiânicos do evento. Esta comparação acaba sendo o ingrediente mais pitoresco do livro de Hagai (Ageu).  Contudo, é importante frisarmos que, apesar de historicamente haver uma definição de “primeiro e segundo” Templo, dando a impressão de coisas distintas, na verdade não existiram, propriamente, dois Templos, mas apenas um que viveu duas etapas diferentes, o que é extremamente significativo considerando o fato de diversos comentaristas das sagradas escrituras considerarem a manifestação do “Mashiach” (Messias) em duas etapas! Seria uma simples coincidência ou mais uma indicação de como se daria a manifestação do tão esperado redentor?
Hagai/Ageu anunciou que o segundo templo, ou melhor, segunda etapa do templo seria mais gloriosa que a primeira etapa, algo que é muito curioso, pois se analisarmos seu texto numa perspectiva mais literal, parece haver uma contradição, pois como o “segundo” Templo poderia ser considerado mais glorioso que o primeiro se o próprio texto (e outros! Ver Ezra/Esdras 3.10-13), afirmam maior riqueza e esplendor daquele que existiu anteriormente?
A resposta certamente esta na forma como o profeta concebeu a mensagem do Eterno, ou seja, ele ouviu e anunciou tal mensagem sob a perspectiva do Próprio Elohim! Algo que está além da compreensão do homem natural, extrapolando os limites temporais deste, antevendo o futuro num contexto muito mais amplo e abrangente.

O Templo, Mashiach ben Yosef e Mashiach ben David.

Dentre as muitas interpretações acerca do que diz a Torah, os profetas e demais escritos sobre o Mashiach (Messias), boa parte dos comentaristas chegaram à conclusão de que a vinda do Mashiach (Messias) seria em duas etapas, uma como servo sofredor (ben Yosef) e a outra em glória como Rei Soberano (ben David). Se compararmos isto com o que diz o Hagai/Ageu 2.9, onde é dito que a glória do segundo Templo será maior que a do primeiro templo, mais uma vez vemos Yeshua cumprindo os requisitos necessários para ser reconhecido como o Mashiach, pois a segunda etapa de sua vinda será gloriosa, contrastando com sua primeira vinda, ou seja, a glória da segunda vinda será maior que a da primeira! Sim... Pois nela todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Yeshua é o Senhor!

As dedicações do Templo e o nascimento de Yeshua.

Outro ponto de contato muito forte entre o Templo e o Mashiach esta nas datas envolvendo as dedicações do templo e o nascimento de Yeshua ben Yosef, vejamos:

E o rei Salomão ofereceu sacrifícios de bois, vinte e dois mil, e de ovelhas, cento e vinte mil; e o rei e todo o povo consagraram a casa de Elohim.
E os sacerdotes, serviam em seus ofícios; como também os levitas com os instrumentos musicais de YHWH, que o rei David tinha feito, para louvarem a YHWH, porque a sua benignidade dura para sempre, quando David o louvava pelo ministério deles; e os sacerdotes tocavam as trombetas diante deles, e todo o Israel estava em pé.
E Salomão santificou o meio do átrio, que estava diante da casa de YHWH; porquanto ali tinha ele oferecido os holocaustos e a gordura dos sacrifícios pacíficos; porque no altar de metal, que Salomão tinha feito, não podia caber o holocausto, e a oferta de alimentos, e a gordura.
E, assim, naquele mesmo tempo celebrou Salomão a festa por sete dias e todo o Israel com ele, uma grande congregação, desde a entrada de Hamate, até ao rio do Egito.
E no dia oitavo realizaram uma assembléia solene; porque sete dias celebraram a consagração do altar, e sete dias a festa.
E no dia vigésimo terceiro do sétimo mês, despediu o povo para as suas tendas, alegres e de bom ânimo, pelo bem que YHWH tinha feito a David, e a Salomão, e a seu povo Israel. (Divrei ha Yamim/2 Crônicas 7:5-10)

Na rededicação do mesmo Templo a Bíblia diz o seguinte:

No sétimo mês, ao vigésimo primeiro dia do mês, veio a palavra de YHWH por intermédio do profeta Ageu, dizendo:
Fala agora a Zorobabel, filho de Sealtiel, governador de Judá, e a Josué, filho de Jozadaque, sumo sacerdote, e ao restante do povo, dizendo:
Quem há entre vós que tendo ficado, viu esta casa na sua primeira glória? E como a vedes agora? Não é esta como nada diante dos vossos olhos, comparada com aquela?
Ora, pois, esforça-te, Zorobabel, diz YHWH, e esforça-te, Josué, filho de Jozadaque, sumo sacerdote, e esforça-te, todo o povo da terra, diz YHWH, e trabalhai; porque eu sou convosco, diz YHWH dos Exércitos,
Segundo a palavra da aliança que fiz convosco, quando saístes do Egito, o meu Espírito permanece no meio de vós; não temais.
Porque assim diz YHWH dos Exércitos: Ainda uma vez, daqui a pouco, farei tremer os céus e a terra, o mar e a terra seca;
E farei tremer todas as nações, e virão coisas preciosas de todas as nações, e encherei esta casa de glória, diz YHWH dos Exércitos.
Minha é a prata, e meu é o ouro, disse YHWH dos Exércitos.
A glória desta última casa será maior do que a da primeira, diz YHWH dos Exércitos, e neste lugar darei a paz, diz YHWH dos Exércitos. (Hagai/Ageu 2:1-9)

Como podemos constatar tanto a dedicação quanto a “rededicação” do Templo ocorreram na mesma época, ou seja, ao final da celebração de Sukot, conhecida como a festa das cabanas, ou tabernáculos, certamente não foi obra do acaso, mas um sinal, algo para ficar marcado no coração dos israelitas. Agora vejamos a data de nascimento de Yeshua e suas palavras confirmando que ele e o Templo se fundem no âmbito da interpretação da profecia de Hagai/Ageu.
O nascimento de Yeshua pode ser “rastreado” se tão somente tivermos paciência de buscarmos nas escrituras as referências que nos levarão a uma conclusão sobre o assunto, a de que assim como o Templo foi dedicado em sukot, Yeshua nasceu na mesma época e como não se bastasse isso, Ele mesmo afirmou ser o Templo:

E estava próxima a páscoa dos judeus, e Yeshua subiu a Jerusalém.
E achou no templo os que vendiam bois, e ovelhas, e pombos, e os cambiadores assentados.
E tendo feito um azorrague de cordéis, lançou todos fora do templo, também os bois e ovelhas; e espalhou o dinheiro dos cambiadores, e derribou as mesas;
E disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes, e não façais da casa de meu Pai casa de venda.
E os seus discípulos lembraram-se do que está escrito: O zelo da tua casa me devorará.
Responderam, pois, os judeus, e disseram-lhe: Que sinal nos mostras para fazeres isto?
Yeshua respondeu, e disse-lhes: Derribai este templo, e em três dias o levantarei.
Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu o levantarás em três dias?
Mas ele falava do templo do seu corpo.
Quando, pois, ressuscitou dentre os mortos, os seus discípulos lembraram-se de que lhes dissera isto; e creram na Escritura, e na palavra que Yeshua tinha dito.
(Yochanan/João 2:13-22)

Outro elemento importante para considerarmos, são as palavras descritas em Guilyana/Apocalipse 21.22, como se segue:

E nela não vi templo, porque o seu templo é o YHWH El Shaday, e o Cordeiro.


Último, ocidental e fugindo à vista.

Abordaremos agora um aspecto interessantíssimo do texto de Hagai/Ageu, que só é possível enxergar a partir do texto original, vejamos:

גדול יהיה כבוד הבית הזה האחרון מן הראשון--אמר יהוה צבאות ובמקום הזה אתן שלום נאם יהוה צבאות 

Gadol ihieh kvod habeit hazeh ha acharon min ha rishon amar YHWH Ts’vaot uvamakom hazeh eten shalom num YHWH Ts’vaot

A glória desta última casa será maior do que a da primeira, diz YHWH dos Exércitos, e neste lugar darei a paz, diz YHWH dos Exércitos. (Hagai/Ageu 2:9)

A palavra hebraica utilizada para descrever último é אחרון “acharon”. Esta palavra também é utilizada para se referir a “ocidental”, outro detalhe que sugere uma interpretação surpreendente é o fato de que, se calcularmos o valor da palavra “acharon” através da guematria, (sistema de cálculo das letras hebraicas) chegaremos ao valor 265, o mesmo valor da expressão “hatsil eyn” que quer dizer literalmente “para escapar do olho”, ou seja, fugir à vista, esconder e etc. Logo, poderíamos dizer que o Templo estaria escondido no ocidente? Não exatamente, mas se considerarmos que o Templo e o Mashiach indicam a presença de YHWH, e que um tipifica o outro poderíamos dizer que: O Mashiach está escondido no ocidente! Mas de que forma? Bem... Nós sabemos que o Mashiach seria Judeu, cumpridor da Torah e restaurador do Reino de Israel resgatando os dispersos deste povo nos quatro cantos da terra, Estabelecendo a Paz e a justiça. Portanto, qualquer definição diferente disso é equivocada. Contudo, boa parte dos judeus modernos consideram que esta obra seria feita em uma única etapa e este detalhe, somado à roupagem que foi dada a Yeshua HaMashiach por parte do cristianismo, dando–lhe o nome  “Jesus Cristo”, faz com que os judeus o neguem por considerarem que ele não cumpre os requisitos estabelecidos pelas escrituras, de fato, a forma como este Messias é apresentado difere bastante do que é apresentado pelos profetas, pois ele é apresentado numa forma ocidental (acharon), causando estranheza a seu povo... Exatamente como ocorre com Yosef (José), que apesar de ser hebreu, ter nome hebreu, observar a Lei do Eterno foi apresentado a seus irmãos como um egípcio, chamado de “tsafenat paneach”, vestido como um egípcio, submisso as leis egípcias.

Conclusão.
Cremos que em breve, as roupas ocidentais serão removidas e não somente a identidade do Messias será revelada aos seus irmãos, mas também toda sua obra redentora será reconhecida pela Casa de David...

Que seja breve e em nossos dias, amen.

domingo, 20 de maio de 2012

Cristianismo e Judaísmo, as duas faces de uma mesma moeda.

Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

Antes que alguém possa condenar o autor deste artigo ao “inferno”, permita-me dizer que não se trata de uma censura aos devotos de qualquer uma destas religiões, mas sim de uma exposição de características idênticas no que diz respeito a sua posição perante as escrituras e o próprio Criador.
Numa análise superficial, todos poderão dizer que, apesar de ambas se definirem como monoteístas, elas são bem diferentes uma da outra, havendo inclusive um antagonismo em pontos fundamentais de sua Fé e prática.
Contrariando esta perspectiva comum, pretendemos chamar a atenção do amigo leitor para uma semelhança que, embora seja implícita, não há como ignorá-la, pois tal fato nos leva a inferir que ambos os seguimentos, Judaísmo e Cristianismo, possuem o mesmo espírito.

1- O fator Bavel (Babilônia).

“E era toda a terra de uma mesma língua e de uma mesma fala.
E aconteceu que, partindo eles do oriente, acharam um vale na terra de Sinar; e habitaram ali. E disseram uns aos outros: Eia, façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra, e o betume por cal. E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra.” (Bereshit/Gênesis 11.1-4)

É do conhecimento da grande maioria dos leitores da Bíblia Sagrada, todo o simbolismo e significado que Bavel (Babilônia) possui no contexto espiritual da vida do povo de Elohim. Bavel personifica tudo o que é contrário a vontade do Eterno, representa a altivez e arrogância do homem perante o único e verdadeiro Senhor, revela a soberba do homem em estabelecer seus próprios caminhos, suas próprias leis para se “chegar aos Céus”, revela também a mistura e a confusão de conceitos em contraste com a pureza e simplicidade dos mandamentos do Eterno.

Não é apenas no relato da construção da histórica torre, mas também no que (muitos séculos após este monumento) veio a existir que Bavel representaria um aspecto negativo. Sim, o impressionante império babilônico viria afetar diretamente o povo da promessa, Israel. O Reino do Sul (Yehudah) sofreu três deportações entre os anos 597 AEC e 582 AEC como pode ser verificado no livro de Yirmeyahu/Jeremias 52.27-30:

“E o rei de babilônia os feriu e os matou em Ribla, na terra de Hamate; assim Judá foi levado cativo para fora da sua terra.
Este é o povo que Nabucodonosor levou cativo, no sétimo ano: três mil e vinte e três judeus.
No ano décimo oitavo de Nabucodonosor, ele levou cativas de Jerusalém oitocentas e trinta e duas pessoas.
No ano vinte e três de Nabucodonosor, Nebuzaradã, capitão da guarda, levou cativas, dos judeus, setecentas e quarenta e cinco pessoas; todas as pessoas foram quatro mil e seiscentas”.

É a partir deste momento, que a influencia babilônica começa a ser exercida sobre os judeus de modo mais intenso e um elemento muito comum na relação entre dominado e dominador, começa a se manifestar, nos referimos ao sincretismo.

A influência babilônica sobre a vida dos judeus pode ser percebida no calendário judaico tradicional e religião judaica, vejamos:

“O Talmud (Yerushalmi, Rosh haShaná 1:1) corretamente afirma que os judeus
tomaram os nomes dos meses durante o período do exílio babilônio.”
                                                                                                  (Enciclopédia judaica)

1A - Comprovando a influência no calendário.

De fato o nome dos meses do calendário judaico tradicional, é uma adaptação dos nomes dos meses babilônios, os quais são consagrados cada um ao seu respectivo deus como podemos ver abaixo:

Mês do Ano  *Deus Babilônio Homenageado* *Mês Babilônio*  *Mês Farisaico*
    1                                     Anu                                             Nissanu                 Nissan
    2                                     Ea                                                  Ayaru                      Iyar
    3                                     Sin                                                Simanu                   Sivan
    4                                  Tamuz                                             Du’uzu                   Tamuz
    5                                    Abzu                                                 Abu                          Av
    6                                     Elil                                                   Ululu                       Elul
    7                                   Ishtar                                              Tasritu                    Tishrei
    8                                 Marduk                                        Arachsamna          Marcheshvan
    9                         Lahmu e Lahamu                                   Kislimu                     Kislev
   10                                    Utu                                                 Tebetu                     Tevet
   11                                  Sebiti                                                Sabatu                    Shevat
   12                                   Adad                                                 Adaru                       Adar

Este detalhe é muito relevante se considerarmos o fato deste calendário estar totalmente comprometido com a idolatria babilônica, seria possível haver tal incongruência? O Eterno permitiria tal referência a seu povo se Ele mesmo condena a idolatria? Pense nisso!
Como se não bastasse esta evidente influencia, outro aspecto do calendário judaico atual revela um sincretismo gravíssimo, nos referimos ao início do ano no sétimo mês. Vejamos o que a Torah nos fala sobre o início do ano:

“E falou o SENHOR a Moisés e a Arão na terra do Egito, dizendo:
Este mesmo mês vos será o princípio dos meses; este vos será o primeiro dos meses do ano.”  (Shemot/Êxodo 12:1-2)

O mês em questão, é o mês que se inicia a primavera (HaAviv) no hemisfério norte, quando a cevada floresce, o que acontece entre os meses de Março e Abril no calendário gregoriano. Sendo assim, de onde vem a idéia de se celebrar o ano novo judaico no sétimo mês deste calendário?
Na obra “Tablettes sumériennes de Suruppak” de R. Jestin temos a informação de que em Ur dos caldeus, celebrava-se um festival duas vezes por ano, no primeiro e no sétimo mês, ligado ao plantio e colheita da cevada, este festival era conhecido como “Akitu” que era dedicado ao deus supremo “Marduk” e que poderia ser considerado como festival do ano novo. Logo, não é difícil concluirmos de onde surgiu a prática de celebrar o novo ano no sétimo mês, Bavel.

1B - Kabalah, mística babilônia adotada pelos judeus exilados.

É bem provável que este seja o aspecto mais fascinante do judaísmo, capaz de atrair pessoas dos mais diversos seguimentos, pois a forte inclinação pelo oculto que existe nas pessoas faz com que estas mergulhem de cabeça nos conceitos cabalísticos, que são intitulados como sabedoria oculta da Torah, quando na verdade a própria Torah diz justamente o contrário! Vejamos:

“As coisas encobertas pertencem a YHWH nosso Elohim, porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei.” (D’varim/Deuteronômio 29.29)

“Porque este mandamento, que hoje te ordeno, não te é encoberto, e tampouco está longe de ti. Não está nos céus, para dizeres: Quem subirá por nós aos céus, que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos? Nem tampouco está além do mar, para dizeres: Quem passará por nós além do mar, para que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos? Porque esta palavra está mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a cumprires.” (D’varim/Deuteronômio 30:11-14)

Além do mais, o que era segredo, o que estava oculto foi revelado:

“O mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos seus santos; Aos quais Elohim quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é o Mashiach/Cristo em vós, esperança da glória;” (Colossayah/Colossenses 1.26-27)

Para maiores informações e aprofundamento no assunto, sugiro a leitura do seguinte texto:
“Cabalá: Judaísmo antigo ou misticismo pagão”

Diante do exposto até aqui, podemos entender o porquê das advertências dos profetas ao povo, devido a estas influências:

“Porque Israel e Judá não foram abandonados do seu Elohim, de YHWH  Tseva’ot, ainda que a sua terra esteja cheia de culpas contra o Santo de Israel.
Fugi do meio de Babilônia, e livrai cada um a sua alma, e não vos destruais na sua maldade; porque este é o tempo da vingança do SENHOR; que lhe dará a sua recompensa. Babilônia era um copo de ouro na mão do SENHOR, o qual embriagava a toda a terra; do seu vinho beberam as nações; por isso as nações enlouqueceram.”
(Yirmeyahu/Jeremias 51:5-7)

2 – Bavel na concepção Cristã.

Embora o cristianismo interprete equivocadamente que a igreja viva independente de Israel, ele se contradiz quando assume explicitamente que Bavel é a responsável pela corrupção espiritual dos cristãos, fazendo uso de textos como Guilyana/Apocalipse 18.1-4 para fundamentarem seus argumentos:

“E depois destas coisas vi descer do céu outro anjo, que tinha grande poder, e a terra foi iluminada com a sua glória. E clamou fortemente com grande voz, dizendo: Caiu, caiu a grande Babilônia, e se tornou morada de demônios, e covil de todo espírito imundo, e esconderijo de toda ave imunda e odiável.
Porque todas as nações beberam do vinho da ira da sua prostituição, e os reis da terra se prostituíram com ela; e os mercadores da terra se enriqueceram com a abundância de suas delícias.
E ouvi outra voz do céu, que dizia: Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas.”
(Guilyana/Apocalipse 18:1-4)

Os cristãos evangélicos, de um modo geral, afirmam que a Babilônia citada em Guilyana/Apocalipse, se refere a Roma e, consequentemente, a Igreja Romana, isentando, desta forma, os protestantes. No entanto, por mais que neguem, os protestantes não só reconhecem a autoridade da Igreja Católica como também se submetem a ela, abaixo listaremos algumas evidências deste fato:

a)      Ao reconhecer o domingo como o dia do Senhor, pois foi Roma que efetuou esta mudança.
b)     Ao batizar em nome do Pai, Filho e Espírito Santo, pois esta fórmula não foi ordenada pelo Senhor e nem utilizada pelos primeiros emissários. O texto utilizado como base para esta fórmula (Mat. 28.19) é um acréscimo reconhecido pelos acadêmicos.
c)      Ao celebrar a páscoa (Pessach) na data cristã, pois desde o concílio de Nicéia (325 d.C) é celebrada em outra data, diferente daquela estabelecida pelo Eterno.
d)     Ao dizer que o ano termina em Dezembro e inicia-se em Janeiro, quando o Eterno estabeleceu o início do Ano na Primavera (HaAviv) no hemisfério norte (Ver Shemot/Êxodo 12)
e)      Ao dizer que o Mashiach/Cristo nasceu em 25 de Dezembro, data da celebração do Mitraísmo.

Muitas outras evidências poderiam ser apresentadas, mas por questões de brevidade citamos apenas estas.

Como podemos ver, Bavel está presente tanto no cristianismo quanto no judaísmo é este espírito que a séculos têm corrompido a Fé de milhares de pessoas, misturando, confundindo e corrompendo.

Evidências da semelhança.

Quando recorremos à história, podemos encontrar diversos registros de ambos os seguimentos que demonstram o quanto estão ligados, a forma como se posicionam ante as escrituras e como se julgam perante os demais, não deixa dúvidas quanto ao caráter de suas origens, vejamos:

No final de sua vida, o Talmude nos diz, rabino Yochanan ben Zakkai estava aos prantos. Seus discípulos vieram até ele e disseram:

 "Oh grandioso mestre, porque você está chorando? Porque é que a sua alma esta em perigo?" E Rabbi Yochanan ben Zakkai disse: "Estou prestes a encontrar com HaShem – (O Eterno) - abençoado seja Ele, e diante de mim vejo dois caminhos: um líder para o Paraíso e o outro líder para o (inferno) e não sei qual o caminho que Ele me sentenciará".

 O fundador do judaísmo Rabínico admitiu que ele não tinha absolutamente nenhuma garantia de salvação. Ele disse que não sabia se iria para Elohim ou para o “inferno” por aquilo que ele fez, no final de sua vida ele estava apavorado, pois iria morrer. Agora compare isso com a expressão de um daqueles que ocupou o lugar da maior autoridade do cristianismo, o Papa Marcelo II:

“Dificilmente um papa escaparia do inferno”
(Vita Del Marcelo, página 132).

O Papa Inocêncio III disse que o Papa é:

 “... superior ao homem. É juiz de todos, mas não é julgado por ninguém”

O Talmude é o livro mais sagrado do judaísmo (na verdade uma coleção de livros) têm uma citação semelhante a do Papa Inocêncio III. No judaísmo sua autoridade tem precedência sobre o Antigo Testamento. A evidência dessa precedência pode ser encontrada no próprio Talmude, Erubin 21b (edição de Soncino):

 “Filho meu, tenha mais cuidado em observar as palavras dos escribas do que as palavras da Torah (Antigo Testamento)."

O papa Leão XIII asseverou em 1894: 
“Ocupamos nesta terra o lugar do Elohim santo”
(Será Mesmo Cristão o Catolicismo? Hugh P. Jeter, Editora Betel, 2ª Edição de 2000, página 50).

Semelhantemente, o Talmud (Tratado Baba Metzia 59b) relata o episódio de uma grande disputa entre Rabi Eliezer e os Sábios de Israel a respeito da capacidade de um recipiente em especial de tornar-se tamê. A própria Torá apresenta o princípio fundamental que em caso de disputa devemos regulamentar de acordo com a maioria.

    Rabi Eliezer foi enormemente derrotado, mas recusou-se a ceder terreno. Tão convencido estava de que a lei seguia sua opinião que começou a solicitar meios sobrenaturais para consolidar seu ponto de vista, e declarou: "Se a lei é como eu, que o rio corra para cima!"

    Com certeza, o rio mudou seu curso e a água subiu corrente acima. O restante dos sábios rejeitou friamente sua exposição, dizendo: "Não se pode citar evidência legal baseado em riachos!" Rabi Eliezer continuou a trazer provas sobrenaturais, todas rejeitadas pelos sábios da mesma maneira. Finalmente, em desespero de causa, Rabi Eliezer disse: "Se a lei é como eu, que uma voz venha dos céus para confirmar isso!"

    Como para aproveitar a deixa, uma voz celestial foi ouvida, dizendo: "Por que discutem com Rabi Eliezer? Com certeza ele está certo!" Nesta altura, Rabi Yehoshua (a força liderante por trás da discordância) levantou-se e proclamou: "A Torá não está mais nos céus (referindo-se aos versículos acima citados); foi confiada aos sábios de Israel e nós, a maioria, decretamos que a halachá está de acordo conosco."

Ou seja, no relato acima até o Criador se submeteu a deliberação de Rabi Eliezer... Que absurdo!

Considerações finais.

Este artigo não teve a ambição de esgotar os argumentos que justificam a proposta do título, mas instigar o leitor a examinar as escrituras sagradas sem uma teologia pré concebida, despojado de tendências imparciais, vasculhando registros históricos aproximando-se da verdade dos fatos, para que possa desenvolver um a Fé genuína e não um conjunto de dogmas segundo a cosmovisão de um determinado grupo.

Shavua Tov L’Kulam!!

(Boa Semana para Todos!!)